Vou falar de dois símbolos do Natal: a
Árvore de Natal e o Papai Noel, buscando um histórico dos dois e as influências
culturais de diversos povos.
Árvore
de Natal
Documentos de 1419 fazem a primeira
menção ao uso de pinheiros nas festas natalinas. Os povos pagãos da região
báltica na Europa, às vésperas do solstício de inverno, cortavam pinheiros e os
levavam para seus lares, enfeitando-os para que, depois da queda das folhas de
inverno, os espíritos das árvores retornassem. O cedro no Egito antigo se
associava a Osíris e os gregos antigos também tinham suas associações: o
loureiro a Apolo, o abeto a Átis e a azinheira a Zeus. Os germânicos tinham o
costume de colocar presentes para as crianças sob o carvalho sagrado de Odin.
Na Europa permaneceu durante séculos a
tradição de adornar a árvore durante o solstício de inverno. E a árvore de
Natal como conhecemos atualmente teve origem na Alemanha, por volta do século XVI.
O monge beneditino São Bonifácio, na tentativa de acabar com a crença dos povos
pagãos cortou um pinheiro sagrado que habitantes locais adoravam no alto de um
monte. Mas não conseguindo acabar com a crença, ele decidiu associar o formato
triangular do pinheiro à Santíssima Trindade e suas folhas resistentes e
perenes à eternidade de Cristo.
A etnóloga
Christel Köhle-Hetzinger, da Universidade de Jena, na Alemanha, conhece uma história
que tenta explicar a origem da tradição medieval: "Sabe-se
também que árvores verdes eram postas nas igrejas na época de Natal. Era, sem
dúvida, uma alusão à árvore do paraíso, que desempenha um papel próprio em toda
a liturgia cristã. Ou seja, uma árvore cristã da vida. Como na história de Adão
e Eva."
A
estrela colocada no topo das árvores na celebração natalina, representa simbolicamente o "guia
celeste" dos três Reis Magos: assim teriam sido guiados Gaspar, Baltazar e
Melchior ao local do nascimento de Cristo.
As
bolas coloridas colocadas nas árvores representam frutos e os enfeites
representam virtudes, desejos e sonhos das pessoas da casa onde está a árvore
de Natal. Surgiram diversas tradições familiares, com alguns colocando 12 bolas
simbolizando os doze apóstolos ou mesmo múltiplos de 12. Ou 33 bolas,
representando os anos de vida terrena de Jesus. E havia outras tradições
envolvendo o número das bolas. Para algumas comunidades religiosas, as bolas
simbolizam as orações do período do Advento: as azuis são de orações de
arrependimento, as prateadas de agradecimento, as douradas de louvor e as
vermelhas de prece.
O Papai Noel
A
figura do Papai Noel foi inspirada num bispo chamado Nicolau, que nasceu na
Turquia em 280 d.C, que costumava ajudar as pessoas pobres, deixando saquinhos
com moedas próximos às chaminés das casas. Foi transformado em santo, São
Nicolau, pela Igreja Católica, pois foram atribuídos milagres a ele. Foi na
Alemanha que a imagem de São Nicolau foi associada ao Natal e depois
espalhou-se pelo mundo com vários nomes pelo mundo, por exemplo, Santa Claus
nos Estados Unidos, Papai Noel no Brasil e Pai Natal em Portugal.
Papai Noel era representado com uma roupa de inverno
até o final do século XIX, na cor marrom ou verde escura. O cartunista
alemão Thomas Nast criou a imagem da roupa vermelha e branca, com cinto preto,
em 1886 e apresentada na revista Harper's Weeklys no mesmo ano. Uma campanha
publicitária da Coca-Cola mostrava em 1931 o mesmo figurino de Nast, pois as
cores da roupa do Papai Noel divulgadas por ele eram as mesmas do refrigerante.
A campanha ajudou a espalhar a nova imagem do Papai Noel pelo mundo.
Uma história sobre a origem do Papai Noel é a
seguinte: Três moças da cidade de Myra (localizada hoje em dia na Turquia), no
século IV estavam em situação ruim. O pai delas não tinha boas condições financeiras
e as jovens só viam um jeito de sair da extrema pobreza que seria entrar na
prostituição. Então, numa noite de inverno, um homem misterioso jogou um
saquinho cheio de ouro pela janela (há uma outra versão que diz que foi pela
chaminé) e sumiu. Na noite seguinte atirou outro e na outra noite mais outro
até que todas as moças tivessem seu saquinho. Elas usaram o ouro como dotes de
casamento. O nome do homem era Nicolau de Myra, o bispo da cidade. Não há
comprovação dessa história. O Nicolau aí descrito seria o que foi santificado
pela Igreja como São Nicolau, por dizerem ser milagroso.
O
antropólogo Lévi-Strauss fala do Papai Noel
em sua obra de 1952, "O Suplício do Papai Noel. A antropóloga
Florencia Ferrari fala a respeito da obra do grande mestre:
"A
análise da figura de Papai Noel tem início nas manifestações de senso comum que
veem nele puro empréstimo dos Estados Unidos. Aos poucos o autor mostra como
esse personagem vem associado a inúmeros outros fragmentos provenientes de
contextos diversos – a troca de presentes, os pinheiros, as luzes decorativas,
as botas na lareira, os cartões – revelando uma matriz arcaica. A árvore de
natal, por exemplo, sintetizaria num só objeto a árvore mágica, a luz duradoura
e a folhagem persistente, presentes em costumes medievais dispersos. O mesmo
pode-se dizer do papel do bom velhinho distribuidor de presentes às crianças,
que resultaria da fusão sincrética de várias figuras, como o Bispo dos Tolos, o
Julebok escandinavo e São Nicolau.
Mas é a
comparação com a figura das katchina dos índios pueblo do sudoeste
americano que confere singularidade à análise de Lévi-Strauss. As katchina
são personagens fantasiados e mascarados que encarnam deuses e ancestrais e
voltam periodicamente às aldeias para punir ou recompensar as crianças. A
analogia com o personagem de Papai Noel permite uma reflexão sobre os ritos de
iniciação e a função de negociador entre duas classes da população: as crianças
e os adultos. Mas o mito pueblo explica que as katchina são almas das
primeiras crianças indígenas, são portanto prova da morte e testemunho da vida
após a morte. É nessa oposição mais profunda entre vivos e mortos que jaz a
explicação estrutural do antropólogo para o sentido do Papai Noel
contemporâneo, e que caberá ao leitor descobrir em minúcia no ensaio.
Lévi-Strauss
mostra que nos ritos de Papai Noel não estamos diante apenas de vestígios
históricos, mas de formas de pensamento. A sobrevivência de costumes antigos
não explica sua permanência. A distinção de um ponto de vista histórico de um
ponto de vista estrutural é o que permite compreender na atualidade desse
personagem a constância do medo da morte em termos de empobrecimento e
privação. Diante dessa imagem, o “frenesi” de consumismo que nos exaspera nesta
época do ano ganha uma interpretação algo mais profunda: para além do
“empréstimo” de uma sociedade capitalista injusta que perdeu seus valores, ele
apontaria para a tentativa desesperada de disfarçar nossa verdadeira condição
diante de uma vida breve."
Espero que
estas explicações possam ter dado alguns esclarecimentos sobre estes dois
famosos símbolos natalinos.
Márcio
José Matos Rodrigues - Psicólogo e Professor de História.
Imagens: Google
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