domingo, 31 de janeiro de 2021

O filósofo Thomas Paine

 


                                              


O filósofo liberal e iluminista Thomas Paine nasceu em 9 de fevereiro de 1737 em Thetford, na Inglaterra.  Era cidadão britânico e tornou-se também cidadão do reino da França, depois da Primeira República da França e cidadão dos Estados Unidos. Ele também foi panfletário, revolucionário e inventor, tendo participado ativamente da fundação dos Estados Unidos da América. Segundo estudiosos sobre Paine, ele foi influenciado por intelectuais como David Hume, Spinoza,Voltaire e outros pensadores.

Era filho de pais pobres. O pai era quaker e a mãe era anglicana. Estudou em escolas locais até os 13 anos. A partir daí trabalhou na confecção de barbantes, participou da tripulação de um navio corsário durante a Guerra dos Sete Anos e trabalhou na fabricação de espartilhos. Casou-se em 1759 e no ano seguinte fica viúvo. Em 1763 passou a ser fiscal de impostos, mas foi demitido pouco tempo depois. Foi professor e tentou ser pastor anglicano . Casou-se então, pela segunda vez, com uma protestante Quaker, mas o casamento não deu certo.  Chegou a ser fiscal de novo e organizou manifestações em Londres por salários melhores para os fiscaisConheceu Benjamim Franklin e foi para a América em 1774 em busca de oportunidades. Na Filadélfia dedicou-se a escrever, vindo a ser editor. Sua primeira publicação foi um artigo contra a escravidão e o comércio de escravos em 1775. Possivelmente Influenciou Thomas Jefferson na escrita de uma nota no esboço da declaração de independência, porém essa nota não permaneceu.

Como incentivador da luta das colônias pela liberdade publicou as obras Common Sense (Senso Comum), em defesa da independência das 13 colônias, e The American Crisis (Crises Americanas) que eram panfletos revolucionários). Quando foi publicado o panfleto “A Crise Americana, Número 1”, de 19 de dezembro de 1776, o exército americano estava numa situação muito difícil. O general Washington ficou emocionado ao ler e então ordenou que fosse lido para as tropas. Paine era um severo crítico à dominação britânica e a sua obra Common Sense se tornou um grande sucesso editorialEle não se contentou em ser um incentivador por meio das palavras e então foi lutar na Guerra de Independência.

Paine dizia que os direitos pertencem ao Homem pelo fato de sua existência e todos são iguais em direitos, sendo contrário às velhas formas de governo. Preocupava-se muito com o cidadão comum, destacando o povo como fonte única e exclusiva de inspiração do poder. Ele está presente na defesa das liberdades individuais e de comércio junto com o voto universal. Paine dizia que deve-se construir um Estado com decisões políticas baseadas no sufrágio universal e o povo vai sendo inserido em um processo que lhe garanta cidadania e com igualdade de direitos. Esse Estado tem que ser laico, independente da religião.

Apesar de ficar famoso na sua luta pela independência, ele não tinha muitos bens. Foi lhe concedido um valor em dinheiro e uma propriedade. Ele procurou outro meio de vida e passou a se dedicar a obras de engenharia, construindo pontes de ferro, tendo ido para a Inglaterra onde uma ponte sua foi instalada. Em 1789 foi para Paris pretendendo patentear uma de suas invenções e permaneceu na França. Lá ele escreveu Rights of Man (Direitos dos Homens), obra baseada nos ideais do Iluminismo, defendendo que toda vez que um governo não protege e garante os direitos naturais de seu povo, pode haver uma revolução política popular.  Foi um influenciador na Revolução Francesa, tendo sido eleito para a Convenção Nacional em 1792, possuindo uma posição moderada, mais ao lado dos Girondinos, colocando-se contra a execução do rei francês, pois ele tinha ajudado a luta das 13 colônias contra a Inglaterra. Participou do grupo que redigiu a Constituição Republicana Francesa.  Os Jacobinos o consideraram um inimigo e o expulsaram da Convenção, determinando sua prisão de 1793 a 1794. Ainda na França escreveu The Age of Reason (A Era da Razão), em 1794, no qual dizia acreditar em Deus, mas criticava as Igrejas cristãs e defendia a razão, assim como a liberdade de pensamento. Outra obra do filósofo na França foi Agrarian Justice (A Justiça Agrária), em 1797, lançando a discussão sobre as origens da propriedade e introduzindo o conceito de renda mínima. Ele propunha uma forma de política social. Sua teoria ficou conhecida como “dividendo universal”. Ele defendia um novo sistema tributário em relação aos proprietários de terras, para procurar compensar desigualdades.

