O meu último artigo de novembro de 2021
é sobre o milho. O milho é um cereal que é cultivado em muitos lugares do mundo
e pode ser usado como alimento para os seres humanos ou como ração para
animais. Pertence ao grupo dos angiospermas (que produz as sementes no fruto).
Antes se pensava que o milho tinha como antecessor o teosinto. Mas os cientistas
Magelsdort e Reeves fizeram estudos e apresentaram provas de que o teosinto é
resultado de uma hibridação do milho.
Sobre a origem do milho, surgiu
provavelmente no México, pois a domesticação do milho começou há milhares de
anos, entre 7500 a 12.000 anos atrás na parte central do México. A origem da
palavra milho vem do latim vulgar milium, originando-se o termo no
numeral mil, por causa da considerável quantidade de grãos em uma espiga. Na
língua castelhana é chamado mijo e na língua portuguesa foi
chamado de milhete ou painço. Também
para o milho há o termo maís que se originou na língua
dos Tainos da ilha de Hispaniola, o que levou ao termo em
língua portuguesa maisena, que vem do milho. No século XVIII o
milho tinha as denominações milho zaburro, milho grande, milho
graúdo, milho maís, milhão, milho grosso e milho
de maçaroca. No Brasil os indígenas de língua tupi chamavam o milho
como avati, auati, abati etc.
O milho em estado puro ou como
ingrediente de outros produtos destaca-se como fonte energética, sua casca é
rica em fibras e o grão possui carboidratos, proteínas e vitaminas do complexo
B. Possui também quantidades consideráveis de açúcares e gorduras. Hoje em dia
há muita mecanização no cultivo do milho. Ele tem um alto potencial produtivo,
tendo tido uma produção mundial de 817 milhões de toneladas em 2009. Os Estados
Unidos são atualmente o maior produtor do mundo, com quase 50% da produção
mundial. Também se destacam como grandes produtores: A China, a Índia, o
Brasil, a França, a Indonésia e a África do Sul.
A estudiosa Mary Poll, em uma
publicação na revista Proceedings of the National Academy of Scienes,
disse que datam de há 7300 anos os primeiros registros do cultivo do milho,
encontrados em ilhas pequenas no litoral do México. Na caverna Guila Naquitz,
no Vale de Oaxaca, foram encontrados vestígios arqueológicos de
milho, por volta de 6250 anos atrás. O nome de origem indígena caribenha queria
dizer “sustento da vida”. Civilizações importantes da América como Olmecas,
Maias, Astecas e Incas utilizaram o milho como alimento básico. Tais povos
faziam homenagem ao milho em suas artes e religiões. Para Astecas,
Toltecas e Maias foi o deus Quetzalcóatl que originou os
homens e o milho para alimentá-los. Determinadas variedades selvagens de milho
foram transformadas progressivamente em plantas cultivadas devido a processos
de mutação e seleção natural em conjunto com os indígenas americanos.
Segundo Scheryem Plantas úteis
para o homem: “(...) As autoridades não estão de acordo quanto ao lugar de
origem do milho, no entanto a maioria coincidem em que se estende desde o
centro dos Andes, no noroeste da América do Sul, e por acaso (mais tarde),
desde o outro centro, ao norte da América Central e México. Há outra teoria
sobre a possibilidade de que o milho possa ter cruzado o Pacífico
tropical, desde a área de Burma, com os navegadores, para começar a sua
carreira espetacular desde a costa Peruana. É possível que nunca saibamos como
foram os verdadeiros começos desta importante gramínea, mas desde os tempos
históricos que a vemos progredir rapidamente até aos nossos dias, em que o
mundo depende de muitos milhões de toneladas de um cereal que não pode existir
sem ser cultivado.»
Os indígenas americanos plantavam milho
em montes por meio de um sistema complexo. De início havia uma variação de
espécies de milho, mas depois passou a ser plantada uma única espécie. A partir
da chegada dos europeus no final do século XV, omilho passou a ser plantado em
outros locais fora da América. Na América do Sul ainda há muito plantio no
sistema tradicional chamado no Brasil de roça. No Brasil o
consumo do milho é significativo, porém é menor que o que existe no México e em
países caribenhos.
Povos indígenas da América criaram
lendas sobre como o milho passou a fazer ser um alimento para eles. Para povos
mexicanos antigos antes da época atual houve quatro épocas anteriores. Segundo
essas crenças, o fim da cada uma dessas quatro era marcado por cataclismas.
