sábado, 7 de setembro de 2024

 




Em 8 de setembro de 1841, nascia na aldeia boêmia de Nelahozeves, perto de Praga, o compositor tcheco Antonín Leopold Dvorák. Ele utilizava elementos ligados à música folclórica da Morávia e da Boêmia, região onde nasceu. Seguiu o nacionalismo da era romântica na qual se destacou naquela região anteriormente o compositor Bedric Smetana. Foi considerado que o conjunto de obras de Dvorák é uma síntese do pós-romantismo alemão de Brahms e tradição folclórica eslava. Foi dito que o estilo de Dvorák era "a mais completa recriação de um idioma nacional com o da tradição sinfônica, absorvendo influências folclóricas e encontrando maneiras eficazes de usá-las”.  Foi também dito que ele era "indiscutivelmente o mais versátil... compositor do seu tempo”. Ele foi considerado muito capaz de conjugar o idioma nacional com a tradição sinfónica, integrando influências populares e encontrando formas eficazes de as utilizar”.

A partir de 1857 Dvořák passou a ser um admirador da música de Wagner, dizendo ao fim de sua vida que Wagner "era um gênio tão grande que era capaz de fazer coisas que estavam além do alcance de outros compositores”. Houve influência de Wagner em especial nas óperas de Dvorák e também em algumas peças orquestrais.

Dvořák recebeu influência forte do cristianismo em Nelahozeves e nutriu um amor pela sua herança boêmia, fator que influenciou muito em sua música. O pai dele era Frantisek Dvořák, taberneiro, instrumentista profissional de cítara e  açougueiro. Na escola da aldeia Antonín Dvorák iniciou seu aprendizado em música e depois estudou de 1857 até em 1859 na única escola para organistas de Praga. Depois foi se desenvolvendo musicalmente, tornando-se um excelente instrumentista de violino e viola.

O primeiro trabalho conhecido de Dvorák foi Polka não-me-esqueças em Dó Maior (Polkapomněnka), de 1854. Ele concluiu o curso de órgão em 1859, em Praga. Tocou como violista na Orquestra do Teatro Bohemian Provisional e deu formação em piano, na década de 1860.

Sendo professor de piano, Dvorák conheceu sua futura esposa, Anna Čermáková. Ela era irmã de uma aluna dele, Josefina Čermáková, para quem compôs Cypress Trees. Josefina não correspondia a esse amor e escolheu outro para se casar. Dvorák casou-se com Anna em 1873, nesse ano deixando a orquestra para ser organista de igreja. Nessa época compôs várias obras. Johanes Brahms se interessou pela música criada por Dvorák . Houve uma influência mútua na criação musical deles. Inclusive pode-se notar que as sinfonias de Brahms têm a influência marcante de Dvořák. Um exemplo claro sobre esta influência pode ser observado na quarta sinfonia de Brahms de 1884/1885.

Além da ajuda de Brahms, Dvorák também recebeu auxílio do crítico Eduard Hanslick. O primeiro sucesso de Dvorák foi um hino baseado numa obra de Vítězslav Hálek, famoso poeta de seu país. Em 1878  compôs Danças Eslavas, em 1879 compôs Quarteto op. 51 e as primeiras sinfonias.

Em 1880 houve a estreia da cantata Stabat Mater de Dvorák e ele visitou o Reino Unido, onde alcançou popularidade, tendo escrito sua Sinfonia número 7 para Londres. Passou um tempo na Rússia em 1890, quando foi regente e em 1981 foi escolhido para professor no Conservatório de Praga.

Em 1892 o compositor foi para os Estados Unidos para ser diretor do Conservatório Nacional de Música da América, em Nova Iorque. Nessa época ele também compôs. Algumas questões como o salário, o reconhecimento na Europa e saudades de sua terra, o influenciaram a voltar para a Boêmia. Compôs principalmente música de câmara e operática do ano de 1895 até o ano de sua morte.

