domingo, 2 de agosto de 2020

O escritor e humorista Millôr Fernandes










Em 16 de agosto de 1923 nasceu o escritor, humorista, desenhista, dramaturgo e jornalista Millôr Viola Fernandes, na cidade do Rio de Janeiro (RJ).  Destacou-se nos jornais O Pasquim, Jornal do Brasil e na revista Veja. Em vida publicou trinta livros, realizou 112 trabalhos para o teatro. Foi um autor muito crítico, usando de ironia e sátira, criticando o poder e não raramente era alvo da censura. 



Seu pai era o imigrante espanhol Francisco Fernandes (que era dono de uma casa de fotografia) e sua mãe a brasileira Maria Viola Fernandes. O nome de batismo de Millôr era Milton Viola Fernandes. No ano seguinte ao seu nascimento (1924), em 27 de maio, ele foi registrado oficialmente. Além dele, havia seus irmãos Hélio, Judith e Ruth. Em 1925 seu pai morre e sua jovem mãe passa a criar os filhos sozinha, tendo que alugar parte da casa onde viviam no bairro do Méier e a trabalhar como costureira. 


Millôr estudou na Escola Enes de Souza de 1931 a 1935, no ensino básico. Sua mãe morre em 1934, deixando uma marca na criança de 11 anos. A morte da mãe com a mesma idade do pai o levou a escrever o conto "Agonia", publicado na revista A Cigarra em 1947.  Foi morar com a avó e passa privações na casa que era do tio materno. Torna-se leitor de histórias em quadrinhos que o influenciam como futuro humorista e escritor. Enviou na época um desenho seu para O Jornal, que aceita e o publica, dando um pagamento ao autor. Em 1938 conseguiu um emprego provisório de entregador.


Seu início de carreira na imprensa  começou em março de 1938 na revista O Cruzeiro. Lá passou a ser contínuo, repaginador e factótum. Procurou conhecer os processos de produção jonalística. Depois também começa a trabalhar em O Guri, pertecente ao mesmo grupo jornalístico (Diários Associados, do empresário Assis Chateaubriand), traduzindo historias em quadrinhos em inglês para o português. 


Apesar se seus grandes esforços como autodidata, tendo inclusive aprendido a traduzir o inglês após ter lido livros e dicionários nessa língua, Millôr resolveu aprofundar seus conhecimentos e estudou no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, entre 1938 e 1942, mas não concluiu o curso.  Com seus trabalhos de traduções e outras atividades jornalísticas chama a atenção de Frederico Chateaubriand que o convida para trabalhar na revista A Cigarra. A grande chance  veio quando teve de substituir um profissional que se atrasara e então Millôr utiliza frases, versos, tiradas inteligentes e engraçadas para cobrir uma página em branco do jornal. Com o sucesso dessa experiência a sua coluna se tornou fixa. Surgem novos espaços para ele na área jornalística e ele consegue um bom aumento salarial.


Aos 17 anos passou a adotar o nome Millôr em vez de Milton. Nessa época a revista O Cruzeiro, estava indo muito bem, com uma tiragem de destaque em plano nacional. Millôr adota o pseudônimo Vão Gogo, estreando a seção "O Pif-Paf" em 1945, juntamente com o cartunista Péricles. E em 1946 lançou a obra Eva sem costela — Um livro em defesa do homem, aparecendo como autor com o nome  de Adão Júnior.


Em 1948, estando nos Estados Unidos como correspondente, encontra Walt Disney, Carmen Miranda e Vinicius de Moraes. No mesmo ano, no Brasil, casa-se com Wanda Urbino e roteiriza a tira de jornal Ignorabus, que era publicada no Diário da Noite. Em 1949 é publicado o seu livro Tempo e Contratempo, que ele assina com o nome de Emmanuel Vão Gogo e seu primeiro roteiro cinematográfico Modelo 19 é produzido. O filme foi lançado como O amanhã será melhor e ganhou cinco prêmios, sendo que Millôr ganhou o prêmio de "melhores diálogos. 


Em 1951 junto com Fernando Sabino viaja por quarenta e cinco dias pelo Brasil em 1952 fica quatro meses viajando pela Europa. Em 1953 é estreada em São Paulo sua primeira peça teatral, Uma mulher em três atos. Em 1954 passa a morar em Ipanema e nasce seu primeiro filho. No ano seguinte divide  a posição de primeiro lugar da Exposição Internacional do Museu da Caricatura de Buenos Aires. Na época escreve as peças Do tamanho de um defunto; Bonito como um deus, Um elefante no caos e  Pigmaleoa. Em 1957 foram expostos seus desenhos e pinturas no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro em 1958 conclui sua tradução teatral Good people, que em português ficou A fábula do Brooklin — Gente como nós.


