Em 15 de julho de 1943 nasceu em
Belfast, Irlanda do Norte, a astrônoma, astrofísica e física Jocelyn Bell
Burnell, atualmente com 79 anos. Cientista de destaque, ela ganhou a Medalha Albert A. Michelson (1973), o Prêmio
Memorial J. Robert Oppenheimer (1978), o Prêmio Beatrice M. Tinsley (1986), a
Medalha Herschel (1989), o Prêmio Magalhães (2000), o Prêmio
Michael Faraday (2010),a Medalha Real (2015), a Grande
médaille de l’Académie dês sciences (2018), Fundamental Physics Prize (2018), Medalha
Copley (2021).
Ela era a mais velha de quatro irmãos, filha de Margaret Allison e do arquiteto George Philip Bell, que
trabalhou no projeto do Planetário Armagh . Ela veio de uma família com amplos
recursos. Recebeu incentivo de seus pais, que eram quacres (grupo religioso),
para fazer parte da área de ciências. Quando criança ela visitava o Planetário e
lá recebeu estímulos para se interessar por astronomia. Ela também começou a
ler livros sobre astronomia que pertenciam ao seu pai. De 1948 a 1956 Jocelyn esteve realizando seus
estudos no Departamento Preparatório do Lurgan College, mas ela e outras
meninas não tinham autorização para estudar ciências. Seus pais protestaram
contra essas regras da escola. Não passou no exame de 11+ anos, que era para
orientar as crianças para os estudos gerais ou profissionais. Ela foi enviada
por seus pais para estudar em Mount School (um internato para meninas da
Sociedade Religiosa de Amigos), em York, Inglaterra, entre os anos de 1956 e
1961. Foi lá que conheceu o professor Tillott, que, segundo a própria Jocelyn,
era um professor muito bom e que mostrou a ela que a física era fácil de
aprender. Jocelyn destacou que esse professor contribuiu muito para que ela se
interessasse pela física.
Jocelyn formou-se com
distinção em licenciatura em Filosofia Natural (Física),na Universidade de
Glascow, em 1965.Casou-se em 1968 com Martin Burnell. Eles se divorciaram em
1993. O casal teve um filho. Para poder criar seu filho ela trabalhou por anos
em tempo parcial. Entrou após estar formada no programa de pós-graduação
da Universidade de Cambridge e trabalhou com o cientista Antony Hewish e
outros para que fosse fabricado um radiotelescópio para estudar quasers. Levaram dois anos para o
aparelho ficar pronto para funcionar. Começou a ser operado em julho de 1967,
mas ainda não estava totalmente pronta sua construção.
Sob a supervisão de Tony
Hewish, Jocelyn era a única responsável pela operação do radiotelescópio e pela
análise de dados. Ela detectou em seus papeis de registro gráfico em 28 de
novembro um sinal. A fonte foi chamado na época de "Little Green Man
1", que se chama atualmente PSRB1919+21 e se descobriu depois de vários
anos se tratar de uma estrela de nêutrons em rápida rotação. Ela chamou outros cientistas. Os astrônomos Scott e Collins olharam para as
pulsações com outro telescópio para verificar se era verdade ou alguma falha de
aparelho.
Ela entrou em contato com Tony Hewish, que estava ensinando em um laboratório de graduação em Cambridge, e sua primeira reação foi que eles deviam ser artificiais. Ela disse: "Essa foi uma resposta muito sensata nas circunstâncias, mas devido a uma profundidade realmente notável de ignorância, não vi por que não poderia ser uma estrela". Então os astrônomos Scott e Collins olharam para as pulsações com outro telescópio para ter certeza de que não era uma falha de aparelho. Outro cientista, Pilkington, mediu a dispersão do sinal que determinou que a fonte estava fora do sistema solar, mas dentro da galáxia. Até se pensou naquele tempo, que pudesse ser um sinal de uma civilização fora da Terra.
Segundo relato da própria
Jocelyn:
“Pouco antes do Natal,
fui ver Tony Hewish ... Realmente não achávamos que havíamos captado sinais de
outra civilização, mas obviamente a ideia passou por nossas cabeças e não
tínhamos nenhuma prova de que era uma emissão de rádio completamente natural. É
um problema interessante: se você acha que pode ter detectado vida em outras
partes do universo, como você anuncia os resultados com responsabilidade? Para
quem você conta primeiro? Não resolvemos o problema naquela tarde e fui para
casa naquela noite muito zangada. Eu estava tentando obter um doutorado com uma
nova técnica e alguns homenzinhos verdes bobos tiveram que escolher minha
antena e minha frequência para se comunicar conosco.”
