quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

O poeta romântico brasileiro Fagundes Varela

 







Em 18 de fevereiro de 1875 falecia em Niteroi, Rio de Janeiro, o poeta de estilo romântico (na fase chamada de “Mal-do-século” ou “Ultrarromântica”) Luís Nicolau Fagundes Varela, mais conhecido como Fagundes Varela. Foi um poeta de destaque no seu tempo, tendo sido patrono na Academia Brasileira de Letras. Fez parte da transição entre a terceira e a quarta geração romântica. Existe muito lirismo bucólico em obras dele. É considerado pelos estudiosos o precursor da poesia social e abolicionista.

As características de suas obras são: Fuga da realidade; Morbidez; Pessimismo; Exagero sentimental; Individualismo; Temática amorosa; Idealização da mulher; Mal do Século: tédio e melancolia; Locushorrendus: lugar tempestuoso.

Ele era bisneto do Barão do Rio Claro. Nasceu em São João Marcos, que hoje em dia é Rio Claro (RJ), em 17 de agosto de 1841. Seu pai era o juiz Emiliano Fagundes Varela e sua mãe Emiliano Fagundes Varela, oriundos de famílias com recursos na província do Rio de Janeiro. A infância do poeta foi na fazenda da família e na vila de São Marcos. Foi morar em Catalão, em Goiás, por causa da transferência de seu pai em 1851. Anos depois o poeta residiu em Angra dos Reis e Petrópolis. Nessa cidade realizou seus estudos primário e secundário. Fez seu estudos preparatórios em São Paulo. Entrou em 1862 na Faculdade de Direito (frequentou esse curso em São Paulo e em Recife), mas não chegou a terminar o curso porque escolheu seguir o caminho da literatura e também envolveu-se com a boemia. Seu primeiro livro, Noturnas, foi publicado em 1861. O livro tinha somente 32 páginas, com influência do poeta Byron e outros poetas românticos.

 

Casou-se aos 20 anos com a artista de circo Alice Guilhermina Luande, de Sorocaba. Tal fato causou um escândalo em sua família e o poeta teve dificuldades financeiras graves. Ao morrer seu primeiro filho, Emiliano, com três meses de idade, o poeta escreveu inspirado nesse fato triste o poema “Cântico do Calvário”. O poeta Manuel Bandeira comentou sobre o poema:

 

"...uma das mais belas e sentidas nênias da poesia em língua portuguesa. Nela, pela força do sentimento sincero, o Poeta atingiu aos vinte anos uma altura que, não igualada depois, permaneceu como um cimo isolado em toda a sua poesia."

Foi a partir desse acontecimento triste na vida dele que se por um lado se deixou levar cada vez mais pelo alcoolismo também por outro lado teve aguçada a sua inspiração para escrever. Assim, publicou as obras Vozes da América (1864) e Cantos e fantasias (1865), considerada a sua obra-prima. Aproximadamente em 1866 Alice Luande falece, quando Fagundes Varela tinha viajado para Recife. Depois ele chegou a morar em Paris. Tentou voltar ao curso de Direito em 1867, porém abandonou de novo o curso indo morar na casa do pai, na fazenda de sua infância. Casou-se com a prima Maria Belisária de Brito Lambert em 1869, tendo com ela duas filhas e um filho que faleceu logo. Fica morando na casa do pai, escrevendo poesias e aproveitando a natureza. Não perdeu o hábito da boemia. Viveu o fim de sua vida com o pai em Niteroi a partir de 1870, indo vez ou outra para fazendas de parentes, pois gostava muito do campo. Frequentando círculos boêmios no Rio de Janeiro e sendo sustentado pelo pai, veio a falecer aos 33 anos de derrame (AVC).

 

Segundo a Professora licenciada em Letras Daniela Diana: “Sua poesia, além de abordar temas sociais e políticos, foca em temas como a solidão, a melancolia, a angústia, a desilusão e o desengano. Algumas de suas obras são: Noturnas (1861); Cântico do Calvário (1863); Pendão Auri-verde (1863); Vozes da América (1864); Cantos e Fantasias (1865);Cantos Meridionais (1869); Cantos do Ermo e da Cidade (1869); Anchieta ou Evangelho na Selva (1875); Cantos Religiosos (1878); Diário de Lázaro (1880)”. 



 

 

Algumas poesias de Fagundes Varela:

 

Cântico do Calvário (À memória do filho do poeta que morreu em 11 de dezembro de 1863)

Eras na vida a pomba predileta
Que sobre um mar de angústias conduzia
O ramo da esperança. — Eras a estrela
Que entre as névoas do inverno cintilava
Apontando o caminho ao pegureiro.
Eras a messe de um dourado estio.
Eras o idílio de um amor sublime.
Eras a glória, — a inspiração, — a pátria,
O povir de teu pai! — Ah! no entanto,
Pomba, — varou-te a flecha do destino!
Astro, — engoliu-te o temporal do norte!
Teto, — caíste! — Crença, já não vives!

Oh! quantas horas não gastei, sentado
Sobre as costas bravias do Oceano,
Esperando que a vida se esvaísse
Como um floco de espuma, ou como o friso
Que deixa n’água o lenho do barqueiro!
Quantos momentos de loucura e febre
Não consumi perdido nos desertos,
Escutando os rumores das florestas,
E procurando nessas vozes torvas
Distinguir o meu cântico de morte!
Quantas noites de angústias e delírios
Não velei, entre as sombras espreitando
A passagem veloz do gênio horrendo
Que o mundo abate ao galopar infrene
Do selvagem corcel?... E tudo embalde!

Mas não! Tu dormes no infinito seio
Do Criador dos seres! Tu me falas
Na voz dos ventos, no chorar das aves,
Talvez das ondas no respiro flébil!
Tu me contemplas lá do céu, quem sabe,
No vulto solitário de uma estrela,
E são teus raios que meu estro aquecem!
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“Tristeza”:

Minh’alma  é como o deserto
De dúbia areia coberto,
Batido pelo tufão;
É como a rocha isolada,
Pelas espumas banhadas,
Dos mares na solidão.

Nem uma luz de esperança,
Nem um sopro de bonança
Na fronte sinto passar!
Os invernos me despiram
E as ilusões que fugiram
Nunca mais hão de voltar! (...)