Ficou na França até o início do governo de Napoleão a quem criticava, chamando-o de "o mais completo charlatão que já existiu”. Retornou aos Estados Unidos em 1802, a convite do presidente Thomas Jefferson.  Acabou se indispondo com George Washington e quando soube que iriam construir uma estátua dele disse: "Tire da mina a pedra mais fria e mais dura, Ela não precisará ser esculpida: é Washington. Mas, se cinzelar, que o golpe seja rude, e em seu coração, grave:-Ingratidão."

Na obra A Era da Razão Paine escreveu no primeiro capítulo: “Acredito em Deus, e nada mais: espero ser feliz para além desta vida. Acredito que os homens são iguais, e que as obrigações religiosas consistem em fazer justiça, amar a misericórdia e esforçar-se por fazer com que nossos semelhante sejam felizes’’. Recebeu muitas críticas de pessoas conservadoras na época pela publicação dessa obra e por determinadas ideias que tinha sobre política, tendo sido atacado na cidade onde morava nos Estados Unidos e acusado de imoralidade, ficando isolado e empobrecido.

Em 8 de junho de 1809 Thomas Paine faleceu em Greenwich Village, estado de Nova Iorque, com 72 anos. Poucas pessoas foram ao funeral.

 

Frases de Thomas Paine

 “Para ser feliz um homem tem que ser fiel a si mesmo. A infidelidade não consiste em acreditar ou em não acreditar, consiste em professar aquilo em que não se acredita.”

“A forma de escrever insinuante e ameaçadora que era usada antigamente em assuntos deste tipo [religião] produziu ceticismo, e não convicção. É necessário ser ousado. Algumas pessoas podem ser persuadidas à compreensão, e outras devem ser arremessadas em direção a ela. Dizer algo ousado que as faça titubear, e, então, elas começarão a pensar.”

 “O erro que começou há mil anos é tão errado como o que começa hoje, e o acerto que surge hoje é tão certo como se tivesse a sanção de séculos.”

“As leis de difícil execução em geral não podem ser boas.”

 “O mundo é o meu país, toda a humanidade são meus irmãos, e fazer o bem é a minha religião.”

“A sociedade, em qualquer forma, é uma benção, mas o governo, mesmo em sua melhor forma, não é nada mais que um mal necessário; na sua pior forma, é intolerável.”

“É impossível calcular o dano moral, se é que posso chamá-lo assim, que a mentira mental tem causado na sociedade.”

“É muito mais fácil conservar o caráter do que recobrá-lo.”

“Eu admiro aqueles que conseguem sorrir com os problemas, reunir forças na angústia, e ganhar coragem na reflexão. É coisa de pequenas mentes encolher-se, mas aquele cujo coração é firme, e cuja consciência aprova sua conduta, perseguirá seus princípios até a morte.”

“Muitas vezes, o sublime e o ridículo encontram-se tão estreitamente relacionados, que é difícil classificá-los separadamente. Um passo além do sublime e cai-se no ridículo; um passo além do ridículo e chega-se ao sublime.”

“O facto de continuarmos a pensar que uma determinada coisa não é errada dá-nos uma aparência superficial de estarmos certos.”

"Discutir com um homem que renunciou à sua razão é como medicar um cadáver."

"Não fazer nada é o trabalho mais cansativo do mundo, pois você não pode se demitir e descansar!"

 “Embora a avareza impeça um homem de se tornar necessariamente pobre, geralmente torna-o demasiado com medo para enriquecer.”

" A natureza irresistível da verdade é tal que tudo que ela pede, e tudo o que é, é a liberdade de aparecer".

É a direção e não a intensidade que deve ser levada em consideração”

“Estes são os tempos que provam as almas dos homens. O soldado do verão e o patriota radiante irão, nesta crise, se esquivar do serviço ao país; mas aquele que o mantém agora merece o amor e a gratidão do homem e da mulher. Tirania, como o inferno, não é facilmente conquistado; ainda assim, temos este consolo conosco - que quanto mais difícil o conflito, mais glorioso o triunfo. O que obtemos barato demais, estimamos muito levianamente: é o preço que dá valor a tudo. O céu sabe como colocar um preço adequado sobre seus bens; e seria realmente estranho se um artigo tão celestial como a liberdade não fosse bem avaliado. A Grã-Bretanha, com um exército para impor sua tirania, declarou que tem o direito não apenas de tributar, mas "de nos obrigar em todos os casos", e se ser amarrado dessa maneira não é escravidão, então não existe tal coisa como escravidão na terra. Até a expressão é ímpia, pois um poder tão ilimitado só pode pertencer a Deus.”

