Minha homenagem desta vez é para o cantor, ator, músico, escritor e compositor brasileiro conhecido artisticamente como Erasmo Carlos. Ele faleceu aos 81 anos no dia 22 de novembro de 2022. Foi um dos pioneiros do rock no Brasil e teve como um de seus grandes parceiros o cantor e compositor Roberto Carlos.
Erasmo Esteves (Erasmo Carlos), nasceu em 5 de junho de 2022, no bairro da Tijuca, Zona Norte da cidade do Rio de Janeiro (RJ), em 5 de junho de 1941. Ele, filho de mãe solteira, só veio a conhecer seu pai biológico aos 23 anos de idade. Desde criança conhecia Sebastião Rodrigues Maia, que viria a ser depois outro astro famoso da música brasileira conhecido como Tim Maia. O rock os aproximou na adolescência. E em 1957 Tim Maia, Erasmo, Arlênio Lívio, Wellington Oliveira e Roberto Carlos formaram a banda The Sputiniks. Mas o conjunto acabou após um desentendimento entre Tim Maia e Roberto Carlos. Arlênio convidou então Erasmo, Edson Trindade e José Roberto, conhecido como "China", para constituírem o grupo vocal "The Boys of Rock", que depois mudou o nome para The Snakes, por causa de uma sugestão de Carlos Imperial. Nessa época Erasmo e Roberto se tornaram próximos graças a Arlênio Lívio que os aproximou. Logo Roberto e Erasmo descobriram que tinham afinidades. Eles gostavam das músicas de Elvis Presley, Bob Nelson, James Dean, Marlon Brando, Marilyn Monroe e eram torcedores do clube Vasco da Gama. Quem ensinou Erasmo a tocar violão foi Tim Maia.
O grupo The Snakes acompanhou Cauby Peixoto na gravação de Rock and Roll em Copacabana", de 1957, e no filme "Minha Sogra é da Polícia" (1958) no qual Cauby cantava "That's Rock". Erasmo conheceu quando era jovem Jorge Bem Jor, que era conhecido como Babulina e Wilson Simonal. Na época Erasmo adotou o Carlos em homenagem a Roberto Carlos e a Carlos Imperial. Foi com esse nome que Erasmo lançou o disco compacto que tinha a música O Terror dos Namorados.
A chegada da Bossa Nova influenciou no estilo de Erasmo Carlos. Roberto cantou bossa nova, tendo sido influenciado por João Gilberto. Erasmo então fez a música "Maria e o Samba”, que Roberto cantou. Erasmo também teve participação no grupo Renato e Seus Blue Caps. Erasmo, Roberto e Wanderléa participaram do programa Jovem Guarda. Erasmo tinha nesse programa o apelido de Tremendão. Teve na época os sucessos: "Gatinha Manhosa" e “Festa do Arromba”. Erasmo e Roberto compõem em 1966 o chamado sambalanço “Toque o Balanço”, que Elza Soares gravou. Após o término do programa, Erasmo teve uma situação de abalo emocional em sua vida, mas sua esposa "Narinha" e Roberto o apoiaram e ele conseguiu cantar músicas de sucesso: “Sentado à Beira do Caminho” e o primeiro samba-rock que foi “Coqueiro Verde”. Houve críticas de que Roberto e Erasmo eram americanizados.
No disco de 1969, Erasmo Carlos e os Tremendões, Erasmo interpreta de forma peculiar canções de compositores brasileiros, como “Saudosismo”, de Caetano Veloso; “Aquarela do Brasil”, de Ary Barroso, que foi lançada no filme "Roberto Carlos e o Diamante Cor-de-Rosa", com a presença de Roberto, Erasmo e Wanderléa. No mesmo disco há as canções “Teletema” dos autores Antônio Adolfo e Tibério Gaspar, como também a primeira gravação de "Sentado à Beira do Caminho".
Tendo assinado um contrato com a gravadora Polydor, nos anos de 1970, vê-se Erasmo nos primeiros anos dessa década com influências da cultura hippie e do soul. Em 1971 é lançado Carlos, Erasmo, que tem como música de abertura a música escrita por Caetano chamada "De Noite na Cama", que foi feita pelo autor especialmente para Erasmo. No decorrer dos anos 70 percebe-se uma questão existencialista em outros discos: Sonhos e Memórias, Projeto Salva Terra e Banda dos Contentes. Algumas canções que se destacaram na época foram: "Sou uma Criança, Não Entendo Nada", "Cachaça Mecânica" e "Filho Único". Em 1978 ele gravou o LP Pelas Esquinas de Ipanema. Entre as canções desse disco está "Panorama Ecológico”, que fazia críticas às formas displicentes de seres humanos tratarem a questão ecológica.
