quinta-feira, 24 de novembro de 2022

Homenagem ao cantor, ator, escritor e compositor brasileiro Erasmo Carlos

 




Minha homenagem desta vez é para o cantor, ator, músico, escritor e compositor brasileiro conhecido artisticamente como Erasmo Carlos.  Ele faleceu aos 81 anos no dia 22 de novembro de 2022. Foi um dos pioneiros do rock no Brasil e teve como um de seus grandes parceiros o cantor e compositor Roberto Carlos.

Erasmo Esteves (Erasmo Carlos), nasceu em 5 de junho de 2022, no bairro da Tijuca, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 5 de junho de 1941. Ele, filho de mãe solteira, só veio a conhecer seu pai biológico aos 23 anos de idade. Desde criança conhecia Sebastião Rodrigues Maia, que viria a ser depois outro astro famoso da música brasileira conhecido como Tim Maia. O rock os aproximou na adolescência. E em 1957 Tim Maia, Erasmo, Arlênio Lívio, Wellington Oliveira e Roberto Carlos formaram a banda The Sputiniks. Mas o conjunto acabou após um desentendimento entre Tim Maia e Roberto Carlos. Arlênio convidou então Erasmo, Edson Trindade e José Roberto, conhecido como "China", para constituírem o grupo vocal "The Boys of Rock", que depois mudou o nome para The Snakes, por causa de uma sugestão de Carlos Imperial. Nessa época Erasmo e Roberto se tornaram próximos graças a Arlênio Lívio que os aproximou. Logo Roberto e Erasmo descobriram que tinham afinidades. Eles gostavam das músicas de Elvis Presley, Bob Nelson, James Dean, Marlon Brando, Marilyn Monroe e eram torcedores do clube Vasco da Gama. Quem ensinou Erasmo a tocar violão foi Tim Maia.

O grupo The Snakes acompanhou Cauby Peixoto na gravação de Rock and Roll em Copacabana", de 1957, e no filme "Minha Sogra é da Polícia" (1958) no qual Cauby cantava "That's Rock". Erasmo conheceu quando era jovem Jorge Bem Jor, que era conhecido como Babulina e Wilson Simonal. Na época Erasmo adotou o Carlos em homenagem a Roberto Carlos e a Carlos Imperial. Foi com esse nome que Erasmo lançou o disco compacto que tinha a música O Terror dos Namorados.

A chegada da Bossa Nova influenciou no estilo de Erasmo Carlos. Roberto cantou bossa nova, tendo sido influenciado por João Gilberto. Erasmo então fez a música "Maria e o Samba”, que Roberto cantou. Erasmo também teve participação no grupo Renato e Seus Blue Caps. Erasmo, Roberto e Wanderléa participaram do programa Jovem Guarda. Erasmo tinha nesse programa o apelido de Tremendão. Teve na época os sucessos: "Gatinha Manhosa" e “Festa do Arromba”. Erasmo e Roberto compõem em 1966 o chamado sambalanço “Toque o Balanço”, que Elza Soares gravou. Após o término do programa, Erasmo teve uma situação de abalo emocional em sua vida, mas sua esposa "Narinha" e Roberto o apoiaram e ele conseguiu cantar músicas de sucesso: “Sentado à Beira do Caminho” e o primeiro samba-rock que foi “Coqueiro Verde”.  Houve críticas de que Roberto e Erasmo eram americanizados.

No disco de 1969, Erasmo Carlos e os Tremendões, Erasmo interpreta de forma peculiar canções de compositores brasileiros, como “Saudosismo”, de Caetano Veloso; “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, que foi lançada no filme "Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa", com a presença de Roberto, Erasmo e Wanderléa. No mesmo disco há as canções “Teletema” dos autores Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, como também a primeira gravação de "Sentado à Beira do Caminho".

Tendo assinado um contrato com a gravadora Polydor, nos anos de 1970, vê-se Erasmo nos primeiros anos dessa década com influências da cultura hippie e do soul. Em 1971 é lançado Carlos, Erasmo, que tem como música de abertura a música escrita por Caetano chamada "De Noite na Cama", que foi feita pelo autor especialmente para Erasmo. No decorrer dos anos 70 percebe-se uma questão existencialista em outros discos: Sonhos e MemóriasProjeto Salva Terra e Banda dos Contentes. Algumas canções que se destacaram na época foram: "Sou uma Criança, Não Entendo Nada", "Cachaça Mecânica" e "Filho Único". Em 1978 ele gravou o LP Pelas Esquinas de Ipanema. Entre as canções desse disco está "Panorama Ecológico”, que fazia críticas às formas displicentes de seres humanos tratarem a questão ecológica.

Em relação a filmes, participou de Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora (1971) e Os Machões (1972). Em 1975 houve o documentário Ritmo Alucinante, no qual Erasmo aparece em show ao vivo. Esse documentário foi um registro do festival de rock Hollywood Rock (1975).

Na década de 1980 Erasmo Carlos realizou o projeto Erasmo Convida. Nesse projeto ele interpreta canções em dueto com artistas brasileiros: Nara Leão, Maria Bethânia, Gal Costa, Wanderléa, "A Cor do Som", "As Frenéticas", Gilberto Gil, Rita Lee, Tim Maia, Jorge Bem, Caetano Veloso etc. No álbum há a regravação de "Sentado à Beira do Caminho", com Roberto Carlos junto com Erasmo. Em 1981 há a gravação do LP Mulher com as canções “Mulher” (“Sexo Frágil”), "Pega na Mentira" e "Feminino Coração de Deus". Em 1982 Erasmo fez sucesso com Amar Pra Viver ou Morrer de Amor. No decorrer da década de 80 lançou outros discos: Buraco Negro (1984), Erasmo Carlos (1985), Abra Seus Olhos (1986) e Apesar do Tempo Claro... (1988). Cantou na versão especial da versão brasileira de “We are the World” . Era o Projeto Nordeste Já, de 1985, que se referia à questão da seca nordestina, com 155 vozes e com as canções "Chega de Mágoa" e "Seca d'Água”. Ainda nos anos 80 houve o álbum dele ao vivo Sou uma Criança no qual participaram Leo Jaime e os grupos Kid Abelha e João Penca e Seus Miquinhos Amestrados.

Nos anos 90 Erasmo foi autor de músicas com Roberto Carlos e também lançou os discos Homem de Rua, lançado pela Sony Music em 1992, com destaque para a canção “A Carta”, que ele cantou com Renato Russo e o disco É Preciso Saber Viver, com regravações de canções de seu repertório, com destaque para para "Do Fundo do Meu Coração", que ele cantou com Adriana Calcanhoto. Uma grande perda para Erasmo na década de 1990 foi a morte de sua ex-esposa Sandra Sayonara Saião Lobato Esteves, a Narinha, que foi autora junto com ele da música “Mulher”. Ela morreu aos 49 anos depois de ingerir veneno e que já tinha tentado se matar outras duas vezes. Eles estavam divorciados há 4 anos quando ela faleceu. O casamento deles durou 13 anos.

