Em
14 de setembro deste ano, houve um ataque de drones com considerável poder de
destruição às instalações petrolíferas em Abqaiq-Khurais, no leste da Arábia
Saudita. O ataque causou fortes incêndios que foram apagados depois de algumas
horas. O ataque foi assumido pelo grupo de maioria xiita Houthis, do Iêmen.
Segundo comunicado do grupo, o ataque foi uma retaliação à intervenção da
Arábia Saudita, de governo sunita, na Guerra Civil Iemenita.
Autoridades
dos Estados Unidos, que são um país aliado à Arábia Saudita, acusaram o Irã,
que dá apoio aos Houthis, de ser o verdadeiro causador do ataque.
Na
verdade, a crise política internacional no Golfo Pérsico envolve uma disputa
política e também religiosa. O Irã, xiita, apoia a facção xiita que luta contra
os sunitas, apoiados por sua vez pelos sauditas. Também há o ingrediente da
participação dos Estados Unidos, pois o governo Trump não concordou com o
acordo feito anteriormente pelo governo de Obama em relação ao uso da energia
nuclear pelo Irã. Trump diz que o Irã está almejando a construção de armas
atômicas. Assim, o governante atual norte-americano ordenou uma série de
boicotes ao comércio com o Irã.
O
Irã então tem adotado uma política mais agressiva nos últimos meses, havendo
acusações mútuas entre Estados Unidos e Irã, por causa de um drone dos Estados
Unidos derrubado pelo Irã e que estaria espionando este país, como também houve
ataques a navios na região do Golfo Pérsico por parte do Irã, inclusive tendo
havido um conflito com a Grã-Bretanha, aliada dos Estados Unidos na OTAN.
Também
em outros aspectos internacionais, o Irã tem apoiado milícias xiitas na Síria e
no Líbano e tem se aproximado de rivais dos Estados Unidos, a China e a Rússia.
Inclusive a Rússia tem bombardeado os inimigos do presidente sírios Assad,
tendo chegado a usar uma base aérea iraniana. E a Arábia Saudita tem dado apoio
a grupos sírios que querem a queda de Assad.
Afirmar
agora que haverá uma guerra entre Irã e Arábia Saudita seria algo precipitado
de se dizer, porque uma guerra naquela região seria perigosa demais para a
economia mundial. Tanto o Irã como a Arábia Saudita possuem forças armadas com
numerosos integrantes. A Arábia Saudita se mostra com muito mais investimentos
em tecnologia militar e possui apoio direto dos Estados Unidos. Mas, por outro
lado, o ataque de 14 de setembro mostrou uma considerável vulnerabilidade na
defesa de sua indústria petrolífera. Uma vulnerabilidade que não deixará de
existir em pouco tempo. Se os campos e refinarias de petróleo sauditas sofrerem
grandes danos, a Arábia Saudita poderá se ver privada de grande parte de sua
produção de petróleo.
O
Irã, por sua vez, é um país com centenas de milhares de soldados. Sua reserva
de homens que poderiam ser convocados a lutar é vasta, pois é um país com cerca
de 80 milhões da habitantes. O fanatismo de tropas especiais na guerra contra o
Iraque mostrou-se um fator que influenciou para que o Irã, mesmo em desvantagem
em armas importantes (tanques, canhões, aviões), conseguisse se defender e
impedir uma penetração maior dos iraquianos em território iraniano. Também
ultimamente o Irã tem desenvolvido mísseis que podem atingir diversas regiões
do território saudita, inclusive bases dos Estados Unidos. Porém, é claro que
também teria muito a perder em uma guerra com amplo envolvimento, podendo ter
indústrias petrolíferas suas muito danificadas e ter diversas bases militares e
cidades atingidas, causando muitos prejuízos e perdas de vidas humanas. A
inferioridade na tecnologia militar em alguns aspectos também seria
desfavorável ao Irã em um embate com uma nação com mais investimentos
militares.
O
mundo, por sua vez, iria enfrentar uma séria crise numa guerra direta entre
dois dos maiores fornecedores mundiais de petróleo. Possivelmente os preços do
petróleo se elevariam muito, pois a grande maioria dos países ainda depende
desta fonte de energia. A economia mundial poderia ter um enorme abalo.
Diante
de todos estes fatores, é provável que a atual política de guerra indireta
continue, com apoios aos grupos que se enfrentam no Iêmen, o Irã apoiando os
xiitas e os sauditas apoiando os sunitas. Talvez agora com uma intervenção
maior da Arábia Saudita contra os rebeldes Houthis, possivelmente contando
também com um envolvimento maior dos Estados Unidos.
Infelizmente, uma política de pacificação entre Arábia
Saudita e Irã, assim como entre Estados Unidos e Irã, muito provavelmente não
se verá nos tempos atuais, principalmente na era Trump. Mas se esta pacificação
não é possível agora, pelo menos que não se chegue a uma situação pior, que
seria uma guerra total entre Arábia Saudita e Irã, com os apoios dos países que
são mais próximos, a Rússia dando suporte ao Irã e os Estados Unidos à Arábia,
podendo até mesmo os norte-americanos se envolverem com uso de tropas e
aviação. Uma guerra assim seria uma catástrofe mundial. Portanto, esperemos que
as lideranças destas nações tenham então o correto entendimento das terríveis
consequências de se haver tal confronto em larga escala e o evitem de todas as
maneiras possíveis.
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Márcio
José Matos Rodrigues-Professor de História.
Figura:https://www.google.com/search?sxsrf=ACYBGNRnmVggtOE8BGzsEjuJjx_L6M_xAg:1569081559226&q=imagens+do+ataque+às+refinarias+da+arabia+saudita&tbm=isch&source
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