domingo, 29 de setembro de 2024

O escritor Russo Tolstoi

 




Em  9 de setembro de 1828 nascia em uma família nobre russa em Iasnaia Poliana perto de Tula, Império Russo, o brilhante escritor russo Lev Nikolaevitch Tolstoi, mais conhecido em português como Leão, LeonLeo ou Liev Tolstói . Além de escritor ele foi também Novelista, Ensaísta, Filósofo. Escreveu peças e ensaios filosóficos. Tornou-se um anarquista cristão e um pacifista. Tolstói era um romancista da escola realista e, dessa forma, considerava o romance um quadro para o exame de questões sociais e políticas. Considerou Anna Karenina sua primeira novela verdadeira. Ele criou personagens a partir de suas experiências e também criou personagens à sua imagem, tal como Pierre Bezukhov, o Príncipe Andrei de Guerra e Paz, Levin de Anna Karenina e até certo ponto, o príncipe Nekhlyudov de A Ressurreição.

Características literárias de Liev Tolstói: Nacionalismo crítico; Doutrinação moral;Temática do adultério;Narrativa psicológica;Temática sociopolítica;Crítica de costumes;Personagens trágicos;Crítica à aristocracia;Foco nos detalhes;Fluxo de consciência;Sátira e ironia;Caráter didático;Crítica às religiões cristãs;Contradição: ceticismo e dogmatismo.

Tolstoi foi o quarto dos cinco filhos do Conde Nikolai Ilitch Tolstoi, que participou da guerra contra as tropas napoleônicas . Sua mãe era aCondessa Maria Tolstaia (Volkonskaia). O escritor e seus irmãos foram criados por parentes após a morte dos pais quando ele era muito novo. Ele e seus irmãos estudaram Direito na Universidade de Cazã e foi criticado por professores que o achavam "incapaz e sem interesse pelo aprendizado”. Tolstoi não concluiu seu curso e voltou para Iasnaia Poliana. Ficava a maior parte do tempo em Moscou e São Petersburgo. Em 1851, muito endividado, foi com o irmão mais velho para o Cáucaso e ingressaram no exército russo. A partir daí ele começou a escrever. Ele foi segundo tenente em um regimento de artilharia durante a Guerra da Crimeia, experiência narrada em Crônicas de Sebastopol.

As suas experiências no exército e por meio de duas viagens que fez em 1857 e 1860 pela Europa o transformaram em um anarquista pacifista. Ficou transtornado ao ver uma execução pública em Paris. Sobre isso escreveu para um amigo: "A verdade é que o Estado é uma conspiração desenhada não somente para explorar, mas acima de tudo para corromper seus cidadãos... de agora em diante, eu jamais servirei a governo algum e em todo lugar”.

Tolstoi passou a defender a não-violência, conceito chamado de Ahimsa. Ele leu uma uma tradução alemã dos versos sagrados Tirukkural, o que reforçou o que ele pensava sobre tal conceito. Em uma carta a Gandhi, ele sugeriu o estilo da não-violência. Os dois se correspondiam. Foi influenciado pela filosofia de Arthur Schopenhauer. Após ler a obra O Mundo como Vontade e Representação , Tolstói converteu-se gradualmente à moral ascética. Sobre essa questão Tolstoi disse:

 “Estou convencido de que Schopenhauer é o mais genial dos homens. (…) Ao lê-lo não posso compreender como o seu nome pôde permanecer desconhecido. A única explicação possível é a que ele mesmo repete tantas vezes, de que há quase só idiotas no mundo.”

Na segunda viagem que fez pela Europa, Tolstoi foi influenciado por Vitor Hugo. A influência pode ser notada na obra Guerra e Paz, de 1865, como por exemplo na descrição de batalhas por Tolstoi que se assemelham à forma como Vitor Hugo descreve batalhas em Os Miseráveis. Também houve influência do anarquista Pierre-Joseph Proudhon sobre Tolstoi. Sobre Proudhon ele escreveu: "Proudhon (...) foi o homem que entendeu o significado da educação e da imprensa de nosso tempo”.

