quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Homenagem ao Natal




 






Em homenagem ao Natal,  resolvi publicar no blog poesias e textos de autores famosos sobre o Natal.


Organiza o Natal


Alguém observou que cada vez mais o ano se compõe de 10 meses; imperfeitamente embora, o resto é Natal. É possível que, com o tempo, essa divisão se inverta: 10 meses de Natal e 2 meses de ano vulgarmente dito. E não parece absurdo imaginar que, pelo desenvolvimento da linha, e pela melhoria do homem, o ano inteiro se converta em Natal, abolindo-se a era civil, com suas obrigações enfadonhas ou malignas. Será bom.


Então nos amaremos e nos desejaremos felicidades ininterruptamente, de manhã à noite, de uma rua a outra, de continente a continente, de cortina de ferro à cortina de nylon — sem cortinas. Governo e oposição, neutros, super e subdesenvolvidos, marcianos, bichos, plantas entrarão em regime de fraternidade. Os objetos se impregnarão de espírito natalino, e veremos o desenho animado, reino da crueldade, transposto para o reino do amor: a máquina de lavar roupa abraçada ao flamboyant, núpcias da flauta e do ovo, a betoneira com o sagüi ou com o vestido de baile. E o supra-realismo, justificado espiritualmente, será uma chave para o mundo.

Completado o ciclo histórico, os bens serão repartidos por si mesmos entre nossos irmãos, isto é, com todos os viventes e elementos da terra, água, ar e alma. Não haverá mais cartas de cobrança, de descompostura nem de suicídio. O correio só transportará correspondência gentil, de preferência postais de Chagall, em que noivos e burrinhos circulam na atmosfera, pastando flores; toda pintura, inclusive o borrão, estará a serviço do entendimento afetuoso. A crítica de arte se dissolverá jovialmente, a menos que prefira tomar a forma de um sininho cristalino, a badalar sem erudição nem pretensão, celebrando o Advento.


A poesia escrita se identificará com o perfume das moitas antes do amanhecer, despojando-se do uso do som. Para que livros? perguntará um anjo e, sorrindo, mostrará a terra impressa com as tintas do sol e das galáxias, aberta à maneira de um livro.


A música permanecerá a mesma, tal qual Palestrina e Mozart a deixaram; equívocos e divertimentos musicais serão arquivados, sem humilhação para ninguém.


Com economia para os povos desaparecerão suavemente classes armadas e semi-armadas, repartições arrecadadoras, polícia e fiscais de toda espécie. Uma palavra será descoberta no dicionário: paz.


O trabalho deixará de ser imposição para constituir o sentido natural da vida, sob a jurisdição desses incansáveis trabalhadores, que são os lírios do campo. Salário de cada um: a alegria que tiver merecido. Nem juntas de conciliação nem tribunais de justiça, pois tudo estará conciliado na ordem do amor.

Todo mundo se rirá do dinheiro e das arcas que o guardavam, e que passarão a depósito de doces, para visitas. Haverá dois jardins para cada habitante, um exterior, outro interior, comunicando-se por um atalho invisível.

A morte não será procurada nem esquivada, e o homem compreenderá a existência da noite, como já compreendera a da manhã.

O mundo será administrado exclusivamente pelas crianças, e elas farão o que bem entenderem das restantes instituições caducas, a Universidade inclusive.


E será Natal para sempre.


Ah! Seria ótimo se os sonhos do poeta se transformassem em realidade.


Carlos Drumond de Andrade
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O Natal


Ah, o Natal... Ouço pessoas criticarem o consumismo desenfreado que toma as pessoas nesta época cujo significado perdeu-se entre árvores, brinquedos e Papai Noel. Certo, tudo certo...


Mas eu prefiro lembrar que neste final de ano, devido ao famigerado consumismo, milhões de empregos foram gerados e milhões de pessoas puderam resgatar um pouco de sua dignidade.


Prefiro lembrar que neste momento, por conta do dinheiro extra que receberão, muitos pais e mães de família poderão oferecer uma mesa mais farta aos seus filhos.E que devido a alta propaganda de solidariedade que se faz nesta época, crianças carentes poderão ganhar, sim, algum brinquedo.


Prefiro lembrar que muitas pessoas tomadas pelo espírito disseminado nesta época mover-se-ão à caridade e a solidariedade com o próximo.E que você... você poderá, enfim, dar e receber o abraço daquelas pessoas que você gosta mas que por falta de “motivo” para abraçar ficou contido até agora...


Ah, como Deus escreve certo por linhas tortas. O que era para ser “apenas” a celebração do nascimento de Jesus, universalizou-se numa celebração de Fraternidade e Amor.Bem ou mal, o Amor está em toda parte!


