Em 12 de novembro
o cantor, músico e compositor de sambas e choros conhecido como Paulinho
da Viola completou 80 anos de idade. Ele nasceu na cidade do Rio de
Janeiro em 12 de novembro de 1942. Seu nome é Paulo César Batista de Faria.
Além de cantar, toca violão, bandolim e cavaquinho. É ligado à escola de samba
Portela.
Seu pai era o
violonista Benedicto Cesar Ramos de Faria que fez parte do grupo de choro Época
de Ouro. Nessa atmosfera musical Paulinho teve desde cedo contato com choros e
sambas, que passou a apreciar. Conviveu com grandes compositores de choros como
Pixinguinha, Jacob do Bandolim e Dilermando Reis.
O pai de Paulinho
não tinha intenção de ver o seu filho mais velho como músico, mas ainda assim
atendeu ao pedido do filho e lhe deu um violão. Graças a esse instrumento que
ganhou, Paulinho aprendeu sozinho a tocar violão aos 15 anos e teve orientações
do violinista Zé Maria, amigo da
família.
Paulinho passou a
participar de eventos no carnaval e formou com amigos o bloco Foliões
da Rua Anália Franco. Também nessa época entrou na ala de compositores da
escola de samba União de Jacarepaguá. Nessa escola conheceu sambistas
experientes e como tocador de cavaquinho um de seus primeiros sambas em
1962: "Pode Ser Ilusão". Ele, aos 19 anos conseguiu o
emprego de contador em uma agência bancária no centro do Rio de Janeiro, ao
mesmo tempo que estudava economia. Após ter conversado com o poeta Hermínio
Bello de Carvalho, fez uma visita à casa do poeta e lá ouviu gravações de
vários compositores brasileiros, entre eles Carlos Cachaça, Cartola, Nelson
Cavaquinho e Zé Ketti. Com Hermínio, passou a ensaiar composições originais.
Ele foi parceiro e incentivador de Paulinho na carreira musical.
Em 1963 Paulinho,
por meio de Hermínio de Carvalho, foi conhecer o bar Zicartola, fundado por
Cartola e Dona Zica. Lá se reuniam sambistas, chorões, intelectuais e
jornalistas. Paulinho passou a acompanhar no cavaquinho e no violão
compositores e intérpretes que frequentavam o local. Também começou a se
apresentar cantando músicas de autores que lá iam. O compositor Zé Ketti incentivou Paulinho a cantar suas próprias
composições no referido bar.
Em 1964, Paulinho decidiu deixar seu emprego no
banco e se dedicar só à música. E nesse ano o primo dele, Oscar Bigode, diretor
de bateria da Portela, convenceu-o a ir para essa escola. Paulinho
mostrou a primeira parte de um samba de sua autoria na escola e o sambista
Casquinha, que gostou do samba, completou. Surgiu assim o samba “Recado”.
Em 1965 participou do musical “Rosa de Ouro” e o
nome de Paulinho apareceu no LP Roda de Samba, da Musidisc,
gravadora na qual ele estava registrando seus sambas. Essa gravadora fez um
pedido para Zé Ketti organizar o conjunto A Voz do Morro e
Paulinho foi integrante desse grupo que tinha como membros outros que, como ele
participavam do Rosa de Ouro. Foi nessa época que um
representante da gravadora implicou com o nome “Paulo César”. Então o
jornalista Sérgio Cabral e o compositor Zé Ketti criaram o nome artístico
“Paulinho da Viola”. No disco com músicas do novo grupo apareceram as
músicas "Coração vulgar", "Conversa de
malandro" e "Jurar com lágrimas".
Paulinho da Viola teve nos seus primeiros anos como
compositor e músico parceiros ilustres como Cartola, Elton Medeiros e Candeia.
Ele passou a se destacar na autoria de sambas e choros, passando a ser um
grande nome da Música Popular Brasileira. Em um show no clube do Vasco da Gama,
para o qual torce, ele apresentou as músicas "Coração Leviano" e
"Foi um Rio que Passou em Minha Vida”, na ocasião do aniversário de 113
anos do clube.
Paulinho da Viola gravava na década de 1970 um
disco em média por ano e se apresentou em muitas cidades, tanto dentro como
fora do Brasil. Nos anos 80 gravou quatro discos e nos anos 90 foi considerado
pela crítica especializada um músico mais sofisticado e maduro. Gravou Bebadosamba,
em 1996, um de seus trabalhos mais importantes. Recebeu vários prêmios na sua
vida artística.
Segundo coluna de O GLOBO, em 6 de novembro de 2022:
“Mestre do samba
prepara show para sexta-feira, véspera de seu aniversário
Paulinho da Viola, oitentão do samba
Numa cena do
documentário “Meu tempo é hoje”, de 2003, Paulinho da Viola diz não sentir saudade.
