No início de setembro de 1944 as tropas alemãs já
tinham sofrido grandes perdas na Normandia (de junho a agosto), Paris já tinha
sido retomada pelos franceses e as forças blindadas de Patton tinham já feito
um rápido avanço em direção à fronteira da França com a Alemanha e os Aliados estavam já
combatendo na Bélgica (porém sentindo a questão de necessidade de abastecimento,
que já começava a reduzir seu avanço).
Os Aliados nessa época procuravam resolver seus
problemas de logística e começaram a surgir planos para acelerar o ritmo e
garantir progressos que garantissem vitórias decisivas contra os alemães (que estavam
bastante enfraquecidos, porém ainda tinham condições de oferecer considerável
resistência), encurtando a guerra.
Foi nesse momento da II Guerra Mundial que surgiu
um plano elaborado pelo marechal inglês
Bernard Montgomery. Seu objetivo tático era capturar uma série de pontes
sobre os rios principais dos Países Baixos ocupados pelos alemães. Para isso,
foram utilizadas tropas pára-quedistas em larga escala, em conjunto com um
rápido avanço de unidades blindadas pelas estradas, a fim de atingir o propósito
estratégico de permitir que os Aliados pudessem atravessar o Reno a última
grande barreira natural a um avanço sobre a Alemanha.
O plano consistia principalmente na captura de
diversas pontes sobre os rios Mosa, Waal e Reno, onde as forças aerotransportadas
teriam de capturar e manter as pontes, possibilitando o rápido avanço terrestre
do XXX (trigésimo) Corpo Britânico através da autoestrada 69.
Seu objetivo era contornar a Linha de Siegfried, se
movendo ao norte, pela Bélgica e Holanda, possibilitando uma entrada mais fácil
à Alemanha e o fim da guerra antes do Natal em 1944.
A Operação Market
Garden foi uma
operação militar aliada realizada durante a II Guerra Mundial entre os dias 17
e 25 de setembro de 1944.
Foi chamada Market
a parte aerotransportada e com grande magnitude, pois envolveu cerca de
5.000 aviões, de caça, bombardeios e de transporte de pessoal, assim como mais
de 2.500 planadores.
A fase chamada de Garden envolvia colunas
compactas de carros de combate do Segundo Exército Inglês.Tais forças estavam
dispostas ao longo da fronteira belgo-holandesa.
O plano
visava lançar velozmente soldados e blindados através da Holanda,
transpondo o Reno e assim invadir a própria Alemanha.
A operação teve sucesso em seu início, com a
conquista da ponte sobre o rio Wall, em Nimegue, em 20 de setembro. Porém, a
última ponte a ser conquistada, em Arnhem, a última do Reno não pôde ser
conquistada e a Primeira Divisão Aerotransportada Britânica foi destruída na
batalha pela ponte, o que causou o fracasso do plano.
Os Aliados contavam com 3 divisões
aerotransportadas: as 101ª e 82ª divisões americanas, a 1ª divisão
aerotransportada inglesa e uma brigada pára-quedista polonesa somando mais de
41 mil paraquedistas (fora as tropas do solo). E os alemães talvez tivessem
mais tropas, no entanto suas forças estavam espalhadas por toda a região.
As forças alemães estavam em retirada para defender
a Alemanha e havia unidades blindadas na Holanda sendo recuperadas depois das
pesadas perdas na França. O 21º Grupo de Exército britânico, sob o comando de
Montgomery estava avançando em uma linha que se estendia de Antuérpia às
fronteiras meridionais da Bélgica. O 1º
Exército canadense estava no término de sua ofensiva em direção ao norte pela
costa, e estava esgotada, sem condições no momento para tomar parte em grandes
ações. Ao sul deles, o 12º Grupo de Exército americano, sob o comando do
general Bradley estava se aproximando da fronteira alemã e havia sido ordenado
a encaminhar a brecha de Aachen
juntamente com o 1º Exército americano. Mais ao sul, o 6º Grupo de
Exército, sob o comando do general Jacob Devers, estava avançando em direção à
Alemanha.
Uma falha do serviço de inteligência inglês foi não
identificar corretamente o perigo que existia com a presença na Holanda de
consideráveis forças alemães, como a 9ª e 10ª Divisões Panzer, que estavam se
reequipando. Ainda existia o 15º Exército do General Von Zangen , que se
retirou da Bélgica. Eram tropas com muita experiência de combate, tendo participado
de várias campanhas, incluindo veteranos
da Frente Oriental e mais unidades das SS.