Dvořák escreveu um artigo em 1894, no qual afirmou que os compositores do passado que mais admirava eram Bach, Mozart, Beethoven e Schubert. Ele morreu em Praga em 1 de maio de 1904 e deixou obras inacabadas.

Composições mais conhecidas: Sinfonia do Novo Mundo, Quarteto de Cordas Americano, a ópera Rusalka, o Concerto para Violancelo em Si menor. Entre suas obras estão óperas; música coral; várias músicas de câmara; concertos; peças orquestrais,vocais e instrumentais.

Dvorák esteve diversas vezes na Inglaterra e lá recebeu na Universidade de Cambridge em 1891 o título de doutor honoris causa. Também recebeu esse título da Universidade de Viena e da Universidade de Praga.  

Sobre Dvorák disse Leonardo Martinelli na Revista CONCERTO de setembro de 2011:

“Tempos atrás – quando não havia universidades suficientes para aterrorizar os adolescentes na hora de escolher uma profissão –, a opção da ocupação profissional, em geral, era resolvida de maneira bem simples: herdava-se o trabalho do pai. Mas o que fazer quando o patriarca era, além de um habilidoso açougueiro, um estalajadeiro e um tocador de cítara? A resposta a ser dada para o rebento era clara: seja um açougueiro! Ainda bem que esta resposta não contentou o filho de František Dvorák que, inicialmente contra a vontade do pai, decidiu-se pelo caminho da música, tendo iniciado seus estudos de órgão no mesmo momento da vida em que aprendeu a manusear cutelos na pequena cidade de Nelahozeves, nas cercanias de Praga.

Antonín Dvorák (pronuncia-se “dvorjáak”, apesar de no Brasil imperar o hábito de se acentuar a vogal “o”) cresceu em um ambiente tenso. À época do Império Austro-Húngaro, a comunidade local estava subjugada ao trono Habsburgo, que não tinha intenções de uma abertura cultural e política. O clima de dominação social foi um dos principais combustíveis para o surgimento de toda uma geração de artistas nacionalistas, que emergiu na “periferia” da Europa, da qual Dvorák tornou-se um de seus mais destacados representantes musicais.

Antes de engrossar a brigada em prol da expressão cultural regional, o compositor engrossou o naipe das violas da orquestra do Teatro Provisório de Praga. Dvorák aprendeu a tocar viola e violino informalmente, em paralelo a uma sólida formação musical como organista e pianista na Escola de Organistas de Praga, na qual ingressou em 1857. Porém, foi no cotidiano como músico de fila quando conheceu o que havia de mais moderno no repertório, tendo travado contato direto com o compositor Bedrich Smetana (1824-84), regente da orquestra e pioneiro na questão do nacionalismo musical no Leste Europeu.

Para completar sua renda, começou a dar aulas particulares de piano; e foi como professor que veio a conhecer sua futura esposa. Primeiro, Dvorák se apaixonou pela bela Josefína Čermáková, que, no entanto, jamais retribuiu o afeto recebido. Capricho do destino, anos mais tarde, em 1873, se casaria com a irmã mais nova de dela, Anna, seguindo os mesmos passos de outro compositor, Mozart, que também se casou com a irmã da grande paixão de sua vida (Freud explica?). No mesmo ano, Dvorák tornou-se organista titular da igreja de São Adalberto, também em Praga, cargo que lhe garantiu rendimentos melhores e lhe permitiu largar a vida de músico de orquestra para se dedicar mais à composição.

A partir de então, várias de suas obras começaram a ser estreadas e a circular também pela capital do império, Viena, onde residia a nata da música de concerto e, naquele momento, cidade de gigantes como Gustav Mahler e Johannes Brahms. Junto com o crítico Eduard Hanslick, Brahms foi um dos grandes promotores da carreira do compositor em Viena, onde, a partir de 1877, Dvorák passou a viver graças a seguidos stipendien, uma espécie de bolsa não acadêmica conferida a artistas.