É como se tudo o que tivesse vivido permanecesse dentro dele no presente. Sua
impressão não mudou de lá para cá, mas ele ficou mais cuidadoso com as
palavras.
— Naquela época,
uma senhora me parou na Rua México: “Como você fala isso? Acabei de perder uma
pessoa que era tudo na minha vida”. Eu a abracei e comecei a chorar. E ela
também. Me emociono até hoje com esse fato. Nunca mais falo o que falei —
recorda, com lágrimas nos olhos.
Suave nos gestos e
nas palavras, Paulinho não tenta transferir para outros o que sente. Mas
assegura que, sim, seu tempo é hoje, como expressa o título do filme de Izabel
Jaguaribe, no qual ele foi entrevistado por Zuenir Ventura. E o agora significa
completar 80 anos, no próximo sábado.
— Não penso muito
nisso, não. A gente sobrevive a tanta coisa, tem as sequelas... A vida é isso.
Se eu fosse falar alguma coisa, seria para agradecer por tantas coisas legais
que aconteceram, pelas oportunidades que eu tive — diz.
A celebração do
aniversário será sexta, num show no Qualistage, na Barra. O roteiro não será
cronológico, pois ele não vê sentido em organizar o tempo dessa forma. Mas
músicas do início da carreira poderão vir à tona, como “Minhas madrugadas”
(feita com Candeia) e “Canção para Maria”, a primeira parceria com Capinan.
Canções inéditas
É improvável que
inéditas sejam apresentadas, embora elas existam. Cobra-se muito dele um álbum
em que predominem as novidades, algo que não acontece desde “Bebadosamba”, de
1996. Mas, como em tudo na vida, ele parece não ter pressa:
— Vou fazer. Uma
hora dessas sai. Agora estão lançando as músicas aos poucos. Se é assim, tem
que ser assim.
A capacidade de se
adaptar às mudanças prova que o saudosismo não é o seu forte.
— Sempre ouço
Pixinguinha, Jacob do Bandolim, mas ouço tudo. Noutro dia, fiquei ouvindo Raul
Seixas. Eu gosto. Não é possível gostar de tudo. Mas, se há coisas de que
outras pessoas gostam, então tem algo ali para o qual eu não posso virar as
costas — afirma ele, já próximo de Criolo e Rappin’ Hood e que, recentemente,
conheceu Emicida.
Tinha 13 anos
quando o rock chegou ao Brasil, a bordo do filme “No balanço das horas”. Ele e
seu irmão, Chiquinho, acostumados com choro e samba, ficaram isolados no dia a
dia da Escola Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado.
— Levei um susto:
como é que uma música faz um cinema ser quebrado? Com a educação que eu tive,
pensei: estou fora. Anos depois, conheci outras pessoas e vi a importância
daquilo — admite.
Em seguida, apareceu
a bossa nova. Mais um choque, agora com os “acordes chapados do violão do João
Gilberto”:
— Eu estava
acostumado com aquele violão com contracantos. “Ah, não tem mais isso? Acabou?”
Eu estranhei. Depois, influenciou toda a minha geração.
Paulo César
Baptista Faria é da segunda geração de ouro da música brasileira, a de Gilberto
Gil, Caetano Veloso, Milton Nascimento (os três também de 1942), Edu Lobo,
Chico Buarque e muitos outros. Todos tiveram infâncias e adolescências marcadas
pelo rádio em casa, sobretudo a Nacional, na qual brilhava parte da primeira
geração de ouro.
— As músicas
marcaram muito. Até hoje, quando ouço “Qui nem jiló”, do Luiz Gonzaga, me vejo
criança, com aquela roupinha, entrando na Escola Joaquim Nabuco, na Rua Sorocaba
— lembra. — A música brasileira é de uma riqueza... E essa música resistiu,
apesar da influência da música americana. Se não sumiu, é porque é muito
importante. É a história da gente (...)”
Em homenagem aos 80 anos de Paulinho foi publicado o seguinte artigo na
coluna O Som e a Fúria na Revista Veja:
“Paulinho da
Viola, um dos maiores compositores e sambistas do Brasil, completa 80 anos
neste sábado, 12. Dono de músicas irretocáveis como Timoneiro, Foi Um Rio Que
Passou em Minha Vida, Coração Leviano, Pecado Capital e muitas outras, ele
quebrou uma série de esterótipos associados ao samba. De voz suave e
composições sofisticadas, Paulinho cantou sobre amores partidos e a vida no mar
sem nunca perder a conexão com suas origens e, claro, com a Portela. Em sua
carreira, ele elevou o samba ao estado de arte e renovou o choro, ritmo com o
qual começou a se interessar por música, incentivado pelo seu pai, o violonista
Benedicto Cesar Ramos de Faria. Mesmo se apresentando para multidões, Paulinho,
com seu jeito tranquilo, sempre transformou seus shows em algo intimista e
acolhedor e fez todo brasileiro se sentir ainda mais brasileiro cantando samba.