Quando começava uma nova época havia uma evolução dos seres vivos,
comparando-se a época anterior. O deus Quetzalcóatl, ajudado por
larvas e abelhas, conseguiu roubar os ossos de gerações passadas que estavam
na Terra dos Mortos, que era vigiada por Mictlantecuhtli,
o Senhor dos Mortos. Quetzalcóatl então teria sido ajudado
pela deusa da fertilidade chamada Quilaztli, moendo os ossos,
colocando-os numa taça e cobrindo-os com o sangramento de partes de seu corpo.
Surgem assim Oxomoco e Cipactónal, que seriam o
Adão e a Eva para esses povos americanos. Era preciso haver um bom alimento
para eles. E foi assim que a formiga negra, conhecedora da existência do milho,
ajudou Quetzalcóatl a encontra-lo.
Povos antigos do México consumiam
o Atolli (espécie de mingau) que era feito principalmente de
milho. Havia o xocoatolli, um mingau de milho que era alimento do
povo Quaquata, do México. Era feito com milho vermelho
da região. Quando os europeus chegaram na América, o milho era cultivado em uma
extensão da América do Norte até a América do Sul. Os nativos da América do
Norte e os dos Andes utilizavam o milho como cereal. Os indígenas que viviam em
áreas de florestas usavam o milho para consumo imediato. Era o milho verde que
era cozido ou assado. Havia também em áreas da América do Sul e Antilhas a
farinha de milho e a bebida fermentada chicha . Milho era para
muitos povos americanos associado à vida. Além de ser comido por diversos
desses povos cozido e assado, também era moído, fazendo-se bolos e pães, assim
como o milho foi usado para fazer pipoca.
Entre os usos do milho por indígenas
brasileiros, pode-se citar os Caiabi, na região do atual Mato
Grosso. Eles preparavam um mingau de milho, no qual os grãos tinham sido
pilados, peneirados e se cozia a farinha com mandioca-doce, com acréscimo de
amendoim torrado e moído. Também esse povo fazia um mingau com farinha de milho
seco, cozida por bastante tempo na água e ao esfriar se colocava batata-doce.
Faziam também mingaus de milho verde e farinhas de milho verde e do seco. A de
milho seco tinha o acréscimo de amendoim torrado e pilado, como também farinha
de mandioca, sendo uma farinha consumida com peixe ou carne de caça.
Os indígenas do litoral paranaense
usavam a quirera (milho moído), a pamonha e a pipoca, todos derivados do milho.
No Pará os Arawé consumiam muito o milho, especialmente como
farinha de milho, paçoca, cauim, mingau de milho verde e mingau doce. Para esse
povo a roça de milho era mais importante que a de mandioca. Também no Pará,
os Paranakã comiam milho assado e os Xicrim consumiam
um mingau de milho parecido com a pamonha, como também milho torrado com
banana, peixe ou carne. Os Guarani que viviam em São Paulo
comiam milho assado ou cozido e também como bolo.
Indígenas venezuelanos utilizavam o
milho na alimentação e também como isca para pegar macacos . Os macacos iam
roubar as espigas de milho, alguns eram atingidos por flechas e serviam de
comida para os indígenas.
Índios norte-americanos usavam como uma
parte de sua alimentação o milho, o feijão e a abóbora. Havia tribos do Canadá
que cultivavam mais de quinze espécies de milho e com esse eram
preparadosbolinhos, pães, sopas. Ao milho também eram adicionados feijões,
carne, farelo de girassol, nozes. Havia também o pão de milho, feito com milho
moido , feijão e nozes secas. Outra comida desse povo era um cozido feito com
milho e feijão.
Existiam festas dos indígenas
norte-americanos no início da colheita do milho. Tais festas duravam vários
dias. Os Creek consideravam o início do amadurecimento do
milho como o início do Ano Novo. Os Hurons faziam um tipo de
canjica e tribos do sudoeste do Canadá faziam uma farinha grossa de grãos de
milhos torrados e moídos, que muitas vezes era misturada com ervas e temperos.
