Dando início aos artigos de novembro de
2022 no meu blog, vou começar pelo escritor e jornalista Lima Barreto.
Afonso Henriques de Lima Barreto,
nasceu em 13 de maio de 1881 na cidade do Rio de Janeiro, que era na época o
chamado Município Neutro no Império do Brasil. Seus gêneros literários eram
Romance, Conto, Crônica e a Sátira. Ele teve também publicações em revistas
populares ilustradas e periódicos anarquistas do início do século XX. Ele está
relacionado aos movimentos literários Pré-modernismo e Modernismo. Sua obra de
mais destaque foi Triste Fim de Policarpo Quaresma. É considerado
um escritor dos mais importantes no Brasil. Sobre ele disse o escritor Monteiro
Lobato em outubro de 1916 em uma carta ao escritor Godofredo
Rangel:
"“Conheces
Lima Barreto? Li dele, na Águia, dois contos, e pelos jornais soube
do triunfo do Policarpo Quaresma, cuja segunda edição já lá se foi.
A ajuizar pelo que li, este sujeito me é romancista de deitar sombras em todos
os seus colegas coevos e coelhos, inclusive o Neto. Facílimo na língua,
engenhoso, fino, dá impressão de escrever sem torturamento – ao modo das
torneiras que fluem uniformemente a sua corda-d’água”.
Lima Barreto era
filho de João Henriques de Lima Barreto, um tipógrafo monarquista (com ligações
com o visconde de Ouro Preto, que veio a ser padrinho de Lima Barreto) cuja mãe
tinha sido escrava e o pai um madeireiro português e de Amália
Augusta, filha de escrava. A mãe de Lima Barreto foi professora primária
e faleceu quando ele tinha somente seis anos, tendo o seu pai que se
empenhar bastante para criar seus quatro filhos.
Sobre a morte de
sua mãe disse o escritor: “Talvez fosse menos rebelde, menos sombrio e
desconfiado, mais contente com a vida, se ela vivesse. Deixando-me ainda na
primeira infância, bem cedo firmou-se o meu caráter; mas em contrapeso, bem
cedo me vieram o desgosto de viver, o retraimento por desconfiar de todos, a
capacidade de ruminar mágoas sem comunicá-las a ninguém.”
Foi em 1905 que Lima Barreto iniciou no jornalismo com reportagens para o Correio da Manhã. A pedido do poeta e jornalista Mário Pederneiras, em abril de 1907 Lima Barreto passou a contribuir com a Fon-Fon, uma revista de grande circulação. No entanto, não sentindo que fosse valorizado, o escritor demitiu-se em junho desse ano. Em outubro ele lançou a revista Floreal, sendo diretor e o maior contribuinte. A revista teve somente 4 números. Outras revistas para as quais ele contribuiu foram as revistas A.B.C e Careta. Além dessas revistas, ele publicou textos em jornais de características socialistas. Sua famosa obra Triste Fim de Policarpo Quaresma foi publicada em páginas do Jornal do Commercio. Depois o autor publicou com seu próprio dinheiro a edição em livro em dezembro de 1915. Ele vivenciava nesse tempo crises agudas de alcoolismo e depressão, tendo sido internado em um hospício, o Hospital dos Alienados, em 1914. Após quatro anos dessa internação, os problemas de saúde dele ficaram piores, tendo se aposentado em dezembro de 1918.
Em 1919 Lima
Barreto publicou pela editora Revista do Brasil, de Monteiro
Lobato, o romance Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá.
Escreveu diários e o romance inacabado Cemitério dos Vivos, que
teve alguns trechos publicados em 1921, com base no período de internação.
Nesse mesmo ano de 1921 Lima Barreto tentou pela terceira vez entrar na
Academia Brasileira de Letras. Se nas duas primeiras vezes ele não foi aceito,
na terceira ele desistiu antes das eleições. Ele teve dificuldades como
escritor, tendo sido excluído da crítica oficial de 1909 a 1922 com um forte
silêncio em relação ao que ele escrevia. Ele fez como outros autores
que publicaram obras em Portugal por não conseguirem terem seus textos originais
aprovados por editores do Rio de Janeiro. O livro Recordações do
Escrivão Isaías Caminha foi publicado em Portugal em 1907. O desprezo
que lhe dava a elite intelectual da época deve-se muito à posição política
atuante e à maneira de criticar de Lima. Pode-se perceber
a ironia dominante do escritor no personagem Quaresma que ele
criou.
Em primeiro de
novembro de 1922 Lima Barreto faleceu por causa de um ataque cardíaco em sua
casa, no Rio de Janeiro, quando ele tinha somente 41 anos. Ele foi sepultado no
cemitério de São João Batista. Após a morte do escritor, seu pai morreu dois
dias depois e foi também enterrado no mesmo cemitério.
As seguintes obras
foram publicadas após a morte do autor na década de 1920: Os
Bruzundangas (publicada em dezembro de 1922), concluído pelo autor em
1917; Bagatelas (publicada em 1923); e Clara dos Anjos (serializado
entre 1923 e 1924 na Revista Santa Cruz ), concluído em
janeiro de 1922.
