sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

Algumas reflexões considerações sobre política no Brasil


Alguns casos de mau uso do poder no Brasil tem chamado minha atenção. Isso tem a ver com uma cultura política que infelizmente persiste. São casos ligados à costumes arraigados como aquele velho hábito dos poderosos que costumam dizer: "Você sabe com quem está falando?" Os direitos e deveres deveriam ser iguais para todos, porém não é o que realmente acontece. Há quem se valha de seu prestígio para não ser tratado como deveria e procura privilégios devido à posição que ocupa, às amizades influentes que tem ou o poder econômico que possui.

Roberto da Matta, renomado antropólogo, fez os seguintes comentários em 2011: "A reflexão sobre limites, sobre o que é suficiente ou bastante para cada um de nós (e consequentemente para os outros) é o resultado de mais igualdade, liberdade, oportunidade, poder de consumo e daquilo que se chama "modernidade" de mercado e competição eleitoral e de democracia. Da operação consistente de um sistema que tem no centro o indivíduo cidadão livre e igual perante a lei. Todas as sociedades que passaram por aguda transformação no sentido de maior igualdade, acoplada a uma consciência mais aguda de liberdade, vivem um aparente paradoxo. Como usufruir a liberdade e a igualdade sem ofender os outros e, mais que isso, sem levar o sistema a uma anarquia e a um caos no qual alguns podem fazer tudo, o outro não existe e_como consequência_quem ocupa cargos importantes sobretudo no governo e do Estado acaba virando um mandão (ou mandona)  de modo que em vez de igualdade e limite temos o justo oposto: uma hierarquia e o enriquecimento de poderosos por meio daquilo que é o teste mais claro do limite da igualdade: o sistema eleitoral que o elegeu".

E diz ainda: "Não nos parece uma tarefa fácil conciliar desejos (que geralmente são ilimitados e odeiam controles) e a questão fundamental de cumprir regras, leis e construir espaços públicos seguros e igualitários, válidos para todos, numa sociedade que também tem o seu lado claramente aristocrático e hierárquico. Um sistema que ama a democracia, mas também gosta de usar o "Você sabe com quem está falando?"

Que é justamente a prova conforme disse em "Carnavais, malandros e herois, um livro publicado em 1979".

Faço também uma menção ao Coronelismo, por achar que há ainda certos elementos culturais do tempo em que este predominava, que era uma época agrária do Brasil, na República Velha. Os "coronéis" eram principalmente grandes fazendeiros de considerável poder regional e que tinham conexão com o poder nacional. Diz o professor de História Rainer Souza: "Em uma sociedade em que o espaço rural era o grande palco das decisões políticas, o controle das polícias fazia do coronel uma autoridade quase inquestionável. Durante as eleições, os favores e ameaças tornavam-se instrumentos de retaliação da democracia no país.

Qualquer pessoa que se negasse a votar no candidato indicado pelo coronel era vítima de violência física ou perseguição pessoal. Essa medida garantia que os mesmos grupos políticos se consolidassem no poder. Com isso, os processos eleitorais do início da era republicana eram sinônimos de corrupção e conflito. O controle do processo eleitoral por meio de tais práticas ficou conhecido como "voto de cabresto"..."Apesar do desaparecimento dos coronéis podemos constatar que algumas de suas práticas se fazem presentes na cultura política do nosso país. A troca de favores entre chefes de partido é um claro exemplo de como o poder econômico e político ainda impede a consolidação de princípios morais definidos nos processos eleitorais e na ação dos nossos representantes políticos".

Por fim cito uma frase presente nas eleições de 1840 para a Câmara nas chamadas "Eleições do Cacete", disputadas entre o Partido Conservador e o Liberal, durante o II Império no Brasil, quando os chefes políticos já se valiam de violência e fraudes diversas: "Para os amigos o pão (os agrados), para os inimigos o pau"(a violência). Há uma outra forma costumeira de se dizer a mesma coisa: "Aos amigos os favores  e aos inimigos os rigores da lei" e ainda uma frase com alguma semelhança de significado, atribuída a Magalhães Barata, um líder político paraense dos anos 30, 40 e 50 do século XX: "Lei é Potoca". Entendo que ele quis dizer que para os que tem poder a obediência às leis não seria levada a sério.

Isso revela a vontade de burlar as leis pelos poderosos e os interesses pessoais dos mesmos buscando se  colocar acima delas. Aspectos que ainda acontecem no Brasil de hoje e que provocam um atraso no desenvolvimento da nação.


Márcio José Matos Rodrigues - psicólogo e professor de História.


Imagem: Google



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