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"Flor do Maracujá":

Pelas rosas, pelos lírios,
Pelas abelhas, sinhá,
Pelas notas mais chorosas
Do canto do sabiá,
Pelo cálice de angústias
Da flor do maracujá!
Por tudo que o céu revela!
Por tudo o que a terra dá
Eu te juro que minh’alma
De tua alma escrava está! ...
Guarda contigo este emblema
Da flor do maracujá!

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"A Dança de Salomé"

Ela volteia, a doida bailarina!
Na dança figurada, aos ágeis passos
Mistura os mais garridos movimentos,
Os gestos ais lascivos. Arquejante,
Às vezes para do salão no centro,
Suspira e cerra os olhos... Vai quem sabe?
Sucumbir de cansaço! Mas engano!
Reanima-se, ri, levanta os braços. (...)

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"O que eu adoro em ti não são teus olhos,
teus lindos olhos cheios de mistério,
por cujo brilho os homens deixariam
da terra inteira o mais soberbo império.

O que eu adoro em ti não são teus lábios,
onde perpétua juventude mora,
e encerram mais perfumes do que os vales
por entre as pompas festivais da aurora.

O que eu adoro em ti não é teu rosto
perante o qual o marmor descorara,
e ao contemplar a esplêndida harmonia
Fídias, o mestre, seu cinzel quebrara.

O que eu adoro em ti não é teu colo,
mais belo que o da esposa israelita,
torre de graças, encantado asilo,
aonde o gênio das paixões habita.

O que eu adoro em ti não são teus seios,
alvas pombinhas que dormindo gemem,
e do indiscreto vôo duma abelha
cheias de medo em seu abrigo tremem.

O que eu adoro em ti, ouve, é tu'alma,
pura como o sorrir de uma criança,
alheia ao mundo, alheia aos preconceitos,
rica de crenças, rica de esperança.

São as palavras de bondade infinda
que sabes murmurar aos que padecem,
os carinhos ingênuos de teus olhos
onde celestes gozos transparecem!...

Um não sei quê de grande, imaculado,
que faz-me estremecer quando tu falas,
e eleva-me o pensar além dos mundos
quando, abaixando as pálpebras, te calas.

E por isso em meus sonhos sempre vi-te
entre nuvens de incenso em aras santas,
e das turbas solícitas no meio
também contrito hei-te beijado as plantas.

E como és linda assim! Chamas divinas
cercam-te as faces plácidas e belas,
um longo manto pende-te dos ombros
salpicado de nítidas estrelas!

Na doida pira de um amor terrestre
pensei sagrar-te o coração demente...
Mas ao mirar-te deslumbrou-me o raio...
tinhas nos olhos o perdão somente!".

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Serão os gênios da tarde
Que passam sobre as campinas,
Cingido o colo de opalas

E a cabeça de neblinas,
E fogem, nas harpas de ouro
Mensagens a dedilhar?

São os sabiás que cantam...
Não vês o sol declinar?

Ou serão talvez as preces
De algum sonhador proscrito,
Que vagueia nos desertos,
Pedindo a Deus um consolo
Que o mundo não pode dar?

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Quem és tu, pobre vivente,
Que vagas triste e sozinho,
Que tens os raios da estrela,
E as asas do passarinho?
A noite é negra; raivosos
Os ventos correm do sul;
Não temes que eles te apaguem
A tua lanterna azul?
Quando tu passas, o lago
De estranhos fogos esplende,
Dobra-se a clícia amorosa,
E a fronte mimosa pende.
As folhas brilham, lustrosas,
Como espelhos de esmeralda;
Fulge o iris nas torrentes
Da serrania na fralda.
O grilo salta das sarças;
Piam aves nos palmares;
Começa o baile dos silfos
No seio dos nenufares.
A tribo das mariposas,
Das mariposas azuis,
Segue teus giros no espaço,
Mimosa gota de luz!
São elas flores sem haste;
Tu és estrela sem céu;
Procuram elas as chamas;
Tu amas da sombra o véu!
Quem és tu, pobre vivente,
Que vagueias tão sozinho,
Que tens os raios da estrela,
E as asas do passarinho?

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+fagundes+varela&sxsrf=ALeKk03womIsOjX_zTkfFd5-4QOuv0MKPQ:1614282319513&tbm=isch&source=i

 

 

terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

A História das Tunas

 







Este artigo é sobre a historia das Tunas. Mas o que é uma Tuna? É um grupo de músicos, com a característica fundamental de ser constituído por cordofones. Segundo uma explicação no livro “QVID TUNAE - A Tuna Estudantil em Portugal” , de 2011,dos autores Eduardo Coelho, Jean Pierre Silva, Rocardo Tavares e João Paulo Sousa, o primeiro livro em todo o mundo a procurar explicar as Tunas, o motivo do nome “tuna” é porque as “thunes” (albergues para pessoas pobres), provavelmente recebiam estudantes sem muitos recursos que lá ficavam hospedados quando passavam pelas cidades nas quais participavam de atividades musicais. Outras explicações também são possíveis para o nome.

Uma tuna pode ser descrita conforme seu tipo instrumental, por exemplo, só utilizar instrumentos (foi como começou) ou também com canto (que é mais comum hoje em dia). Pode ser uma tuna estudantil (a origem está nas estudantinas do século XIX e início do XX) e os músicos podem tocar sentados ou em pé ou mesmo as duas formas. Tunas Acadêmicas ou Universitárias são tunas de caráter estudantil. Em relação às acadêmicas podem ser formações de estudantes de um liceu (que foram numerosas desde o século XIX até a década de 70 do século XX) e no caso das universitárias são as constituídas por alunos de uma Universidade. 

Os agrupamentos que deram origem às tunas começaram a partir da década de 1830, na Espanha. Eram as “Estudantinas”, grupos carnavalescos que se trajavam como estudantes. Características presentes de tunas espanholas passaram a fazer parte também de tunas portuguesas, como a forma de ficar em pé e de conduzir o estandarte e as pandeiretas, os símbolos nas capas.

