domingo, 6 de novembro de 2022

O escritor e jornalista brasileiro Lima Barreto

 




Dando início aos artigos de novembro de 2022 no meu blog, vou começar pelo escritor e jornalista Lima Barreto.

Afonso Henriques de Lima Barreto, nasceu em 13 de maio de 1881 na cidade do Rio de Janeiro, que era na época o chamado Município Neutro no Império do Brasil. Seus gêneros literários eram Romance, Conto, Crônica e a Sátira. Ele teve também publicações em revistas populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX. Ele está relacionado aos movimentos literários Pré-modernismo e Modernismo. Sua obra de mais destaque foi Triste Fim de Policarpo Quaresma. É considerado um escritor dos mais importantes no Brasil. Sobre ele disse o escritor Monteiro Lobato em outubro de 1916 em uma carta ao escritor Godofredo Rangel:

"“Conheces Lima Barreto? Li dele, na Águia, dois contos, e pelos jornais soube do triunfo do Policarpo Quaresma, cuja segunda edição já lá se foi. A ajuizar pelo que li, este sujeito me é romancista de deitar sombras em todos os seus colegas coevos e coelhos, inclusive o Neto. Facílimo na língua, engenhoso, fino, dá impressão de escrever sem torturamento – ao modo das torneiras que fluem uniformemente a sua corda-d’água”.

Lima Barreto era filho de João Henriques de Lima Barreto, um tipógrafo monarquista (com ligações com o visconde de Ouro Preto, que veio a ser padrinho de Lima Barreto) cuja mãe tinha sido escrava e o pai um madeireiro português e de Amália Augusta, filha de escrava. A mãe de Lima Barreto foi professora primária e faleceu quando ele tinha somente seis anos, tendo o seu pai que se empenhar bastante para criar seus quatro filhos.

Sobre a morte de sua mãe disse o escritor: “Talvez fosse menos rebelde, menos sombrio e desconfiado, mais contente com a vida, se ela vivesse. Deixando-me ainda na primeira infância, bem cedo firmou-se o meu caráter; mas em contrapeso, bem cedo me vieram o desgosto de viver, o retraimento por desconfiar de todos, a capacidade de ruminar mágoas sem comunicá-las a ninguém.”

Foi em 1905 que Lima Barreto iniciou no jornalismo com reportagens para o Correio da Manhã. A pedido do poeta e jornalista Mário Pederneiras, em abril de 1907 Lima Barreto passou a contribuir com a Fon-Fon, uma revista de grande circulação. No entanto, não sentindo que fosse valorizado, o escritor demitiu-se em junho desse ano. Em outubro ele lançou a revista Floreal, sendo diretor e o maior contribuinte. A revista teve somente 4 números. Outras revistas para as quais ele contribuiu foram as revistas A.B.C e Careta. Além dessas revistas, ele publicou textos em jornais de características socialistas. Sua famosa obra Triste Fim de Policarpo Quaresma foi publicada em páginas do Jornal do Commercio. Depois o autor publicou com seu próprio dinheiro a edição em livro em dezembro de 1915. Ele vivenciava nesse tempo crises agudas de alcoolismo e depressão, tendo sido internado em um hospício, o Hospital dos Alienados, em 1914.  Após quatro anos dessa internação, os problemas de saúde dele ficaram piores, tendo se aposentado em dezembro de 1918.

Em 1919 Lima Barreto publicou pela editora Revista do Brasil, de Monteiro Lobato,  o romance Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá. Escreveu diários e o romance inacabado Cemitério dos Vivos, que teve alguns trechos publicados em 1921, com base no período de internação. Nesse mesmo ano de 1921 Lima Barreto tentou pela terceira vez entrar na Academia Brasileira de Letras. Se nas duas primeiras vezes ele não foi aceito, na terceira ele desistiu antes das eleições. Ele teve dificuldades como escritor, tendo sido excluído da crítica oficial de 1909 a 1922 com um forte silêncio em relação ao que ele escrevia. Ele  fez como outros autores que publicaram obras em Portugal por não conseguirem terem seus textos originais aprovados por editores do Rio de Janeiro. O livro Recordações do Escrivão Isaías Caminha foi publicado em Portugal em 1907. O desprezo que lhe dava a elite intelectual da época deve-se muito à posição política atuante e à  maneira de criticar  de Lima. Pode-se perceber a ironia dominante do escritor no personagem Quaresma que ele criou.  

Em primeiro de novembro de 1922 Lima Barreto faleceu por causa de um ataque cardíaco em sua casa, no Rio de Janeiro, quando ele tinha somente 41 anos. Ele foi sepultado no cemitério de São João Batista. Após a morte do escritor, seu pai morreu dois dias depois e foi também enterrado no mesmo cemitério.

As seguintes obras foram publicadas após a morte do autor na década de 1920: Os Bruzundangas (publicada em dezembro de 1922), concluído pelo autor em 1917; Bagatelas (publicada em 1923); e Clara dos Anjos (serializado entre 1923 e 1924 na Revista Santa Cruz ), concluído em janeiro de 1922.