Sobre a publicação da
descoberta ela disse:
“No final de janeiro, o
documento anunciando o primeiro pulsar foi enviado à Nature. Isso se baseou em
um total de 3 horas de observação da fonte, o que foi pouco. Acho que os
comentários de que mantivemos a descoberta em segredo por muito tempo estão
fora de lugar ... Um dia antes da publicação, Tony Hewish deu um seminário em
Cambridge para anunciar os resultados. Todos os astrônomos de Cambridge, ao que
parece, compareceram àquele seminário, e seu interesse e entusiasmo me deram
uma primeira apreciação da revolução que tínhamos começado ... No artigo para a
Nature, mencionamos que em um ponto pensamos que os sinais poderiam vir de
outra civilização. Quando o artigo foi publicado, a imprensa desceu e, quando
descobriram que era uma mulher, desceu ainda mais rápido. Eles me fotografaram
em pé em um banco, sentada em um banco, em pé em um banco examinando registros
falsos, sentada em um banco examinando registros falsos: um deles até me fez
correr pelo banco agitando os braços no ar: "Olha! Feliz querida, você
acabou de fazer uma descoberta! (Arquimedes não sabe o que foi perdido!)"
Enquanto isso, os jornalistas me perguntavam questões relevantes, como se eu
era mais alta ou mais baixa do que a princesa Margaret (temos unidades de
medida curiosas na Grã-Bretanha ) e quantos namorados eu tive ao mesmo tempo.
Foi assim que minha parte do processo terminou. Finalmente terminei a análise
dos gráficos, medi os diâmetros angulares de várias fontes de rádio e escrevi
minha tese. (*Os pulsares estavam em
um apêndice).”
Jocelyn Bell não recebeu o Prêmio Nobel de Física pela descoberta do pulsar . Antony Hewish foi quem ganhou o prêmio em 1974 devido a esta descoberta. Mas houve polêmica porque Jocelyn não foi considerada. Ela comentou em 1977:
“Foi sugerido que eu deveria ter participado no Prémio Nobel atribuído a Tony Hewish pela descoberta dos pulsares. Há vários comentários que eu gostaria de fazer sobre isso: Primeiro, as disputas de demarcação entre supervisor e aluno são sempre difíceis, provavelmente impossíveis de resolver. Segundo, é o supervisor que tem a responsabilidade final pelo sucesso ou fracasso do projeto. Ouvimos falar de casos em que um supervisor culpa o seu aluno por um fracasso, mas sabemos que a culpa é em grande parte do supervisor. Parece-me justo que ele também se beneficie dos sucessos. Terceiro, acho que degradaria os prêmios Nobel se fossem concedidos a estudantes de investigação, exceto em casos muito raros, e não acho que este seja um deles. Por último, eu mesmo não me incomodo com isso; Afinal estou em boa companhia, certo?”
Em 1969, Joecelyn obteve
seu doutorado. De 1968 a 1973 ela trabalhou na Universidade de Southhampton e
de 1974 a 1982 na University College London. No período de 1982 a 1991 ela
esteve trabalhando no Royal Observatory, de Edimburgo. Foi tutora, consultora e
examinadora da Open University de 1973 a 1987.
Foi diretora do projeto Telescópio James Clerk Maxwell, no Havaí, a
partir de 1986. Também lecionou Física na Open University de 1991 a 2001 e foi
Professora Visitante na Universidade de Princeton nos Estados Unidos. No período
de 2001 a 2004 foi Reitora de Ciências na Universidade de Bath.
Foi presidente da Royal Astronomical Society entre 2002 e 2004, presidente do
Institute of Physics entre 2008 e 2010, e presidente interina no começo de
2011.
Jocelyn foi premiada com
o Fundamental Astronomical Society de 2018, na Categoria Especial. O prêmio de
três milhões de dólares ela doou como auxílio para mulheres, minorias étnicas e
estudantes refugiados para que se tornassem pesquisadores na área da física.
Foi eleita em dezembro de 2014 uma das 100 mulheres mais influentes do mundo
pela BBC.
Recentemente Jocelyn
Burnell passou a ser professora de
Astrofísica na Universidade de Oxford, e Chanceler da Universidade de Dundee,
na Grã-Bretanha. Declarou-se ainda apaixonada pela ciência.
*Pulsar
é uma estrela de nêutrons que, em virtude de seu intenso campo magnético (da
ordem de 108 T), transforma a energia rotacional em energia eletromagnética.
A medida que o pulsar gira, seu intenso campo magnético induz um enorme campo
elétrico na sua superfície. Este campo elétrico é suficiente para arrancar
partículas carregadas da superfície, na sua maioria elétrons, que por sua vez
fluem para a magnetosfera onde são acelerados. Estes elétrons acelerados emitem
radiação síncrotron em um feixe estreito ao longo das linhas do campo
magnético. Se ao girar, o eixo do campo magnético ficar na nossa linha de
visada, veremos um pulso de radiação eletromagnética (como a luz de um farol
girante). Wikipédia
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
Figura:
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+jocelyn+Burnell#imgrc=2hI76f8NLDMzxM
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