Em meados do século XIX ou um pouco depois, já existiam registros de tunas em Portugal. Foram importantes as visitas da Tuna de Santiago de Compostela (com hierarquia, regras e organização própria) e depois a de Salamanca à Universidade de Coimbra. Por essa época surgiu a Estudantina de Coimbra. Outras foram criadas por estudantes universitários ou de liceus, por esses tempos, como as do Porto, Viseu, Lisboa etc. Ainda existe dessa época inicial das tunas portuguesas a Tuna Académica do Liceu de Évora.

Em fins do século XIX destacaram-se a Estudantina Espanhola e a Estudantina Figaro, formada por músicos profissionais, que teve influência na formação de grupos assim pela Europa e até mesmo na América Central e na do Sul.  Essas duas “estudantinas” influenciaram também no repertório musical: erudito, popular e outros. Interessante é que houve estudantinas que não tinham só estudantes como membros e parte delas nem tinha ligação universitária. Para se afastar do termo estudantina, já que havia grupos desse tipo que não tinham estudante, os estudantes passam a valorizar o termo “Tuna”. E como em Portugal havia tunas de estudantes e de outras de não estudantes, começou-se a adicionar o termo “Acadêmica” para as tunas só de estudantes. Grande parte dos estudantes aprendia música na tuna onde entrava.

Houve em tempos antes das estudantinas carnavalescas (que originaram depois as tunas), a ideia de "correr la tuna"(que era mais uma forma de viver com características como o engano, a mendicidade, a busca de sustento), havendo  uma destacada imagem do estudante boêmio. 

Há uma versão mais romântica sobre a origem das tunas que fala dos goliardos (Pessoas pobres do Clero, que estudavam em Universidades e que tornavam-se itinerantes, com jeito provocador e que Idade Média andavam por tavernas, portas de Universidades e outros lugares, cantando e declamando poemas (poemas que podiam ser satíricos, eróticos, cínicos), fazendo denúncias de abusos e de corrupção. No livro "QVID TUNAE?” (livro já mencionado), não é aceita a teoria dos goliardos e nem que trovadores, menestreis e jograis sejam antepassados das Tunas.

Hoje em dia os membros de uma Tuna Acadêmica são principalmente estudantes universitários. Os tunantes tocam música erudita, adaptações de temas, música popular e podem ser composições originais com base na boemia, no amor, tendo certa proximidade com o fado e até mesmo com um estilo de música com característica humorística. Os participantes destas Tunas Acadêmicas usam o traje das instituições de ensino nas quais estudam ou então trajes especiais que podem ter inspiração em roupas estudantis do passado ou adaptações de acordo com características regionais.

As tunas populares, em Portugal e outros países europeus, existiam nos meios rural e urbano, podendo ser temporárias ou de forma mais permanente. Podiam ser amadoras ou terem um caráter mais de uma orquestra com fama. Podiam ser formadas só por homens ou só por mulheres ou serem mistas. Podiam representar corporações (sapateiros, caixeiros etc) ou de aldeias ou bairros.  Também existiram tunas de grupos políticos (como as tunas ligadas a movimentos republicanos).

Nos tempos atuais ainda existem as tunas acadêmicas universitárias. Esta existência deve muito ao ressurgimento das tunas a partir dos anos de 1980. Esta tuna acadêmica atual tem a ver com um grupo musical formado por alunos ou ex-alunos do ensino superior. Os principais instrumentos usados em uma Tuna são: Guitarra clássica, cavaquinho, bandolim, bandola, baixo acústico ou contrabaixo, pandeireta, acordeão, bombo, flauta, violino e viola. É muito comum haver tunas entre as tradições acadêmicas e em cidades com universidades. Membros de tunas muitas vezes se vestem com capas negras e os estudantes cantam baladas e serenatas. Há festivais de tunas, com a presença de grupos da península ibérica e da América do Sul e de outros lugares.

O clube Tuna Luso Brasileira, em Belém do Pará, surgiu de uma tuna musical. Tinha no seu início o nome de Tuna Luso Caixeiral (depois teve o nome de Tuna Luso Comercial), com origem em primeiro de janeiro de 1903, inicialmente formado por 21 caixeiros viajantes portugueses. Com saudades da terra, o grupo se uniu para tocar música portuguesa no Pará. O caixeiro Manoel Nunes da Silva, que estava no porto de Belém, era o líder de uma orquestra que tocava e cantava canções para diminuir a saudade em relação a Portugal. O nome Tuna era por ser um grupo musical; Luso para se referir às terras portuguesas; e Caixeiral devido os fundadores serem caixeiros (comerciantes). A Tuna Luso de 1903 a 1906 se dedicou à música, tendo até contratado a orquestra portuguesa Antônio Lobo, famosa na época. Somente em 1906 a Tuna Luso começou a realizar atividades esportivas, com destaque nesses tempos para o esporte de barcos a remo, tendo sido chamada de “A Rainha do Mar”, por causa de seus triunfos neste esporte. Hoje em dia a Tuna Luso Brasileira continua sendo um grande clube de Belém do Pará e possui diversos títulos esportivos.




                                                     Tuna Luso Brasileira




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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

A História do Leite Condensado

 









Em 1820, o francês Nicolas Appert fez experiências para uma pesquisa para esterilização e conservação de alimentos usando embalagens herméticas. E em 1828 outro francês, Malbec, utilizou o método de Appert ao leite fresco de vacas para criar o leite condensado, que se espalha pela Europa e em 1853 chegou aos Estados Unidos por meio de Gail Borden, que patenteou o método em 1856. O leite condensado consiste em um produto que resultou da remoção parcial de água do leite, com adição de açúcar. O leite não passa por condensação e sim por um processo de evaporação.

Em 1861 o leite condensado foi mais difundido comercialmente nos Estados Unidos graças à Guerra de Secessão, para ser consumido por soldados, sendo fácil de transportar e para fornecer energia para quem o consumia. A primeira indústria criada para produzir leite condensado surgiu em 1867, sendo fundada pelo norte-americano George Page, dono da Anglo Swiss Condensed Milk, iniciando na Suiça a produção de leite condensado, aproveitando a grande quantidade de leite existente e que tinha boa qualidade.