Para Tolstói um verdadeiro cristão poderia encontrar a felicidade duradoura esforçando-se para atingir a autoperfeição interior, seguindo o mandamento de amar o próximo e a Deus. Ela dá destaque à busca pessoal em detrimento da Igreja ou do Estado. Baseado nos ensinamentos de Cristo ele acreditava na não-resistência quando enfrentada pelo conflito.

Após suas viagens pela Europa, Tolstoi voltou à Iasnaia Poliana. Lá ele fundou 13 escolas para crianças camponesas tinham sido  emancipadas pela reforma de 1861. No ensaio The School at Yasnaya Polyana (1862) ele descreveu os princípios educacionais. Mas não conseguiu ir muito adiante em suas experiências pedagógicas por causa da pressão feita pela polícia secreta do czar. Ele é o pioneiro na aplicação teórica da gestão democrática nas escolas. Ele deu os primeiros passos no que no futuro seria a busca pela liberdade na educação escolar.

Tolstoi se casou em 23 de setembro de 1862, com Sophia Andreevna Behrs, filha de um médico da corte. O casal teve 13 filhos, oito dos quais chegaram à vida adulta. De início o escritor mostrou uma insensibilidade emocional no casamento. Mas a estrutura familiar lhe ajudou a escrever Guerra e Paz e Anna Karenina, com sua esposa sendo sua secretária pessoal, editora e gerente financeira. Porém, as ideias de Tolstoi foram se radicalizando e afetaram seu casamento. Ele passou a ter pouco interesse por questões financeiras, rejeitando até a sua herança.

Após escrever Anna Karenina, Tolstoi voltou-se para temas cristãos. Nesse sentido, escreveu por exemplo: A Morte de Ivan Ilitch (1886) e O que deve ser feito? (1899). Tais obras desenvolvem uma filosofia anarco cristã radical, o que levou à sua excomunhão da Igreja Ortodoxa Russa em 1901. Em A Ressurreição (1899), sua última novela, Tolstói expõe a injustiça das leis feitas pelo homem e a hipocrisia da igreja institucionalizada. Tolstói também explora e explica a filosofia econômica do Georgismo, da qual ele se tornou um forte defensor pelo resto de sua vida. Demonstrou apoio aos Boxers na China, movimento contra as influências das potências industriais europeiais, o Japão e os Estados Unidos.  

Em 1910, aos 82 anos de idade, morreu Tolstói. Ele morreu de pneumonia, na estação de trem de Astapovo, Rússia, depois de um dia inteiro de viagem. Era inverno. Alguns dias antes de falecer, conversou e escreveu sobre a experiência da morte, renunciando ao estilo de vida aristocrático. Ele, em suas últimas horas de sua vida pregou o amor, a não-violência e o georgismo aos passageiros do trem.

Segundo a autora Dilva Frazão:

“(...) Tolstói nasceu sob o governo do Czar Nicolau I, numa época conturbada de rigoroso sistema feudal. Na propriedade da família habitavam 350 famílias de servos, onde corriam rumores de revolta.

Com nove anos, Tolstói ficou órfão de pai e mãe, sendo criado por duas tias, como mandava os costumes da Rússia de 1800. Foi educado por diversos preceptores.

Em 1841, morre uma das tias e Tolstói resolve mudar-se para Kazan. Em 1844, ingressou na Universidade, onde estudou Ciências Jurídicas e Línguas Orientais.

Com 16 anos já era um jovem culto e solicitado, destacando-se nos meios intelectuais do ambiente que frequentava.

Como a vida no campo sempre lhe atraiu, resolveu abandonar os estudos e decidiu administrar sua propriedade. Era chamado de “Conde de Tolstói”.

Levou uma juventude dividida em contradições, ora ocupava-se dos servos, ora entusiasmava-se com o luxo e as frivolidades.

Até 1851, Tolstói viveu ora em sua propriedade, ora em Tula ou em São Petersburgo, caçando, jogando cartas, bebendo, levando a vida na sociedade, porém ansioso de ver sua vida tomar um rumo.

O Exército e as primeiras obras

Em 1851, Tolstói decide entrar para o Exército ao lado do irmão Nikolai. Em 1852 publica os capítulos de “Infância”, seu primeiro escrito autobiográfico, na revista “O Contemporâneo”, de São Petersburgo.

