Inácio José de Alvarenga Peixoto,
foi um advogado e poeta do Arcadismo, nascido em 1742
na cidade do Rio de Janeiro, no Estado do Brasil, que na época era uma parte do
reino de Portugal. Foi uma das lideranças intelectuais do movimento político
conhecido como Inconfidência Mineira. Após sua prisão e julgamento por
participação no movimento, ele foi banido para Angola, na África, de onde não
podia voltar. Ele pode ter sido o autor da frase em latim que está na bandeira
de Minas Gerais: Libertas quae sera tamen.
Os pais de
Alvarenga eram Simão Alvarenga Braga e Ângela Micaela da Cunha. Seus
primeiros estudos foram no Colégio dos Jesuítas do Rio de
Janeiro. Foi depois estudar em Portugal, onde
se destacou nos estudos. Formou-se em Bacharel em Direito na Universidade de Coimbra e lá ficou amigo do poeta Basílio da Gama.
Na metrópole foi juiz de fora na
vila de Sintra.Voltou para o Brasil e foi senador na cidade de São João
del-Rei, em Minas Gerais. Outro cargo que exerceu em Minas foi o de ouvidor da
comarca de Rio das Mortes. Casou com a poetisa Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira. O
casal teve quatro filhos.
Alvarenga no sul de Minas Gerais passou a ser um dono de
terras e envolveu-se com a mineração, em especial na cidades de Campanha e São Gonçalo do Sapucaí. Nessa cidade gastou muito de seu dinheiro para abrir um canal de
aproximadamente 30 km para a mineração de ouro. Teve amizades com pessoas
poderosas da região e junto a outros intelectuais fazia parte de meio com
ideias de liberdade influenciadas pelo Iluminismo. Nesse ambiente estavam os
poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, o padre José da Silva e Oliveira Rolim, o
alferes Joaquim José da Silva Xavier (o "Tiradentes")
e Joaquim Silvério dos Reis, que viria a ser um delator. Entre seus influentes
amigos estava João Rodrigues de Macedo, rico contratador de impostos de
Vila Rica, que ajudou a esposa de Alvarenga após sua condenação e perda de bens.
Quando estava participando da Inconfidência Mineira, Alvarenga Peixoto estava endividado. Ao ser detido após as denúncias contra os inconfidentes, ele foi então primeiramente para a Ilha das Cobras. Após seu julgamento e condenação ele foi enviado para Angola, falecendo por lá pouco tempo depois, devido a uma doença tropical.
O conjunto
de suas obras não é grande. Mas nele há alguns dos sonetos mais bem
acabados do Arcadismo no Brasil. O foco de suas poesias era
o tema amoroso e também uma crítica da sociedade. Seus versos falavam de pastores e rebanho do gado e até
mesmo de ninfas e deuses. Em algumas de suas poesias o poeta falava de Minas
Gerais e seu momento de exploração das minas.
Entre os poemas do autor havia os
poemas laudatórios, que enaltecem um fato ou um personagem. Tinha especial
interesse em chamar a atenção para questões sociais, a partir de uma visão
crítica da sociedade colonial daquela época. Também percebe-se
o nativismo sentimental em obras suas, há referências clássicas em
poesias dele e em alguns momentos exaltou as navegações portuguesas. Embora
poeta árcade, há características do Barroco em suas obras líricas, com
destaque para o uso de antíteses.
Principais Obras: A Dona Bárbara Heliodora; Estela e Nise;A Maria Efigênia (sua filha); A Aléia; A Lástima; A Saudade.
Segundo a Biblioteconomista
e professora Dilva Frazão:
“ (...)
Inácio José de Alvarenga Peixoto nasceu no Rio de Janeiro, no dia 1 de
fevereiro de 1744. Filho do português Simão de Alvarenga Braga e da brasileira
Ângela Micaela da Cunha Peixoto, iniciou seus estudos no colégio dos Jesuítas
em sua cidade natal. Com nove anos mudou-se para a cidade de Braga, Portugal,
onde concluiu o curso secundário. Seguiu para Coimbra, onde estudou Direito,
formando-se em 1769.
Em
Portugal, Alvarenga Peixoto exerceu a magistratura na Vila de Sintra, onde
permaneceu até 1772. Nessa época escreve um poema em louvor ao Marquês de
Pombal. De volta ao Brasil, em 1776, fixou residência em Rio das Mortes (atual
São João Del Rei), em Minas Gerais, onde foi nomeado ouvidor. Em 1781 casou-se
com a poetisa Bárbara Heliodora, com quem teve quatro filhos.