E se ainda assim você não quiser celebrar esta data, não tem problema:Quero convidar-te a fazer como fossem Natal todos os teus dias!

 Augusto Branco
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Poema de Natal


Para isso fomos feitos:

Para lembrar e ser lembrados

Para chorar e fazer chorar

Para enterrar os nossos mortos —

Por isso temos braços longos para os adeuses

Mãos para colher o que foi dado

Dedos para cavar a terra.

Assim será nossa vida:

Uma tarde sempre a esquecer

Uma estrela a se apagar na treva

Um caminho entre dois túmulos —

Por isso precisamos velar

Falar baixo, pisar leve, ver

A noite dormir em silêncio.

Não há muito o que dizer:
Uma canção sobre um berço

Um verso, talvez, de amor

Uma prece por quem se vai —

Mas que essa hora não esqueça

E por ela os nossos corações

Se deixem, graves e simples.

Pois para isso fomos feitos:

Para a esperança no milagre

Para a participação da poesia

Para ver a face da morte —

De repente nunca mais esperaremos…

Hoje a noite é jovem; da morte, apenas

Nascemos, imensamente.

Vinicius de Moraes

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Chove. É Dia de Natal

Chove. É dia de Natal.

Lá para o Norte é melhor:

Há a neve que faz mal,

E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente

Porque é dia de o ficar.

Chove no Natal presente.

Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse

O Natal da convenção,

Quando o corpo me arrefece

Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra

E o Natal a quem o fez,

Pois se escrevo ainda outra quadra

Fico gelado dos pés.


Fernando Pessoa
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Natal na Província
Natal... Na província neva.

Nos lares aconchegados,

Um sentimento conserva

Os sentimentos passados.

Coração oposto ao mundo,

Como a família é verdade!

Meu pensamento é profundo,

Estou só e sonho saudade.

E como é branca de graça

A paisagem que não sei,

Vista de trás da vidraça

Do lar que nunca terei!

Fernando Pessoa

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 Natal

Mais uma vez, cá vimos

Festejar o teu novo nascimento,

Nós, que, parece, nos desiludimos

Do teu advento!

Cada vez o teu Reino é menos deste mundo!

Mas vimos, com as mãos cheias dos nossos pomos,

Festejar-te, — do fundo

Da miséria que somos.

Os que à chegada

Te vimos esperar com palmas, frutos, hinos, 


Somos — não uma vez, mas cada —

Teus assassinos.

À tua mesa nos sentamos:

Teu sangue e corpo é que nos mata a sede e a fome;

Mas por trinta moedas te entregamos;

E por temor, negamos o teu nome.

Sob escárnios e ultrajes,

Ao vulgo te exibimos, que te aclame;

Te rojamos nas lajes;

Te cravejamos numa cruz infane.

Depois, a mesma cruz, a erguemos,

Como um farol de salvação,

Sobre as cidades em que ferve extremos

A nossa corrupção.

Os que em leilão a arrematamos

Como sagrada peça única,

Somos os que jogamos,

Para comércio, a tua túnica.

Tais somos, os que, por costume,

Vimos, mais uma vez,

Aquecer-nos ao lume

Que do teu frio e solidão nos dês.

Como é que ainda tens a infinita paciência

De voltar, — e te esqueces

De que a nossa indigência

Recusa Tudo que lhe ofereces?

Mas, se um ano tu deixas de nascer,

Se de vez se nos cala a tua voz,

Se enfim por nós desistes de morrer,

Jesus recém-nascido!, o que será de nós?!

José Régio

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Canto de Natal  


O nosso menino

Nasceu em Belém.

Nasceu tão-somente

Para querer bem.

Nasceu sobre as palhas

O nosso menino.

Mas a mãe sabia

Que ele era divino.

Vem para sofrer

A morte na cruz,

O nosso menino.

Seu nome é Jesus.

Por nós ele aceita

O humano destino:

Louvemos a glória

De Jesus menino.

Manuel Bandeira

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O Que Fizeram do Natal 


Natal

O sino toca fino.

Não tem neves, não tem gelos.

Natal.

Já nasceu o deus menino.

As beatas foram ver,

Encontraram o coitadinho

(Natal)

mais o boi mais o burrinho

e lá em cima

a estrelinha alumiando.

Natal.

As beatas ajoelharam

e adoraram o deus nuzinho

mas as filhas das beatas

e os namorados das filhas

foram dançar black-bottom

nos clubes sem presépio.


Carlos Drummond de Andrade


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

Figura: Google



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