Apesar da
maioria das pontes ter sido tomada, a operação não foi bem sucedida no
final.
A 101ª (USA) conseguiu capturar diversos de seus objetivos,
sem ter muito contato com as tropas alemãs. A 1ª (Inglesa) aterrissou sem
nenhum problema, mas apenas metade de seu efetivo havia sido enviado e apenas
parte dela pôde ir em direção à ponte em Arnhem, o restante teria de proteger
as zonas de pouso e assim a distância entre a zona de pouso e a cidade
foi significativa. Dessa forma, quando parte dos paraquedistas chegaram a seu
alvo, o batalhão de reconhecimento da 10ª Divisão Panzer SS já havia cruzado a
ponte e ido em direção a Nijmegen.
A 82ª (USA) conseguiu tomar a ponte na cidade de
Grave e outras pontes vitais sobre o canal Mosa-Waal, logo após concentraram
seus esforços em capturar seu objetivo principal, a ponte na cidade de
Nijmegen, só que, como as aterrissagens foram longe de seu objetivo, tempo
importante foi perdido e ao se alcançar a ponte em Nijmegen, forças alemãs já
estavam presentes no local, o que causou o fracasso do ataque e a ponte
permaneceu com os alemães.
O XXX (trigésimo) Corpo Britânico começou sua investida, planejando alcançar a cidade
de Eindhoven. A Divisão de Guarda havia se separado do corpo e avançava muito a
frente. Após ser após ser cruzado o
canal dos rios Mosa-Escalda, houve uma emboscada, o que ocasionou atraso no
avanço do corpo, que no final da noite havia chegado apenas à cidade de
Valkenswaard.
No segundo dia da Operação a 1ª (Inglesa) avançou
em direção à ponte de Arnhem, tentando forçar seu caminho e cruzar a ponte, mas
não conseguiu e houve muitas baixas das forças britânicas, a 82ª ainda não conseguiu
capturar a ponte em Nijmegen e ataques alemães capturaram uma das zonas de
pouso aliadas. Para piorar a situação, parte das forças que iriam ser
transportadas para auxiliar a 82ª foram atrasadas pelo tempo na Grã-Bretanha. A
101ª teve perdas na cidade de Son e tentou capturar uma ponte similar na
cidade de Best, mas seu caminho foi barrado.
O atraso dos
Aliados em capturar as pontes, deu tempo para os alemães organizarem sua defesa e poder mobilizar mais tropas e
tanques e logo planejaram um contra-ataque. Na
Batalha de Arnhem, os paraquedistas britânicos conseguiram conquistar o
norte da cidade, mas quando os reforços terrestres atrasaram, eles acabaram
sendo superados em número pelos alemães
a 21 de setembro. Uma parcela da 1ª Divisão Aerotransportada ficou presa em um
pequeno bolsão a oeste da ponte da cidade, tendo sido evacuada no dia 25.
A Operação acabou fracassando, porque os Aliados
não conseguiram alcançar todos os seus objetivos, sem poderem cruzar o Reno. As
defesas alemãs no norte e oeste do seu país continuaram firmes e só
cederiam por completo em março de 1945.
A guerra na Europa não pôde assim terminar até dezembro de 1944 e continuou
por mais tempo.
Perdas:
Entre os Aliados nos nove dias da Operação, as perdas combinadas-forças
aeroterrestres -em mortos, feridos e desaparecidos foram a mais de 17.000. As
perdas inglesas foram as mais altas: 13.226. A Divisão do general Urguhart foi
quase totalmente destruída. Entre os alemães, nas cidades de Arnhem e
Oosterbeek as perdas chegaram a 3.300. Ao longo de toda a campanha as perdas
das forças sob comando do marechal alemão Model (comandante máximo das forças
alemãs) podem ter chegado a 10.000.
Citações:
1- Chris
Bishop e Chris Mc Nab em sua obra : II Guerra Mundial, Campanhas
Dia a Dia-1939-1945: "Os
espíritos se fortaleceram suavemente em 22 de setembro, quando a 1ª Brigada
polonesa de pára-quedistas, sob o comando do General Sosabowski, chegou ao sul
do rio, mas as balsas haviam sido destruídas e cada tentativa de resgate dos
ingleses pelos poloneses era recebida com fogo de ambas as margens do rio.
Havia sido dito aos homens que eles estariam livres em quatro dias, mas
acabaram por sua própria conta por nove dias.
Três batalhões da 43ª Divisão alcançaram a margem
sul do rio e os homens do 5º cruzamento Dorsets, ajudando os pára-quedistas que
ainda se aguentaram e, na tarde seguinte, a evacuação deles foi organizada.
Naquela noite, o XXX Corps de artilharia baixou uma cortina de fogo arrasadora
contra o perímetro ocupado. Os pilotos dos planadores da Brigada Ar-Terra
definiram uma rota de fuga e guiaram seus companheiros através dos bancos do
rio abaixo, onde engenheiros britânicos e canadenses esperavam em botes de
ataque vindos de Nijmegen".
2- Max
Hastings em sua obra Inferno: O Mundo
em Guerra-1939-1945: "...Apologistas da Market-Garden, como o próprio
Montgomery, afirmaram que a operação alcançou êxito substancial, dando aos
Aliados posse de um profundo saliente na Holanda-o que é um disparate, pois a
rigor, tratava-se de um beco sem saída que não levou os Aliados a parte alguma
até fevereiro de 1945. Durante oito semanas depois da batalha de Arnhem, as
duas divisões americanas foram obrigadas a lutar de forma árdua para manter o
terreno conquistado em setembro, que já não tinha qualquer valor estratégico. O
assalto de Arnhem foi um conceito falho, em que as probabilidades de êxito eram
desprezíveis (...)"
E ainda: "...Por faltar a Eisenhower uma visão
coerente, em geral restava aos seus subordinados competirem entre si e buscarem
seus próprios pontos de vista. A ambição de Montgomery por conduzir uma
investida que pudesse ganhar a guerra, reforçada por sua presunção, levou-o a
tomar para si a única grande operação em que os exércitos aliados poderiam
ganhar apoio logístico naquele outono, através do terreno menos adequado ao
êxito. Montgomery foi incapaz de reconhecer que a desobstrução dos acessos ao
Escalda, para permitir que a Antuérpia operasse como base de suprimentos
aliada, era um objetivo muito mais importante e plausível para seu exército. Em
linguagem familiar, ao avançar para uma ponte no Reno, os líderes aliados
tinham os olhos maiores do que a barriga."
3- Andrew
Roberts em sua obra A Tempestade na
Guerra disse: "...Apesar do formidável heroísmo, enganos foram
cometidos nos estágios do planejamento-principalmente por parte do
tenente-general F.A.M "Boy" Browning, nos aspectos referentes à
inteligência-,siginificando que o esquema estava fadado ao insucesso desde a
sua concepção. Foi o maior ataque aeroterrestre da História, porém a
inteligência, que deveria ter alertado a 1ª Divisão Aeroterrestre de que as
divisões Panzer se reorganizavam próximo a Arnhem, subestimou a informação e,
em consequência, a divisão britânica não levou suficiente número de armas
antitanque para suas respectivas zonas de lançamento (...).
E ainda: "A operação que, no seu conjunto,
ficou conhecida como Market-Garden quase acabou com os escassos recursos dos
Aliados em combatentes e combustíveis exatamente quando Patton se aproximava do
Reno, superando todas as oposições.
Em decorrência, com os avanços dos exércitos aliados emperrados por falta de
suprimentos, eles ficaram incapacitados de atravessar as fronteiras do Reich
por mais seis meses..."
4- Philippe
Masson em sua obra A Segunda Guerra
Mundial, Histórias e Estratégias: ...Market-Garden resulta numa derrota
severa, mesmo que oito pontes tenham sido tomadas. Os alemães conseguiram
impedir o acesso à grande planície do norte e reforçar seu dispositivo no
estuário do Escalda. Assim sendo, a esperança de uma solução rápida se esvai e
os Aliados se acham diante de uma batalha longa e pesada."
Sugestão de filme: "Uma ponte longe
demais" e o vídeo Operação Market-Garden Battlefield-Youtube
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.
Figura: Google
Excelente descrição dessa campanha memorável, mais pelos erros que pelos acertos...
ResponderExcluirO filme citado, "A Bridge Too Far" (salvo engano) é primoroso no registro dos fatos descritos por Márcio.
Parabéns pela matéria, Márcio!