A seguir, relembre cinco canções de Paulinho da Viola que marcaram a história
da música.
Argumento
De maneira sutil e
absolutamente deliciosa, Paulinho da Viola mandou um recado para quem insistia
em descaracterizar o samba. Na faixa, ele até aceita o argumento de que o ritmo
precisa evoluir, mas insiste que não dá para tirar o cavaco, o pandeiro e o
tamborim do samba. Mesmo nos dias atuais, a música mantém a graça como um
alerta para quem deseja mudar o tradicional ritmo carioca. Ele jamais vai
morrer.
Timoneiro
Composto em
parceria com Hermínio Bello de Carvalho, Timoneiro é uma ode ao mar e ao
marinheiro. “Não sou eu que me navega/ Quem me navega é o mar”, diz a letra,
numa levada de samba de de partido-alto, mas com um aceno à Bahia de Dorival
Caymmi. Impossível não cantar junto.
Foi um Rio que
Passou em Minha Vida
Um dos sambas mais
famosos do Brasil, a música é uma homenagem à Portela, escola de samba do
coração de Paulinho. A composição, que deveria ser samba de enredo da escola,
acabou não sendo usada, mas virou uma espécie de hino da agremiação.
Coração Leviano
Em Coração
Leviano, Paulinho da Viola narra uma decepção amorosa e lamenta ter sido
preterido por outro. “Ah coração teu engano foi esperar por um bem / De um
coração leviano que nunca será de ninguém”, ele canta, com a dor de ter tido o
coração partido.
Pecado Capital
Composta em apenas
um dia, a música Pecado Capital foi encomendada a Paulinho da Viola pelo
produtor musical Guto Graça Mello para a novela de mesmo nome, da TV Globo, de
1975. A composição foi feita a partir de uma sinopse curta da novela enviada ao
compositor. Acostumado a fazer sambas de enredo, ele se inspirou no enredo e
compôs um de seus maiores clássicos.”
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Foi um Rio Que
Passou em Minha Vida
Se um dia
Meu coração for consultado
Para saber se andou errado
Será difícil negar
Meu coração tem
mania de amor
Amor não é fácil de achar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar
A marca dos meus desenganos
Ficou, ficou
Só um amor pode apagar
Porém, ai porém
Há um caso diferente
Que marcou um breve tempo
Meu coração para sempre
Era dia de carnaval
Carregava uma tristeza
Não pensava em novo amor
Quando alguém que não me lembro anunciou
Portela, Portela
O samba trazendo alvorada
Meu coração conquistou
Ai, minha Portela
Quando vi você passar
Senti meu coração apressado
Todo meu corpo tomado
Minha alegria de voltar
Não posso definir
aquele azul
Não era do céu
Nem era do mar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Foi um rio que passou em minha vida
E meu coração se deixou levar
Para ouvir:
(246) Paulinho Da Viola - Foi Um Rio Que
Passou Em Minha Vida - YouTube
Pecado Capital
Dinheiro na mão é
vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...
Mas é preciso
viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é
vendaval
É vendaval!
Na vida de um sonhador
De um sonhador!
Quanta gente aí se engana
E cai da cama
Com toda a ilusão que sonhou
E a grandeza se desfaz
Quando a solidão é mais
Alguém já falou...
Mas é preciso
viver
E viver
Não é brincadeira não
Quando o jeito é se virar
Cada um trata de si
Irmão desconhece irmão
E aí!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
Dinheiro na mão é vendaval
Dinheiro na mão é solução
E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!
E solidão! E solidão!
Para ouvir:
PECADO CAPITAL- PAULINHO DA VIOLA - Bing video
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+Paulinho+da+Viola&sxsrf=ALiCzsaT0WYkr-0VRlerJ62_xwO9pIeTqQ%3A1668343649453&source=hp&ei=YedwY6aGGZXO1sQPwpmHiA4&iflsig=AJiK0e8AAAAAY3D1ceYO2kojwkbBcBCz9JnhlCZnQdLX&ved=0ahUKEwjmuti0mKv7AhUVp5UCHcLMAeEQ4dUDCAg&uact=5&oq=imagem+de+Paulinho+da+Viola&gs_lcp=Cgdnd3Mtd2l6EAMyCAg
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