Nos anos 2000 Erasmo lançou o disco Pra Falar de Amor, com destaque para a canção "Mais um na Multidão", a qual ele cantou com Marisa Monte, de autoria dele, Marisa e Carlinhos Brown. Em 2002 lançou o primeiro DVD ao vivo e um CD duplo. Em 2004 lançou Santa Música, com 12 músicas de autoria só dele. Nesse trabalho há a canção “Tim”, em homenagem a Tim Maia. Nesse mesmo na morre a mãe de Erasmo, Maria Diva Esteves. Em 2007 ele lançou Erasmo Convida, Volume II, com encontros musicais e ele interpreta músicas de parceria com Roberto Carlos e entre os convidados desses encontros estavam Adriana Calcanhotto, Lulu Santos, Simone, Marisa Monte, Milton Nascimento e as bandas Skank e Los Hermanos.  Uma faixa teve especial destaque, a faixa “Olha”, que ele cantou com Chico Buarque. Em 2007 Erasmo compôs Só Nós, do segundo disco-solo de Paula Toller. Em 2009, pela sua gravadora Coqueiro Verde, Erasmo lançou o CD Rock 'n' Roll, com 12 músicas suas e entre elas 7 em parceria com outros autores (Nando Reis, Nelson Motta, Chico Amaral, Liminha e Patrícia Travassos. Em "Olhar de Mangá" são citados 52 nomes de personalidades femininas (reais ou fictícias). Ele se inspirou nas expressões faciais em quadrinhos japoneses. No mesmo ano publicou a autobiografia Minha Fama de Mau. O livro depois deu origem a um filme em 2019 com o ator Chay Suede interpretando Erasmo.

Outros trabalhos no século XXI foram: um samba-enredo em 2010 para a Escola de Samba Beija-Flor, com Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle (mas esse samba não foi o usado pela escola no carnaval); em 2011 lançou o disco Sexo; em 2014 lançou o disco Gigante Gentil, com músicas inéditas, que venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock Brasileiro. Nesse mesmo ano seu filho Alexandre Pessoal, também cantor e compositor, veio a falecer devido a um acidente de trânsito. 

Ainda sobre os trabalhos de Erasmo nessa época, em 2015 Erasmo lançou o DVD Meus Lados B. Em agosto de 2018 foi indicado ao Grammy Latino: Prêmio Excelência Musical da Academia Latina de Gravação. Em novembro desse ano em Las Vegas (EUA) recebeu o prêmio insigne de "à excelência musical". Em 9 de outubro desse ano já tinha ganho o o prêmio UBC em 9 de outubro em 2018, pela "União Brasileira dos Compositores” como o "compositor brasileiro do ano".

A revista Rolling Stone Brasil elegeu o álbum Amor É Isso como o 10º melhor disco brasileiro de 2018. Erasmo lançou Quem Foi Que Disse Que Eu Não Faço Samba..., dedicado a canções de samba, sambalanço e samba rock, que ele tinha composto em vida. Em 2020 passou a ser ator protagonista no longa-metragem Modo Avião, produzido pela Netflix. Em fevereiro de 2021 lançou O futuro pertence à... Jovem Guarda com oito canções dos anos 60.

 

 Sobre a morte de Erasmo disse Roberto Carlos:

"Minha dor é muito grande, nem sei como dizer tudo o que eu penso desse meu amigo querido, meu grande irmão.” (...) ... "Meu ídolo por tudo, pela sua lealdade, sua inteligência, sua bondade, por tudo o que eu conheço dele”.

(...) "Um ser humano maravilhoso esse meu irmão. É um privilégio para mim ter um amigo, um irmão assim por todos esses anos. Difícil encontrar palavras para falar desse cara: o meu amigo Erasmo Carlos. Ele viverá sempre em meu coração. Que o nosso Deus de bondade o proteja e o abençoe sempre. Amém, amém, amém".

 

 

Algumas canções de Erasmo Carlos:

  

Mesmo que Seja Eu

Sei que você fez os seus castelos
E sonhou ser salva do dragão
Desilusão, meu bem
Quando acordou, estava sem ninguém

Sozinha no silêncio do seu quarto
Procura a espada do seu salvador
Que no sonho se desespera
Jamais vai poder livrar você da fera
Da solidão

Com a força do meu canto
Esquento o seu quarto pra secar seu pranto
Aumenta o rádio
Me dê a mão

Filosofia e poesia
É o que dizia minha vó
Antes mal-acompanhada do que só
Você precisa de um homem
Pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu (eu, eu, eu)

Com a força do meu canto
Esquento o seu quarto pra secar seu pranto
Aumenta o rádio
Me dê a mão

Filosofia e poesia
É o que dizia minha vó
Antes mal-acompanhada do que só
Você precisa de um homem
Pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu (eu, eu, eu)

Eu, um homem pra chamar de seu
Eu, um homem pra chamar de seu
Mesmo que seja eu
Eu, um homem pra chamar de seu
Eu, um homem pra chamar de seu
Mesmo que seja eu

(266) MESMO QUE ESSE HOMEM SEJA EU. ERASMO CARLOS. - YouTube

 

 

 

Minha Superstar

 

Quando a luz se apaga
No palco do meu quarto
E um perfume avisa
Do show que se improvisa
Eu amo, eu amo, eu amo

Em cena ela veste
Um avental de vento
E pra mim tempera
O prato que me espera
Eu como, eu como, eu como

Ela é minha superstar
Mulher de brilho farto
Que eu sempre hei
De ver brilhar
No palco do meu quarto
Hummm!

No fim do ato
Bato palmas, peço bis
O show me faz feliz
E nessa hora
Sem o trauma do pudor
Ela avisa
E mostra o que é amor
Oh! Oh! Oh! Oh!

Hum! Hum!
Como é bonito o céu
Hum! Hum!
pra esse show
Vou ter que tirar
Meu chapéu

Ela é minha superstar
(Superstar! Superstar!)
Mulher de brilho farto
(Mulher de brilho farto!)
Que eu sempre hei
De ver brilhar
(Ver brilhar! Ver brilhar!)
No palco do meu quarto
(No palco do meu quarto!)

Erasmo Carlos - Minha Superstar (Ao Vivo) - Bing video


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

 

 Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+erasmo+carlos&sxsrf=ALiCzsbhm_bkOVW0bZzB0WDB_XaU_S_JuQ%3A1669334449292&source=hp&ei=sQWAY5SaDq3Z1sQP6OK7yAs&iflsig=AJiK0e8AAAAAY4ATwTMTyz7KP8wltjQfIGTLqVlA60kB&oq=imagem+de+erasmo&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAEYADIICAAQgA





terça-feira, 22 de novembro de 2022

Adeus Pablo Milanés


 


No dia 22 de novembro mais dois grandes astros da música faleceram: o cantor, guitarrista e compositor cubano Pablo Milanés e o cantor, ator e compositor brasileiro Erasmo Carlos. Mês de novembro triste este, pois já haviam partido Gal Costa e Rolando Boldrin.  Já homenageei em outro artigo Gal e Rolando. Neste artigo estou homenageando Pablo Milanés.

Pablo Milanés nasceu em em Bayamo, leste de Cuba, em 24 de fevereiro de 1943. Inicialmente ele apoiou fortemente a revolução cubana e, após algum tempo, na década de 1980, passou a criticar o governo cubano, sem deixar de manter uma relação com o povo de seu país por meio da música.

Pablo Milanés estava internado desde o dia 12 desse mês para tratar infecções que o afetavam e que lutava contra um câncer desde 2017. Ele tinha 79 anos e estava vivendo em Madri, na Espanha. Pablo era um dos grandes cantores cubanos e foi um dos fundadores da Nueva Trova Cubana junto com Silvio Rodríguez e Noel Nola. Foi um embaixador cultural da Revolução Cubana. Gravou mais de 30 discos, ganhou dois Grammys Latinos de melhor álbum de cantor-compositor (2006) e excelência musical (2015). Compôs clássicos como Yolanda, que fez em homenagem a sua segunda esposa. Ele tinha passado por um choque forte em janeiro de 2022 com a morte de sua filha Suylen. Outros filhos dele são Lynn e Lyan, Haydée e Antônio.

Quando criança Pablo cantava em estações de rádio de Cuba e aos seis anos foi morar em Havana e lá foi se aperfeiçoando no campo musical. Nos anos de 1960 passou a compor. Teve influências da a tradicional música cubana, a música norte-americana (em especial o jazz) e a música brasileira. Participou de grupos musicais como o “Cuarteto del Rey” que usava o estilo “negro spiritual”. Sua primeira composição com temática social foi "Mis veintidós años”. 

Esteve presente entre 1965 e 1967 em campos de trabalho forçado sob o controle das Unidades Militares de Ajuda à Produção. De lá foi para Havana e lá contestou o que considerou injustiça. Por essa razão foi detido na Fortaleza de La Cabana por dois anos.  Participou na década de 1970 do “Grupo de Experimentação Sonora”, no qual também participaram trovadores e músicos de destaque. Gravou versões musicalizadas por ele de poemas de José Martí no seu primeiro disco "Versos Sencillos”, em 1974 e no ano seguinte gravou um disco com canções feitas com base em 11 poemas de Nicolás Guillén. Em 1976 gravou “La Vida no vale nada”, com composições próprias. Entre as canções principais desse disco estão "Yo pisaré las calles nuevamente", que clama pelo retorno da democracia ao Chile, e "Canción por la Unidad Latinoamericana. Nos anos 80 lançou discos como "Yo me quedo", "El Guerrero", "Comienzo y final de una verde mañana" e "Querido Pablo" (1985), sendo que nesse disco houve participações de Victor Manuel, Chico Buarque, Mercedes Sosa e Luís Eduardo Aute. Nos anos 1990 gravou discos como:  "Identidad" (1990);"Canto de la abuela" (1991); "Orígenes" (1995); e  "Despertar" (1997). Pablo Milanés foi um dos criadores de uma fundação sem fins lucrativos para o desenvolvimento da cultura cubana, possibilitando a visibilidade de novos artistas cubanos. 

A última vez que esteve em Havana foi em junho deste ano, depois de ter estado três anos ausente. Seu show foi assistido por cerca de dez mil cubanos. Na ocasião ele afirmou em uma noite que muitos consideraram ser sua despedida: "Sempre disse que é meu melhor público. O público das turnês que fiz, pude comprovar a atenção e respeito, mas vocês superaram”.

Pablo tinha ligações com os artistas brasileiros Chico Buarque, Djavan, Caetano Veloso e Milton Nascimento.

Autoridades de vários países publicaram seus comentários a respeito do compositor:

O presidente de Cuba disse"Desaparece fisicamente um de nossos maiores músicos. Voz inseparável da trilha sonora de nossa geração. Minhas condolências a sua viúva e filhos, a #Cuba"

O presidente da Colômbia disse:

"Cantamos com suas canções e e ele encheu nossos corações e almas. Hoje foi chamado para cantar no sublime concerto da eternidade".

O primeiro-ministro espanhol destacou:

"A música de Pablo Milanés estará sempre conosco. Ele deu voz à vida e aos sentimentos de toda uma geração. Para sempre em nossa memória”.

Artistas amigos também se manifestaram.

O compositor brasileiro Chico Buarque publicou um trecho da canção “Como se fosse primavera”:  "E de que modo sutil / Me derramou na camisa / Todas as flores de abril".

O cantor espanhol Alejandro Sanz disse: "Querido Pablo, estou com raiva por você ter ido embora, mas estou tão feliz por você estar aqui. Obrigado pela sua música".

A cantora peruana Tania Libertad disse: "Partiu um grande compositor, cantor maravilhoso e amigo extraordinário. Vamos sentir sua falta, querido Pablo. Boa viagem".

 Letra de Yolanda

Esto no puede ser no mas que una canción
Quisiera fuera una declaración de amor
Romántica sin reparar en formas tales
Que ponga freno a lo que siento ahora a raudales
Te amo
Te amo
Eternamente te amo

Si me faltaras no voy a morirme
Si he de morir quiero que sea contigo
Mi soledad se siente acompañada
Por eso a veces se que necesito
Tu mano
Tu mano
Eternamente tu mano

Cuando te vi sabía que era cierto
Este temor de hallarme descubierto
Tu me desnudas con siete razones
Me abres el pecho siempre que me colmas
De amores
De amores
Eternamente de amores

Si alguna vez me siento derrotado
Renuncio a ver el Sol cada mañana
Rezando el credo que me has enseñado
Miro tu cara y digo en la ventana
Yolanda
Yolanda
Eternamente Yolanda
Yolanda
Eternamente Yolanda
Eternamente Yolanda

Sugestão para ouvir: 

 IOLANDA (letra e vídeo) com LILIAN BRAGA e SILVANO, vídeo MOACIR SILVEIRA - Bing video

(266) "Yolanda" com Chico Buarque e Pablo Milanez - YouTube


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Márcio José Matos Rodrigues - Professor de História

Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALiCzsbs3F0Mj9JddI4D0GAQDP9bjvvrGg:1669175782450&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+pablo+milanes&fir=2RShGP9V-GF-OM%25

sábado, 19 de novembro de 2022

O Catar no contexto da Copa do Mundo de Futebol

  

 

 

 

 

Neste ano, no mês de novembro, teremos a Copa do Mundo de Futebol. Desta vez não será realizada no meio do ano e sim no fim, devido à questão climática do país onde ela será realizada: O Catar. Mas o que é este país chamado Catar ou Qatar? É sobre isto que irei tratar a seguir.

O Catar é um pequeno país do Oriente Médio, localizado na península Arábica, na Ásia Continental, e com uma economia forte graças à exploração de petróleo. O nome Catar vem de Qatara, que pode ter sido a cidade de Zubarah. É um emirado, pois é governado por um emir. A área territorial é de aproximada 11.610 km2  e faz fronteira com a Arábia Saudita, sendo separado do Bahrein por um estreito do Golfo Pérsico. A capital é Doha. A língua oficial é o árabe, havendo destaque para o idioma inglês e existam mais de 230 línguas faladas no país, o governo é uma monarquia absolutista e ao mesmo tempo constitucional. A religião predominante é o Islamismo. O emir atual é Tamim Bin Hamad AL-Thani.  A dinastia no poder está reinando desde 1825, embora o país não fosse independente no século XIX. Os membros da família AL-Thani e grupos a ela ligados controlam as posições mais importantes do Catar. Durante a fase de protetorado da Inglaterra e antes de ser um dos grandes produtores de petróleo, o Catar tinha uma economia que tinha como base a extração de pérolas e o comércio marítimo.

Dos cerca de 2.800.000 habitantes, aproximadamente 75% deles são estrangeiros, com a maior comunidade estrangeira sendo a dos indianos, sendo também bem representativas as comunidades dos filipinos, nepalenses, paquistaneses, vindo outras menores em seguida, inclusive de brasileiros. Há uma estimativa de que perto de 90% da população viva em cidades. E no país há cerca de 3 homens para cada mulher. As políticas públicas para saúde e educação são consideradas muito boas. Os que são cidadãos do país não pagam impostos.

Em 1320 o Reino de Ormuz conquistou parte da Arábia Oriental. Em 1514 o Reino de Portugal passou a controlar territórios na Arábia e Ormuz tornou-se um reino vassalo. Em 1550 os turcos otomanos passaram a exercer influência na região, mas foram expulsos em 1670 por uma das tribos árabes. Em 1871 o governante tribal Al-Thani se submeteu ao Império Turco. Durante a I Guerra Mundial houve revoltas árabes na região contra os turcos otomanos e em 1915 os otomanos deixaram Doha. O Catar tornou-se um protetorado britânico em 1916. Em 1939 foram descobertas as reservas de petróleo, mas devido à Segunda Guerra Mundial, só passaram a ser exploradas intensivamente a partir da década de 1950 e o petróleo passou a substituir as pérolas como principal riqueza do Catar. Em 1968 o Catar se reuniu ao Bahrein e outros Estados em uma federação que reivindicava a separação em relação ao Império Britânico. Mas o Catar depois saiu da coalizão e em 3 de setembro de 1971 conseguiu sua independência.

O Catar apoiou a aliança de países que se uniram contra as forças iraquianas na Guerra do Golfo em 1991, permitindo operações das forças aéreas dos Estados Unidos e França a partir de seu território e tendo apoiado a Guarda Nacional da Arábia Saudita contra o Exército Iraquiano.

Doha, localizada no leste, foi fundada nos anos de 1820 e em 1971 foi declarada a capital do Catar. Hoje em dia tem mais de 1,5 milhão de habitantes, sendo a maioria deles estrangeiros. Há construções monumentais na cidade, formando paisagens fantásticas. Houve um enorme desenvolvimento tecnológico e a Rede de Pesquisa de Globalização e Cidades Mundiais considera Doha uma cidade mundial.  Em 2005 foi realizada nesta cidade a a 3ª Edição dos Jogos da Ásia Ocidental, em 2005; os Jogos Asiáticos de 2006; os Jogos Pan Arábicos, em 2011; o Campeonato Mundial de Squash, em 2012; o Campeonato Mundial de Natação em Piscina Curta, em 2014.

Foi em 1974 que a economia do Catar iniciou sua expansão com a empresa Qatar Petroleum e o país tornou-se um dos mais ricos do mundo, com grande exportação de petróleo e gás natural. Os valores correspondentes às exportações são superiores aos das importações. Além do gás e petróleo bruto, também há exportações de petrolíferos refinados e polímeros de etileno. Os países que mais compram os produtos do Catar são a China, Coreia do Sul, Japão e Índia. O Catar compra principalmente aviões, carros, helicópteros e turbinas a gás de nações como Reino Unido, França, Alemanha e China. Em relação ao PIB per capita, o Catar é o país mais rico do mundo.

A escolha do Catar de sediar a Copa de 2022 foi criticada, com acusações de que o governo deste país estaria envolvido em pagamento para a FIFA para que a copa fosse para lá. Mas nada foi provado. Devido às altas temperaturas que costumam deixar o país bem quente, a Copa do Mundo foi marcada para ser realizada entre os dias 21 de novembro de 18 de dezembro, época em que a temperatura é menos quente.

Sem tradições no futebol, a seleção do Catar no entanto saiu-se bem na Copa da Ásia em 2019 e na ocasião ganhou o título.

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a  renda per capita no Catar é de aproximadamente US$ 124 mil e o Produto Interno Bruto foi de 166 bilhões de dólares em 2017. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Catar é muito alto.

A política exterior do Catar tem vários aspectos. Por um lado permite a permanência de uma base militar conjunta entre Estados Unidos e Grã-Bretanha. Por outro lado, também permitiu que o Talibã tenha um cargo político no interior do país e se tem um acordo de coperação de defesa com a Arábia Saudita e tem com ela um grande campo de gás também tem laços com o Irã, possuindo junto com este país um campo de gás. Há pactos de defesa assinados com os Estados Unidos, Reino Unido e França.

Na Constituição do Catar é muito forte a influência da Xaria, legislação islâmica. Há casos em tribunais da família, com base na Xaria, nos quais o testemunho de uma mulher vale metade de um testemunho de um homem ou nem é aceito. Para os homens é permitida a poligamia islâmica. As penas são duras para casos de adultério das mulheres, uso de bebidas alcóolicas e relações homossexuais. O consumo de álcool só é permitido em hoteis de luxo para estrangeiros não muçulmanos. Os estrangeiros também são advertidos a não usar roupas curtas ou apertadas em público. Mesmo não havendo igualdade em muitos aspectos sociais entre homens e mulheres, estas tem se destacado no movimento da literatura moderna com uma importância semelhante à dos homens.

