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de setembro neste blog, vou homenagear um poeta português famoso do século
XVIII, o mais
importante poeta português desse século,
conhecido mais popularmente como
Bocage, que nasceu em Setubal, cidade que tive o prazer de visitar em 2009 e na
qual pude ver a estátua que foi feita em lembrança ao poeta. Mesmo tendo sido famoso como poeta satírico,
é um dos maiores poetas líricos da literatura portuguesa.
Bocage além de ter uma sátira agressiva, também
tinha um lado de inspiração amorosa, ligada a dramas existenciais, com uma
linguagem emotiva, tendo encontrado muita receptividade entre os leitores, não
só de sua época, como de outras seguintes. Vários versos seus estão
relacionados ao ciúme. Compôs sonetos
satíricos, elegias, odes, fábulas e cantatas.
Manuel Maria de Barbosa
l'Hedoisdu Bocage, nasceu no dia 15 de Setembro de 1765, em Setúbal, às margens
do rio Sado, em Portugal, sendo um grande representante do arcadismo lusitano.
Estava inserido num período de transição do estilo clássico para o romântico.
Seu pai era o bacharel José Luís
Soares de Barbosa, formado pela Universidade de Coimbra, que foi juiz de fora,
ouvidor e advogado. Sua mãe era Mariana Joaquina Xavier L'Hedois Lustoff du
Bocage, filha do almirante francês Gil Hedois du Bocage, que foi contratado em
1704 para reorganizar a Marinha de
Guerra Portuguesa. Ele teve cinco irmãos.
O pai do poeta foi preso em 1771, acusado de ter
desviado verbas enquanto ouvidor, mas é bem provável que tenha sido uma armação
contra ele, pois era próximo de pessoas que tinham sido vítimas do Marquês de
Pombal e só foi solto em 1777, com a morte do rei Dom José I e a perda de poder
de Pombal.
A mãe de Bocage era sobrinha da poetisa francesa
madame Anne Marie Le Page du Bocage, que traduziu a obra "Paraíso",
de Milton, e autora de "As Amazonas", tendo sido premiada com a coroa
de louros de Voltaire e o primeiro prêmio da academia de Rouen por ter escrito
o poema épico "A Columbiada".
Embora não se saiba com certeza sobre determinados
períodos da infância e juventude do poeta, é muito provável que tenha estudado
francês, latim e obras clássicas, como também as mitologias grega e latina.
Teve uma infância difícil, já que seu pai foi preso
quando ele tinha seis anos e sua mãe quando ele tinha dez anos. Foi servir como
soldado como voluntário em 22 de Setembro de 1781 e de lá saiu em 15 de
Setembro de 1783, quando então vai para a Escola da Marinha Real, onde chegou a
desertar no final do curso para guarda-marinha, mas mesmo assim a rainha Dona
Maria I, o nomeou guarda-marinha. Nessa época em Lisboa já era conhecido como
poeta.
Em 1786, como oficial da marinha, embarcou para a
Índia, tendo chegado ao Rio de Janeiro no final de Junho. Segundo o
"Dicionário de Curiosidades do Rio de Janeiro" ele "gostou tanto
da cidade que, pretendendo permanecer definitivamente, dedicou ao vice-rei
algumas poesias-canção cheias de bajulações, visando atingir seus objetivos.
Sendo porém o vice-rei avesso a elogios,e admoestado com algumas rimas de baixo
calão, que originaram a famosa frase: "quem tem c... tem medo, e eu também
posso errar", fê-lo prosseguir viagem para as Índias".
Tendo chegado à Índia em 28 de outubro de 1786, fez
novos estudos como oficial e mandado para Damão e desertou em 1789, indo para
Macau, na China. A Inquisição deu ordem para sua prisão e na cadeia traduziu
obras de poetas francesas e latinos.
Aceitou o convite em 1790 de participar da Academia
das Belas Letras ou Nova Arcádia, onde escolheu o pseudônimo Elmano Sadino. Lá os autores escreviam poesias que falavam
de pastores e ovelhas e da mitologia clássica. Nessa instituição chegou a fazer
sátiras contra colegas seus e por isso de lá foi afastado. O nome do
movimento se baseava na Arcádia, uma região da Grécia onde, conforme a mitologia,
havia uma vida inocente e feliz, com os pastores e pastoras em contato com a
natureza.
A primeira edição de sua
obra "Rimas" foi publicada em 1791.
