Em 10 de maio de 1900 nasceu em
Wendover, Buckinghamshire, Inglaterra, a astrônoma, professora
universitária e astrofísica Cecilia Payne-Gaposchkin. Era filha de Emma
Leonora Helena (nascida Pertz) e Edward John Payne (advogado, historiador e
músico). Antes dela se pensava que o o Sol possuísse uma composição semelhante
à da Terra. Ela mostrou que é composto primariamente de hidrogênio. Sua mãe
tinha vindo de uma família da Prússia (um dos Estados alemães que formaram a
Alemanha) e dois dos tios dela eram pessoas de destaque: o historiador Georg
Heinrich Pertz e o escritor James John Garth Wilkinson. Ela tinha dois irmãos.
Aos quatro anos de idade Cecília perdeu seu pai e sua mãe teve de sustentar a
família.
Cecília fez seus
primeiros estudos na St.Paul's Girls' School e em 1919 foi estudar
no Newnham College, Universidade de Cambridge, onde de
início estudou botânica, física e química. Nessa instituição ela se interessou
por astronomia após ter assistido uma palestra do cientista Arthur Eddington a
respeito do eclipse solar de 29 de maio de 1919 e suas observações com a
finalidade de observar e fotografar as estrelas próximas do eclipse para
testar a teoria geral da relatividade de Einstein. Embora tenha terminado
seu curso universitário, não pôde receber seu diploma por ser mulher. Esse tipo
de discriminação por Cambridge foi até 1948. Diante dessa realidade, ela só
poderia ser professora. Decidiu ir para os Estados Unidos e se mudou para lá em
1923 após ter conhecido Harlow Shapley, diretor do Harvard College Observatory.
Havia um projeto que encorajava mulheres a estudar no observatório. Cecília foi
a segunda estudante nesse projeto (tornou-se cidadã dos Estados Unidos em 1931)
e Adelaide Ames foi a primeira.
Em 1933, quando Cecília estava viajando
pela Europa, ela conheceu o físico russo Sergei I. Gaposchkin, na Alemanha. Por
meio de auxílio dela, ele pôde obter um visto para os Estados Unidos. E em 1934
os dois casaram-se, vindo a ter três filhos.
Cecília seguiu
carreira acadêmica em Harvard, continuando a ser uma cientista ativa e foi-lhe
outorgado o título oficial de "astrônoma” em 1938. Foi a primeira mulher a
ser professora associada em Harvard a partir de 1956. Ela se tornou a primeira
pessoa a ter o título de doutora em astronomia pela instituição Radcliffe
College (que hoje em dia é parte da Universidade de Harvad) em 1925. A tese de
Cecília foi: "Atmosferas estelares, uma contribuição para o estudo da
observação da temperatura alta nas camadas revertidas de estrelas". Essa
tese foi considerada pelos astrônomos Otto Struve e Velta Zebergs como
"indubitavelmente a tese de doutoramento mais brilhante jamais escrita em
astronomia”.
Cecília
aplicou a teoria da ionização desenvolvida pelo físico Meghnad Saha,
relacionando a classificação estelar das estrelas às suas temperaturas
absolutas. Ela pôde provar que não eram as diferentes quantidades de elementos
que causava a grande variação na linha espectral e sim por causa das diferentes
diferentes quantidades de ionização a diferentes temperaturas. Segundo sua
pesquisa, o silício, o carbono e outros metais comuns vistos no espectro do Sol
existem mais ou menos nas mesmas quantidades na Terra, confirmando o que a
ciência já dizia, destacando porém que o hélio e, em especial, o hidrogênio,
estão em quantidade muito maior. Segundo a sua tese, o hidrogênio é o elemento
que existe mais abundantemente no universo e que é o principal componente na
formação das estrelas. O astrônomo Henry Norris Russell, a princípio duvidava
da afirmação de Cecília por meio da pesquisa dela de que a composição do Sol
era predominantemente de hidrogênio, diferente da composição química de
nosso planeta. Mas ele comprovou que Cecília estava certa após ter chegado à
mesma conclusão por métodos diferentes e publicou os resultados dessa pesquisa.
Embora Cecília tenha sido a primeira a descobrir, percebe-se que várias vezes
há referências a Russel como descobridor.
Além
das descobertas mencionadas em sua tese de doutorado, Cecília estudou estrelas
de alta luminosidade para entender a estrutura da Via Láctea e posteriormente
fez estudos sobre estrelas com magnitude superior a dez. Fez aproximadamente
1 250 000 observações com seus assistentes sobre estrelas
variáveis e estudou as Nuvens de Magalhães, com mais dois milhões de
observações de estrelas variáveis. As observações e análises que ela e seu
marido fizeram sobre estrelas variáveis serviu de base para
estudos que foram feitos por outros cientistas sobre as mesmas. De 1927 a 1938
ela era só assistente técnica de Shapley, sem ter um cargo oficial. A situação
dela só melhorou quando recebeu o título de astrônoma em 1938 e depois foi
mudado o título para Astrônoma Phillips, a pedido dela, que se tornou membro em
1943 da American Academy of Arts and Sciences.
Em
1956 Cecília passou a ser a primeira mulher a ser promovida a professora
integral na Harvard Faculty of Arts and Sciences. Foi também a a primeira
mulher a liderar um departamento em Harvard, no Departamento de Astronomia. Ela
teve alunos que se destacaram na astronomia. Em 1966 recebeu o título de
professora emérita em Harvard, ano em que se aposentou, continuando a pesquisar
como integrante da equipe de astrônomos no Smithsonian Astrophysical
Observatory. O trabalho de Cecília Payne em uma comunidade científica com
predomínio masculino inspirou outras mulheres no campo da ciência, como no caso
da astrofísica Joan Feyman, que foi influenciada pela pesquisa de Cecília
publicada em um livro de astronomia.
Cecília morreu de câncer aos 79 anos, no dia 7 de dezembro de 1979.
Segundo artigo da BBC em 16/04/2019:
“Cecilia Payne-Gaposchkin foi uma das
grandes astrônomas da história.
Ela tinha apenas 25 anos quando chegou
a uma conclusão que mudaria para sempre a forma que observamos o universo.
Cecilia Payne-Gaposchkin foi uma das grandes astrônomas da história e a
primeira a dizer do que eram feitas as estrelas.
Apesar disso, sua carreira nunca foi fácil. Teve de enfrentar o ambiente
machista que dominava a ciência e o ensino na época (...)”.
Amy Davy, curadora do museu de ciências
de Londres disse sobre Cecília Payne:
"Sua carreira é uma lembrança de
que a razão por que não havia mais mulheres cientistas na história não se devia
à falta de talento ou de paixão, mas sim à misogenia sistemática da
sociedade".
Disse também Amy:
"O trabalho de Cecilia
Payne-Gaposchkin foi inegavelmente importante para nossa compreensão das
estrelas e da astronomia. Porém, devido ao seu gênero, teve que trabalhar muito
mais para lutar pelo reconhecimento que merecia".
Conselho de Cecília Payne para jovens mulheres quando se tornou chefe do Departamento de Astronomia de Harvard : “Não siga uma carreira científica por fama ou dinheiro… Siga a carreira científica só se nada mais trouxer satisfação, porque ‘nada mais’ é provavelmente o que você vai receber. Sua recompensa é a ampliação do horizonte na medida em que você escala. E, se você conseguir essa recompensa, não vai querer nenhuma outra.”
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Márcio José Matos
Rodrigues-Professor de História
Figura:
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