O suíço Meyenberg aperfeiçoou o método de fabricação desse produto utilizando um sistema de esterilização em autoclave, no qual o leite era esquentado até uma temperatura de 120º C em um recipiente fechado sob alta pressão. Por meio dessa técnica era possível comercializar em latas. Meyenberg patenteou o sistema por ele criado e em 1885 foi para os Estados Unidos, onde se dedicou à instalar fábricas de leite condensado. Com ou sem açúcar e em lata, o leite condensado foi bastante consumido como alimento infantil no século XIX e no começo do século XX e também no período anterior à Primeira Guerra Mundial como uma alternativa ao leite fresco, quando ainda não havia geladeira elétrica.

Em 1905 duas grandes empresas que trabalhavam com laticínios se fundiram originando a Nestlé & Anglo Swiss Condensed Milk Co. Antes dessa fusão, o leite condensado mais popular da Suíça era o La Laitiére, que significa “vendedora de leite”. E a Nestlé criou então a embalagem com a jovem camponesa suíça. No Brasil essa imagem deu origem ao “Leite Moça” porque os brasileiros chamavam de “leite da moça” devido ao rótulo. A Nestlé então passou a chamar o leite condensado que produzia no Brasil de “Leite Moça”. Com pouco açúcar no mercado na década de 1940, o leite condensado se tronou muito popular, servindo em especial para se fazer sobremesas.

No Brasil o leite condensado inicialmente era importado da Europa e dos Estados Unidos. Em 1871 já havia anúncios em uma revista da época (o Almanak Administrativo, Mercantil e Industrial da Côrte e da Província do Rio de Janeiro) sobre a venda de leite condensado em uma loja na região central da cidade do Rio de Janeiro. Em 1876 o leite condensado em latas já era conhecido na Bahia. Em 1885 a Gazeta da Tarde do Rio de Janeiro anunciava o “Leite Condensado Marca Barbacena, preparado pelo Sr. Henrique Nestlé, o afamado auctor da Farinha Láctea”. Houve outros anúncios em jornais da época (Jornal do Comércio do Rio de Janeiro, em 1888; O Estado de S. Paulo, em 1890). A fabricação do produto pela Nestlé no Brasil começou em 1921, na cidade de Araras, em São Paulo. Mas a Fábrica Ararense, em São Paulo, em 1914 já fabricava o leite condensado. A maior fábrica do mundo de leite condensado localiza-se atualmente no Brasil, na cidade de Montes Claros, em Minas Gerais. O consumo no Brasil é muito utilizado para se fazer sobremesas e para coberturas de bolos e tortas, sendo o principal ingrediente do doce brigadeiro, assim como do pudim feito com leite condensado.

O leite condensado caseiro, possui mais adição de açúcar e pode ser preparado colocando-se leite em pó integral e lactose. Outras variedades (por exemplo, o leite evaporado e pressurizado a 120º) não contém açúcar ou pouco açúcar (no caso do leite condensado industrial que vem em latinhas). O processo todo nas fábricas consiste em centrifugar o leite e assim se eliminar impurezas, para depois vir a pasteurização (aquecido a 75º por 20 segundos). Aí então é acrescentado o açúcar (no caso do leite condensado serve como conservante natural) e se coloca a mistura toda em um evaporador à vácuo em temperaturas entre 50º e 70°, eliminando-se 60% da água. Quando o leite esfria, coloca-se lactose em pó.

Há certos cuidados quando se consome leite condensado. Como já disse quando escrevi sobre as histórias da maionese, do ketchup e da rapadura, o excesso de tais alimentos, assim como o de leite condensado sobre o qual tratei neste artigo, pode fazer mal à saúde. Mais especificamente em relação ao leite condensado, embora seja uma fonte de energia, tem que se levar em conta o açúcar contido nele e a gordura saturada. Portanto, pessoas com muito peso, diabéticos ou com problemas com  alto colesterol e triglicérides no sangue devem ser cautelosas. A nutricionista Ana Paula Gines disse: “Cada colher de sopa de leite condensado tem 65 kcal, o que representa 3% de todas as calorias que uma pessoa saudável pode consumir por dia.” Desta forma, você que gosta de um Leite Moça, cuidado com os excessos!

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 


Figura: https://www.google.com/search?q=figura+de+leite+condensado&sxsrf=ALeKk01MhSn0lj6AVda3UeizqYNYES8zQQ:1614048985404&tbm=isch&source

 




sábado, 20 de fevereiro de 2021

A Historia da Rapadura

 







A rapadura (o nome é uma variação de "raspadura", porque vem do verbo raspar) é um doce típico do Nordeste do Brasil e de outras regiões da América Latina (nos países Colômbia, Venezuela, México, Equador e Guatemala é chamada de panela; no México é piloncillo, na Bolívia, Peru e Chile é chancaca; na Costa Rica é tapa de dulce; na Argentina, na Guatemala e no Panamá também é conhecida como rapadura) feito a partir da cana de açúcar em forma de blocos pequenos, de gosto e composição semelhantes ao açúcar mascavo. Na Índia também há o consumo de rapadura.

No século XVI a rapadura já era fabricada em engenhos de pequeno porte para resolver a questão de como transportar o açúcar em pequenas quantidades para uso individual e também utilizada na alimentação dos escravos. Os senhores de engenho no Brasil colonial perceberam que os escravos utilizavam as raspas do tacho onde fervia o caldo da cana, que ficavam duras, não derretiam com facilidade e eram parecidas com um doce conhecido nas Ilhas Canarias e nos Açores. A técnica de fabricação desses doces então foi adaptada nos engenhos para fazer a rapadura, incialmente chamada de raspadura. A produção era muito simplória, em moendas de madeira movidas a água ou por cavalos e bois.

Os blocos de rapadura eram mais resistentes que o açúcar granulado, que umedecia e melava com mais facilidade e podiam ser transportados com muito menos dificuldade, pois podiam ser colocados em sacolas de viajantes, geralmente bandeirantes ou tropeiros. Muitos deles viajavam em carros de boi ou em burros e a rapadura tinha a vantagem de ter uma boa durabilidade, servir de alimento e também como adoçante.