Em relação a filmes, participou de Roberto Carlos a 300 Quilômetros por Hora (1971) e Os Machões (1972). Em 1975 houve o documentário Ritmo Alucinante, no qual Erasmo aparece em show ao vivo. Esse documentário foi um registro do festival de rock Hollywood Rock (1975).
Na década de 1980 Erasmo Carlos realizou o projeto Erasmo Convida. Nesse projeto ele interpreta canções em dueto com artistas brasileiros: Nara Leão, Maria Bethânia, Gal Costa, Wanderléa, "A Cor do Som", "As Frenéticas", Gilberto Gil, Rita Lee, Tim Maia, Jorge Bem, Caetano Veloso etc. No álbum há a regravação de "Sentado à Beira do Caminho", com Roberto Carlos junto com Erasmo. Em 1981 há a gravação do LP Mulher com as canções “Mulher” (“Sexo Frágil”), "Pega na Mentira" e "Feminino Coração de Deus". Em 1982 Erasmo fez sucesso com Amar Pra Viver ou Morrer de Amor. No decorrer da década de 80 lançou outros discos: Buraco Negro (1984), Erasmo Carlos (1985), Abra Seus Olhos (1986) e Apesar do Tempo Claro... (1988). Cantou na versão especial da versão brasileira de “We are the World” . Era o Projeto Nordeste Já, de 1985, que se referia à questão da seca nordestina, com 155 vozes e com as canções "Chega de Mágoa" e "Seca d'Água”. Ainda nos anos 80 houve o álbum dele ao vivo Sou uma Criança no qual participaram Leo Jaime e os grupos Kid Abelha e João Penca e Seus Miquinhos Amestrados.
Nos anos 90 Erasmo foi autor de músicas com Roberto Carlos e também lançou os discos Homem de Rua, lançado pela Sony Music em 1992, com destaque para a canção “A Carta”, que ele cantou com Renato Russo e o disco É Preciso Saber Viver, com regravações de canções de seu repertório, com destaque para para "Do Fundo do Meu Coração", que ele cantou com Adriana Calcanhoto. Uma grande perda para Erasmo na década de 1990 foi a morte de sua ex-esposa Sandra Sayonara Saião Lobato Esteves, a Narinha, que foi autora junto com ele da música “Mulher”. Ela morreu aos 49 anos depois de ingerir veneno e que já tinha tentado se matar outras duas vezes. Eles estavam divorciados há 4 anos quando ela faleceu. O casamento deles durou 13 anos.
Nos anos 2000 Erasmo lançou o disco Pra Falar de Amor, com destaque para a canção "Mais um na Multidão", a qual ele cantou com Marisa Monte, de autoria dele, Marisa e Carlinhos Brown. Em 2002 lançou o primeiro DVD ao vivo e um CD duplo. Em 2004 lançou Santa Música, com 12 músicas de autoria só dele. Nesse trabalho há a canção “Tim”, em homenagem a Tim Maia. Nesse mesmo na morre a mãe de Erasmo, Maria Diva Esteves. Em 2007 ele lançou Erasmo Convida, Volume II, com encontros musicais e ele interpreta músicas de parceria com Roberto Carlos e entre os convidados desses encontros estavam Adriana Calcanhotto, Lulu Santos, Simone, Marisa Monte, Milton Nascimento e as bandas Skank e Los Hermanos. Uma faixa teve especial destaque, a faixa “Olha”, que ele cantou com Chico Buarque. Em 2007 Erasmo compôs Só Nós, do segundo disco-solo de Paula Toller. Em 2009, pela sua gravadora Coqueiro Verde, Erasmo lançou o CD Rock 'n' Roll, com 12 músicas suas e entre elas 7 em parceria com outros autores (Nando Reis, Nelson Motta, Chico Amaral, Liminha e Patrícia Travassos. Em "Olhar de Mangá" são citados 52 nomes de personalidades femininas (reais ou fictícias). Ele se inspirou nas expressões faciais em quadrinhos japoneses. No mesmo ano publicou a autobiografia Minha Fama de Mau. O livro depois deu origem a um filme em 2019 com o ator Chay Suede interpretando Erasmo.
Outros trabalhos no século XXI foram: um samba-enredo em 2010 para a Escola de Samba Beija-Flor, com Eduardo Lages e Paulo Sérgio Valle (mas esse samba não foi o usado pela escola no carnaval); em 2011 lançou o disco Sexo; em 2014 lançou o disco Gigante Gentil, com músicas inéditas, que venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Rock Brasileiro. Nesse mesmo ano seu filho Alexandre Pessoal, também cantor e compositor, veio a falecer devido a um acidente de trânsito.