 Millôr passa a apresentar em 1959, na TV Itacolomi, do grupo Chateubriand, uma série de programas que foi chamada de Universidade do Méier. Nessa série Millôr desenhava e fazia comentários. O modelo foi para a TV Tupi do Rio de Janeiro e chamava-se Treze licões de um ignorante. Mas devido a uma crítica que Millôr fez à esposa de JK o programa é tirado do ar. Também em 1959 nasce a filha do escritor. Com a peça Um elefante no caos, Millôr ganha o prêmio de "melhor autor". Passa a colaborar com o cineasta Carlos Hugo Christensen e dessa parceria surgem os roteiros dos filmes Amor para Três (1960), Esse Rio que eu Amo (1962), Crônica da Cidade Amada (1965) e O Menino e o Vento (1967). 


Em 1961, após ter feito uma viagem ao Egito e também logo depois da renúncia de Jânio Quadros, foi rapidamente demitido do jornal Tribuna na Imprensa por ter publicado um artigo sobre corrupção. Nesses tempos também entra em conflito na redação da revista O Cruzeiro por causa de querer lutar pela liberdade de escrever livremente. Os conflitos culminaram em sua demissão.  Outra questão foi sua demissão dos Diários Associados devido dos desenhos de A verdadeira história do paraíso, que já tinham sido apresentados em emissoras de Tv em Belo Horizonte e Rio de Janeiro e no teatro e que levaram a uma série de críticas de setores católicos da sociedade. Mas o autor recebeu apoio de colegas da imprensa e da classe artística, como também por diretores e presidentes de empresas jornalísticas. 


Em 1963 faz trabalhos para o jornal Correio da Manhã e em 1964, após o golpe militar, cria a revista Pif Paf, que contava com grandes autores da área do Humor como Stanislaw Ponte Preta, Ziraldo, Jaguar etc. A proposta era fazer humor com liberdade. Porém somente oito números foram impressos e a revista foi fechada pelo governo brasileiro.


De 1964 a 1974 Millôr publicou uma coluna semana no jornal português Diário Popular. Em 1965 foi contratado como apresentador da TV Record e escreve com Flávio Rangel o musical Liberdade liberdade que foi encenado no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro. Compôs também a canção "O homem", interpretada por Nara Leão no II Festival de Música Popular Brasileira. E em 1968,  junto com Eliseth Cardoso e o Zimbo Trio, Millôr atuou em seu espetáculo musical Do fundo do azul do mundo. Também nesse ano começou a colaborar com a revista Veja. Com a criação do Pasquim, em 1969, viria posteriormente ser um de seus maiores colaboradores. Com a prisão de vários membros da direção da publicação em novembro de 1970,  Millôr e Henfil, junto com outros colaboradores importantes, procuraram manter o jornal funcionando. No ano de 1972 Millôr tornou-se presidente do Pasquim, que sofre diversas ações da censura. Em 1975 teve um desentendimento com outros diretores do jornal e saiu do mesmo. E em 1976 escreveu a peça É para Fernanda Montenegro, encenada no Rio de Janeiro, que teve grande sucesso. 


Em 1978 adaptou para o formato de musical a peça “Deus lhe pague”, de Joracy Camargo. Essa peça tinha Bibi Ferreira na direção e contava com músicas de Edu Lobo e Vinicius de Moraes.


Em 1980 começou seu relacionamento com a jornalista Cora Ronai e em 1982 deixou de trabalhar para a revista Veja por questões políticas. Foi homenageado em 1983 no samba-enredo da Escola de Samba Acadêmicos do Sossego. Nesses anos 80 passa a colaborar com a revista Isto é e com o Jornal do Brasil. Mas em 1992 neste jornal, o editor tentou limitar sua liberdade de criar, fazendo um corte em um dos trabalhos do autor, que soube driblar esta forma de censura. A relação entre os dois ficou difícil e Millôr pede demissão. Também na mesma época sai da revista Isto é.