Na atualidade, a rapadura é considerada mais nutritiva que o açúcar refinado, que é composto essencialmente de sacarose. É rica em Tiamina, Riboflavina e Niacina, viaminas do complexo B. Possui também outras vitaminas e proteinas. É um doce com muitas calorias (92 calorias em 25 gramas). As melhores rapaduras são as feitas com cana doce e limpa. As técnicas de fabricação, assim como equipamentos e modo de produção não são complexos e toda a produção é feita de maneira artesanal, com processos manuais e reduzidos meios tecnológicos. Era considerado um alimento básico para os gangaceiros.

O maior produtor mundial é a Índia. Em segundo lugar vem a Colômbia, que é o maior produtor da América Latina. Os estados que mais produzem rapadura no Brasil são Minas Gerais, Pernambuco e Ceará. Há no Ceará,  na cidade de Aquiraz, o Museu da Rapadura. Na Paraíba, na cidade de Areia, há o Museu do Brejo Paraibano, também chamado de Museu da Rapadura, criado pela Universidade Federal da Paraíba. A maior rapadura do Brasil foi feita em setembro de 2013, em Pindoretama, com 5113 kg, 1,8 m de largura por 3,7 m de comprimento e 27 cm de espessura.

As fases para a fabricação da rapadura são: o corte de cana de açúcar (sem a queima da cana), a moagem da cana no engenho, decantação do caldo de cana para separação das impurezas, fervura do caldo (em um mesmo tacho ou em até cinco tachos, em engenhos com mais tecnologia). Na fase de decantação é preciso impedir que haja a fermentação. Quando o caldo se torna melado é batido para ter maior consistência e é colocado nas formas tradicionais. Somente quando a rapadura tiver endurecido, esfriado e adquirido a sua forma é que pode ser retirada dos moldes e ser embalada. As formas podem ser nos tamanhos de tabletes de 20 a 25 gramas ou em barras de 500 gramas ou um quilo. Ela pode também ser consumida com sabores diferenciados, em forma de bebida alcóolica e como rapadura mole.

Uma empresa alemã chegou a registrar a rapadura como sua marca registrada para o mercado alemão em 1989 e anos depois também registrou nos Estados Unidos. Em 2005 grupos de defesa da cultura nordestina e outras instituições brasileiras protestaram no exterior e em 2008 a empresa da Alemanha desistiu da propriedade intelectual sobre o nome rapadura, perdendo a exclusividade sobre o uso comercial do termo.

Embora haja benefícios à saúde com o consumo da rapadura (tem vários nutrientes e  vitaminas,  produz energia para o corpo e na sua receita tradicional não são usados corantes e conservantes) é preciso não exagerar, pois assim pode fazer mal à saúde, já que tem gorduras e é muito doce. Segundo especialistas o ideal é consumir uma porção de somente 30 gramas por vez.

 

Sugestão de vídeos:

 

 

Produção de rapadura

https://www.youtube.com/watch?v=FjwknQHj_M0


  

Os benefícios da rapadura

 

https://www.youtube.com/watch?v=4HuEm3Mgw2Y

 

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura:https://www.google.com/search?q=imagem+de+rapadura&client=firefox-b-d&tbm=isch&source=


terça-feira, 16 de fevereiro de 2021

A Historia da Maionese

 






A maionese é um molho, muito utilizado para fazer saladas e sanduíches. Os elementos básicos da maionese são ovos, óleo vegetal e um líquido ácido, geralmente vinagre ou suco de limão. Estes elementos são misturados e no caso da maionese industrial somente os ovos são aquecidos (pasteurizados), para evitar a bactéria salmonela, que pode ser muito perigosa para a saúde, podendo até mesmo causar a morte. Também na maionese industrializada são usados conservantes. O pote desta maionese deve ser hermeticamente fechado. Após aberto, ele tem que ficar em ambiente refrigerado por até 30 dias. Há a maionese que pode ser feita em casa, mas possui validade bem menor que a industrial. Quem consome maionese deve consumir com moderação por causa das calorias e do sal. Podem ser utilizados alguns temperos junto aos elementos básicos da maionese como mostarda, alho e pimenta do reino.  A maionese possui muita vitamina E.

Há mais de uma versão para a criação da maionese. No site da maionese Hellman’s a explicação para sua origem é a seguinte: “Reza a lenda que a maionese seja uma invenção do chef francês do Duque de Richelieu em 1756. Enquanto o Duque derrotava os britânicos no porto de Mahon [na atual ilha espanhola de Minorca], o chef dele preparava um banquete para comemorar a vitória que inclui um molho feito com creme e ovos. Quando o chef percebeu que não havia creme na cozinha, improvisou e substituiu o creme por azeite de oliva. Uma nova obra culinária havia nascido e o chef a batizou de “mahonese” em homenagem à vitória do Duque”. O escritor de gastronomia Tom Nealon não concordou com essa versão e disse que a salsa mahonesa” foi criada no Mediterrâneo antes da época descrita nessa história, tendo se originado a partir de uma combinação antiga que levava alho e azeite de oliva, que tinha nomes como allioli, alholi ou aioli.  “Allioli, segundo o escritor da Roma antiga Plínio, sempre foi um prato de preparo muito difícil de se fazer. Para a bioquímica Shirley O. Corriher,   a mistura que originou a maionese permaneceu por muitos anos como um segredo catalão e que provavelmente durante a Renascença alguém acrescentou um ovo e um ácido à receita. A gema do ovo servia para unir o óleo e a água do vinagre ou do suco de limão.

A cidade de Maó (na ilha de Minorca, nas ilhas Baleares, pertencentes à Espanha), defende que foi lá que surgiu a maionese.  Segundo essa versão, o produto que deu origem à maionese foi levado de Maó para a França após a batalha de Minorca, em 1756, quando os franceses derrotaram os ingleses. Em castelhano o condimento era chamado de salsa mahonesa e maonesa na língua catalã. Na cozinha francesa o produto popularizou-se como mayonnaise.