Ainda sobre os trabalhos de Erasmo nessa época, em 2015 Erasmo lançou o DVD Meus Lados B. Em agosto de 2018 foi indicado ao Grammy Latino: Prêmio Excelência Musical da Academia Latina de Gravação. Em novembro desse ano em Las Vegas (EUA) recebeu o prêmio insigne de "à excelência musical". Em 9 de outubro desse ano já tinha ganho o o prêmio UBC em 9 de outubro em 2018, pela "União Brasileira dos Compositores” como o "compositor brasileiro do ano".
A revista Rolling Stone Brasil elegeu o álbum Amor É Isso como o 10º melhor disco brasileiro de 2018. Erasmo lançou Quem Foi Que Disse Que Eu Não Faço Samba..., dedicado a canções de samba, sambalanço e samba rock, que ele tinha composto em vida. Em 2020 passou a ser ator protagonista no longa-metragem Modo Avião, produzido pela Netflix. Em fevereiro de 2021 lançou O futuro pertence à... Jovem Guarda com oito canções dos anos 60.
Sobre a morte de Erasmo disse Roberto Carlos:
"Minha dor é muito grande, nem sei como dizer tudo o que eu penso desse meu amigo querido, meu grande irmão.” (...) ... "Meu ídolo por tudo, pela sua lealdade, sua inteligência, sua bondade, por tudo o que eu conheço dele”.
(...) "Um ser humano maravilhoso esse meu irmão. É um privilégio para mim ter um amigo, um irmão assim por todos esses anos. Difícil encontrar palavras para falar desse cara: o meu amigo Erasmo Carlos. Ele viverá sempre em meu coração. Que o nosso Deus de bondade o proteja e o abençoe sempre. Amém, amém, amém".
Algumas canções de Erasmo Carlos:
Mesmo que Seja Eu |
Sei que você fez os seus castelos
E sonhou ser salva do dragão
Desilusão, meu bem
Quando acordou, estava sem ninguém
Sozinha no silêncio do seu quarto
Procura a espada do seu salvador
Que no sonho se desespera
Jamais vai poder livrar você da fera
Da solidão
Com a força do meu canto
Esquento o seu quarto pra secar seu pranto
Aumenta o rádio
Me dê a mão
Filosofia e poesia
É o que dizia minha vó
Antes mal-acompanhada do que só
Você precisa de um homem
Pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu (eu, eu, eu)
Com a força do meu canto
Esquento o seu quarto pra secar seu pranto
Aumenta o rádio
Me dê a mão
Filosofia e poesia
É o que dizia minha vó
Antes mal-acompanhada do que só
Você precisa de um homem
Pra chamar de seu
Mesmo que esse homem seja eu (eu, eu, eu)
Eu, um homem pra chamar de seu
Eu, um homem pra chamar de seu
Mesmo que seja eu
Eu, um homem pra chamar de seu
Eu, um homem pra chamar de seu
Mesmo que seja eu
(266) MESMO QUE ESSE HOMEM SEJA EU. ERASMO CARLOS. - YouTube
Minha Superstar
Quando a luz se apaga
No palco do meu quarto
E um perfume avisa
Do show que se improvisa
Eu amo, eu amo, eu amo
Em cena ela veste
Um avental de vento
E pra mim tempera
O prato que me espera
Eu como, eu como, eu como
Ela é minha superstar
Mulher de brilho farto
Que eu sempre hei
De ver brilhar
No palco do meu quarto
Hummm!
No fim do ato
Bato palmas, peço bis
O show me faz feliz
E nessa hora
Sem o trauma do pudor
Ela avisa
E mostra o que é amor
Oh! Oh! Oh! Oh!
Hum! Hum!
Como é bonito o céu
Hum! Hum!
pra esse show
Vou ter que tirar
Meu chapéu
Ela é minha superstar
(Superstar! Superstar!)
Mulher de brilho farto
(Mulher de brilho farto!)
Que eu sempre hei
De ver brilhar
(Ver brilhar! Ver brilhar!)
No palco do meu quarto
(No palco do meu quarto!)
Erasmo Carlos - Minha Superstar (Ao Vivo) - Bing video
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+erasmo+carlos&sxsrf=ALiCzsbhm_bkOVW0bZzB0WDB_XaU_S_JuQ%3A1669334449292&source=hp&ei=sQWAY5SaDq3Z1sQP6OK7yAs&iflsig=AJiK0e8AAAAAY4ATwTMTyz7KP8wltjQfIGTLqVlA60kB&oq=imagem+de+erasmo&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAEYADIICAAQgA