Em 8 de setembro de 1841, nascia na aldeia boêmia
de Nelahozeves, perto de Praga, o compositor tcheco Antonín Leopold Dvorák. Ele
utilizava elementos ligados à música folclórica da Morávia e da Boêmia, região
onde nasceu. Seguiu o nacionalismo da era romântica na qual se destacou naquela
região anteriormente o compositor Bedric Smetana. Foi considerado que o
conjunto de obras de Dvorák é uma síntese do pós-romantismo alemão de
Brahms e tradição folclórica eslava. Foi dito que o estilo de Dvorák era "a
mais completa recriação de um idioma nacional com o da tradição sinfônica,
absorvendo influências folclóricas e encontrando maneiras eficazes de
usá-las”. Foi também dito que ele era "indiscutivelmente o mais
versátil... compositor do seu tempo”. Ele foi considerado muito capaz de
conjugar o idioma nacional com a tradição sinfónica, integrando
influências populares e encontrando formas eficazes de as utilizar”.
A partir de 1857 Dvořák passou a ser um
admirador da música de Wagner, dizendo ao fim de sua vida que Wagner "era
um gênio tão grande que era capaz de fazer coisas que estavam além do alcance
de outros compositores”. Houve influência de Wagner em especial nas óperas de
Dvorák e também em algumas peças orquestrais.
Dvořák recebeu influência forte do cristianismo em
Nelahozeves e nutriu um amor pela sua herança boêmia, fator que influenciou
muito em sua música. O pai dele era Frantisek Dvořák, taberneiro,
instrumentista profissional de cítara e açougueiro. Na escola da
aldeia Antonín Dvorák iniciou seu aprendizado em música e depois estudou
de 1857 até em 1859 na única escola para organistas de Praga. Depois foi
se desenvolvendo musicalmente, tornando-se um excelente instrumentista de
violino e viola.
O primeiro trabalho conhecido de Dvorák foi Polka
não-me-esqueças em Dó Maior (Polkapomněnka), de 1854. Ele concluiu o
curso de órgão em 1859, em Praga. Tocou como violista na Orquestra
do Teatro Bohemian Provisional e deu formação em piano, na
década de 1860.
Sendo professor de piano, Dvorák conheceu sua
futura esposa, Anna Čermáková. Ela era irmã de uma aluna dele, Josefina
Čermáková, para quem compôs Cypress Trees. Josefina não correspondia a esse
amor e escolheu outro para se casar. Dvorák casou-se com Anna em 1873, nesse
ano deixando a orquestra para ser organista de igreja. Nessa época compôs
várias obras. Johanes Brahms se interessou pela música criada por Dvorák .
Houve uma influência mútua na criação musical deles. Inclusive pode-se notar
que as sinfonias de Brahms têm a influência marcante de Dvořák. Um exemplo
claro sobre esta influência pode ser observado na quarta sinfonia de Brahms de
1884/1885.
Além da ajuda de Brahms, Dvorák também recebeu
auxílio do crítico Eduard Hanslick. O primeiro sucesso de Dvorák foi um hino
baseado numa obra de Vítězslav Hálek, famoso poeta de seu país. Em
1878 compôs Danças Eslavas, em 1879 compôs Quarteto
op. 51 e as primeiras sinfonias.
Em 1880 houve a estreia da cantata Stabat
Mater de Dvorák e ele visitou o Reino Unido, onde alcançou
popularidade, tendo escrito sua Sinfonia número 7 para Londres. Passou um tempo
na Rússia em 1890, quando foi regente e em 1981 foi escolhido para professor no
Conservatório de Praga.
Em 1892 o compositor foi para os Estados Unidos
para ser diretor do Conservatório Nacional de Música da América, em Nova
Iorque. Nessa época ele também compôs. Algumas questões como o salário, o
reconhecimento na Europa e saudades de sua terra, o influenciaram a voltar para
a Boêmia. Compôs principalmente música de câmara e operática do ano de 1895 até
o ano de sua morte.
