sábado, 23 de setembro de 2017

Semana Nacional de Trânsito: "Minha escolha faz a diferença no trânsito"




O tema da Semana Nacional de Trânsito de 2017 é: “Minha escolha faz a diferença no trânsito”. A proposta é de que o tema seja alvo de reflexão e debates não só durante o período da semana, mas até o fim do ano. Com este tema, pretende-se uma conscientização sobre a responsabilidade do cidadão no trânsito, com a valorização de ações diárias, com a colaboração de todos os participantes deste sistema.

No dia 22 de setembro, como dia integrante desta semana, houve o Dia Mundial sem Carro. Esta data especial foi criada para incentivar as pessoas a refletirem sobre a questão do automóvel no trânsito, pois o alto uso deste tipo de veículo pode causar males ao meio ambiente e à própria questão de qualidade de vida e bem estar. Portanto, é estimulado que se deixe carros e motocicletas em casa e se use  outras formas de locomoção, como a utilização de bicicletas, o andar à pé, o maior uso de transporte coletivo etc. O Dia Mundial sem Carro (Car-Free Day) iniciou na França em 22 de setembro de 1997 e foi se espalhando nos anos seguintes por outras cidades da Europa. Em 2002 a comissão organizadora do Dia Mundial sem Carro promoveu a Semana Europeia da Mobilidade.

No Brasil, o Dia Mundial sem Carro começou a ser comemorado em 2001, nas cidades de Porto Alegre, Caxias do Sul e Pelotas (RS); Piracicaba (SP); Vitória (ES); Belém (PA); Cuiabá (MT), Goiânia (GO); Belo Horizonte (MG); Joinville (SC); São Luís (MA).

Em relação ao Dia Nacional de Trânsito, esta data, 25 de setembro, começou a ser comemorada a partir da criação do Código Nacional de Trânsito, em 1997.  O objetivo era a criação de campanhas significativas para conscientização a respeito dos comportamentos no trânsito e a campanha passou a ser desenvolvida durante a Semana Nacional de Trânsito.

O tema da Semana de 2017 levanta a questão da escolha, de se ter uma responsabilidade pelos próprios atos. Assim, as pessoas precisam saber que escolhas inadequadas podem levar a conflitos ou acidentes  no trânsito. Muitas vezes há participantes no trânsito brasileiro que se omitem de suas responsabilidades, o que é perigoso.

Sobre a questão da "escolha" cito trechos de obras de alguns autores: 

"A liberdade nos coloca em confronto com as escolhas e com nosso ser interior. Quando escolhemos alguma coisa, também devemos assumir a responsabilidade por esta decisão. Feita a escolha, não podemos mais escapar dela" ( de Rudger Safranski em Schopenhauer e os anos mais selvagens da filosofia) . Assim, na tomada de uma decisão no trânsito em fazer isto ou aquilo, a escolha errada pode ter efeitos muito ruins. 

Outra citação de um outro autor: 

“Se verdadeiramente a existência precede a essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço é o de pôr todo homem no domínio que ele é, de lhe atribuir a total responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade, mas que é responsável por todos os homens”( Jean-Paul Sarte em sua obra “O Existencialismo é um Humanismo”). Desta forma se faz uma relação entre a decisão dos indivíduos e a coletividade. No trânsito uma escolha infeliz pode levar a um acidente grave que poderá tirar a vida de várias pessoas, como quando se escolhe dirigir mesmo sabendo que passou a noite bebendo cervejas no bar e se acha capaz, sem considerar a possibilidade do risco de sua própria vida e de outros. 


E ainda o mesmo autor, reforçando a questão de sua responsabilidade social: 

"O homem, estando condenado a ser livre, carrega nos ombros o peso do mundo inteiro: é responsável pelo mundo e por si mesmo enquanto maneira de ser." (Sartre - O Ser e o Nada).

Finalizando, o indivíduo no trânsito tem sua individualidade, é uma pessoa com suas características próprias, sua personalidade. Mas não deve ser um individualista, no sentido de ser um egoísta inconsequente, deve pensar nas consequências de seus atos. É um indivíduo que vive em sociedade, faz parte dela, influencia e é influenciado. Não é um ser separado do mundo.

Em nosso país, por aspectos culturais, foi fortalecida a questão do individualismo, como na situação de quem acha ser diferenciado, que tem privilégios e que é melhor que os outros por ter poder, dinheiro, por ser de tal família, por ter determinado cargo etc. E aí no trânsito pode acontecer aquele célebre fato de uma pessoa dizer: "Você sabe com quem está falando?". E também há o tal "jeitinho brasileiro" de pessoas que querem agir de forma a burlar leis para ter alguma vantagem pessoal. A questão da corrupção, por exemplo, tem destas coisas, a arrogância, a malandragem, o egoísmo, a vontade de tirar proveito sem se importar com a sociedade, desejando escapar das leis e assim "se dar bem". 

Acredito que o tema deste ano tem tudo a ver com a consciência social que todos os participantes do trânsito tem que ter, visando não só a si próprios, mas se vendo numa sociedade e que os atos de cada um são inseridos em um contexto que não é só pessoal, pois no trânsito há vários participantes, cada um com suas características, mas todos em um sistema. E também a questão histórica do uso do automóvel, a chamada "Civilização do Automóvel". Este tipo de sociedade tem que ser repensada, pois há necessidade de mais valorização do transporte público e dos meios alternativos como a bicicleta, como também é preciso mais respeito aos pedestres. 

Que esta Semana do Trânsito em sua proposta de chamar a atenção à questão da consciência e da responsabilidade social,  possa sensibilizar e levar a uma reflexão sobre os comportamentos no trânsito e  que a partir desta reflexão se passe a ter mais cuidados. 

Não será só uma Semana do Trânsito que levará à mudança que tem que haver, mas com frequentes acontecimentos assim e com ações educativas constantes, feitas de diversas formas, pode haver mais pessoas a tomar consciência, mesmo que não integralmente e imediatamente, no entanto progressivamente, de modo que as mudanças necessárias possam ir acontecendo. E além da Educação, a Fiscalização tem que ser bem feita e ser permanente. 

O Brasil, infelizmente, ainda possui um alto número de acidentes de trânsito anualmente e um número de mortes nos trânsito que fica por volta de 40.000 ao ano. Muitas destas pessoas que morrem são jovens com toda uma vida pela frente. E as consequências negativas da violência  no trânsito para o país são muitas, como os custos materiais, em bilhões de reais para a nação; o sofrimento das famílias dos acidentados; os feridos;  os traumatizados fisicamente e psicologicamente; e os prejuízos financeiros dos afetados. 

É preciso continuar fazendo esforços por melhorias no sistema de trânsito e no transporte público, procurando reduzir cada vez mais os conflitos e acidentes,  para termos um trânsito mais humanizado, mais participativo e que haja mais qualidade de vida em nossa sociedade.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História e Psicólogo.


Figura: Google.

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