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História



Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+thomas+paine&sxsrf=ALeKk036rOGtNFQpOIsM6PxKtzbayc-khQ:1612061477848&tbm=isch&source


quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

A escritora Virginia Woolf

 






A escritora (romancista e ensaísta), crítica e editora britânica Adeline Virginia Woolf nasceu em 25 de janeiro de 1882 em Kensigton, Middlesex, Inglaterra. Pertenceu ao movimento literário modernista. É considerada a maior romancista lírica do idioma inglês. Ela fez parte do Grupo de Bloomsbury, sendo uma figura de importância no tocante à literatura em Londres no período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Os seus romances Mrs. DallowayTo the Lighthouse Orlando: A Biography estão entre seus trabalhos mais famosos. Destacou-se como escritora no final da década de 20 do século passado, inclusive com reconhecimento internacional. Mas após a II Guerra Mundial suas obras ficaram sem grande atenção. Nos anos 70 voltaram com vigor os estudos sobre a escritora. O estilo dela está ligado ao uso do chamado fluxo de consciência, uma técnica literária modernista que escritores como James Joyce e William Faulkner também usaram e juntamente com Gertrude Stein é considerada uma das autoras mais importantes do modernismo clássico. Ela teve nove romances publicados e trinta livros de outros gêneros.  Ela disse sobre a função do escritor :

(...) é transmitir a essência sempre em mutação da mente, por maior que seja a complexidade ou o intrincado das suas manifestações, com o menor número possível de elementos estranhos ou alheios a ela.”

Os pais de Virginia Woolf eram o escritor, historiador, ensaísta e biógrafo Leslie Stephen, que dedicou a ela uma boa educação (ela não foi à escola, mas foi educada por professores particulares e por seu pai) e a mãe era Julia Stephen (vinha de família de importantes editores e foi a segunda esposa de Leslie). Virginia teve três irmãos (dois irmãos e uma irmã) e quatro meios-irmãos (dois meios-irmãos e duas meias-irmãs). Pessoas da elite intelectual de Londres frequentavam a casa dos pais de Virgínia. Seu pai possuía uma ampla biblioteca em casa. Aos nove anos Virgínia já mostrava ser uma criança criativa, criando um jornal familiar. Ela se tornou uma leitora compulsiva. Como não pôde frequentar uma universidade procurou ler sozinha e aprender com o pai, que tinha muitos conhecimentos e também uma personalidade difícil. Em 1895, a mãe dela morreu. Na ocasião, Virgínia tinha 13 anos e sofreu sua primeira crise mental. Sua meia irmã faleceu poucos anos depois. Em junho de 1902 o pai de Virginia foi nomeado Cavaleiro da Mais Honorável Ordem do Banho. Ela teve seu primeiro artigo publicado em janeiro de 1904 e em fevereiro desse ano seu pai morreu. Algumas semanas depois da morte do pai Virginia voltou a ter um colapso mental que a afetou por meses. E em 1906 mais um choque na vida de Virginia: a morte de seu irmão Thoby.

Em 1905 foi formado o Grupo de Bloomsbury, cujos integrantes eram contra tradições literárias, políticas e sociais ligadas à Era Vitoriana. Os membros não se consideravam um “grupo”. Não existiam componentes fixos e não fizeram um manifesto. Virgínia foi uma integrante juntamente com outros escritores como Roger Fry e Duncan Grant, economistas como John Maynard Keynes e outros intelectuais (historiadores, pintores, críticos etc). Eles influenciaram a sociedade em aspectos como a literatura, a economia e questões sociais. Em relação mais especificamente de Virginia, a mesma contribuiu para correntes do feminismo.

Virgínia foi uma das criadoras do chamado fluxo de consciência, que foi uma de suas marcas mais conhecidas. Ela gostou muito de ter podido entrar para o Grupo de Bloomsbury , que tinha uma grande maioria de membros masculinos. Podia dar suas contribuições nas discussões e também ir se libertando de certos pontos repressivos de sua educação. O primeiro romance publicado de Virginia Woolf foi The Voyage Out, no ano de 1915.

