O tema da Semana
Nacional de Trânsito de 2017 é: “Minha escolha faz a diferença no
trânsito”. A proposta é de que o tema seja alvo de reflexão e debates não só
durante o período da semana, mas até o fim do ano. Com este tema, pretende-se
uma conscientização sobre a responsabilidade do cidadão no trânsito, com a
valorização de ações diárias, com a colaboração de todos os participantes deste
sistema.
No dia 22 de setembro, como dia integrante desta
semana, houve o Dia Mundial sem Carro.
Esta data especial foi criada para incentivar as pessoas a refletirem sobre a
questão do automóvel no trânsito, pois o alto uso deste tipo de veículo pode
causar males ao meio ambiente e à própria questão de qualidade de vida e bem
estar. Portanto, é estimulado que se deixe carros e motocicletas em casa e se
use outras formas de locomoção, como a
utilização de bicicletas, o andar à pé, o maior uso de transporte coletivo etc.
O Dia Mundial sem Carro (Car-Free Day) iniciou na França em 22
de setembro de 1997 e foi se espalhando nos anos seguintes por outras cidades
da Europa. Em 2002 a comissão organizadora do Dia Mundial sem Carro promoveu a Semana Europeia da Mobilidade.
No Brasil, o Dia
Mundial sem Carro começou a ser comemorado em 2001, nas cidades de Porto
Alegre, Caxias do Sul e Pelotas (RS); Piracicaba (SP); Vitória (ES); Belém
(PA); Cuiabá (MT), Goiânia (GO); Belo Horizonte (MG); Joinville (SC); São Luís
(MA).
Em relação ao Dia
Nacional de Trânsito, esta data, 25 de setembro, começou a ser comemorada a partir da
criação do Código Nacional de Trânsito, em 1997. O objetivo era a criação de campanhas
significativas para conscientização a respeito dos comportamentos no trânsito e
a campanha passou a ser desenvolvida durante a Semana Nacional de Trânsito.
O tema da Semana de 2017 levanta a questão da
escolha, de se ter uma responsabilidade pelos próprios atos. Assim, as pessoas
precisam saber que escolhas inadequadas podem levar a conflitos ou
acidentes no trânsito. Muitas vezes há
participantes no trânsito brasileiro que se omitem de suas responsabilidades, o
que é perigoso.
Sobre a questão da "escolha" cito trechos
de obras de alguns autores:
"A liberdade nos coloca em confronto com as
escolhas e com nosso ser interior. Quando escolhemos alguma coisa, também
devemos assumir a responsabilidade por esta decisão. Feita a escolha, não
podemos mais escapar dela" (
de Rudger Safranski em Schopenhauer e os anos mais selvagens
da filosofia) . Assim, na tomada
de uma decisão no trânsito em fazer isto ou aquilo, a escolha errada pode ter
efeitos muito ruins.
Outra
citação de um outro autor:
“Se verdadeiramente a existência precede a
essência, o homem é responsável por aquilo que é. Assim, o primeiro esforço é o
de pôr todo homem no domínio que ele é, de lhe atribuir a total
responsabilidade da sua existência. E, quando dizemos que o homem é responsável
por si próprio, não queremos dizer que o homem é responsável pela sua restrita individualidade,
mas que é responsável por todos os homens”( Jean-Paul Sarte em sua obra “O Existencialismo é um Humanismo”).
Desta forma se faz uma relação entre a decisão dos indivíduos e a coletividade.
No trânsito uma escolha infeliz pode levar a um acidente grave que poderá tirar
a vida de várias pessoas, como quando se escolhe dirigir mesmo sabendo que
passou a noite bebendo cervejas no bar e se acha capaz, sem considerar a
possibilidade do risco de sua própria vida e de outros.
E ainda o mesmo autor, reforçando a questão de sua
responsabilidade social:
"O homem, estando condenado a ser livre,
carrega nos ombros o peso do mundo inteiro: é responsável pelo mundo e por si
mesmo enquanto maneira de ser." (Sartre - O Ser e o Nada).
Finalizando, o indivíduo no trânsito tem sua
individualidade, é uma pessoa com suas características próprias, sua
personalidade. Mas não deve ser um individualista, no sentido de ser um egoísta
inconsequente, deve pensar nas consequências de seus atos. É um indivíduo que
vive em sociedade, faz parte dela, influencia e é influenciado. Não é um ser
separado do mundo.
Em nosso país, por aspectos culturais, foi
fortalecida a questão do individualismo, como na situação de quem acha ser
diferenciado, que tem privilégios e que é melhor que os outros por ter poder,
dinheiro, por ser de tal família, por ter determinado cargo etc. E aí no
trânsito pode acontecer aquele célebre fato de uma pessoa dizer: "Você
sabe com quem está falando?". E também há o tal "jeitinho
brasileiro" de pessoas que querem agir de forma a burlar leis para ter
alguma vantagem pessoal. A questão da corrupção, por exemplo, tem destas
coisas, a arrogância, a malandragem, o egoísmo, a vontade de tirar proveito sem
se importar com a sociedade, desejando escapar das leis e assim "se dar
bem".
Acredito que o tema deste ano tem tudo a ver com a
consciência social que todos os participantes do trânsito tem que ter, visando
não só a si próprios, mas se vendo numa sociedade e que os atos de cada um são
inseridos em um contexto que não é só pessoal, pois no trânsito há vários
participantes, cada um com suas características, mas todos em um sistema. E
também a questão histórica do uso do automóvel, a chamada "Civilização do
Automóvel". Este tipo de sociedade tem que ser repensada, pois há
necessidade de mais valorização do transporte público e dos meios alternativos
como a bicicleta, como também é preciso mais respeito aos pedestres.
Que esta Semana do Trânsito em sua proposta de
chamar a atenção à questão da consciência e da responsabilidade social,
possa sensibilizar e levar a uma reflexão sobre os comportamentos no trânsito
e que a partir desta reflexão se passe a
ter mais cuidados.
Não será só uma Semana do Trânsito que levará à
mudança que tem que haver, mas com frequentes acontecimentos assim e com ações
educativas constantes, feitas de diversas formas, pode haver mais pessoas a
tomar consciência, mesmo que não integralmente e imediatamente, no entanto
progressivamente, de modo que as mudanças necessárias possam ir acontecendo. E
além da Educação, a Fiscalização tem que ser bem feita e ser permanente.
O Brasil, infelizmente, ainda possui um alto número
de acidentes de trânsito anualmente e um número de mortes nos trânsito que fica
por volta de 40.000 ao ano. Muitas destas pessoas que morrem são jovens com
toda uma vida pela frente. E as consequências negativas da violência no trânsito para o país são muitas, como os
custos materiais, em bilhões de reais para a nação; o sofrimento das famílias
dos acidentados; os feridos; os traumatizados fisicamente e
psicologicamente; e os prejuízos financeiros dos afetados.
É preciso continuar fazendo esforços por melhorias
no sistema de trânsito e no transporte público, procurando reduzir cada vez
mais os conflitos e acidentes, para
termos um trânsito mais humanizado, mais participativo e que haja mais
qualidade de vida em nossa sociedade.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História e
Psicólogo.
Figura: Google.
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