quarta-feira, 22 de fevereiro de 2023

O pintor brasileiro Victor Meirelles

 




Victor Meirelles de Lima foi um pintor e professor brasileiro que nasceu em 18 de agosto de 1832 em Nossa Senhora do Desterro (atual Florianópolis), em Santa Catarina. Como pintor sua especialidade era a pintura histórica. Foi aluno da Academia Imperial de Belas Artes. Seus pais eram os imigrantes portugueses Antônio Meirelles de Lima e Maria da Conceição dos Prazeres, comerciantes de poucas posses que viviam em Nossa Senhora do Desterro. Teve só um irmão. Com cinco anos começou a aprender latim, português e aritmética, mas na sua infância já fazia desenhos de bonecos, paisagens e copiando imagens de gravuras e folhetos.  

 

Segundo relatou José Arthur Boiteux:

"Aos cinco anos mandaram-no os pais à Escola Régia e tão pequeno era que o professor para melhor dar-lhe as lições sentava-o aos joelhos. Quando voltava à casa o seu passatempo era o velho Cosmorama que Antonio Meirelles comprara por muito barato e ótimo curioso que era, concertava sempre que o filho quebrava, o que era comum, algumas das peças. Aos dez anos não escapava a Victor estampa litografada: quantas lhes chegassem às mãos, copiava-as todas. E quem pela loja de Antonio Meirelles sita à Rua da Pedreira, antiga dos Quartéis Velhos, esquina da Rua da Conceição passasse, pela tardinha, invariavelmente veria o pequeno debruçado sobre o balcão a fazer garatujas, quando não as caricaturas dos próprios fregueses que àquela hora lá se reuniam para os indefectíveis dois dedos de prosa".

 

Victor Meirelles teve aulas quando estava entre 10 e 11 anos, em 1843, com o padre Joaquim Gomes d’Oliveira e Paiva, que lhe ensinou francês e filosofia . Também cuidou para que o conhecimento de  latim de Victor melhorasse, que teve apoio de sua família para que desenvolvesse seu talento. Em 1845, o professor de desenho e engenheiro argentino Mariano Moreno, que era também doutor em direito e em teologia, além de jornalista, político e ex-secretário da primeira Junta de Governo das Províncias Unidas do Rio da Prata, passou a dar aulas de desenho geométrico para Victor, que na mesma época completou seus estudos gerais no Colégio dos Jesuítas, no qual tinha aulas de latim, francês, filosofia, história elementar, geografia, retórica e geometria. É possível que por esse tempo Victor Meirelles tenha conhecido artistas viajantes que faziam suas artes baseadas na natureza e no povo local.

O conselheiro do Império, Jerônimo Coelho, viu alguns dos desenhos de Victor e gostou deles, mostrando-os a Félix-Émile Taunay, que era diretor da Academia Imperial de Belas Artes e que aceitou que Victor, com apenas 14 anos, ingressasse como aluno da Academia. Ele então foi morar na cidade do Rio de Janeiro em 1847, para participar das aulas de desenho, com os custos pagos por alguns patrocinadores. Alguns de seus professores foram Manuel Joaquim de Melo Corte Real, Joaquim Inácio da Costa Miranda e José Correia de Lima, que foi aluno do pintor francês Debret. Em 1848 Victor ganhou uma medalha de ouro. Após uma passagem por sua cidade natal para ver seus pais, em 1849 voltou aos estudos, tendo tido muito sucesso em pintura histórica. Era considerado um aluno brilhante, com boas notas em todas as disciplinas. Ganhou em 1852 o Prêmio de Viagem à Europa com a pintura São João Batista no Cárcere.

Em junho de 1843 Victor chegou em Havre, França. Tinha quase 21 anos. Esteve por pouco tempo em Paris e foi para Roma, que era seu objetivo. Fez contato com outros dois artistas brasileiros da Academia que lá estavam estudando: Agostinho da Mota e Jean Leon Pallière, que o auxiliaram no conhecimento do mundo das artes romano. Deram dicas para ele sobre os mestres em pintura que ele podia conhecer. Ficou tempo com o professor Tommaso Minardi, que tinha um método muito rígido, sem dar liberdade à criatividade dos alunos. Victor então mudou para as aulas de Nicola Consoni, que fazia parte da Academia de São Lucas, que era rigoroso, porém com ele Victor pôde aprender mais sobre pinturas de modelo vivo, o que seria útil para obras de pintura histórica que ele pretendia realizar. Também procurou treinar no tipo de pintura aquarela e conheceu mais a arte antiga de Roma.

 

Depois de Roma, foi para Florença, visitou os museus da cidade e teve grande impressão sobre as obras de Veronese. Praticou então copiando a arte desse pintor e de outros como TicianoTintoretto e Lorenzo Lotto. Enviava para o Brasil pinturas suas para comprovar o seu desempenho nos estudos no exterior. Causou ótima impressão e o governo brasileiro renovou em 1856 sua bolsa de estudos por mais três anos e foi indicado a ele uma lista de novos estudos específicos obrigatórios.