Embora os cristão tenham tido autorização para construir igrejas, a atividade missionária não é permitida. Hindus e budistas não receberam permissão para construir templos. Não há autorização para funcionamento de partidos políticos. As eleições parlamentares prometidas para 2005 foram adiadas e não foram ainda realizadas. O emir pode nomear e destituir o primeiro-ministro e ministros, que, juntos, compõem o Conselho de Ministros.

Em relação aos direitos humanos e trabalhistas dos trabalhadores estrangeiros, o governo do Catar tem sido muito criticado. Já houve casos de espancamentos de empregados, retenção de pagamentos, restrições à liberdade de movimento, detenção arbitrária e agressão sexual. Há também denúncias de que agenciadores que recrutam migrantes para trabalhar no Catar tem exigido taxas altíssimas para os trabalhadores. Embora a pena de morte conste na legislação, desde 2003 não tem havido execução de condenados pela Justiça. A Confederação Sindical Internacional tem acusado o sistema que controla o trabalho no Catar de permitir o trabalho forçado. Também não tem existido padrões salariais para os trabalhadores imigrantes. O governo do Catar tem afirmado estar disposto a tomar algumas providências como a permissão de um sindicato independente.

Os governos de Índia, Bangladesh, Nepal e Sri Lanka denunciaram que de 2011 a 2020 houve cerca de 5.927 mortes de trabalhadores desses países por causa das condições a que foram submetidos no trabalho. Também houve denúncias por parte da embaixada do Paquistão a respeito de 824 trabalhadores paquistaneses entre 2010 e 2020. E há também trabalhadores mortos por causa dessa situação de outros países como Filipinas e Quênia em 2020.  Em 2021 houve repressão a uma equipe de reportagem da Noruega que investigava as condições de trabalhadores imigrantes no Catar. As gravações da equipe foram apagadas pela polícia. Há denúncias também de que há discriminação em relação aos salários conforme a nacionalidade e cor da pele.  

Há questionamentos de habitantes originais do Catar a respeito das mudanças que tem acontecido nas últimas décadas. Em entrevistas para a BBC há alguns depoimentos.

Segundo disse Kaltham Al Ghanim, professor de sociologia da Universidade de Catar: "Nos tornamos (um país) urbano"... "Nossa vida social e econômica mudou - famílias se separaram e a cultura de consumo tomou conta".

Umm Khalaf, uma catari de 60 anos disse: "Éramos auto-suficientes. É doloroso perder aquela intimidade que existia na família”.

O fazendeiro Ali al-Jehani disse: "Antes, você podia ficar rico se trabalhasse e, se não trabalhasse, não ficava. Era muito melhor".... "O governo está tentando ajudar mas as coisas estão acontecendo rápido demais".

E concluindo este artigo, desejando sucesso à seleção brasileira, mas lamentando a situação trabalhista de muitos migrantes estrangeiros e os casos de desrespeitos aos direitos humanos denunciados pela mídia internacional, deixo a citação de trechos do Jornal da USP no AR:

“(...)Violação dos direitos humanos

Os protestos e a possibilidade de boicote são motivados por denúncias da Anistia Internacional, que acusa o Catar de violar os direitos humanos nas obras para a Copa. Além da baixa remuneração, os trabalhadores vivem em alojamentos precários e superlotados, em regimes de trabalho excessivo dentro de um país que registra temperaturas de 50ºC no verão. Esses são apontados como os principais motivos pela morte de cerca de 6,5 mil pessoas desde o início das construções. Justamente pelas temperaturas elevadas, o mundial será disputado durante o inverno no país, em novembro de 2022, e não em junho, como ocorre normalmente.

Tanto a Fifa quanto o Catar contestam o número de mortos e ressaltam as mudanças feitas nas leis trabalhistas. A partir dessas mudanças, foi estabelecido um salário-mínimo com ajuda de custo e melhorias estruturais nos alojamentos e canteiros de obras. Também está estabelecida a possibilidade de os trabalhadores, a maioria estrangeiros indianos e bengalis, se demitirem, o que antes só era possível com a autorização do patrão. A Anistia Internacional ainda questiona o cumprimento das leis adotadas.

Almeida acredita que o número de mortos deve ser relativizado e não analisado de maneira fria. “Meu ponto de vista seria de pensar todo o ataque às instituições que a Fifa promove, como, por exemplo, os locais onde as pessoas são desalojadas, as ações policiais um tanto quanto truculentas e ações em morros e periferias, promovendo uma gentrificação”, afirma. 

“Pegar o número de trabalhadores mortos e fazer uma comparação de nove [no Brasil] e 6,5 mil [no Catar] tem que ser colocado entre aspas, para fazer uma análise mais ampla de como é a Fifa dentro de um Estado nacional.” Para o professor, o processo de urbanização forçado, a não melhoria das condições de vida após o evento e a limpeza étnico-racial promovida pelos países são aspectos que devem ser considerados.

 

 Copa do Mundo: um produto à venda

Almeida afirma que a Copa do Mundo é um produto comercializado pela Fifa. “Para vender esse produto, está a ideia de soft power, isto é, a nação que recebe o evento vai estar no holofote do mundo e vai ter a possibilidade de constituir parceiros políticos e econômicos.” A ênfase da Copa está no consumo do espetáculo esportivo, das marcas patrocinadoras e dos turistas.

O professor utiliza o conceito de soft power, de Joseph Nye Jr., para analisar os interesses dos países em sediar o evento. A partir desse conceito, o país promove valores culturais e políticos para exercer sua influência, sem a necessidade de impor a força militar. “A relação diplomática nesses eventos é muito grande, dada a presença dos chefes de Estado nos jogos de suas seleções”, afirma. Segundo Almeida, os interesses do Catar envolvem a abertura para os países do Ocidente, o fortalecimento da relação com o Oriente Médio e uma ideia de transformação da visão ocidental sobre os povos árabes.

Na análise do professor, há um certo incômodo das nações islâmicas, que enxergam a mercantilização da religião por parte do Catar, o que pode interferir na relação com esses países. Em relação ao Ocidente, o Catar abre as portas para novas parcerias comerciais e diplomáticas e para o investimento econômico. Para Almeida, entretanto, casos como as denúncias de trabalho análogo à escravidão e violação dos direitos humanos podem atrapalhar a imagem e os interesses do país. “Há um incômodo mundial, entre os países desenvolvidos, sobre esse aspecto”, afirma."

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+do+mapa+do+catar&sxsrf=ALiCzsbZ0kd5FVGGt5zyDuwRcnabPzMStA%3A1668902739740&ei=U295Y7vgLIrU1sQPmMad0AE&ved

terça-feira, 15 de novembro de 2022


 



Este artigo é sobre duas músicas brasileiras: “Ta-hí” (Pra Você Gostar de Mim) e “Carinhoso”.

