Em 6 de junho de 1944,
tropas aliadas invadiram a região da Normandia na França, durante a Segunda
Guerra Mundial. Começava a abertura de uma nova frente contra a Alemanha
nazista, que nessa altura estava sentindo bastante os ataques soviéticos na
Europa Oriental, com o Exército Vermelho se aproximando das fronteiras
originais da Alemanha. Também na Itália,
a partir de 10 de julho de 1943, forças dos Estados Unidos, da Inglaterra e de outros
países estavam combatendo forças
nazi-fascistas.
Durante os meses de junho e
julho os Aliados lutaram na Normandia contra divisões alemães em uma luta
encarniçada. Os alemães estavam já enfraquecidos por bombardeios e por anos de
guerra, mas ainda tinha soldados e recursos para enfrentar os seus adversários,
só que em inferioridade numérica. Tinham
tanques e canhões pesados, embora sua força aérea estivesse fragilizada,
possuindo os Estados Unidos e a Grã-Bretanha a supremacia aérea no céu da
França.
Nessa realidade, de avanço dos Aliados pela França
e de derrotas e recuos alemães, muitos em Paris ansiavam a libertação da
cidade. Desde 22 de junho de 1940 os alemães controlavam a cidade. Em agosto de
1944, membros da Resistência francesa se levantaram em Paris contra os
ocupantes alemães. Começava a Batalha por Paris!
Também em agosto de 1944, os poloneses tinham
começado sua revolta em Varsóvia, sua capital. Em primeiro de agosto os
poloneses iniciaram sua revolta, que só seria totalmente dominada depois de
dois meses de terríveis combates e massacres realizados por tropas alemães. O auxílio soviético não
veio a tempo para socorrer os poloneses.
O plano dos comandantes dos Aliados, ainda
envolvidos na batalha de Falaise contra divisões alemães, era de contornar
Paris para não demorar sua progressão em direção ao leste para chegar à
fronteira com a Alemanha. Segundo relatos do general Bradley, Paris não tinha
significado tático e o objetivo maior era ocupar a região alemã do Ruhr, onde
existia um importante parque industrial. Para esses comandantes, Paris podia
ficar para depois que o principal objetivo fosse alcançado.
A Resistência não quis esperar mais tempo. A partir
de 18 de agosto o Comitê de Libertação de Paris chamou o povo parisiense para
se rebelar contra o exército ocupante alemão. Iniciaram-se greves da polícia,
dos funcionários do metrô de Paris e dos
correios. Albert Camus escrevia no Le Combat : “Hoje, 21 de agosto, no momento
que nós aparecemos abertamente pela primeira vez, a liberdade de Paris se
realiza. Após cinquenta meses de ocupação, de luta e de sacrifícios, Paris
renasce para o sentimento da liberdade a despeito dos tiros que são disparados
pelas ruas”. Integrantes da Resistência ocuparam prédios públicos, redações de
jornais e grupos armados passaram a enfrentar soldados alemães nas ruas e
barricadas foram erguidas. O principal líder era Henri Tanguy, chamado de
coronel Rol, chefe das Forças Francesas Internas. Ele estava ligado ao
movimento comunista e queria conquistar Paris antes da chegada de forças
francesas ligadas à Charles de Gaulle, que lutavam junto com os Aliados.
Assim, Paris parecia reviver tempos como os da
Revolução Francesa, a Revolução de 1848 e o levante da Comuna de Paris de 1871
quando houve combates entre populares e soldados nas ruas. Pessoas comuns
pegavam ferramentas e tiravam pedras das ruas para fazer as barricadas.
O comandante alemão em Paris desde 7 de agosto era
o general Dietrich von Choltitz, um militar que lutara na Primeira Guerra
Mundial e que estivera nos anos 40
liderando forças nazistas no front russo. O antecessor dele no posto em
Paris tinha sido o general Carl-Heinrich von Stülpnagel, condenado por ter
participado da tentativa de golpe contra Hitler em julho de 1944.
O general recebera instruções de Hitler para
defender a ocupação alemã com tudo que
tivesse a seu alcance e que deveria proceder por meio de grandes destruições na
cidade se fosse preciso o exército alemão retirar-se.