Essa farinha era o pinole. Havia tribos dos Iroqueses que
cozinhavam o milho com carne, feijão e vegetais. Os Pueblos faziam
um tipo de tortilha de farinha de milho, cinza de madeira e água. Uma tribo do
nordeste dos atuais Estados Unidos, os Wampanoag, cultivavam tipos
diferentes de milho: o negro, o branco, o amarelo, o azul, o bege, o esverdeado
etc. Esse povo também aproveitava, além do grão para alimento, a palha, que era
usada para fazer cestos, esteiras, bonecas e o sabugo era usado como dardo de
jogos, chocalho e combustível. Diversas outras tribos da América do Norte
utilizavam o milho de diferentes formas.
Na Europa, o milho do tipo que os
indígenas americanos conheciam, não existia antes das grandes navegações que
começaram no final do século XV. Mas na Antiguidade havia, segundo alguns
autores antigos como Plínio, o Velho, um milho miúdo (milium) e o
milhete (panicum) que eram consumidos entre os etruscos. Na Idade Média
também havia menções ao milhete e ao milho miúdo. Foi a partir de Colombo,
quando participantes da expedição dele em Cuba conheceram o milho, que este
chegou à Europa. Historiadores de renome chamaram as Américas de Civilização
do Milho. Na Europa o milho rapidamente começou a se espalhar. Os
portugueses o levaram para ser cultivado na África. Posteriormente os europeus
o introduziram na Ásia.
Na Idade Moderna o milho foi de início
consumido entre as pessoas mais humildes. Os nobres e a burguesia tinham
discriminação em relação ao milho, encarando-o como ração para animais. Somente
décadas após o milho já estar sendo consumido pelos mais pobres é que a elite
europeia também passou a usar o milho para consumo próprio. Os pobres usavam o
milho em especial como farinha para sopas, papas e guisados. Mas na Itália o
milho superou o uso dos antigos milhete e milho miúdo e foi introduzido na
culinária italiana, surgindo a polenta. Já os franceses aderiram ao consumo do
milho vindo da América a partir do século XVII e criaram uma iguaria chamada
de milhade ou millase. O uso cada vez maior do
milho e da batata nos séculos XVIII e XIX contribuiu para um aumento da
produção de alimentos para centros urbanos da Europa que ficavam cada vez mais
povoados, principalmente após as revoluções burguesas.
No Brasil o milho antes da chegada dos
portugueses já era muito usado como alimento por povos nativos, embora o
principal uso da maioria dessas populações fosse a mandioca. Não demorou muito
para que os portugueses começassem a usar o milho na alimentação para animais e
depois também para consumo humano. Segundo Câmara Cascudo, já no século XVII:
“o milho dava bolos, havendo ovos, leite, açúcar e a mão da mulher portuguesa
para a invenção”. O milho no Brasil passou a ser usado em sobremesas
e com a influência italiana, surgem as polentas. Atualmente há muitos usos para
o milho no Brasil e em outros países, sendo usado em diversos pratos e também
há o óleo de milho, a farinha de milho, o xarope de milho, bebidas destiladas
etc.
Uma discussão do mundo de hoje diz
respeito ao milho transgênico. A variedade RR GA21, que é tolerante ao herbicida
glifosato, é a variedade de milho geneticamente modificado mais conhecida.
É muito usada nos Estados Unidos. Outras empresas que usam milho transgênico
são a Syngenta, a BASF, a Bayer e a Dupont. Em 1999 o governo brasileiro
autorizou a empresa Novartis a realizar testes no país com a variedade de milho
transgênico BT, resistente a insetos. Tem havido em certas partes do mundo um
aumento considerável na produção do milho transgênico. Nos Estados Unidos mais
de 70% do milho semeado é transgênico. Há críticos que se opõem ao milho
transgênico. Um dos argumentos de quem defende o milho transgênico é o aumento
médio de produtividade e também dizem que o milho que existe atualmente tem sido modificado no decorrer dos últimos séculos, pois o milho
original dos indígenas tinha espigas pequenas, com grãos faltando e muito
suscetível a doenças e pragas. Os críticos não consideram seguro para o consumo
de seres humanos e para o meio ambiente o milho que passou por modificação
genética, pois o milho geneticamente modificado recebeu DNAs de um ou mais
seres que naturalmente não se cruzariam e segundo esses críticos, pode haver
sim danos à saúde (como alergias, riscos de câncer etc) e interferências
nocivas à natureza, pois pode haver contaminação, por exemplo, de variedades
tradicionais por elementos transgênicos.
Atualmente também outro uso do milho tem sido a produção de etanol, principalmente nos Estados Unidos. Segundo estudiosos, em comparação com a cana de açúcar, o milho produz mais etanol, porém é preciso uma área maior para o plantio.