Nos anos 90, Millôr passa a publicar nos jornais O Dia, O Estado de São Paulo e Correio Braziliense. No decorrer da década deixa de colaborar com estas publicações e em 2000 começa a trabalhar no jornal Folha de São Paulo, onde fica durante um ano e volta para o Jornal do Brasil. Nesse ano ele lança o site Millôr Online, publicando textos e desenhos, sendo bem sucedido. Trabalhou de novo para a Veja em 2004, mas por desacordos em relação a trabalhos seus anteriores que seriam publicados na Internet a revista não renova seu contrato. Moveu na época uma ação contra a editora Abril, que publicava a revista. Em 2013 a editora foi obrigada a pagar aproximadamente 800 mil reais por ter publicado material sem autorização do seu autor. 


Em fevereiro de 2011 Millôr teve um AVC, ficando cinco meses internado. Voltou para casa, mas teve de ser internado novamente. Em 27 de março de 2012 faleceu por falência múltipla dos órgãos e  parada cardíaca em seu apartamento em Ipanema. 


 Frases, trechos de obras e Poemas do autor: 


"Certas coisas só são amargas se a gente as engole."


"Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor."


"Se você agir sempre com dignidade, pode não melhorar o mundo, mas uma coisa é certa: haverá na Terra um canalha a menos."


"Uma imagem vale mais do que mil palavras. Vai dizer isto com uma imagem."


"O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde."


"Quem mata o tempo não é um assassino. É um suicida."


"Na conversa sofisticada
a debutante, nervosa,
tem um problema bem seu:
fingir que entende tudo
ou fingir que não entendeu."


"Por mais violento que seja o argumento contrário, por mais bem formulado, eu tenho sempre uma resposta que fecha a boca de qualquer um: "Vocês têm toda a razão"


"As pessoas que falam muito, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades."


"Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem."


"Jamais diga uma mentira que não possa provar."


"Nós, os humoristas, temos bastante importância para sermos presos e nenhuma importância para sermos soltos."


"Esnobar
É exigir café fervendo
E deixar esfriar".


"Nos dias quotidianos
É que se passam
Os anos".


"Depois de bem ajustado o preço, a gente deve sempre trabalhar por amor à arte".


"Aniversário é uma festa
Pra te lembrar
Do que resta."


"Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado."


"A pobreza não é, necessariamente, vergonhosa. Há muito pobre sem vergonha".


"As pessoas que falam muito acabam sempre contando coisas que ainda não aconteceram."


"Quando a gente está cansado, dá uma bruta vontade de dizer que sim."


"Imprensa é oposição. O resto é armazém de secos e molhados."


"Toda alegria é assim: já vem embrulhada numa tristezazinha de papel fino."


"Basta um avião sacudir um pouquinho mais, e logo todos os passageiros ficam parecidos com a foto do passaporte."


"É melhor ser pessimista do que otimista. O pessimista fica feliz quando acerta e quando erra."


Poeminha com Saudade de Mim Mesmo

Quando eu morrer
Vão lamentar minha ausência
Bagatela
Pra compensar o presente
Em que ninguém dá por ela. 


"A Justiça é cega, sua balança desregulada e sua espada sem fio."


"A diferença entre a galinha e o político é que o político cacareja e não bota o ovo."


"Não há problema tão grande que não caiba no dia seguinte."


"O otimista não sabe o que o espera."


"A liberdade é um cachorro vira-lata."


Chapeuzinho Vermelho

Era uma vez (admitindo-se aqui o tempo como uma realidade palpável, estranho, portanto, à fantasia da história) uma menina, linda e um pouco tola, que se chamava Chapeuzinho Vermelho. (Esses nomes que se usam em substituição do nome próprio chamam-se alcunha ou vulgo). Chapeuzinho Vermelho costumava passear no bosque, colhendo Sinantias, monstruosidade botânica que consiste na soldadura anômala de duas flores vizinhas pelos invólucros ou pelos pecíolos, Mucambés ou Muçambas, planta medicinal da família das Caparidáceas, e brincando aqui e ali com uma Jurueba, da família dos Psitacídeos, que vivem em regiões justafluviais, ou seja, à margem dos rios. Chapeuzinho Vermelho andava, pois, na Floresta, quando lhe aparece um lobo, animal selvagem carnívoro do gênero cão e... (Um parêntesis para os nossos pequenos leitores — o lobo era, presumivelmente, uma figura inexistente criada pelo cérebro superexcitado de Chapeuzinho Vermelho. Tendo que andar na floresta sozinha, - natural seria que, volta e meia, sentindo-se indefesa, tivesse alucinações semelhantes.).

