Continuando a escrever sobre
os imigrantes nos Estados Unidos, este segundo artigo tratará da questão dos
imigrantes italianos, em especial nos séculos XIX e início do XX.
A
Itália, após as guerras napoleônicas viu-se dividida em oito Estados soberanos,
sem que fossem respeitados os desejos dos povos a eles submetidos. Mesmo
separado, o povo italiano compartilhava certos costumes antigos e a religião, embora
houvesse vários dialetos e aspectos culturais diferenciados de região para
região, sendo que os direitos políticos estavam limitados às minorias dos mais favorecidos.
Em 1848 surgiram os primeiros
passos para o processo da Unificação Italiana, que só foi concluído em 1871. A
Itália era um país formado por grandes discrepâncias sociais: o Norte entrava
em um amplo processo de industrialização e o sul mais atrasado economicamente.
Terminada a luta pela
unificação, o sonho de paz e prosperidade foi substituído por uma realidade
dura: muitos desempregados e massas de camponeses sem terras. Havia ainda uma
grande concentração de riquezas nas mãos de poucos. A Europa expandia o
processo de industrialização e países como a Itália estavam passando por um
crescimento populacional.
A Itália além de ser uma jovem
nação, era quase completamente rural e pouco industrializado, tinha uma dívida
muito grande, um sistema de transporte deficiente, com uma pobreza
significativa e alto índice de analfabetismo, com um estrutura de impostos desigual
e com um regionalismo muito forte, com poucas pessoas tendo direito ao voto.
Diante de uma situação muito
difícil, diversos trabalhadores e camponeses resolveram procurar novas
oportunidades em outros países, em especial no continente americano. Assim, entre
1871 e 1875, 126.395 italianos emigraram. No início da década de 1880 a saída
de italianos já alcançava números altos.
Os fatores dessa saída foram
vários, sendo principalmente por motivos sócio-econômicos, seguido de razões
políticas e pessoais. Nos primeiros anos, 80% dos emigrantes partiam do norte
da Itália. No sul da Itália o fenômeno emigratório só chegou no início do
século XX, quando os sulistas passaram a dominar a fonte de saídas.
Os Estados Unidos, a Argentina
e o Brasil foram os países que mais receberam italianos, sendo que para os
Estados Unidos emigraram 5,6 milhões de italianos de 1870-1970.
Ao chegarem nos Estados
Unidos, muitos italianos passaram por diversas dificuldades. Como eram
católicos e seu tipo físico era diferente da elite anglo-saxônica protestante,
sofreram preconceitos. Alguns deles se envolveram com o crime, sendo que
quadrilhas de criminosos que surgiram no início do século XX foram a origem do
crime organizado de onde surgiram mais tarde as famílias mafiosas. Por exemplo,
O primeiro capo da máfia italiana de Nova York foi um
imigrante siciliano, Giuseppe Morello, que chegou à cidade com 25 anos, em
1892. Tinha uma mão deformada, onde só havia um dedo mindinho, e provinha do
ambiente mafioso de Corleone.
Só havia mil italianos em Nova
York em 1850, mas em 1900 já eram 150.000. Morello não conseguiu ser mafioso
logo. Era um imigrante a mais da ralé, os italianos ainda não mandavam nas
ruas, dominadas por bandos de irlandeses e judeus.
Quando
surgiu, a Máfia era uma cópia do sistema, uma epopeia do capitalismo em sua
versão mais selvagem, com o lema de ganhar dinheiro onde for e como for. Esses
imigrantes oriundos de vilarejos miseráveis e ainda feudais da Sicília ambicionavam
ter dinheiro e respeito; depois, luxo e poder. Esse envolvimento de uma pequena
parte dos italianos com a Máfia chegou a ter alguma influência na formação de
estereótipos negativos sobre o imigrante italiano nos Estados Unidos,
principalmente devido a filmes sobre mafiosos.
Os
italianos começaram a chegar em maior número em 1876 e chegaram aos milhões
entre 1910 e 1920, sendo em grande parte homens camponeses da Sicilia que
viraram trabalhadores urbanos em Nova Iorque. Os italianos se aglomeravam em
bairros pobres nas periferias das cidades, fazendo trabalhos pouco remunerados.
Presos
às suas origens, os italianos se uniam em grandes comunidades, vivendo em
bairros inteiros formados por italianos. A crescente indústria norte-americana
precisava de trabalhadores e em pouco tempo a comunidade italiana tornou-se uma
das mais prósperas dos Estados Unidos da América.
Hoje em dia os italianos estão integrados e seus descendentes formam o sexto maior grupo étnico dos Estados Unidos da América, somando 15,6 milhões de pessoas, ou 5,6% da
população norte-americana. Há muitos descendentes de italianos que atualmente são
famosos por lá, entre eles: Madonna, Lady Gaga, Sylvester Stallone, Tony Bennett e muitos outros.
Márcio José Matos Rodrigues - Professor de
História
incrível 👏👏👏
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