Uma outra versão diz que Luis XV mandou o general Louis François Armand de Vignerot de Plessis, o terceiro Duque de Richelieu, para conquistar a ilha de Minorca. Após a conquista da cidade de Mahon, o cozinheiro do Duque teria de preparar um banquete de comemoração. Como não existiam natas para fazer o molho que ele queria fazer para acompanhar a comida, o cozinheiro usou então azeite, ovos e sal. O molho foi batizado de Mahonaise por causa da cidade de de Mahon. Há uma outra versão que conta que o cozinheiro francês aprendeu a receita com a população local. Vários países europeus começaram a consumir maionese. O chef francês Marie-Antoine Carême tornou o molho mais leve. Ele trocou o azeite de oliva por óleo vegetal de sabor neutro, por ser mais fácil de emulsionar com as gemas. Esse tipo de maionese ficou famoso e foi muito apreciado na Rússia. Durante o século XIX livros de receitas ingleses e alemães que se inspiravam na cozinha francesa começaram a usar a palavra maionese (ou magnonnaise) e logo depois os chefs franceses que viviam nos Estados Unidos também passaram a utilizar maionese. Em 1838 eram oferecidos no restaurante gourmet Delmonico, em Manhattan, Nova York, uma maionese de lagosta e uma maionese de frango.


Em 1905 um alemão, Richard Hellmann, que possuía uma loja gourmet na cidade de Nova York , resolveu usar a receita de maionese de sua esposa e vendia maionese pronta em potes de madeira. Em 1912 ele abriu a primeira fábrica. Por razões de higiene em 1913 começou a comercializar maionese em potes de vidro. Era chamada de “Hellman’s Blue Ribbon Mayonnaise. Logo a maionese tornou-se popular. Outras empresas de fabricação de maionese surgiram, masHellmann’s dominou o mercado. Segundo uma publicação de 1937 nos Estados Unidos: “A maionese, que até então era considerada um luxo, tornou-se uma necessidade básica, não apenas nas casas dos ricos, mas também na mesa dos trabalhadores”.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: https://www.blogger.com/blog/post/edit/1042539871208354879/6793901843859323691




segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

A Historia do Ketchup

 








O ketchup está presente em muitas mesas pelo mundo. Nós o usamos há bastante tempo. Porém quantos conhecem sua história? É uma história interessante, com uma ligação com a história de conservação de alimentos.  O jornal New York Tribune , nos Estados Unidos, em 1896, mencionou o produto dizendo que era um condimento nacional que estava em “todas as mesas do território”. O ketchup que usamos atualmente é uma receita do século 19. Seu ancestral mais destacado foi um subproduto de entranhas de peixe fermentado ao sol chamado de garum ou liquamen e era muito apreciado entre os romanos mais ricos. Através dos tempos enfim se conseguiu chegar a um mistura de doce, salgado, ácido, aromático e unami (significa delicioso em japonês). O nome “ketchup” originou-se de um dialeto chinês: kêtsiap. Era um molho de peixe condimentado. Na Inglaterra molhos parecidos usavam cogumelos, ostras, pepino e nozes. A escritora Jane Austin, adorava o ketchup de nozes. Nos Estados Unidos, surgiu o ketchup de cogumelo por volta de 1770, sendo feito pelos colonos nas Treze Colônias.

Em 1804 surgiu uma das primeiras receitas com tomate publicada no livro Tomato sauce. O empresário Henry J. Heinz partiu dessa receita para criar o seu Tomato Catsup. A receita dele sofreu alterações no começo do século XX para tirar alguns conservantes prejudiciais à saúde. Há outras variações possíveis para o ketchup como,por exemplo, com manga, banana e goiaba.

Na verdade, a historia do ketchup está ligada à Ásia, Europa e ao continente americano. Aproximadamente em 300 a . C, em território de onde hoje em dia é o Vietnã,apareceram os primeiros registros de um molho fermentado de peixe e soja.  Surgia o Kê-tsiap, que no dialeto chinês hokkien, falado em partes do Sudeste asiático, quer dizer “salmoura de peixe em conserva”. Era um molho popular. Daquela região do sudeste asiático foi se espalhando para outros lugares na Ásia como na Indonésia, onde foi provado no século 18 pelos ingleses, que tinham colônias asiáticas. Eles então levaram a ideia para a Grã-Bretanha.  Como não existia soja na Europa os ingleses adaptaram o molho. Foram usados ingredientes como cogumelos, feijões, anchovas, nozes, ostras etc. A primeira receita inglesa é de 1727. Na época foi chamado de “katshop” e foram usados na receita vinagre e vinho branco, gengibre, pimenta e casca de limão. A experiência foi bem sucedida, em especial por seu tempo de duração, em um tempo que a conservação de alimentos era muito mais difícil. O molho era usado na época com carnes, peixes, pães etc.

A introdução do tomate como ingrediente importante do ketchup veio tempos depois. O tomate veio da América, sendo conhecido pelos astecas como tomatl (fruto suculento). Ele foi levado para a Europa no século XVI. De início era usado só como elemento decorativo porque os europeus achavam que pudesse ser venenoso.  Somente quase 300 anos depois é que ele foi amplamente utilizado por cozinheiros europeus, sendo os primeiros os franceses e os italianos, que o tornaram um patrimônio nacional. O italiano Francesco Cirio criou a primeira fábrica italiana de conservas industriais em 1856 e fez da conserva de tomates um símbolo comercial da Itália. Em 1871, com a unificação da Itália, esse empresário italiano pôde instalar diversas fábricas no sul do país. Com a emigração italiana para os Estados Unidos o tomate começou a ser muito utilizado nesse país no fim do século XIX e início do XX.  Na cidade de Nova York em 1910 havia 545 mil imigrantes italianos. Nos anos de 1930 havia latas de conserva de tomates presentes em muitas mercearias da cidade.

Em 1812, na Filadélfia, foi inventado o ketchup à base de tomate pelo cientista e horticultor James Mease. A receita tinha .polpa de tomate, conhaque e algumas especiarias. Só que devido à pouca duração da polpa de tomate, o produto ficava em desvantagem. E aí começou-se a colocar conservantes por fabricantes para o produto durar mais. E tais conservantes, como alcatrão de hulha (para realçar a cor avermelhada) e benzoato de sódio (para prolongar a data de validade) eram perigosos para a saúde. Em 1837, Jones Yerkes engarrafou o ketchup de tomate para comercialização nos Estados Unidos, mas o produto não atraiu muito o consumidor, sendo vendido em galões.