Chapeuzinho Vermelho foi detida pelo lobo que lhe disse: (Outro parêntesis; os animais jamais falaram. Fica explicado aqui que isso é um recurso de fantasia do autor e que o Lobo encarna os sentimentos cruéis do Homem. Esse princípio animista é ancestralíssimo e está em todo o folclore universal.) Disse o Lobo: "Onde vais, linda menina?" Respondeu Chapeuzinho Vermelho: "Vou levar estes doces à minha avozinha que está doente. Atravessarei dunas, montes, cabos, istmos e outros acidentes geográficos e deverei chegar lá às treze e trinta e cinco, ou seja, a uma hora e trinta e cinco minutos da tarde".

Ouvindo isso o Lobo saiu correndo, estimulado por desejos reprimidos (Freud: "Psychopathology Of Everiday Life", The Modern Library Inc. N.Y.). Chegando na casa da avozinha ele engoliu-a de uma vez — o que, segundo o conceito materialista de Marx indica uma intenção crítica do autor, estando oculta aí a idéia do capitalismo devorando o proletariado — e ficou esperando, deitado na cama, fantasiado com a roupa da avó.

Passaram-se quinze minutos (diagrama explicando o funcionamento do relógio e seu processo evolutivo através da História). Chapeuzinho Vermelho chegou e não percebeu que o lobo não era sua avó, porque sofria de astigmatismo convergente, que é uma perturbação visual oriunda da curvatura da córnea. Nem percebeu que a voz não era a da avó, porque sofria de Otite, inflamação do ouvido, nem reconheceu nas suas palavras, palavras cheias de má-fé masculina, porque afinal, eis o que ela era mesmo: esquizofrênica, débil mental e paranóica pequenas doenças que dão no cérebro, parte-súpero-anterior do encéfalo. (A tentativa muito comum da mulher ignorar a transformação do Homem é profusamente estudada por Kinsey em "Sexual Behavior in the Human Female". W. B. Saunders Company, Publishers.) Mas, para salvação de Chapeuzinho Vermelho, apareceram os lenhadores, mataram cuidadosamente o Lobo, depois de verificar a localização da avó através da Roentgenfotografia. E Chapeuzinho Vermelho viveu tranqüila 57 anos, que é a média da vida humana segundo Maltus, Thomas Robert, economista inglês nascido em 1766, em Rookew, pequena propriedade de seu pai, que foi grande amigo de Rousseau.




"Que foi isso, de repente? Nada; dez anos se passaram. Não diga! Se somaram? Se perderam? Algumas relações se aprofundaram? Se esgarçaram? Onde estávamos? Onde estamos? E... aonde vamos? O tempo, em lugar nenhum e em silêncio, passa. É inegável - todos temos mais dez anos agora. Ainda bem, poderíamos ter menos dez. Tudo nos aconteceu. Amamos, disso temos certeza. E fomos amados - onde encontrar a certeza? Avançamos aqui materialmente, ali não, nos realizamos neste ponto, em outros queríamos mais, algumas coisas tivemos mais do que pretendíamos ou merecíamos - mas isso é difícil de reconhecer. Perdemos alguém - "Viver é perder amigos". No meio do feio e do amargo, no tumulto e no desgaste, tivemos mil diminutos de felicidade, no ar, no olhar, na palavra de afeto inesperado, que sei? Espera, eu sei. É a única lição que tenho a dar; a vida é pequena, breve, e perto. Muito perto - é preciso estar atento."



Poesia Matemática

Às folhas tantas
do livro matemático
um Quociente apaixonou-se
um dia
doidamente
por uma Incógnita.
Olhou-a com seu olhar inumerável
e viu-a do ápice à base
uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide,
corpo retangular, seios esferóides.
Fez de sua uma vida
paralela à dela
até que se encontraram
no infinito.
"Quem és tu?", indagou ele
em ânsia radical.
"Sou a soma do quadrado dos catetos.
Mas pode me chamar de Hipotenusa."
E de falarem descobriram que eram
(o que em aritmética corresponde
a almas irmãs)
primos entre si.
E assim se amaram
ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação
traçando
ao sabor do momento
e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas sinoidais
nos jardins da quarta dimensão.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidiana
e os exegetas do Universo Finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E enfim resolveram se casar
constituir um lar,
mais que um lar,
um perpendicular.
Convidaram para padrinhos
o Poliedro e a Bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade
integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones
muito engraçadinhos.
E foram felizes
até aquele dia
em que tudo vira afinal
monotonia.
Foi então que surgiu
O Máximo Divisor Comum
freqüentador de círculos concêntricos,
viciosos.
Ofereceu-lhe, a ela,
uma grandeza absoluta
e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, Quociente, percebeu
que com ela não formava mais um todo,
uma unidade.
Era o triângulo,
tanto chamado amoroso.
Desse problema ela era uma fração,
a mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a Relatividade
e tudo que era espúrio passou a ser
moralidade
como aliás em qualquer
sociedade.