Mesmo os generais ingleses e dos Estados Unidos
querendo adiar a libertação de Paris pelos Aliados, o líder das Forças dos
Franceses Livres (FFL), Charles De Gaulle, tinha decidido que os franceses
precisavam tomar Paris antes de outras tropas de países aliados, por uma
questão de honra nacional. E, dessa forma, enviou a Segunda Divisão Blindada do
general Leclerc, que estava a cerca de 200 quilômetros da cidade.
Com os combates em Paris entre a Resistência e as
tropas alemães, o general Choltitz poderia ter cumprido a ordem de Hitler e
mandado detonar explosivos pela cidade, o que causaria enorme destruição na
mesma. Mas ele decidiu não obedecer. Há quem diga que as visitas do prefeito da
cidade e do consul da Suécia que pediram para ele descumprir as ordens
destrutivas de Hitler, foram fundamentais na decisão do general.
Choltitz sabia que parte importante da História da
Humanidade se perderia se tivesse obedecido suas ordens de destruição e é
possível que percebendo a inutilidade da continuação da luta diante da
realidade da guerra, quando os alemães estavam em situação dramática, sem
chances de vencer, quisesse poupar as vidas dos soldados alemães.
Há outras explicações dadas por estudiosos da
libertação de Paris sobre a razão dele não ter destruído a cidade. Alguns dizem
que ele não tinha os recursos necessários. Outros especialistas dizem que teve uma má impressão de Hitler no encontro que teve com ele, que tinha
sobrevivido a um atentado com bomba e tinha uma aparência de doente, sem
condições físicas e mentais para continuar sendo líder alemão.
Alguns dias após o início do levante os primeiros
destacamentos da força francesa mandada por De Gaulle chegaram a Paris. Muitos
dos componentes desses destacamentos eram republicanos espanhois que tinham
lutado contra Franco e que depois da vitória desse tinham procurado refúgio na
França. Eram parte da divisão La Nueve (a
nona). Era noite do dia 24 de agosto de 1944.
A população da cidade os recebeu entusiasmada. Civis e soldados se
abraçavam. Sinos das igrejas começaram a tocar. Na Torre Eiffel um bombeiro
francês levou para lá uma bandeira francesa.
Finalmente, em 25 de agosto o general Charles De
Gaulle entrava com suas forças na cidade e disse ao povo: “Paris! Paris
ultrajada! Paris submetida! Paris martirizada! Mas sem dúvida Paris libertada!
Libertada por si mesmo, liberada pelo povo com ajuda das tropas da França, com
o apoio e a participação de toda a França, da França combatente, da única
França, da França autêntica, da França eterna.”. A multidão festejava! Dias
antes, conforme relatos, Hitler teria ligado para o general von Choltitz e perguntado: “Paris
está em chamas?”
Choltiz rendeu-se ao
coronel Rol e ao general Leclerc às 16 horas do dia 25 de agosto de 1944.
Segundo registros os alemães tiveram 3.200 soldados mortos e 12 mil
prisioneiros. Os franceses tiveram cerca de mil soldados mortos e
aproximadamente 600 civis mortos, com 3.500 feridos. Outras forças aliadas que
chegaram à cidade para ajudar os franceses tiveram 130 mortos e 319
feridos.
Diferentemente de Varsóvia, que depois do levante
polonês derrotado estava quase toda em ruínas, Paris após quatro anos de
ocupação alemã estava pouco danificada, para alegria de seu povo.
Sugestões
de Links de vídeos para assistir:
https://www.youtube.com/watch?time_continue=13&v=rO6jcH5khvE&feature=emb_logo
https://www.youtube.com/watch?v=1-fqWNzvkwQ
https://www.youtube.com/watch?v=LJfJhnT1SZM
https://www.youtube.com/watch?v=NY1-0dtpWPw
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00yKiY8IilxqjgvxzfpM5T3OULBnw:1596949835241&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+A+Liberta%C3%A7%C3%A3o+de+Paris&client=firefox-b-
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