O químico Harvey Washington Wiley no final do século XIX fez várias críticas ao uso de conservantes, devido ao perigo para a saúde. Ele defendia que não fossem colocados tais conservantes e que se usasse ingredientes de ótima qualidade. Então um empresário resolveu adotar a ideia de Wiley: Henry John Heinz.

Nascido em 1844, filho de alemãesHeinz desde criança ajudava a mãe a vender conservas de raiz-forte. Ele fundou a Heinz Company em 1869. A empresa faliu em 1873. E voltou em 1876. Heinz acreditava na regulação alimentícia. Ele passou a fabricar um ketchup com tomates mais maduros, que davam cor ao molho e com mais vinagre, que ajudava a conservar o molho. Assim o empresário foi bem sucedido. Na Exposição Universal, que aconteceu na Filadélfia, o ketchup da Heinz foi um sucesso. As indústrias da Heinz em Pittsburgh iniciaram um processo de automatização em 1897, com linhas de produção e divisão de tarefas. Ford só 11 anos depois montou suas linhas de montagem do carro Ford Modelo T. E com a introdução da primeira máquina de automatizar a manufatura de potes de vidro o custo de produção do ketchup caiu mais de 90%.Em 1905 já eram vendidas pela Heinz mais de 12 milhões de unidades do molho pelo mundo.

Heinz procurou se aproximar do governo dos Estados Unidos. Era uma estratégia de desenvolvimento empresarial. Em 1906 o empresário apoiou a elaboração da primeira lei de proteção ao consumidor para regular alimentos e medicamentos nocivos: a Pure Food and Drug Act, Essa lei deu origem mais tarde ao Food and Drug Administration (FDA), órgão regulador de alimentos e drogas nos Estados Unidos. E na Segunda Guerra Mundial, os soldados dos Estados Unidos se alimentavam principalmente a base de enlatados fabricados pela Heinz e de outra fábrica, a Campbell Soup. Nos anos 70 a Heinz começou a entrar no mercado chinês.

Nos anos 20 do século passado, o jornalista Jean-Baptiste Malet, em seu livro O Império do Ouro Vermelho, sobre a história da indústria do tomate, destacou: “O frasco de ketchup, ao lado da garrafa da Coca-Cola, é um dos símbolos mais famosos da americanização do mundo”.

Hoje em dia o ketchup é feito com um concentrado de tomates especiais. É o chamado “tomate industrial”. Ele se parece muito com o tomate comum, mas é mais rígido, menor e é mais viscoso que outros tipos de tomate. Pois quanto menos água no interior do tomate é melhor para a indústria de concentrados de tomate. O crescimento desse tipo especial de tomate é controlado e os pés mais baixos, com a finalidade de ser mais fácil para colher. Desde a década de 1930 começou-se a fazer pesquisas para se chegar a estes tomates diferenciados. Só que, conforme especialistas em alimentos, no processo da fabricação do ketchup é perdida uma grande parte das boas propriedades nutricionais do tomate. 

A nação que mais exporta tomates nos dias de hoje é a China, plantando tomates industriais para produzir toneladas de concentrado para ser vendido para outros países. Mas o maior produtor são os Estados Unidos, em especial a Califórnia, estado que produz para abastecer o mercado interno desse país.

Assim, viu-se a trajetória do ketchup, como começou em geral como um molho de peixe fermentado até chegar ao tipo mais consumido no mundo atual, que é o de tomate, sendo usado em cozinhas de muitos países pelo mundo, podendo ser puro ou fazendo parte de receitas e na pizza é usado no Brasil, na Polônia, Líbano etc. O historiador Ken Albala, da Universidade do Pacífico disse: “Como historiador da comida, eu o vejo como um produto verdadeiramente global, com suas origens moldadas por séculos de comércio”. E também disse o mesmo autor: “Diferentes culturas adotaram uma ampla variedade de usos surpreendentes para o condimento que hoje conhecemos como ketchup.”

Neste artigo procurei me deter na história do ketchup, mas apesar de ser um produto muito consumido em diversos países, é preciso atentar sobre o que especialistas na área de saúde alertam a respeito de alguns riscos devido ao açúcar e sódio presentes no produto. Segundo Meredith Heil, redatora especializada em gastronomia do site Thrillist: “Uma colher de ketchup tem em média 167mg de sódio. Mas isso não é quase nada comparado à quantidade de açúcar. De acordo com o site especializado Hungry for Change, cada colher do molho possui cerca de 4 gramas desse carboidrato adocicado.” Portanto, ao consumir é necessário ter moderação. 

 

Sugestão de vídeos:

 https://www.youtube.com/watch?v=e3-4lzg3fvQ&feature=emb_rel_end

 

https://www.borelliacademy.com.br/artigo/a-historia-da-heinz

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

Figura:https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03lj4cXpwKWwBd_dVDxtl-URgk44Q:1613415597861&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+ketchup&sa=X&ved


segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

Homenagem ao ator Christopher Plummer

 






No 5 de fevereiro de 2021 morreu, aos 91 anos, o conhecido ator canadense Christopher Plummer. Ele teve complicações após uma queda em sua casa. Segundo sua família Plummer havia: "morrido pacificamente em sua casa em Connecticut com sua esposa Elaine Taylor ao seu lado". Ele ficou muito conhecido pelo seu papel como Capitão Von Trapp, no filme The Sound of Music (conhecido no Brasil como "A Noviça Rebelde"), de 1965. Segundo informações dos agentes do ator, o mesmo morreu “ pacificamente”, de causas naturais. O agente do ator Lou Pitt, que trabalhou muitos anos com Plummer disse a respeito da morte dele: “Chris era um homem extraordinário, profundamente amado e respeitado em sua profissão. Ele era um verdadeiro cavalheiro, tinha um humor autodepreciativo maravilhoso, e um ouvido perfeito para a musicalidade das palavras. [...] Sua arte e sua humanidade tocaram todos os nossos corações, e sua lendária vida vai seguir como exemplo para as próximas gerações. Ele estará para sempre conosco."