Outras obras foram
publicadas nas décadas de 1940 e 1950 como Cemitério dos Vivos, Diário
Íntimo e parte da correspondência pessoal. Essas obras dessa época
foram publicadas devido ao trabalho de pesquisa de Francisco de Assis Barbosa,
um dos principais biógrafos do autor.
Para diversos
críticos literários a obra de Lima Barreto tem partes em que há níveis altos de
criatividade e realização estética e há outras partes que o escritor não se
preocupa com maiores preocupações artísticas, sendo tipo um panfleto ou para
documentação social, política e histórica.
Lima Barreto foi um crítico forte dos tempos
da República Velha, não seguindo um modelo ufanista e nacionalista e criticando
características republicanas da época, como a manutenção de privilégios de
famílias tradicionalistas do poder oligárquico e dos militares. O autor estava
ligado a uma produção literária que se voltava para investigar desigualdades
sociais, destacando a existência da hipocrisia nas relações de homens e
mulheres na sociedade. Usou certas vezes a sátira e a ironia, com humor em
sarcasmo como no romance Triste Fim de Policarpo Quaresma e no
conto “O Homem que Sabia Javanês”. Ele em suas obras, que
tinham características sociais, criticou corrupções e defeitos da sociedade e
da política e via de um jeito privilegiado os pobres, os boêmios e os
arruinados.
Lima Barreto, apesar de criticado por
alguns escritores da época em que viveu, também influenciou escritores
modernistas. Ele resgatou os formatos e os costumes de características cômicas
e carnavalescas da cultura popular por meio do romance de realismo e
da sátira menipeia (“a sátira
menipeia é uma forma de sátira escrita geralmente em prosa, com
extensão e estrutura similar a um romance, caracterizada pela crítica às
atitudes mentais ao invés de a indivíduos específicos. Teria sido criada
por Menipo, escritor grego antigo(...)”. Fonte: Wikipédia).
No carnaval do Rio
de Janeiro de 1982 Lima Barreto foi homenageado pela Escola de Samba GRES
Unidos da Tijuca com o samba-enredo Lima Barreto, mulato pobre mas
livre. A 15ª edição da Festa Literária Internacional de Paraty homenageou o
autor. Na ocasião foi lançada a mais recente biografia sobre ele: "Lima
Barreto - Triste Visionário”, da autora Lilia Moritz Schwarcz.
Segundo a autora Dilva Frazão:
“Lima Barreto (1881-1922) foi um
importante escritor brasileiro da fase Pré-Modernista da literatura. Sua obra
está impregnada de fatos históricos e de uma perspectiva da sociedade carioca.
Analisa os ambientes e os costumes do Rio de Janeiro e faz uma crítica à
mentalidade burguesa da época.
Lima Barreto foi um escritor do seu
tempo e de sua terra. Anotou, registrou, fixou e criticou asperamente quase
todos os acontecimentos da República. Tornou-se uma espécie de “cronista” da
antiga capital federal (...). ... “Em 1903, quando cursava o
terceiro ano de Engenharia, foi obrigado a abandonar o curso, pois seu pai
havia enlouquecido e o sustento dos três irmãos agora era responsabilidade
dele. Em 1904, prestou concurso para escriturário do Ministério da Guerra,
foi aprovado e permaneceu na função até se aposentar (...)... Em 1909,
Lima Barreto estreou na literatura com a publicação do romance Recordações
do Escrivão Isaías Caminha. O texto acompanha a trajetória de um
jovem mulato que vindo do interior sofre sérios preconceitos raciais. A obra,
em tom autobiográfico, é um brado de revolta contra o preconceito racial e uma
implacável sátira ao jornalismo carioca. A crítica social paira em um plano
psicológico: muitas vezes quem fala é o próprio autor e não seu
personagem-narrador "Isaías Caminha".
Em 1915, depois de ter publicado em
folhetos, Lima Barreto publica o livro Triste Fim de Policarpo
Quaresma, sua obra-prima. Nesse romance, o autor descreve a vida
política no Brasil após a Proclamação da República.
A obra narra os ideais e as frustrações
do funcionário público, Policarpo Quaresma, homem metódico e nacionalista
fanático. Sonhador e ingênuo, Policarpo dedica a vida a estudar as riquezas do
país. Além da descrição política do final do século XIX, a obra traça um rico
painel social e humano dos subúrbios cariocas na virada do século (...)”
Frases de Lima Barreto:
“O Brasil não tem povo, tem público.”
“Não é só a morte que iguala a
gente. O crime, a doença e a loucura também acabam com as diferenças que a
gente inventa.”
“Ele alegrou os outros e nunca teve
alegria.”
“Seu olhar, sempre enxuto e
polido, tinha alguma névoa úmida, uma angustiosa expressão de dor de quem não
sabe ou não quer chorar.”
“Quem tem inimigos deve ter também bons
amigos.”
_______________________________________
Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História.
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagens+de+lima+barreto&sxsrf=ALiCzsaU_MqfX5ZJ6m45dbKgWeVtuSuf6g%3A1667779543583&ei=10toY6SZI97V1sQPsMqO8A4&oq=imagens+de+lima+barreto&gs_
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