Um ano depois de sua estreia como escritor eclode a Guerra da Crimeia, entre russos e turcos. No posto de Oficial de Artilharia é designado para lutar em Sebastopol.

Ainda em 1853 publica “Adolescência”. Em 1856 completa sua trilogia com a obra “Juventude”, obras que despertam o interesse do público e da crítica.

Ainda em 1856, desgostoso com a profissão das armas, e com sua experiência na guerra, pede demissão do Exército. Nesse mesmo ano escreve: “Crônicas de Sebastopol” (1856), elaborado com suas reminiscências do Cáucaso.

O caminho da mudança

A partir de 1857, Tolstói realiza diversas viagens pelo Ocidente. Esteve na Alemanha, França e Suíça. Em 1860 retorna para a sua propriedade e demonstra seu interesse pelos camponeses.

Durante suas viagens procurou estudar os métodos de ensino e resolveu criar uma escola rural. Dedica-se totalmente à educação de seus empregados chegando a escrever livros de leitura para o uso deles.

Os círculos intelectuais da Rússia se manifestaram contra as inovações de ensino, que realmente se chocavam com o espírito aristocrata e feudal da época.

Em 1862 casa-se com Sofia Andréievna Bers, que conhecera em 1856, se apaixonou, mas demorou para se aproximar.

Guerra e Paz

De 1864 a 1869, Tolstói se dedica ao livro “Guerra e Paz”, monumental romance histórico e filosófico, onde faz uma reconstrução da Rússia no tempo de Napoleão e das campanhas travadas na Áustria.

Descreve a invasão da Rússia pelo exército francês e sua retirada, no contexto de 1805 a 1812. Com mais de mil páginas na versão original, é um dos maiores romances da literatura universal.

Ana Karenina

A segunda grande obra do autor é “Ana Karenina” (1873-1877), um romance passional e um grande afresco da sociedade nacional de sua época. É considerado um dos melhores romances psicológicos da literatura moderna.

Crise religiosa

Em 1878 Tolstói entrou em uma grande crise religiosa abandonando a religião ortodoxa oficial e adotou uma espécie de cristianismo primitivo, evangélico, puramente moral e sem dogmas.

Publicou “Crítica da Teologia Dogmática” (1880), “Que é a Minha Fé” (1880) e “O Reino de Deus é Dentro de Nós” (1891). Em consequência desses escritos Tolstói foi excomungado pela Igreja Ortodoxa.

A Morte de Ivan Ilitch

Leon Tolstói, pública também artigos e contos, a maioria com objetivos doutrinários, a que mais se destaca é “A Morte de Iván Ilitch”, obra considerada pelos críticos como a mais perfeita novela já escrita.

A obra é uma história dramática de uma doença mortal e da agonia, revelando o fim de uma vida que foi inútil e sem sentido, como a vida da maior parte dos homens.

Seus livros vão se revestindo de um caráter cada vez menos literário e mais polêmico. A morte sucessiva de três filhos, e de uma tia, abala a vida do escritor. Começa uma grande transformação em sua vida.

Ultimos anos

Nos últimos anos de sua vida, o escritor vive em dolorosa luta com a família que não aceita sua dedicação à escola, nem as ideias sobre a educação dos filhos.

Tolstói vive em hesitação consigo mesmo, veste como um campones, anda descalço e divide os imóveis da família entre a mulher e os filhos. No dia 28 de outubro de 1910 ele abandona sua casa em companhia de sua filha mais nova.

Antes de morrer, na estação de Astapovo, Tolstói murmura aos médicos que lhes assistiam:

"Sabeis como morrem os camponeses? Há uma multidão deles desassistidos porque não se chamam Leon Tolstói. Por que os senhores não me deixam em paz e não vão cuidar deles?"

Leon Tolstói morre de pneumonia na estação ferroviária de Astapovo (hoje Leon Tolstói), na província de Riaz, Rússia, no dia 20 de novembro de 1910.