“A Lenda Do Milho
Há muito tempo, muito antes do homem
branco tocar os pés no novo mundo, em uma selva da América do Sul, havia uma
tribo indígena que estava passando por muitas dificuldades.
Não havia alimentos, e na mata
começaram a sumir os animais. Nos rios e nas lagoas, dificilmente se via a o
movimento de um peixe.
Na mata não haviam mais frutas, nem por
lá apareciam caças de grande porte: onças, capivaras, antas, veados ou
tamanduás.
No ar do entardecer, já não se ouvia o
chamado dos macucos e dos jacus, pois as fruteiras
já tinham secado.
Os índios, que ainda não
cultivavam nada, estavam atravessando um tempo de sofrimento.
Nas tabas tinha
desaparecido a alegria, fruto da fartura de outros tempos e em suas ocas, os
índios não eram menos tristes.
Os velhos, desconsolados, passavam o
dia dormindo nas esteiras e redes, à espera de que o Grande Espírito lhes mandasse um pouco de mel.
As mulheres da tribo formavam roda no
terreiro e lamentavam a pobreza em que viviam.
Os curumins cochilavam
por aqui e ali, tristinhos, de barriga vazia.
E os varões da tribo, não sabendo mais
o que fazer, batiam pernas pelas matas, onde já não armavam mais os
laços, mundéus e outras armadilhas. E eles se perguntavam:
— Armá-las para quê?
Os rastros de caça, o tempo havia
desmanchado todos, pois estes datavam de outras luas, de outros tempos mais
felizes.
Tabajara era um velho
índio muito bondoso e querido pelo seu povo, era o Cacique da tribo, e estava
preocupado e sofrendo com tudo que estava acontecendo.
O velho Cacique, orou ao
grande espirito e pediu uma iluminação e que sua vida fosse seu sacrifício para
livrar seu povo de tanto sofrimento, e em um sonho o grande espirito lhe
mostrou como deveria fazer para que a tribo fosse libertada do mau que à
assolava.
Tabajara ao despertar de
seu sono reuniu os homens de sua tribo e disse que sua morte estava próxima, e
completou dizendo aos presentes:
— Não chorem minha morte, alegrem-se,
enterrem meu corpo numa cova bem rasa. Cubram-me com palha seca e pouca terra.
Esperem vir o sol e a chuva, e três dias depois, surgirá de minha cova uma
planta bem viçosa, que após algum tempo produzirá muitas sementes. Quando virem
a planta crescer e as lindas espigas aparecerem, não as comam, guardem-nas e
plantem as suas sementes. Será o alimento para toda tribo sempre.
A saúde do Chefe índio estava
fragilizada pela idade e pela escassez vivida por todos, não tardou o que ele
previu, e pós a morte de Tabajara, seu povo fez conforme ele havia determinado.
Sobre a cova do velho guerreiro, surgiu
uma linda planta com belas espigas cheias de grãos dourados e suas folhas
compridas lembravam a lança do Cacique Tabajara
Sua flor vistosa parecia o cocar do
chefe índio e a tribo descobriu que sua espiga era um delicioso alimento.
Os índios ficaram contentes e
agradecidos ao grande espirito, então a tribo passou a cultivar o milho com
muito carinho e prosperaram, a caça, a pesca e as frutas voltaram a ser
abundante nas matas. E assim surgiu o milho, diz a lenda.”
https://www.espacoeducar.net/2014/08/folclore-atividade-lenda-do-milho-com.html
Adaptação: André Souza
A Festa do milho
O sertanejo festeja
A grande festa do milho
Alegre igual á mamãe
Que ver voltar o seu filho
Em março queima o roçado
A dezenove ele planta
A terra já está molhada
Ligeiro o milho levanta
Dá uma limpa em abril
Em maio solta o pendão
Já todo embonecado
Prontinho para São João
No dia de Santo Antônio
Já tem fogueira queimando
O milho já está maduro
Na palha vai se assando
No São João e São Pedro
A festa de maior brilho
Porque pamonha e canjica
Completam a festa do milho
Luiz Gonzaga
https://www.letras.mus.br/luiz-gonzaga/1560731/
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
Figura:https://www.google.com/search?q=imagem+de+milho&sxsrf=AOaemvLujZMok3vjeAv6npdn-XaQI6HUoA:1638243018172&tbm=isch&source
Super interessante a abordagem do artigo
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