Após
abandonar o cargo de ouvidor, Alvarenga Peixoto passou a se dedicar à
mineração, numa época em que Minas Gerais vivia a febre do ouro e dos
diamantes. Era proprietário de lavras no sul de Minas. Em 1785 foi nomeado
coronel do Primeiro Regimento de Cavalaria da Campanha do Rio Verde, pelo
governador da capitania de Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes. (...)”
E ainda a
mesma autora: “(...)
Alvarenga
Peixoto além de se dedicar à poesia, não deixava de discutir as questões
políticas da época e se envolveu com a Inconfidência Mineira. A ele se atribui
a bandeira dos inconfidentes, com o verso de Virgílio, “Libertas quae sera
Tamen” (A Liberdade ainda que tardia), palavras que serviram de lema à Inconfidência.
O movimento fracassou e Alvarenga foi preso na Ilha das Cobras, no Rio de
Janeiro e depois deportado para Angola, em 1792.
Características
da Poesia de Alvarenga Peixoto
Nessa
época, além de inserir em seus versos elementos da realidade brasileira, os
poetas faziam referência também a ninfas, deuses, pastores e rebanho de gado –
elementos típicos do Arcadismo europeu. Encontram-se também referências à
mineração e às paisagens mineiras.
Devido ao
confisco de seus bens, muitas de suas obras se perderam e pouca coisa
restou. A obra do poeta consta de 33 composições, sendo vinte e cinco
sonetos de caráter laudatório - dedicados a exaltar uma figura ou um fato
público - como a “Ode à Rainha D. Maria I”, monarca de Portugal.
Alguns de
seus sonetos refletem o encarceramento, caracterizados pela profunda amargura
que lhe atingiu a condenação. Outros se revestem de tom confessional e triste,
em consequência da separação familiar. Entre eles destacam-se: “A Dona Bárbara
Heliodora”, “Estela e Nise”, “A Maria Efigênia” (sua filha), “A Alteia”, “A
Lástima” e “A Saudade”.
Alguns poemas de Alvarenga
Peixoto:
Soneto
Não
cedas, coração, pois nesta empresa
o brio só domina; o cego mando
do ingrato Amor seguir não deves, quando
já não podes amar sem vil baixeza.
Rompa-se
o forte laço, que é franqueza
ceder a amor, o brio deslustrando;
vença-te o brio, pelo amor cortando,
que é honra, que é valor, que é fortaleza.
Foge de
ver Alteia; mas, se a vires,
por que não venhamos outra vez a amá-la,
apaga o fogo, assim que a pressentires;
E se inda
assim o teu valor se abala,
não lhe mostre no rosto, ah, não suspires!
Calado geme, sofre, morre, estala!
----------------------------------------------------
À
D. BÁRBARA HELIODORA
Bárbara bela, Do Norte estrela,
Que o meu destino Sabes guiar,
De ti ausente Triste somente
As horas passo A suspirar.
Por entre as penhas De incultas brenhas
Cansa-me a vista De te buscar;
Porém não vejo Mais que o desejo,
Sem esperança De te encontrar.
Eu bem queria A noite e o dia
Sempre contigo Poder passar;
Mas orgulhosa Sorte invejosa,
Desta fortuna Me quer privar.
Tu, entre os braços, Ternos abraços
Da filha amada Podes gozar;
Priva-me a estrela De ti e dela,
Busca dous modos De me matar!
(Poema dedicado à sua esposa,
remetido do cárcere da Ilha das Cobras)
À MARIA IFIGÊNIA
Em 1786, quando completava sete anos.
Amada filha, é já chegado o dia,
Em que a luz da razão, qual tocha acesa,
Vem conduzir a simples natureza:
— É hoje que teu mundo principia.
A mão que te gerou, teus passos guia;
Despreza ofertas de uma vã beleza,
E sacrifica as honras e a riqueza
Às santas leis do Filho de Maria.
Estampa na tu' alma a Caridade,
Que amar a Deus, amar aos semelhantes,
São eternos preceitos de verdade;
Tudo o mais são ideias delirantes;
Procura ser feliz na Eternidade,
Que o mundo são brevíssimos instantes.
DE AÇUCENAS E ROSAS MISTURADAS
De açucenas e rosas misturadas
não se adornam as vossas faces belas,
nem as formosas tranças são daquelas
que dos raios do sol foram forjadas.
As meninas dos olhos delicadas,
verde, preto ou azul não brilha nelas;
mas o autor soberano das estrelas
nenhumas fez a elas comparadas.
Ah, Jônia, as açucenas e as rosas,
a cor dos olhos e as tranças d'oiro
podem fazer mil Ninfas melindrosas;
Porém quanto é caduco esse tesoiro:
vós, sobre a sorte toda das formosas,
inda ostentais na sábia frente o loiro!
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Márcio José Matos
Rodrigues-Professor de História
Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+alvarenga+peixoto
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