Dvořák escreveu um artigo em 1894, no qual afirmou
que os compositores do passado que mais admirava eram Bach, Mozart, Beethoven e
Schubert. Ele morreu em Praga em 1 de maio de 1904 e deixou obras inacabadas.
Composições mais conhecidas: Sinfonia do Novo
Mundo, Quarteto de Cordas Americano, a ópera Rusalka, o Concerto para
Violancelo em Si menor. Entre suas obras estão óperas; música coral; várias
músicas de câmara; concertos; peças orquestrais,vocais e instrumentais.
Dvorák esteve diversas vezes na Inglaterra e lá
recebeu na Universidade de Cambridge em 1891 o título de doutor honoris
causa. Também recebeu esse título da Universidade de Viena e da
Universidade de Praga.
Sobre Dvorák disse Leonardo
Martinelli na Revista CONCERTO de setembro de 2011:
“Tempos atrás – quando não havia universidades
suficientes para aterrorizar os adolescentes na hora de escolher uma profissão
–, a opção da ocupação profissional, em geral, era resolvida de maneira bem
simples: herdava-se o trabalho do pai. Mas o que fazer quando o patriarca era,
além de um habilidoso açougueiro, um estalajadeiro e um tocador de cítara? A
resposta a ser dada para o rebento era clara: seja um açougueiro! Ainda bem que
esta resposta não contentou o filho de František Dvorák que, inicialmente
contra a vontade do pai, decidiu-se pelo caminho da música, tendo iniciado seus
estudos de órgão no mesmo momento da vida em que aprendeu a manusear cutelos na
pequena cidade de Nelahozeves, nas cercanias de Praga.
Antonín Dvorák (pronuncia-se “dvorjáak”, apesar de
no Brasil imperar o hábito de se acentuar a vogal “o”) cresceu em um ambiente
tenso. À época do Império Austro-Húngaro, a comunidade local estava subjugada ao
trono Habsburgo, que não tinha intenções de uma abertura cultural e política. O
clima de dominação social foi um dos principais combustíveis para o surgimento
de toda uma geração de artistas nacionalistas, que emergiu na “periferia” da
Europa, da qual Dvorák tornou-se um de seus mais destacados representantes
musicais.
Antes de engrossar a brigada em prol da expressão
cultural regional, o compositor engrossou o naipe das violas da orquestra do
Teatro Provisório de Praga. Dvorák aprendeu a tocar viola e violino
informalmente, em paralelo a uma sólida formação musical como organista e
pianista na Escola de Organistas de Praga, na qual ingressou em 1857. Porém,
foi no cotidiano como músico de fila quando conheceu o que havia de mais
moderno no repertório, tendo travado contato direto com o compositor Bedrich
Smetana (1824-84), regente da orquestra e pioneiro na questão do nacionalismo
musical no Leste Europeu.
Para completar sua renda, começou a dar aulas
particulares de piano; e foi como professor que veio a conhecer sua futura
esposa. Primeiro, Dvorák se apaixonou pela bela Josefína Čermáková, que, no
entanto, jamais retribuiu o afeto recebido. Capricho do destino, anos mais
tarde, em 1873, se casaria com a irmã mais nova de dela, Anna, seguindo os
mesmos passos de outro compositor, Mozart, que também se casou com a irmã da
grande paixão de sua vida (Freud explica?). No mesmo ano, Dvorák tornou-se
organista titular da igreja de São Adalberto, também em Praga, cargo que lhe
garantiu rendimentos melhores e lhe permitiu largar a vida de músico de
orquestra para se dedicar mais à composição.
A partir de então, várias de suas obras começaram a
ser estreadas e a circular também pela capital do império, Viena, onde residia
a nata da música de concerto e, naquele momento, cidade de gigantes como Gustav
Mahler e Johannes Brahms. Junto com o crítico Eduard Hanslick, Brahms foi um
dos grandes promotores da carreira do compositor em Viena, onde, a partir de
1877, Dvorák passou a viver graças a seguidos stipendien, uma espécie de
bolsa não acadêmica conferida a artistas.
Nessa época, Dvorák já havia consolidado seus
processos criativos e apostava na apropriação do cancioneiro regional popular e
em sua “eruditização” como material para os tradicionais gêneros da música de
concerto. Em seus quartetos de cordas e suas sinfonias, os pratos típicos da
culinária sonora regional tcheca (tal como os impronunciáveis acepipes do
entretítulo desta matéria) ganham um toque cosmopolita e universal. Porém, o
passo decisivo em seu compromisso nacionalista veio com o sucesso da
ópera Rusalka,
estreada em 1901, na qual o compositor evoca um conto de fadas tcheco.
No fim do século XIX, a reputação de Dvorák já
extravasava os limites do Velho Mundo, atravessando o Atlântico e repercutindo
numa terra incógnita para
a maioria dos europeus de então: um lugar que atendia pelo nome de América.
Em 1892, Dvorák desembarca no porto de Nova York e
dá início ao grande fluxo de músicos europeus que fariam dos Estados Unidos seu
lar nas décadas seguintes. Atendendo ao convite da milionária JeannetteThurber,
o compositor passa a dirigir o hoje extinto National Conservatory of Music of
America.
Paralelamente, o compositor manteve suas atividades
criativas, embrenhando-se também pela cultura musical local. Por ironia, coube
a um nacionalista tcheco ensinar aos norte-americanos que a identidade musical
local estava ligada a suas origens indígenas e africanas. Foi a partir do
contato com um de seus alunos que Dvorák descobriu os spirituals.
Utilizando-se de elementos do folclore
norte-americano, escreveu várias composições que orientariam os yankees na busca por uma forma
de expressão regional em suas salas de concertos. Duas de suas mais conhecidas
obras na atualidade, a Sinfonia do novo mundo (título
autoexplicativo) e seu quarteto de cordas nº 12, ou Quarteto americano,
são justamente desse período.
Apesar da boa fase, Dvorák começou a reconsiderar a
proposta da senhora Thurber. Sua reputação estava no ápice na Europa, onde
tinha sido eleito membro da prestigiada Sociedade dos Amigos da Música de
Viena. Tudo somado a uma provável saudade da terra natal, em 1895, Dvorák e sua
família deixam em definitivo o Novo Mundo.
De volta, os Dvoráks tentaram se recuperar do
frenesi urbano indo morar em uma residência no campo. Tal retiro só terminou
pouco mais de um ano depois, quando o compositor fez sua última viagem à
Londres. À época, Dvorák tinha segurança financeira e tempo para compor, o qual
aproveitou para uma grande dedicação à música de câmara e à ópera. O ponto culminante
de sua carreira ocorreu em 1901, quando o mestre foi escolhido para ser diretor
do Conservatório de Praga e uma série de festejos por conta de seus 60 anos foi
realizada.
Poucos anos depois, Dvorák morreria de
insuficiência cardíaca, deixando como legado toda uma obra que seria referência
para aqueles que queriam fazer da música de concerto e da ópera um veículo de
expressão nacional.”
Sobre Dvorák disse o maestro brasileiro Roberto
Minczuk:
“(...) A música eslava ganha notoriedade com
Dvorák, que se dedicou à composição desde o início da carreira, embora tenha
sido um músico de orquestra. Maravilhosos são seu Stabat Mater e suas Danças
Eslavas, obras de características nacionalistas e, ao mesmo tempo, de
compreensão universal. Escreveu nove sinfonias, várias óperas, aberturas,
concertos para piano, violino e violoncelo. Dedicou-se às raízes musicais de
seu país ao escrever Danças Sinfônicas, Eslavas e Suítes (...)”. E ainda:
“(...) Dvorák não foi um revolucionário formal. O que se percebia era uma
personalidade musical baseada no sentimento, na consciente percepção de seu
mundo interior e exterior e na capacidade de transformar algo tão próprio de um
lugar em algo tocante para ouvintes de qualquer lugar do planeta (...)”.
Sugestão para ouvir:
Sala São
Paulo Digital: "Sinfonia 'Do Novo Mundo'", de Dvorák, com Thierry
Fischer
https://www.youtube.com/watch?v=f2rDLGuivGc
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+dvorak
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