Ao divulgar o poema “Carta a Marília”, cujo verso
inicial é “Pavorosa Ilusão de
Eternidade", Bocage foi
acusado de ser “desordenado nos costumes” e de ser contra a
monarquia .O intendente de polícia da Lisboa mandou então prendê-lo em 7 de
Agosto de 1797. Dessa data até o fim de 1798 ficou preso no Limoeiro, no
calabouço da Inquisição, no Real Hospício das Necessidades e no Convento dos
Beneditinos. Durante o tempo que esteve preso, começou a trabalhar como redator
e tradutor.
Nos anos de 1799 a 1801 , fez trabalhos com o frade
brasileiro Frei José Mariano da Conceição Veloso, que tinha boas ligações
políticas. Nessa época fez diversos trabalhos de tradução. E de 1801 até sua
morte por aneurisma em 1805, aos 40 anos, viveu no Bairro Alto de Lisboa.
Morreu no dia 21 de dezembro de 1805 e foi sepultado num jazigo subterrâneo da
Igreja Paroquial de Nossa Senhora das Mercês, em Lisboa. Publicou em vida
somente “Rimas”, (1791-1804) em III volumes e
“Poesias”, de 1853, é considerada a melhor coletânea de sua obra. Um
dizer de Bocage que ficou conhecido foi: "Rasga meus versos. Crê na
eternidade!"
A data de 15 de Setembro é considerada feriado
municipal em Setúbal.
Algumas de suas obras:
Morte de D. Ignez de Castro
O Triunfo da Religião
A Pavorosa Ilusão
A Virtude Laureada
À Puríssima Conceição de Nossa
Senhora
Elegia
Convite à Marília
Improvisos de Bocage
Idílios Marítimos
Mágoas Amorosas de Elmano
Queixumes do Pastor Elmano Contra
a Falsidade da Pastora Urselina
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Trechos de obras do poeta:
"Magro, de olhos azuis,
carão moreno,
Bem servido de pés, meão na
altura,
Triste de facha, o mesmo de
figura,
Nariz alto no meio e não pequeno;
Incapaz de assistir num só
terreno,
Mais propenso ao furor do que à
ternura;
Bebendo em níveas mãos, por taça
escura,
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só
momento,
E somente no altar amando os
frades,
Eis Bocage, em quem luz algum
talento;
Saíram dele mesmo estas verdades,
Num dia em que se achou mais
pachorrento."
"Pavorosa Ilusão de
Eternidade,
Terror dos vivos, cárcere dos mortos;
D’almas vãs sonhos vão, chamado inferno;
Sistema de política opressora,
Freio que a mão dos déspotas, dos bonzos
Forjou para a boçal credulidade;
Dogma funesto, que o remorso arraigas
Nos termos corações, e a paz lhe
arrancas:
Dogma funesto, detestável crença,
Que envenena delícias inocentes! "
"Já se afastou de nós o
inverno agreste
Envolto nos seus úmidos vapores;
A fértil Primavera, a mãe das
flores,
O prado ameno de boninas vestes:
Varrendo os ares o sutil nordeste
Os toma azuis; as aves de mil
cores,
Adejam entre Zéfiros, e Amores,
E toma o fresco Tejo a cor
celeste:
Vem, ó Marília, em lograr comigo,
Destes alegres campos a beleza,
Destas copadas árvores o abrigo:
Deixa louvar da corte a vã
grandeza:
Quanto me agrada mais estar
contigo
Notando as perfeições da
Natureza!"
"Camões, grande Camões, quão
semelhante
Acho teu fado ao meu quando os
cotejo!
Igual causa nos fez perdendo o
Tejo
Arrostar co sacrílego gigante:
Como tu, junto ao Ganges
sussurrante
Da penúria cruel no horror me
vejo;
Como tu, gostos vãos, que em vão
desejo,
Também carpindo estou, saudoso
amante:
Lubíbrio, como tu, da sorte dura,
Meu fim demando ao Céu, pela
certeza
De que só terei paz na sepultura:
Modelo meu tu és... Mas, ó
tristeza!...
Se te imito nos transes da
ventura,
Não te imito nos dons da
natureza."
Frases
“Os Homens não são maus por
natureza; atractivo interesse os falsifica, A utilidade ao mal, e ao bem o
instinto Guia estes frágeis entes.”
“Triste quem ama, cego quem se
fia.”
“Nas paixões a razão nos
desampara.”
“Amores vêm e vão, mas o
verdadeiro amor nunca sai do coração.”
“Morrer é pouco, é fácil; mas
ter vida delirando de amor, sem fruto ardendo, é padecer mil mortes, mil
infernos.”
“De quantas cores se matiza o
Fado! Nem sempre o homem ri, nem sempre chora, Mal com bem, bem com mal é
temperado"
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Márcio José Matos
Rodrigues-Professor de História
Figura:
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