 

1-Ta-hí : Foi um single cantado por Carmen Miranda, uma marcha-canção gravada em 27 de janeiro de 1930 pela gravadora Victor Records, com duração de 2 minutos e 20 segundos, no formato de 78 rpm. O compositor era Joubert de Carvalho, com arranjo de Pixinguinha e acompanhamento da Orquestra Victor, sob regência de Pixinguinha. O nome mesmo é "P'ra você gostar de mim”.

 

A origem da música está ligada a uma tarde de janeiro de 1930 quando o autor Joubert de Carvalho estava passando pela Rua Gonçalves Dias. O gerente geral da Casa Melodia, de nome Abreu, convidou Joubert para ouvir um disco que tinha sido recentemente lançado, no qual havia a canção Triste Jandaya na voz de uma cantora nova chamada Carmen Miranda. Ele ficou emocionado. Disse ele: “Era como se eu além de ouvir a intérprete, a estivesse vendo também, tal era a personalidade marcante que jorrava da gravação. O Abreu notou o meu entusiasmo e repetimos várias vezes o disco, cada vez me agradando mais, a ponto de pedir encarecidamente ao Abreu que me apresentasse à Carmen”. Por coincidência, Carmen apareceu na loja e foi apresentada a Joubert por Abreu que a anunciou:  “Taí a nova cantora...”. O compositor ficou impressionado com o jeito de Carmen e demonstrou a ela o interesse de compor uma canção para ela cantar. Surgia a parceria e a expressão “Taí a nova cantora” ficou na mente de Joubert. Em pouco tempo Joubert foi até a casa de Carmen e mostrou a Marcha canção P´ra Você Gostar de Mim. Ele relatou sobre a ocasião:  “Dispunha-me a lhe ensinar a cantar a marchinha ... Quando ela, com muito espírito e seus olhos brejeiros, vivos, maliciosos, fez a  seguinte observação:‘Não precisa me ensinar que na hora da bossa eu entro  com a boçalidade. "            

         

Não era intenção do compositor de que a música tivesse finalidade para carnaval. Ele queria compor só uma marcha canção. O povo passou a conhecer a música como uma marchinha de carnaval chamada de  “Taí”.

 

“Taí” foi uma dos sucessos cantados por Pixinguinha, João da Bahiana e outros artistas famosos e amigos no velório e enterro de Carmen Miranda em 1955.  

           Letra

 

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ô, meu bem, não faz assim comigo não
Você tem, você tem que me dar seu coração

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ô, meu bem, não faz assim comigo não
Você tem, você tem que me dar seu coração

           Meu amor, não posso esquecer
Se dá alegria faz também sofrer
A minha vida foi sempre assim
Só chorando as mágoas que não têm fim

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ô, meu bem, não faz assim comigo não
Você tem, você tem que me dar seu coração

Taí, eu fiz tudo pra você gostar de mim
Ô, meu bem, não faz assim comigo não
Você tem, você tem que me dar seu coração

Essa história de gostar de alguém
Já é mania que as pessoas têm
Se me ajudasse Nosso Senhor
Eu não pensaria mais no amor

Para ouvir:

Pra você gostar de mim - Ta-hi Carmen Miranda | Letra e Musica (cantodampb.com)

    

 

 2-Carinhoso tem enorme importância para a música popular     brasileira.  Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana Filho) a compôs   quando muito jovem, entre 1916 e 1917, e gravada pela primeira vez em 1928, só com a parte instrumental. Foi só em 1936 que João de Barro ou Braguinha (Carlos Alberto Ferreira Braga) fez a letra e foi  gravada por Orlando Silva em 1937.

Pixinguinha disse em um depoimento para o  Museu da Imagem e do Som do Rio de Janeiro em 1968: “Eu fiz o ‘Carinhoso’ em 1917. Naquele tempo o pessoal  nosso da música não admitia choro assim de duas partes, choro tinha que ter  três partes. Então, eu fiz o ‘Carinhoso’ e encostei. Tocar o ‘Carinhoso’ naquele meio, eu não tocava… ninguém ia aceitar!”

           Como Carinhoso só tem duas partes, a música fugiu do padrão tradicional de forma rondó (A-B-A-C-A), herdada da polca. Pixinguinha não queria desafiar o esquema tradicional dos choros que existia naqueles tempos. Ele disse a respeito: 

 “O Carinhoso era uma polca, polca lenta. O andamento era o mesmo de hoje e eu classifiquei de polca lenta ou polca vagarosa. Mais tarde mudei para chorinho.”

Em 1929 Carinhoso teve sua segunda gravação pela Orquestra Victor-Brasileira, dirigida por Pixinguinha. E em 1934 a terceira gravação pelo bandolinista Luperce Miranda. Ainda não existia letra e nessas duas gravações houve um erro de grafia sendo a música colocada nos dois discos com nome de “Carinhos”.  Mesmo com três gravações, a maioria do público não conhecia a música até boa parte dos anos 30. O que mudou isso foi o pedido da cantora e atriz Heloísa Helena para Braguinha uma canção nova para que ela cantasse em um evento promovido em outubro de 1936 pela primeira dama, D. Darcy Vargas, em benefício da obra assistencial Pequena Cruzada.  A cantora sugeriu a Braguinha que colocasse versos em “Carinhoso”. Sobre essa ocasião disse Braguinha:

 

 “Procurei imediatamente o Pixinguinha, que me mostrou a melodia num dancing (o Eldorado) onde estava atuando: No dia seguinte entreguei a letra a Heloísa que, muito satisfeita, me presenteou com uma bela gravata italiana.” 

 

A partir de que passou a ser cantado, o choro “Carinhoso” tornou-se um dos maiores clássicos da MPB.  Foi o cantor Orlando Silva o primeiro cantor que gravou a música. Outros cantores famosos não quiseram gravá-la. Disse Pixinguinha sobre isso: “A maioria não estava interessada em gravar o “Carinhoso”. Todos queriam gravar a valsa “Rosa”. Primeiro foi chamado Francisco Alves, que não se interessou. O Galhardo também falhou (deixando de comparecer na data marcada). Então Mr. Evans (diretor da Victor) disse: “Ah, não! Não grava mais. Não veio no dia, não grava mais”. Aí chamou o Orlando, que gravou o “Carinhoso” e a valsa “Rosa”.

 

A música teve uma versão em inglês de autoria de Ray Gilbert chamada Love Is Like This para o filme Romance Carioca, em 1950 e cantada pela atriz Jane Powell. Nos anos de 1970 a TV Globo realizou a novela Carinhoso e a música voltou a ser um sucesso romântico sendo regravada como música tema da novela. A revista Rolling Stone Brasil a considerou em 2009 a terceira maior música brasileira.