 

Em 1856, Victor foi para Milão e Paris. Procurou, por recomendação do diretor da Academia no Brasil, Araújo-Porto-Alegre, ser aluno do artista francês Paul Delaroche, porém esse logo faleceu e Victor então procurou outro mestre na França, o pintor romântico Léon Cogniet, um integrante da Escola de Belas Artes de Paris. Também foi estudar com outro pintor francês, André Gastaldi, jovem como Meirelles, porém com uma visão artística mais avançada, possibilitando a este ter mais conhecimento sobre cores. Victor nessa época tinha uma dedicação integral à pintura. Seus esforços foram recompensados e ele teve sua bolsa prorrogada por mais dois anos. É dessa época a sua obra famosa A Primeira Missa no Brasil, que ele pintou entre 1858 e 1861 e que foi muito elogiada no Salão de Paris.

 

Ao voltar da Europa, estando no Brasil, fez parte do grupo de pintores preferidos de Dom Pedro II, sendo incluído no programa de mecenato do imperador, aderindo ao ideal da monarquia de renovação da imagem do Brasil, com a criação de símbolos visuais de sua história.

 

Foi também professor da Academia de Belas Artes e possibilitou a formação de pintores bem sucedidos. Pintou obras como a Batalha dos Guararapesa Moema, A Passagem de Humaitá e o Combate Naval do Riachuelo, além de paisagens e retratos. Era considerado na sua fase áurea um dos maiores artistas do Segundo Império. Foi muito elogiado pela sua técnica, pelo tipo de sua inspiração e a qualidade de suas obras, assim como pela sua personalidade e dedicação. Foi admirado no Brasil e no exterior. Foi premiado pelo imperador, sendo o primeiro dos pintores nacionais a conquistar admissão no Salão de Paris.  

A obra Primeira Missa foi exposta no Brasil, sendo muito homenageado por Dom Pedro II,. No Rio de Janeiro foi professor de pintura histórica. Foi muito elogiado por alunos por ser um professor muito dedicado, paciente e atencioso, que desejava o progresso de seus alunos. Pintou por encomenda da família imperial a obra o Casamento da Princesa Isabel e um retrato do imperador em 1864, ano em que recebeu a Ordem de Cristo. Pintou também retratos de nobres e membros da camada política do Império. Em 1871 pintou o Juramento da Princesa Regente. Recebeu a Imperial Ordem da Rosa no grau de cavaleiro

Há nas obras de Victor Meirelles uma eclética síntese de referências neoclássicas, românticas e realistas. É um conjunto de obras que pertencem à tradição acadêmica brasileira. Há também influências barrocas e do grupo dos Nazarenos. Ele é considerado pela crítica atual como um dos precursores da pintura moderna brasileira e um dos principais pintores do século XIX.

Em 1883 foi exposta uma nova versão do Combate Naval de Riachuelo, que se perdera em uma viagem. Em 1885 esteve na Bélgica onde esteve associado ao belga Henri Lagerock, fundando com ele uma empresa de panoramas. A obra Panorama do Rio de Janeiro foi exposta em Bruxelas em 1887, com uso de um cilindro giratório que possibilitava aos espectadores apreciar as vistas em 360 graus. Em 1889 a mesma obra foi exposta na Exposição Universal de Paris, onde foi premiada com medalha de ouro e muito elogiada pela imprensa.

Os pintores Pedro Américo e Victor Meirelles tiveram seus talentos reconhecidos por muitos, que os chamavam de gênios, no entanto alguns críticos os consideravam autores de plágio. Também formaram-se grupos de admiradores de Pedro e outros de Victor, cada grupo achando que seu ídolo era melhor pintor nas cenas de batalhas da Guerra do Paraguai. Os jornais e revistas acabaram participando da discussão. Também Victor Meirelles foi fortemente criticado no seu tempo, alvo de polêmicas, quando havia uma disputa entre os acadêmicos e os modernistas. As críticas o abalaram muito emocionalmente. Quando a República substituiu o Império, Meirelles foi considerado pelo novo governo como figura ligado à Monarquia e ele então ficou no ostracismo, passando a ter muitas dificuldades financeiras.

Em 1891, estando sem emprego, instalou sua obra Panorama do Rio em uma instalação especial e cobrava um ingresso para cada visitante. Depois deixou o acesso livre aos escolares e ofereceu a eles materiais didáticos complementares à obra, com fins educativos. Em 1893 o Panorama e a Primeira Missa foram exibidos com sucesso na Exposição Universal de Chicago, nos Estados Unidos. Também nesse ano fundou uma escola de pintura com Décio Villares e Eduardo de Sá, mas aulas duraram apenas meses.

Em 1896 ele pintou a sua segunda composição panorâmica, representando a entrada da Esquadra Legal na baía de Guanabara, sobre um acontecimento da Revolta da Armada de 1894. Em 1898 o governo ordenou que ele desmontasse a instalação onde exibia o Panorama do Rio, Victor ficou sem rendas, precisando da auxílio de alguns amigos. A obra Panorama do Descobrimento do Brasil, que estava incompleta, foi exibida na mostra do IV Centenário do Descobrimento. O presidente Campos Salles ficou muito impressionado com a obra. Porém o artista estava sem apoios e não conseguia sucesso em suas exposições posteriores, quis apresentar obras suas na Europa, mas não obteve patrocínio que bancasse o emprendimento. Doou seus panoramas, desenhos e estudos para ao Museu Nacional. Mas não houve cuidado necessário para a preservação.

