segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

O poeta do tempo do Brasil colonial José de Alvarenga Peixoto

 




Inácio José de Alvarenga Peixoto, foi  um advogado e poeta do Arcadismo, nascido em 1742 na cidade do Rio de Janeiro, no Estado do Brasil, que na época era uma parte do reino de Portugal. Foi uma das lideranças intelectuais do movimento político conhecido como Inconfidência Mineira. Após sua prisão e julgamento por participação no movimento, ele foi banido para Angola, na África, de onde não podia voltar. Ele pode ter sido o autor da frase em latim que está na bandeira de Minas Gerais: Libertas quae sera tamen.

Os pais de Alvarenga eram Simão Alvarenga Braga e Ângela Micaela da Cunha. Seus primeiros estudos foram no Colégio dos Jesuítas do Rio de Janeiro. Foi depois estudar em Portugal, onde se destacou nos estudos. Formou-se em Bacharel em Direito na Universidade de Coimbra e lá ficou amigo do poeta Basílio da Gama.

Na metrópole foi juiz de fora na vila de Sintra.Voltou para o Brasil e foi senador na cidade de São João del-Rei, em Minas Gerais. Outro cargo que exerceu em Minas foi o de ouvidor da comarca de Rio das Mortes. Casou com a poetisa Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira. O casal teve quatro filhos.

Alvarenga no sul de Minas Gerais passou a ser um dono de terras e envolveu-se com a mineração, em especial na cidades de Campanha e São Gonçalo do Sapucaí. Nessa cidade gastou muito de seu dinheiro para abrir um canal de aproximadamente 30 km para a mineração de ouro. Teve amizades com pessoas poderosas da região e junto a outros intelectuais fazia parte de meio com ideias de liberdade influenciadas pelo Iluminismo. Nesse ambiente estavam os poetas Cláudio Manuel da Costa e Tomás Antônio Gonzaga, o padre José da Silva e Oliveira Rolim, o alferes Joaquim José da Silva Xavier (o "Tiradentes") e Joaquim Silvério dos Reis, que viria a ser um delator. Entre seus influentes amigos estava João Rodrigues de Macedo, rico contratador de impostos de Vila Rica, que ajudou a esposa de Alvarenga após sua condenação e perda de bens.

Quando estava participando da Inconfidência Mineira, Alvarenga Peixoto estava endividado. Ao ser detido após as denúncias contra os inconfidentes, ele foi então primeiramente para a Ilha das Cobras. Após seu julgamento e condenação ele foi enviado para Angola, falecendo por lá pouco tempo depois, devido a uma doença tropical.

O conjunto de suas obras não é grande. Mas nele há alguns dos sonetos mais bem acabados do Arcadismo no Brasil. O foco de suas poesias era o tema amoroso e também uma crítica da sociedade. Seus versos falavam de pastores e rebanho do gado e até mesmo de ninfas e deuses. Em algumas de suas poesias o poeta falava de Minas Gerais e seu momento de exploração das minas.

Entre os poemas do autor havia os poemas laudatórios, que enaltecem um fato ou um personagem. Tinha especial interesse em chamar a atenção para questões sociais, a partir de uma visão crítica da sociedade colonial daquela época. Também percebe-se o  nativismo sentimental em obras suas, há referências clássicas em poesias dele e em alguns momentos exaltou as navegações portuguesas. Embora poeta árcade, há características do Barroco em suas obras líricas, com destaque para o uso de antíteses.

Principais Obras: A Dona Bárbara HeliodoraEstela e Nise;A Maria Efigênia (sua filha); A AléiaA LástimaA Saudade.

 

Segundo a Biblioteconomista e professora Dilva Frazão:

“ (...) Inácio José de Alvarenga Peixoto nasceu no Rio de Janeiro, no dia 1 de fevereiro de 1744. Filho do português Simão de Alvarenga Braga e da brasileira Ângela Micaela da Cunha Peixoto, iniciou seus estudos no colégio dos Jesuítas em sua cidade natal. Com nove anos mudou-se para a cidade de Braga, Portugal, onde concluiu o curso secundário. Seguiu para Coimbra, onde estudou Direito, formando-se em 1769.

Em Portugal, Alvarenga Peixoto exerceu a magistratura na Vila de Sintra, onde permaneceu até 1772. Nessa época escreve um poema em louvor ao Marquês de Pombal. De volta ao Brasil, em 1776, fixou residência em Rio das Mortes (atual São João Del Rei), em Minas Gerais, onde foi nomeado ouvidor. Em 1781 casou-se com a poetisa Bárbara Heliodora, com quem teve quatro filhos.