 

   Letra

 

Meu coração, não sei por quê
Bate feliz quando te vê
E os meus olhos ficam sorrindo
E pelas ruas vão te seguindo
Mas mesmo assim foges de mim

Ah, se tu soubesses
Como sou tão carinhoso
E o muito, muito que te quero
E como é sincero o meu amor
Eu sei que tu não fugirias mais de mim

        Vem, vem, vem, vem
        Vem sentir o calor dos lábios meus
        À procura dos teus
       Vem matar esta paixão
      Que me devora o coração
      E só assim então serei feliz
      Bem feliz

 

                 Para ouvir:

 

Carinhoso por Marisa Monte

https://www.youtube.com/watch?v=5Z0IEmi56zE

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

 

Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALiCzsb_nh29qCXjBP24delZR-JHRS8Pwg:1668530117066&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+musicos+tocando+carinhoso&fir=QKeXEn


 

 

 


domingo, 13 de novembro de 2022

Aniversário de 80 anos do grande compositor brasileiro Paulinho da Viola

 




Em 12 de novembro o cantor, músico e compositor de sambas e choros conhecido como Paulinho da Viola completou 80 anos de idade. Ele nasceu na cidade do Rio de Janeiro em 12 de novembro de 1942. Seu nome é Paulo César Batista de Faria. Além de cantar, toca violão, bandolim e cavaquinho. É ligado à escola de samba Portela.

Seu pai era o violonista Benedicto Cesar Ramos de Faria que fez parte do grupo de choro Época de Ouro. Nessa atmosfera musical Paulinho teve desde cedo contato com choros e sambas, que passou a apreciar. Conviveu com grandes compositores de choros como Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Dilermando Reis.

O pai de Paulinho não tinha intenção de ver o seu filho mais velho como músico, mas ainda assim atendeu ao pedido do filho e lhe deu um violão. Graças a esse instrumento que ganhou, Paulinho aprendeu sozinho a tocar violão aos 15 anos e teve orientações do violinista Zé Maria, amigo da família.

Paulinho passou a participar de eventos no carnaval e formou com amigos o bloco Foliões da Rua Anália Franco. Também nessa época entrou na ala de compositores da escola de samba União de Jacarepaguá. Nessa escola conheceu sambistas experientes e como tocador de cavaquinho um de seus primeiros sambas em 1962: "Pode Ser Ilusão". Ele, aos 19 anos conseguiu o emprego de contador em uma agência bancária no centro do Rio de Janeiro, ao mesmo tempo que estudava economia. Após ter conversado com o poeta Hermínio Bello de Carvalho, fez uma visita à casa do poeta e lá ouviu gravações de vários compositores brasileiros, entre eles Carlos Cachaça, Cartola, Nelson Cavaquinho e Zé Ketti. Com Hermínio, passou a ensaiar composições originais. Ele foi parceiro e incentivador de Paulinho na carreira musical.

Em 1963 Paulinho, por meio de Hermínio de Carvalho, foi conhecer o bar Zicartola, fundado por Cartola e Dona Zica. Lá se reuniam sambistas, chorões, intelectuais e jornalistas. Paulinho passou a acompanhar no cavaquinho e no violão compositores e intérpretes que frequentavam o local. Também começou a se apresentar cantando músicas de autores que lá iam. O compositor Zé Ketti incentivou Paulinho a cantar suas próprias composições no referido bar.

Em 1964, Paulinho decidiu deixar seu emprego no banco e se dedicar só à música. E nesse ano o primo dele, Oscar Bigode, diretor de bateria da Portela, convenceu-o a ir para essa escola. Paulinho mostrou a primeira parte de um samba de sua autoria na escola e o sambista Casquinha, que gostou do samba, completou. Surgiu assim o samba “Recado”.

Em 1965 participou do musical “Rosa de Ouro” e o nome de Paulinho apareceu no LP Roda de Samba, da Musidisc, gravadora na qual ele estava registrando seus sambas. Essa gravadora fez um pedido para Zé Ketti organizar o conjunto A Voz do Morro e Paulinho foi integrante desse grupo que tinha como membros outros que, como ele participavam do Rosa de Ouro.  Foi nessa época que um representante da gravadora implicou com o nome “Paulo César”. Então o jornalista Sérgio Cabral e o compositor Zé Ketti criaram o nome artístico “Paulinho da Viola”. No disco com músicas do novo grupo apareceram as músicas "Coração vulgar""Conversa de malandro" e "Jurar com lágrimas".

Paulinho da Viola teve nos seus primeiros anos como compositor e músico parceiros ilustres como Cartola, Elton Medeiros e Candeia. Ele passou a se destacar na autoria de sambas e choros, passando a ser um grande nome da Música Popular Brasileira. Em um show no clube do Vasco da Gama, para o qual torce, ele apresentou as músicas "Coração Leviano" e "Foi um Rio que Passou em Minha Vida”, na ocasião do aniversário de 113 anos do clube.

Paulinho da Viola gravava na década de 1970 um disco em média por ano e se apresentou em muitas cidades, tanto dentro como fora do Brasil. Nos anos 80 gravou quatro discos e nos anos 90 foi considerado pela crítica especializada um músico mais sofisticado e maduro. Gravou Bebadosamba, em 1996, um de seus trabalhos mais importantes. Recebeu vários prêmios na sua vida artística.

Segundo coluna de  O GLOBO, em 6 de novembro de 2022:

 

“Mestre do samba prepara show para sexta-feira, véspera de seu aniversário

Paulinho da Viola, oitentão do samba 

Numa cena do documentário “Meu tempo é hoje”, de 2003, Paulinho da Viola diz não sentir saudade. É como se tudo o que tivesse vivido permanecesse dentro dele no presente. Sua impressão não mudou de lá para cá, mas ele ficou mais cuidadoso com as palavras.

— Naquela época, uma senhora me parou na Rua México: “Como você fala isso? Acabei de perder uma pessoa que era tudo na minha vida”. Eu a abracei e comecei a chorar. E ela também. Me emociono até hoje com esse fato. Nunca mais falo o que falei — recorda, com lágrimas nos olhos.

Suave nos gestos e nas palavras, Paulinho não tenta transferir para outros o que sente. Mas assegura que, sim, seu tempo é hoje, como expressa o título do filme de Izabel Jaguaribe, no qual ele foi entrevistado por Zuenir Ventura. E o agora significa completar 80 anos, no próximo sábado.

— Não penso muito nisso, não. A gente sobrevive a tanta coisa, tem as sequelas... A vida é isso. Se eu fosse falar alguma coisa, seria para agradecer por tantas coisas legais que aconteceram, pelas oportunidades que eu tive — diz.