Nessa época, Dvorák já havia consolidado seus processos criativos e apostava na apropriação do cancioneiro regional popular e em sua “eruditização” como material para os tradicionais gêneros da música de concerto. Em seus quartetos de cordas e suas sinfonias, os pratos típicos da culinária sonora regional tcheca (tal como os impronunciáveis acepipes do entretítulo desta matéria) ganham um toque cosmopolita e universal. Porém, o passo decisivo em seu compromisso nacionalista veio com o sucesso da ópera Rusalka, estreada em 1901, na qual o compositor evoca um conto de fadas tcheco.

No fim do século XIX, a reputação de Dvorák já extravasava os limites do Velho Mundo, atravessando o Atlântico e repercutindo numa terra incógnita para a maioria dos europeus de então: um lugar que atendia pelo nome de América.

Em 1892, Dvorák desembarca no porto de Nova York e dá início ao grande fluxo de músicos europeus que fariam dos Estados Unidos seu lar nas décadas seguintes. Atendendo ao convite da milionária JeannetteThurber, o compositor passa a dirigir o hoje extinto National Conservatory of Music of America.

Paralelamente, o compositor manteve suas atividades criativas, embrenhando-se também pela cultura musical local. Por ironia, coube a um nacionalista tcheco ensinar aos norte-americanos que a identidade musical local estava ligada a suas origens indígenas e africanas. Foi a partir do contato com um de seus alunos que Dvorák descobriu os spirituals.

Utilizando-se de elementos do folclore norte-americano, escreveu várias composições que orientariam os yankees na busca por uma forma de expressão regional em suas salas de concertos. Duas de suas mais conhecidas obras na atualidade, a Sinfonia do novo mundo (título autoexplicativo) e seu quarteto de cordas nº 12, ou Quarteto americano, são justamente desse período.

Apesar da boa fase, Dvorák começou a reconsiderar a proposta da senhora Thurber. Sua reputação estava no ápice na Europa, onde tinha sido eleito membro da prestigiada Sociedade dos Amigos da Música de Viena. Tudo somado a uma provável saudade da terra natal, em 1895, Dvorák e sua família deixam em definitivo o Novo Mundo.

De volta, os Dvoráks tentaram se recuperar do frenesi urbano indo morar em uma residência no campo. Tal retiro só terminou pouco mais de um ano depois, quando o compositor fez sua última viagem à Londres. À época, Dvorák tinha segurança financeira e tempo para compor, o qual aproveitou para uma grande dedicação à música de câmara e à ópera. O ponto culminante de sua carreira ocorreu em 1901, quando o mestre foi escolhido para ser diretor do Conservatório de Praga e uma série de festejos por conta de seus 60 anos foi realizada.

Poucos anos depois, Dvorák morreria de insuficiência cardíaca, deixando como legado toda uma obra que seria referência para aqueles que queriam fazer da música de concerto e da ópera um veículo de expressão nacional.”

Sobre Dvorák disse o maestro brasileiro Roberto Minczuk:

“(...) A música eslava ganha notoriedade com Dvorák, que se dedicou à composição desde o início da carreira, embora tenha sido um músico de orquestra. Maravilhosos são seu Stabat Mater e suas Danças Eslavas, obras de características nacionalistas e, ao mesmo tempo, de compreensão universal. Escreveu nove sinfonias, várias óperas, aberturas, concertos para piano, violino e violoncelo. Dedicou-se às raízes musicais de seu país ao escrever Danças Sinfônicas, Eslavas e Suítes (...)”. E ainda: “(...) Dvorák não foi um revolucionário formal. O que se percebia era uma personalidade musical baseada no sentimento, na consciente percepção de seu mundo interior e exterior e na capacidade de transformar algo tão próprio de um lugar em algo tocante para ouvintes de qualquer lugar do planeta (...)”.

Sugestão para ouvir:

Sala São Paulo Digital: "Sinfonia 'Do Novo Mundo'", de Dvorák, com Thierry Fischer

https://www.youtube.com/watch?v=f2rDLGuivGc

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:

https://www.google.com/search?client=firefox-b-d&q=imagem+de+dvorak


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