Após abandonar o cargo de ouvidor, Alvarenga Peixoto passou a se dedicar à mineração, numa época em que Minas Gerais vivia a febre do ouro e dos diamantes. Era proprietário de lavras no sul de Minas. Em 1785 foi nomeado coronel do Primeiro Regimento de Cavalaria da Campanha do Rio Verde, pelo governador da capitania de Minas Gerais, Luís da Cunha Menezes. (...)”

E ainda a mesma autora: “(...)

Alvarenga Peixoto além de se dedicar à poesia, não deixava de discutir as questões políticas da época e se envolveu com a Inconfidência Mineira. A ele se atribui a bandeira dos inconfidentes, com o verso de Virgílio, “Libertas quae sera Tamen” (A Liberdade ainda que tardia), palavras que serviram de lema à Inconfidência. O movimento fracassou e Alvarenga foi preso na Ilha das Cobras, no Rio de Janeiro e depois deportado para Angola, em 1792.

Características da Poesia de Alvarenga Peixoto

Nessa época, além de inserir em seus versos elementos da realidade brasileira, os poetas faziam referência também a ninfas, deuses, pastores e rebanho de gado – elementos típicos do Arcadismo europeu. Encontram-se também referências à mineração e às paisagens mineiras.

Devido ao confisco de seus bens, muitas de suas obras se perderam e pouca coisa restou. A obra do poeta consta de 33 composições, sendo vinte e cinco sonetos de caráter laudatório - dedicados a exaltar uma figura ou um fato público - como a “Ode à Rainha D. Maria I”, monarca de Portugal.

Alguns de seus sonetos refletem o encarceramento, caracterizados pela profunda amargura que lhe atingiu a condenação. Outros se revestem de tom confessional e triste, em consequência da separação familiar. Entre eles destacam-se: “A Dona Bárbara Heliodora”, “Estela e Nise”, “A Maria Efigênia” (sua filha), “A Alteia”, “A Lástima” e “A Saudade”.

                 

Alguns poemas de Alvarenga Peixoto:

Soneto

Não cedas, coração, pois nesta empresa
o brio só domina; o cego mando
do ingrato Amor seguir não deves, quando
já não podes amar sem vil baixeza.

Rompa-se o forte laço, que é franqueza
ceder a amor, o brio deslustrando;
vença-te o brio, pelo amor cortando,
que é honra, que é valor, que é fortaleza.

Foge de ver Alteia; mas, se a vires,
por que não venhamos outra vez a amá-la,
apaga o fogo, assim que a pressentires;

E se inda assim o teu valor se abala,
não lhe mostre no rosto, ah, não suspires!
Calado geme, sofre, morre, estala!

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 À D. BÁRBARA HELIODORA

Bárbara bela, Do Norte estrela,

Que o meu destino Sabes guiar,

De ti ausente Triste somente

As horas passo A suspirar.

Por entre as penhas De incultas brenhas

Cansa-me a vista De te buscar;

Porém não vejo Mais que o desejo,

Sem esperança De te encontrar.

Eu bem queria A noite e o dia

Sempre contigo Poder passar;

Mas orgulhosa Sorte invejosa,

Desta fortuna Me quer privar.

Tu, entre os braços, Ternos abraços

Da filha amada Podes gozar;

Priva-me a estrela De ti e dela,

Busca dous modos De me matar!

 

(Poema dedicado à sua esposa,

remetido do cárcere da Ilha das Cobras)

 

 

À MARIA IFIGÊNIA

 

Em 1786, quando completava sete anos.

Amada filha, é já chegado o dia,

Em que a luz da razão, qual tocha acesa,

Vem conduzir a simples natureza:

— É hoje que teu mundo principia.

A mão que te gerou, teus passos guia;

Despreza ofertas de uma vã beleza,

E sacrifica as honras e a riqueza

Às santas leis do Filho de Maria.

Estampa na tu' alma a Caridade,

Que amar a Deus, amar aos semelhantes,

São eternos preceitos de verdade;

Tudo o mais são ideias delirantes;

Procura ser feliz na Eternidade,

Que o mundo são brevíssimos instantes.

 

 



DE AÇUCENAS E ROSAS MISTURADAS

 

De açucenas e rosas misturadas

não se adornam as vossas faces belas,

nem as formosas tranças são daquelas

que dos raios do sol foram forjadas.

As meninas dos olhos delicadas,

verde, preto ou azul não brilha nelas;

mas o autor soberano das estrelas

nenhumas fez a elas comparadas.

Ah, Jônia, as açucenas e as rosas,

a cor dos olhos e as tranças d'oiro

podem fazer mil Ninfas melindrosas;

Porém quanto é caduco esse tesoiro:

vós, sobre a sorte toda das formosas,

inda ostentais na sábia frente o loiro!

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+alvarenga+peixoto

 


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