A celebração do aniversário será sexta, num show no Qualistage, na Barra. O roteiro não será cronológico, pois ele não vê sentido em organizar o tempo dessa forma. Mas músicas do início da carreira poderão vir à tona, como “Minhas madrugadas” (feita com Candeia) e “Canção para Maria”, a primeira parceria com Capinan.

Canções inéditas

É improvável que inéditas sejam apresentadas, embora elas existam. Cobra-se muito dele um álbum em que predominem as novidades, algo que não acontece desde “Bebadosamba”, de 1996. Mas, como em tudo na vida, ele parece não ter pressa:

— Vou fazer. Uma hora dessas sai. Agora estão lançando as músicas aos poucos. Se é assim, tem que ser assim.

A capacidade de se adaptar às mudanças prova que o saudosismo não é o seu forte.

— Sempre ouço Pixinguinha, Jacob do Bandolim, mas ouço tudo. Noutro dia, fiquei ouvindo Raul Seixas. Eu gosto. Não é possível gostar de tudo. Mas, se há coisas de que outras pessoas gostam, então tem algo ali para o qual eu não posso virar as costas — afirma ele, já próximo de Criolo e Rappin’ Hood e que, recentemente, conheceu Emicida.

Tinha 13 anos quando o rock chegou ao Brasil, a bordo do filme “No balanço das horas”. Ele e seu irmão, Chiquinho, acostumados com choro e samba, ficaram isolados no dia a dia da Escola Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado.

— Levei um susto: como é que uma música faz um cinema ser quebrado? Com a educação que eu tive, pensei: estou fora. Anos depois, conheci outras pessoas e vi a importância daquilo — admite.

Em seguida, apareceu a bossa nova. Mais um choque, agora com os “acordes chapados do violão do João Gilberto”:

— Eu estava acostumado com aquele violão com contracantos. “Ah, não tem mais isso? Acabou?” Eu estranhei. Depois, influenciou toda a minha geração.

Paulo César Baptista Faria é da segunda geração de ouro da música brasileira, a de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento (os três também de 1942), Edu Lobo, Chico Buarque e muitos outros. Todos tiveram infâncias e adolescências marcadas pelo rádio em casa, sobretudo a Nacional, na qual brilhava parte da primeira geração de ouro.

— As músicas marcaram muito. Até hoje, quando ouço “Qui nem jiló”, do Luiz Gonzaga, me vejo criança, com aquela roupinha, entrando na Escola Joaquim Nabuco, na Rua Sorocaba — lembra. — A música brasileira é de uma riqueza... E essa música resistiu, apesar da influência da música americana. Se não sumiu, é porque é muito importante. É a história da gente (...)”

Em homenagem aos 80 anos de Paulinho foi publicado o seguinte artigo na coluna O Som e a Fúria na Revista Veja:

 

“Paulinho da Viola, um dos maiores compositores e sambistas do Brasil, completa 80 anos neste sábado, 12. Dono de músicas irretocáveis como Timoneiro, Foi Um Rio Que Passou em Minha Vida, Coração Leviano, Pecado Capital e muitas outras, ele quebrou uma série de esterótipos associados ao samba. De voz suave e composições sofisticadas, Paulinho cantou sobre amores partidos e a vida no mar sem nunca perder a conexão com suas origens e, claro, com a Portela. Em sua carreira, ele elevou o samba ao estado de arte e renovou o choro, ritmo com o qual começou a se interessar por música, incentivado pelo seu pai, o violonista Benedicto Cesar Ramos de Faria. Mesmo se apresentando para multidões, Paulinho, com seu jeito tranquilo, sempre transformou seus shows em algo intimista e acolhedor e fez todo brasileiro se sentir ainda mais brasileiro cantando samba. A seguir, relembre cinco canções de Paulinho da Viola que marcaram a história da música.

Argumento

De maneira sutil e absolutamente deliciosa, Paulinho da Viola mandou um recado para quem insistia em descaracterizar o samba. Na faixa, ele até aceita o argumento de que o ritmo precisa evoluir, mas insiste que não dá para tirar o cavaco, o pandeiro e o tamborim do samba. Mesmo nos dias atuais, a música mantém a graça como um alerta para quem deseja mudar o tradicional ritmo carioca. Ele jamais vai morrer.

Timoneiro

Composto em parceria com Hermínio Bello de Carvalho, Timoneiro é uma ode ao mar e ao marinheiro. “Não sou eu que me navega/ Quem me navega é o mar”, diz a letra, numa levada de samba de de partido-alto, mas com um aceno à Bahia de Dorival Caymmi. Impossível não cantar junto.

Foi um Rio que Passou em Minha Vida

Um dos sambas mais famosos do Brasil, a música é uma homenagem à Portela, escola de samba do coração de Paulinho. A composição, que deveria ser samba de enredo da escola, acabou não sendo usada, mas virou uma espécie de hino da agremiação.

Coração Leviano

Em Coração Leviano, Paulinho da Viola narra uma decepção amorosa e lamenta ter sido preterido por outro. “Ah coração teu engano foi esperar por um bem / De um coração leviano que nunca será de ninguém”, ele canta, com a dor de ter tido o coração partido.

Pecado Capital

Composta em apenas um dia, a música Pecado Capital foi encomendada a Paulinho da Viola pelo produtor musical Guto Graça Mello para a novela de mesmo nome, da TV Globo, de 1975. A composição foi feita a partir de uma sinopse curta da novela enviada ao compositor. Acostumado a fazer sambas de enredo, ele se inspirou no enredo e compôs um de seus maiores clássicos.”

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Foi um Rio Que Passou em Minha Vida

 

Se um dia
Meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar

Meu coração tem mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar

Porém, ai porém
Há um caso diferente
Que marcou um breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em novo amor
Quando alguém que não me lembro anunciou
Portela, Portela
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou

Ai, minha Portela
Quando vi você passar
Senti meu coração apressado
Todo meu corpo tomado
Minha alegria de voltar

Não posso definir aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar

 

Para ouvir:

 (246) Paulinho Da Viola - Foi Um Rio Que Passou Em Minha Vida - YouTube

 

 Pecado Capital

Dinheiro na mão é vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...

Mas é preciso viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!

Dinheiro na mão é vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...

Mas é preciso viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!

Para ouvir:

PECADO CAPITAL- PAULINHO DA VIOLA - Bing video


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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+Paulinho+da+Viola&sxsrf=ALiCzsaT0WYkr-0VRlerJ62_xwO9pIeTqQ%3A1668343649453&source=hp&ei=YedwY6aGGZXO1sQPwpmHiA4&iflsig=AJiK0e8AAAAAY3D1ceYO2kojwkbBcBCz9JnhlCZnQdLX&ved=0ahUKEwjmuti0mKv7AhUVp5UCHcLMAeEQ4dUDCAg&uact=5&oq=imagem+de+Paulinho+da+Viola&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAMyCAg