Este artigo é sobre a historia das
Tunas. Mas o que é uma Tuna? É um grupo de músicos, com a característica
fundamental de ser constituído por cordofones. Segundo uma explicação no livro “QVID
TUNAE - A Tuna Estudantil em Portugal” , de 2011,dos autores Eduardo Coelho, Jean Pierre
Silva, Rocardo Tavares e João Paulo Sousa, o primeiro livro em todo o mundo a
procurar explicar as Tunas, o motivo do nome “tuna” é porque as “thunes” (albergues
para pessoas pobres), provavelmente recebiam estudantes sem muitos recursos que
lá ficavam hospedados quando passavam pelas cidades nas quais participavam de
atividades musicais. Outras explicações também são possíveis para o nome.
Uma tuna pode ser descrita conforme seu
tipo instrumental, por exemplo, só utilizar instrumentos (foi como começou) ou
também com canto (que é mais comum hoje em dia). Pode ser uma tuna estudantil
(a origem está nas estudantinas do século XIX e início do XX) e os músicos
podem tocar sentados ou em pé ou mesmo as duas formas. Tunas Acadêmicas ou
Universitárias são tunas de caráter estudantil. Em relação às acadêmicas podem
ser formações de estudantes de um liceu (que foram numerosas desde o século XIX
até a década de 70 do século XX) e no caso das universitárias são as
constituídas por alunos de uma Universidade.
Os agrupamentos que deram origem às
tunas começaram a partir da década de 1830, na Espanha. Eram as “Estudantinas”,
grupos carnavalescos que se trajavam como estudantes. Características presentes de tunas espanholas passaram a
fazer parte também de tunas portuguesas, como a forma de ficar em pé e de
conduzir o estandarte e as pandeiretas, os símbolos nas capas.
Em meados do século XIX ou um pouco depois, já existiam registros de tunas em Portugal. Foram importantes as visitas da Tuna de Santiago de Compostela (com hierarquia, regras e organização própria) e depois a de Salamanca à Universidade de Coimbra. Por essa época surgiu a Estudantina de Coimbra. Outras foram criadas por estudantes universitários ou de liceus, por esses tempos, como as do Porto, Viseu, Lisboa etc. Ainda existe dessa época inicial das tunas portuguesas a Tuna Académica do Liceu de Évora.
Em fins do século XIX destacaram-se a Estudantina Espanhola e a Estudantina Figaro, formada por músicos profissionais, que teve influência na formação de grupos assim pela Europa e até mesmo na América Central e na do Sul. Essas duas “estudantinas” influenciaram também no repertório musical: erudito, popular e outros. Interessante é que houve estudantinas que não tinham só estudantes como membros e parte delas nem tinha ligação universitária. Para se afastar do termo estudantina, já que havia grupos desse tipo que não tinham estudante, os estudantes passam a valorizar o termo “Tuna”. E como em Portugal havia tunas de estudantes e de outras de não estudantes, começou-se a adicionar o termo “Acadêmica” para as tunas só de estudantes. Grande parte dos estudantes aprendia música na tuna onde entrava.
Houve em tempos antes das estudantinas carnavalescas (que originaram depois as tunas), a
ideia de "correr la tuna"(que era mais uma forma de viver com
características como o engano, a mendicidade, a busca de sustento),
havendo uma destacada imagem do estudante
boêmio.
Há uma versão mais romântica sobre a origem das tunas que fala dos goliardos (Pessoas pobres do Clero, que estudavam em Universidades e que tornavam-se itinerantes, com jeito provocador e que Idade Média andavam por tavernas, portas de Universidades e outros lugares, cantando e declamando poemas (poemas que podiam ser satíricos, eróticos, cínicos), fazendo denúncias de abusos e de corrupção. No livro "QVID TUNAE?” (livro já mencionado), não é aceita a teoria dos goliardos e nem que trovadores, menestreis e jograis sejam antepassados das Tunas.
Hoje em dia os membros de uma Tuna Acadêmica são principalmente estudantes universitários. Os tunantes tocam música erudita, adaptações de temas, música popular e podem ser composições originais com base na boemia, no amor, tendo certa proximidade com o fado e até mesmo com um estilo de música com característica humorística. Os participantes destas Tunas Acadêmicas usam o traje das instituições de ensino nas quais estudam ou então trajes especiais que podem ter inspiração em roupas estudantis do passado ou adaptações de acordo com características regionais.
As tunas populares, em Portugal e outros países europeus,
existiam nos meios rural e urbano, podendo ser temporárias ou de forma mais
permanente. Podiam ser amadoras ou terem um caráter mais de uma orquestra com
fama. Podiam ser formadas só por homens ou só por mulheres ou serem mistas. Podiam
representar corporações (sapateiros, caixeiros etc) ou de aldeias ou
bairros. Também existiram tunas de
grupos políticos (como as tunas ligadas a movimentos republicanos).
Nos tempos atuais ainda existem as tunas acadêmicas
universitárias. Esta existência deve muito ao ressurgimento das tunas a partir
dos anos de 1980. Esta tuna acadêmica atual tem a ver com um grupo musical
formado por alunos ou ex-alunos do ensino superior. Os principais instrumentos
usados em uma Tuna são: Guitarra clássica, cavaquinho,
bandolim, bandola, baixo acústico ou contrabaixo, pandeireta, acordeão, bombo,
flauta, violino e viola. É muito comum haver tunas entre as tradições acadêmicas
e em cidades com universidades. Membros de tunas muitas vezes se vestem com
capas negras e os estudantes cantam baladas e serenatas. Há festivais de tunas,
com a presença de grupos da península ibérica e da América do Sul e de outros
lugares.
O clube Tuna Luso Brasileira, em Belém do Pará, surgiu de
uma tuna musical. Tinha no seu início o nome de Tuna Luso Caixeiral (depois teve o nome de Tuna Luso Comercial), com origem
em primeiro de janeiro de 1903, inicialmente formado por 21 caixeiros viajantes
portugueses. Com saudades da terra, o grupo se uniu para tocar música
portuguesa no Pará. O caixeiro Manoel Nunes da Silva, que estava no porto de Belém, era o
líder de uma orquestra que tocava e cantava canções para diminuir a saudade em
relação a Portugal. O nome Tuna era por ser um grupo musical; Luso para se
referir às terras portuguesas; e Caixeiral devido os fundadores serem caixeiros
(comerciantes). A Tuna Luso de 1903 a 1906 se
dedicou à música, tendo até contratado a orquestra portuguesa Antônio Lobo, famosa
na época. Somente em 1906 a Tuna Luso começou
a realizar atividades esportivas, com destaque nesses tempos para o esporte de
barcos a remo, tendo sido chamada de “A Rainha do Mar”, por causa de seus
triunfos neste esporte. Hoje em dia a Tuna Luso Brasileira continua sendo um grande clube de Belém
do Pará e possui diversos títulos esportivos.
Tuna Luso Brasileira
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Márcio
José Matos Rodrigues-Professor de História
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