segunda-feira, 13 de março de 2017

Imigrantes nos Estados Unidos - Parte 2: Os Italianos



Continuando a escrever sobre os imigrantes nos Estados Unidos, este segundo artigo tratará da questão dos imigrantes italianos, em especial nos séculos XIX e início do XX.

A Itália, após as guerras napoleônicas viu-se dividida em oito Estados soberanos, sem que fossem respeitados os desejos dos povos a eles submetidos. Mesmo separado, o povo italiano compartilhava certos costumes antigos e a religião, embora houvesse vários dialetos e aspectos culturais diferenciados de região para região, sendo que os direitos políticos estavam limitados às minorias dos mais favorecidos.

Em 1848 surgiram os primeiros passos para o processo da Unificação Italiana, que só foi concluído em 1871. A Itália era um país formado por grandes discrepâncias sociais: o Norte entrava em um amplo processo de industrialização e o sul mais atrasado economicamente.

Terminada a luta pela unificação, o sonho de paz e prosperidade foi substituído por uma realidade dura: muitos desempregados e massas de camponeses sem terras. Havia ainda uma grande concentração de riquezas nas mãos de poucos. A Europa expandia o processo de industrialização e países como a Itália estavam passando por um crescimento populacional.

A Itália além de ser uma jovem nação, era quase completamente rural e pouco industrializado, tinha uma dívida muito grande, um sistema de transporte deficiente, com uma pobreza significativa e alto índice de analfabetismo, com um estrutura de impostos desigual e com um regionalismo muito forte, com poucas pessoas tendo direito ao voto.

Diante de uma situação muito difícil, diversos trabalhadores e camponeses resolveram procurar novas oportunidades em outros países, em especial no continente americano. Assim, entre 1871 e 1875, 126.395 italianos emigraram. No início da década de 1880 a saída de italianos já alcançava números altos.
Os fatores dessa saída foram vários, sendo principalmente por motivos sócio-econômicos, seguido de razões políticas e pessoais. Nos primeiros anos, 80% dos emigrantes partiam do norte da Itália. No sul da Itália o fenômeno emigratório só chegou no início do século XX, quando os sulistas passaram a dominar a fonte de saídas.

Os Estados Unidos, a Argentina e o Brasil foram os países que mais receberam italianos, sendo que para os Estados Unidos emigraram 5,6 milhões de italianos de 1870-1970.

Ao chegarem nos Estados Unidos, muitos italianos passaram por diversas dificuldades. Como eram católicos e seu tipo físico era diferente da elite anglo-saxônica protestante, sofreram preconceitos. Alguns deles se envolveram com o crime, sendo que quadrilhas de criminosos que surgiram no início do século XX foram a origem do crime organizado de onde surgiram mais tarde as famílias mafiosas. Por exemplo, O primeiro capo da máfia italiana de Nova York foi um imigrante siciliano, Giuseppe Morello, que chegou à cidade com 25 anos, em 1892. Tinha uma mão deformada, onde só havia um dedo mindinho, e provinha do ambiente mafioso de Corleone.

Só havia mil italianos em Nova York em 1850, mas em 1900 já eram 150.000. Morello não conseguiu ser mafioso logo. Era um imigrante a mais da ralé, os italianos ainda não mandavam nas ruas, dominadas por bandos de irlandeses e judeus.

Quando surgiu, a Máfia era uma cópia do sistema, uma epopeia do capitalismo em sua versão mais selvagem, com o lema de ganhar dinheiro onde for e como for. Esses imigrantes oriundos de vilarejos miseráveis e ainda feudais da Sicília ambicionavam ter dinheiro e respeito; depois, luxo e poder. Esse envolvimento de uma pequena parte dos italianos com a Máfia chegou a ter alguma influência na formação de estereótipos negativos sobre o imigrante italiano nos Estados Unidos, principalmente devido a filmes sobre mafiosos.

Os italianos começaram a chegar em maior número em 1876 e chegaram aos milhões entre 1910 e 1920, sendo em grande parte homens camponeses da Sicilia que viraram trabalhadores urbanos em Nova Iorque. Os italianos se aglomeravam em bairros pobres nas periferias das cidades, fazendo trabalhos pouco remunerados.

Presos às suas origens, os italianos se uniam em grandes comunidades, vivendo em bairros inteiros formados por italianos. A crescente indústria norte-americana precisava de trabalhadores e em pouco tempo a comunidade italiana tornou-se uma das mais prósperas dos Estados Unidos da América.

Hoje em dia os italianos estão integrados e seus descendentes formam o sexto maior grupo étnico dos Estados Unidos da América, somando 15,6 milhões de pessoas, ou 5,6% da população norte-americana. Há muitos descendentes de italianos que atualmente são famosos por lá, entre eles: Madonna, Lady Gaga, Sylvester Stallone, Tony Bennett e muitos outros.


Márcio José Matos Rodrigues - Professor de História


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