Desiludido e sem recursos financeiros, o pintor morreu em 22 de fevereiro de 1903, aos 71 anos de idade. Foi casado com Rosália Fraga, mas com ela não teve filhos, embora ele tivesse adotado o filho que ela tinha de um relacionamento anterior.

 

Segundo a autora Dilva Frazão:

“(...) Em 1843, Victor Meirelles começou a estudar francês, filosofia e latim com o padre Joaquim Gomes d’Oliveira. Em 1845, iniciou seus estudos artísticos com o argentino Marciano Moreno.

Sua habilidade chamou a atenção do conselheiro do Império Jerônimo Francisco Coelho, que em 1847 o levou para o Rio de Janeiro e o matriculou na Academia Imperial de Belas Artes. Com apenas 14 anos, ele estudou com José Correia de Lima, que foi aluno de Debret.

No ano seguinte, recebeu uma medalha de ouro da Academia. Foram dois anos estudando desenho e três anos voltados para a “pintura histórica”

.Em 1852, com o quadro São João Batista no Cárcere, ganhou como prêmio uma viagem para a Europa e passou oito anos na Itália e na França.

Em Roma, Victor Meirelles foi aluno de Nicola Consoni, da Academia de São Lucas, com quem realizou uma série de estudos com modelos vivos, importante para a pintura histórica.

Em seguida, ele viajou para Veneza, onde se encantou com a técnica e o colorido dos pintores venezianos. Como estudo, copiava as obras de Ticiano, Tintoretto e Lorenzo Lotto.

Com o excelente rendimento na sua prestação de contas, recebeu da Academia Imperial a renovação de sua bolsa de estudos por mais três anos. Seguiu para Paris, onde permaneceu até 1860.

Nesse período, analisou as obras de Horace Vernet, renomado por suas pinturas de batalhas. Aperfeiçoou sua pintura com Léon Cogniet, André Gastaldi e Paul Delaroche, da Escola de Belas Artes.

Como sugestão de seu mentor intelectual, Manuel de Araújo Porto Alegre, diretor da Academia Imperial, Victor Meirelles pintou sua primeira grande obra “Primeira Missa no Brasil” (1858-1860), da maneira como foi descrita na carta de Pero Vaz de Caminha, que lhe valeu espaço e elogios no prestigioso Salão de Paris de 1861.

Em 1861, já consagrado, Victor Meirelles retornou ao Brasil, sendo condecorado por D. Pedro II, com o grau de "Cavaleiro da Imperial Ordem de Cristo" e da "Imperial Ordem da Rosa". Em 1864, pintou os retratos de D. Pedro II e da Imperatriz Tereza Cristina.

Em 1865, Victor Meirelles foi nomeado professor de pintura histórica da Academia Imperial de Belas Artes. Em 1866, pintou Moema, em que retratou a personagem homônima do poema épico, Caramuru, de Santa Rita Durão.

Em 1868, Victor Meirelles recebeu a encomenda para pintar dois quadros históricos ligados à “Guerra do Paraguai”, que estava em pleno andamento. Desloca-se para a região do conflito e instalou seu ateliê a bordo do navio Brasil, onde passou seis meses, elaborando as telas de grandes dimensões:

Combate Naval do Riachuelo Passagem de Humaitá .

De volta ao Rio de Janeiro, ocupou um espaço no Convento de Santo Antônio, que transformou em seu ateliê. Nos anos seguintes produziu inúmeras encomendas da família imperial, entre elas, o Juramento da Princesa Isabel (1875):

Em 1875, iniciou os esboços de mais uma grande obra:  Batalha dos Guararapes .A tela foi exposta na Exposição Geral de Belas Artes.

A partir de 1885, o artista passou a se dedicar à execução de “panoramas”, entre eles destacam-se: Panorama Circular da Cidade do Rio de Janeiro e “Entrada da Esquadra Legal no Porto do Rio de Janeiro em 1894”.

Meirelles teve um importante papel na formação de diversos pintores durante os 30 anos que lecionou na Academia Imperial de Belas Artes.

Victor Meireles falece no Rio de janeiro, no dia 22 de fevereiro de 1903.”

 

 

Algumas pinturas de Victo Meirelles



Batalha Naval de Riachuelo 




                                                                              Moema


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

 

 Figura1:

https://www.google.com/search?sxsrf=AJOqlzWqlqOidIjElfJw9nLBGEN5j143iQ:1677119160932&q=imagem+de+victor+meirelles&tbm=isch&source

 

Figura 2:

https://www.google.com/search?q=Naval+Battle+of+Riachuelo&sa=X&stick=H4s

 

Figura 3: https://virusdaarte.net/victor-meirelles-moema/




 


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