Poeminha de Louvor ao "Strip-tease" Secular


Eu sou do tempo em que a mulher
Mostrar o tornozelo
Era um apelo!
Depois, já rapazinho, vi as primeiras pernas
De mulher
Sem saia;

Mas foi na praia!

A moda avança
A saia sobe mais
Mostra os joelhos
Infernais!

As fazendas
Com os anos
Se fazem mais leves
E surgem figurinhas
Em roupas transparentes
Pelas ruas:

Quase nuas.

E a mania do esporte
Trouxe o short.
O short amigo
Que trouxe consigo
O maiô de duas peças.
E logo, de audácia em audácia,
A natureza ganhando terreno

Sugeriu o biquíni,
O maiô de pequeno ficando mais pequeno
Não se sabendo mais
Até onde um corpo branco
Pode ficar moreno.

Deus,
A graça é imerecida,
Mas dai-me ainda
Uns aninhos de vida!

O Rei dos Animais


Saiu o leão a fazer sua pesquisa estatística, para verificar se ainda era o Rei das Selvas. Os tempos tinham mudado muito, as condições do progresso alterado a psicologia e os métodos de combate das feras, as relações de respeito entre os animais já não eram as mesmas, de modo que seria bom indagar. Não que restasse ao leão qualquer dúvida quanto à sua realeza. Mas assegurar-se é uma das constantes do espírito humano, e, por extensão, do espírito animal. Ouvir da boca dos outros a consagração do nosso valor, saber o sabido, quando ele nos é favorável, eis um prazer dos deuses. Assim o Leão encontrou o macaco e perguntou: "Hei, você aí, macaco - quem é o rei dos animais?" O macaco, surpreendido pelo rugir indagatório, deu um salto de pavor e, quando respondeu, já estava no mais alto galho da mais alta árvore da floresta: "Claro que é você, Leão, claro que é você!".


Satisfeito, o Leão continuou pela floresta e perguntou ao papagaio: "Currupaco, papagaio. Quem é, segundo seu conceito, o Senhor da Floresta, não é o leão?" E como aos papagaios não é dado o dom de improvisar, mas apenas o de repetir, lá repetiu o papagaio: "Currupaco... não é o leão? Não é o leão? Currupaco, não é o leão?".


Cheio de si, prosseguiu o Leão pela floresta em busca de novas afirmações de sua personalidade. Encontrou a coruja e perguntou: "Coruja, não sou eu o maioral da mata?" "Sim, és tu", disse a coruja. Mas disse de sábia, não de crente. E lá se foi o Leão, mais firme no passo, mais alto de cabeça. Encontrou o tigre. "Tigre, - disse em voz de estentor -eu sou o rei da floresta. Certo?" O tigre rugiu, hesitou, tentou não responder, mas sentiu o barulho do olhar do leão fixo em si, e disse, rugindo contrafeito: "Sim". E rugiu ainda mais mal humorado e já arrependido, quando o leão se afastou.

Três quilômetros adiante, numa grande clareira, o leão encontrou o elefante. Perguntou: "Elefante, quem manda na floresta, quem é Rei, Imperador, Presidente da República, dono e senhor de árvores e de seres, dentro da mata?" O elefante pegou-o pela tromba, deu três voltas com ele pelo ar, atirou-o contra o tronco de uma árvore e desapareceu floresta adentro. O Leão caiu no chão, tonto e ensangüentado, levantou-se lambendo uma das patas, e murmurou: "Que diabo, só porque não sabia a resposta não era preciso ficar tão zangado".


MORAL: CADA UM TIRA DOS ACONTECIMENTOS A CONCLUSÃO QUE BEM ENTENDE.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura:  https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk017nbeInaThHq-xeTPLiZcoxC-APA:1596417632331&source=univ&tbm=isch&q=imagens+de+millor+fernandes&client=firefox-b-



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