Obras de TolstoiInfância (1852); Adolescência (1853); Juventude (1856); Crônicas de Sebastopol (1856); A Felicidade Conjugal (1858);Cossacos (1863);Guerra e Paz (1869); Anna Karenina (1877);Uma Confissão (1882); Onde Existe Amor, Deus Aí Está (1885); A Morte de Iván Ilitch (1886); Servo e Senhor (1889); A Sonata Kreutzer (1889); O Reino de Deus está em Vós (1894); Mestre e Homem (1895);O Que é Arte (1897);Ressurreição (1899).”

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Frases de Tolstói

“Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira.”

“O amor começa quando uma pessoa se sente só e termina quando uma pessoa deseja estar só.”

“Não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.”

“O dinheiro representa uma nova forma de escravidão impessoal, em lugar da antiga escravidão pessoal.”

“A arte é, como a palavra, um dos instrumentos de união entre os homens.”

 “A arte é um instrumento moral da vida humana e, como tal, não pode se destruir por completo.”

“O fato de que, acostumado a uma arte, eu me torne incapaz de compreender outra, não me dá direito a afirmar que a que eu admiro é a única verdadeira, e que a que eu não compreendo é uma arte falsa e má.”

“A arte não é um ofício, mas a transmissão do sentimento que o artista experimenta.”

“Os artistas do futuro não pertencerão, como agora, a uma determinada classe do povo; todos os que sejam capazes de criação artística, serão artistas.”

“A arte e a ciência têm relação tão estreita como os pulmões e o coração.”

“A ciência verdadeira mostra aos homens os conhecimentos que devem ter mais importância para eles.”

“O trabalho da arte cristã consiste em realizar a união fraternal dos homens.”

“Errado não deixa de ser errado porque a maioria compartilha.”

 “A alegria de fazer o bem é a única felicidade verdadeira.”

 “Os mais fortes de todos os guerreiros são estes dois: Tempo e Paciência.”

 “Quando você ama alguém, você ama a pessoa como ela é, e não como você gostaria que ela fosse.”

 “Antes de falar sobre o bem da satisfação das necessidades, é preciso decidir quais necessidades constituem o bem.”

 “Uma pessoa arrogante se considera perfeita. Este é o principal dano da arrogância. Isso interfere na principal tarefa de uma pessoa na vida - tornar-se uma pessoa melhor.”

 “Já encontramos um caminho para o ascetismo, ou negação do querer propriamente dito, entendendo eu por tal expressão precisamente aquilo que o Evangelho chama renunciar a si mesmo e levar a própria cruz (Mateus XVI). Tal caminho se acentuou sempre mais e deu origem aos penitentes, aos anacoretas e ao estado monacal, que, puro e santo primeiro, e, portanto, fora de proporção com a natureza da maior parte dos homens, não podia conduzir senão à hipocrisia e à abominação, porque abusus optimi, pessimus (torna-se péssimo o abuso do ótimo). Desenvolvendo-se o cristianismo, vemos este embrião ascético germinar e atingir o florescimento nos escritos dos santos e dos místicos cristãos. Estes, além do mais puro amor, pregam a resignação absoluta, a pobreza voluntária, a verdadeira calma, a completa indiferença pelas coisas da terra, o dever de morrer para a vontade e de renascer em Deus, o olvido total da própria pessoa para a absorção na contemplação do Senhor.”

"Assim, Sidarta Gautama nasceu um príncipe, mas voluntariamente passou a viver como mendigo; e Francisco de Assis, o fundador das ordens mendicantes que, foi criado numa redoma, e poderia escolher dentre qualquer filha de qualquer nobre. No entanto, quando lhe fora perguntado 'Agora, Francisco, você não vai fazer sua escolha agora dessas beldades?' ele: 'Eu fiz uma escolha muito mais bonita!' 'Qual?' 'La povertà (a pobreza)': depois disso ele abandonou tudo e perambulou pela terra como um mendicante."

"Os anarquistas estão certos em tudo, na negação da ordem existente e na afirmação de que, sem autoridade, não poderia haver pior violência do que as impostas pelas autoridades atuais. Contudo eles estão enganados se pensam que a anarquia pode ser instituída por meio de uma revolução. Ele será instituído apenas quando houver mais e mais pessoas que não exigem a proteção do poder governamental.... Deve haver apenas uma revolução permanente – a moral: a regeneração do homem interior ".

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História e Psicólogo


Figura:

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+Tolstoi


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