Arthur Christopher Orme Plummer  nasceu em,13 de dezembro de 1929  em Toronto e cresceu em Senneville, Quebec . Ele atuou no cinema, na televisão e no teatro. Em 2012 ele, aos 82 anos, se tornou o mais velho ator a receber um Oscar, como ator coadjuvante por seu trabalho em ‘Toda Forma de Amor". Disse ele na ocasião, ao subir ao palco com a estatueta nas mãos: "Você é só dois anos mais velha que eu, querida. Onde esteve minha vida toda?". Além dessa indicação que lhe valeu o prêmio, ele também tinha sido indicado por "A Última Estação" , filme de 2009. Foi lembrado ainda para o Oscar por sua atuação em "Todo o Dinheiro do Mundo", de 2017, quando tinha 88 anos, tornando-se o mais velho ator a ser indicado a um Oscar competitivo. Na sua vida ganhou diversos prêmios. Além do Oscar ele ganhou: dois Primetime Emmy Awards, um Globo de Ouro, dois Tony Awards e um British Film Award. Foi o único canadense a receber a Tríplice Coroa de Atuação.

Christopher era o filho único de um vendedor de ações e títulos, John Orme Plummer e sua esposa Isabella Mary, que trabalhava na Universidade McGill, neta de Sir John Abbot, que foi primeiro ministro do Canadá. Seus pais se divorciaram quando ele era ainda recém nascido. Ele foi criado principalmente por sua mãe, tendo aprendido as duas línguas do Canadá, inglês e francês. Na escola estudou para ser pianista, mas inclinou-se para o teatro e começou a atuar na sua juventude, tendo estudado em técnicas de atuação no Montréal Repertory Theatre. Plummer lamentou-se por muitos anos de não ter frequentado uma faculdade. Sua atuação como Sr. Darcy na produção de Orgulho e Preconceito foi elogiada em 1946 pelo crítico de teatro  e diretor de palco amador Herbert Whittaker, que deu a Plummer novas oportunidades e ele em 1953 ele atuou em Nina, peça de André Roussin. Em fevereiro de 1953 estreou na televisão canadense na produção de Othello da Canadian Broadcasting Corporation. Nesse mesmo ano também estreou na televisão nos Estados Unidos e nos anos 50 teve outras participações em programas de televisão desse país.

Em 1953, Plummer estreou na Broadway em The Starcross Story, com apenas uma noite de apresentação. Em 1954 apareceu em Home is the Hero, com 30 apresentações e atuou em The Dark Is Light Enough de fevereiro a abril de 1955. Nesse ano atuou em The Lark, peça em que teve seu primeiro sucesso na Broadway. Atuou em outras peças e foi indicado para seu primeiro prêmio Tony como Melhor Ator em Teatro.

Em 1965 o filme The Sound of Music, que foi um sucesso de bilheteria, trouxe mais fama a Christopher Plummer. Mas ele não gostou do filme, tendo descrito o mesmo como "tão horrível, sentimental e pegajoso”. Apesar de críticas ao filme, não quis atingir a atriz Julie Andrews, com quem teve prazer em trabalhar. Não apareceu na comemoração do 40º aniversário do filme com a presença do elenco, embora tenha feito comentários para o lançamento do DVD e aceitou a comparecer no 45º aniversário do filme em 2010. Disse uma vez sobre o personagem dele no filme, o Capitão von Trapp: "Embora tenhamos trabalhado duro o suficiente para torná-lo interessante, foi um pouco como açoitar um cavalo morto. E o assunto não é meu. Quer dizer, não pode agradar a todas as pessoas no mundo”. Posteriormente acabou dizendo sobre o filme: "Mas foi um filme muito bem feito, e é um filme de família e não vimos um filme de família, não acho, nessa escala há muito tempo".Plummer não foi só ator. Ele escreveu para teatro, televisão e salas de concerto.

A primeira esposa de Plummer foi a atriz Tammy Grimes. Eles se casaram em 1956 e o casamento durou quatro anos. Desse casamento nasceu a única filha de Christopher, Amanda Plummer. Porém, devido à interferência de sua ex-esposa, ele teve poucos contatos com a filha durante a infância e adolescência dela. Mas quando ela se tornou adulta eles firmaram uma relação de amizade. A segunda esposa foi a jornalista Patricia Lewis, com quem se casou em maio de 1962 e se separaram em 1967. Em 2 de outubro de 1970 casou-se com a atriz Elaine Taylor.

Quando soube da morte de Plummer, a atriz Julie Andrews, que atuou com ele em TheSound  of Music declarou: "O mundo perdeu um ator consumado hoje e eu perdi um amigo querido.Guardo as memórias de nosso trabalho juntos e todo o humor e diversão que compartilhamos ao longo dos anos". Também prestaram homenagem a Plummer Jamie Lee Curtis, Chris Evans, Don Johnson, Willian Shatner, Ane Hathaway, Elijah Wood, Vera Farmiga, Ridley Scoot, Antonio Banderas, Russel Crowe e outros.

Plummer mostrou ecletismo em sua carreira, atuando em vários tipos de filmes tais como:  "A Volta da Pantera-Cor-de-Rosa" (1975), "O Homem Que Queria Ser Rei" (1975), "Assassinato por Decreto" (1979), "Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida" (1991), , "Malcolm X" (1992), "Os 12 Macacos" (1995), "O Informante" (1999), "Drácula 2000", "Uma Mente Brilhante" (2001), "A Lenda do Tesouro Perdido" (2004), "A Casa do Lago" (2007), "Up: Altas Aventuras" (2009, dublando o vilão Charles Muntz), "Entre Facas e Segredos" (2019). Também fez diversos trabalhos na Tv como: ),"Arthur Hailey's the Moneychangers" (1976), o mega hit televisivo "Os Pássaros Feridos" (1983),"As Novas Aventuras de Madeline" (1994) etc.

 

Sugestão de videos:

https://www.youtube.com/watch?v=cjHaSuECHSQ

https://g1.globo.com/pop-arte/playlist/videos-trailers-de-filmes-de-christopher-plummer.ghtml


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Márcio José Matos Rodrigues

 

Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00nwsDHUOlPX_1olHUvwKBQEIrJpw%3A1612838201137&source=hp&ei=OfUhYMCLBrrY5OUPkcOLuAo&q=fotos+de+christopher+plummer&oq=fotos+&gs