Outras obras foram publicadas nas décadas de 1940 e 1950 como Cemitério dos VivosDiário Íntimo e parte da correspondência pessoal. Essas obras dessa época foram publicadas devido ao trabalho de pesquisa de Francisco de Assis Barbosa, um dos principais biógrafos do autor.

Para diversos críticos literários a obra de Lima Barreto tem partes em que há níveis altos de criatividade e realização estética e há outras partes que o escritor não se preocupa com maiores preocupações artísticas, sendo tipo um panfleto ou para documentação social, política e histórica.

Lima Barreto foi um crítico forte dos tempos da República Velha, não seguindo um modelo ufanista e nacionalista e criticando características republicanas da época, como a manutenção de privilégios de famílias tradicionalistas do poder oligárquico e dos militares. O autor estava ligado a uma produção literária que se voltava para investigar desigualdades sociais, destacando a existência da hipocrisia nas relações de homens e mulheres na sociedade. Usou certas vezes a sátira e a ironia, com humor em sarcasmo como no romance Triste Fim de Policarpo Quaresma e no conto “O Homem que Sabia Javanês”. Ele em suas obras, que tinham características sociais, criticou corrupções e defeitos da sociedade e da política e via de um jeito privilegiado os pobres, os boêmios e os arruinados.

Lima Barreto, apesar de criticado por alguns escritores da época em que viveu, também influenciou escritores modernistas. Ele resgatou os formatos e os costumes de características cômicas e carnavalescas da cultura popular por meio do romance de realismo e da sátira menipeia (“a sátira menipeia é uma forma de sátira escrita geralmente em prosa, com extensão e estrutura similar a um romance, caracterizada pela crítica às atitudes mentais ao invés de a indivíduos específicos. Teria sido criada por Menipo, escritor grego antigo(...)”. Fonte: Wikipédia).  

No carnaval do Rio de Janeiro de 1982 Lima Barreto foi homenageado pela Escola de Samba GRES Unidos da Tijuca com o samba-enredo Lima Barreto, mulato pobre mas livre. A 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty homenageou o autor. Na ocasião foi lançada a mais recente biografia sobre ele: "Lima Barreto - Triste Visionário”, da autora Lilia Moritz Schwarcz.

 

Segundo a autora Dilva Frazão:

“Lima Barreto (1881-1922) foi um importante escritor brasileiro da fase Pré-Modernista da literatura. Sua obra está impregnada de fatos históricos e de uma perspectiva da sociedade carioca. Analisa os ambientes e os costumes do Rio de Janeiro e faz uma crítica à mentalidade burguesa da época.

Lima Barreto foi um escritor do seu tempo e de sua terra. Anotou, registrou, fixou e criticou asperamente quase todos os acontecimentos da República. Tornou-se uma espécie de “cronista” da antiga capital federal (...). ...  “Em 1903, quando cursava o terceiro ano de Engenharia, foi obrigado a abandonar o curso, pois seu pai havia enlouquecido e o sustento dos três irmãos agora era responsabilidade dele. Em 1904, prestou concurso para escriturário do Ministério da Guerra, foi aprovado e permaneceu na função até se aposentar (...)... Em 1909, Lima Barreto estreou na literatura com a publicação do romance Recordações do Escrivão Isaías Caminha. O texto acompanha a trajetória de um jovem mulato que vindo do interior sofre sérios preconceitos raciais. A obra, em tom autobiográfico, é um brado de revolta contra o preconceito racial e uma implacável sátira ao jornalismo carioca. A crítica social paira em um plano psicológico: muitas vezes quem fala é o próprio autor e não seu personagem-narrador "Isaías Caminha".

Em 1915, depois de ter publicado em folhetos, Lima Barreto publica o livro Triste Fim de Policarpo Quaresmasua obra-prima. Nesse romance, o autor descreve a vida política no Brasil após a Proclamação da República.

A obra narra os ideais e as frustrações do funcionário público, Policarpo Quaresma, homem metódico e nacionalista fanático. Sonhador e ingênuo, Policarpo dedica a vida a estudar as riquezas do país. Além da descrição política do final do século XIX, a obra traça um rico painel social e humano dos subúrbios cariocas na virada do século (...)”

 

Frases de Lima Barreto:

“O Brasil não tem povo, tem público.”

 “Não é só a morte que iguala a gente. O crime, a doença e a loucura também acabam com as diferenças que a gente inventa.”

“Ele alegrou os outros e nunca teve alegria.”

 “Seu olhar, sempre enxuto e polido, tinha alguma névoa úmida, uma angustiosa expressão de dor de quem não sabe ou não quer chorar.”

“Quem tem inimigos deve ter também bons amigos.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História.

 

Figura:

https://www.google.com/search?q=imagens+de+lima+barreto&sxsrf=ALiCzsaU_MqfX5ZJ6m45dbKgWeVtuSuf6g%3A1667779543583&ei=10toY6SZI97V1sQPsMqO8A4&oq=imagens+de+lima+barreto&gs_

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