Virginia, seu irmão Adrian e amigos organizaram em fevereiro de 1910 o embuste de Dreadnought. Eles enviaram um telegrama falso e viajaram disfarçados como se fossem uma delegação de quatro diplomatas estrangeiros, um membro do Ministério de Relações Exteriores Britânico e um interprete para visitar  o navio HMS Dreadnought. Eles foram recebidos oficialmente no navio. Horace Cole, um integrante desse grupo mandou uma foto do episódio para um jornal e relatou ao Ministério de Relações Exteriores que tudo tinha passado de uma brincadeira. O grupo queria ridicularizar o Império Britânico. Apesar de pressões da Marinha para que Horace fosse preso, ele não foi punido.

Virginia passou a escrever para o jornal The Guardian e para o suplemento literário do The Times. Convidada a lecionar no Morley College, que era uma escola mista da classe trabalhadora, vez ou outra ensinava literatura e historia inglesas.

Em 1912 Virginia casou com o economista e historiador Leonard Woolf, um amigo de seu irmão. O casamento foi mantido pela amizade de ambos, porque ela não queria envolvimento sexual com o marido. Ela e seu marido fundaram em 1917 a Editora Hogarth Press, que revelou escritores de qualidade como T.S. Eliot. Em sua vida pessoal, Virgínia teve crises de depressão. Ela possivelmente tinha transtorno bipolar.

Mrs. Dalloway, de 1925; Ao Farol de 1927; e Orlando, de1928;são os principais livros de Virginia. Nas três obras há o que ela chamava de fluxo de consciência. A prática dessa técnica literária confere uma maior aproximação do leitor com o inconsciente dos personagens. Também são exploradas a sensibilidade e a psicologia dos personagens.

Na obra (publicada em dois volumes em 1925 e 1932) The Common Reader (O Leitor Comum), foram escritas as reflexões de Virginia sobre a arte literária em relação à liberdade de criação e ao prazer da leitura. Essas reflexões foram baseadas em obras de escritores como Joseph Conrad, Tolstoi, Tchekov, Jane Austen, Dostoievsky e outros. Virgínia buscava homenagear o leitor que lê para seu próprio prazer pessoal, sem qualquer tipo de obrigação.

Segundo estudiosos da vida da escritora, ela teria passado por algum tipo de abuso de seus dois meios- irmãos, o que pode ter causado nela alguns transtornos de personalidade, como as suas características depressivas.  Houve pesquisadores que apontaram certos sintomas de estresse e ansiedade no pai de Virgínia, sintomas que a escritora também passou a apresentar, sugerindo eles que poderia haver alguma tendência hereditária em relação ao transtorno dela.

Virgínia Woolf foi provavelmente influenciada por ideias do antissemitismo que na época da autora era forte em países europeus, apesar dela ser casada com um judeu. Alguns personagens judeus de obras suas tinham imagens estereotipadas, como pessoas repulsivas e sujas. Mas ela parece ter feito uma autocrítica em 1930, pois escreveu assim para sua amiga Ethel Smyth: “Como eu odiei casar um judeu – Quão esnobe fui eu, já que são eles quem tem a grande vitalidade”. Ela e o marido demonstraram aversão ao fascismo e ao nazismo.

A escritora em algumas obras faz críticas ao poder excessivo dos homens em relação a estruturas do poder, causando dificuldades para as escritoras e também para as mulheres na educação e sociedade. Foi inclusive destacada por Simone de Beauvoir na sua obra O Segundo Sexo. Virginia Woolf fez críticas às restrições impostas às mulheres na Era Vitoriana. Segundo os estudiosos da vida da autora, Virginia teve uma relação amorosa com a poetisa Vita Sackville-West que assim como Virginia também tinha seu marido. Uma das obras de Virginia, Orlando, foi inspirada em Vita.

Em 1941 a Inglaterra vivia a Segunda Guerra Mundial e a casa de Virginia foi bombardeada pela força aérea alemã. Também a crítica dos jornais não deu muita atenção à biografia que a escritora escreveu sobre Roger Fry. Ela então ficou muito depressiva e em 28 de março de 1941 vestiu seu casaco, encheu os bolsos com pedras e se jogou no rio Ouse, morrendo afogada. Escreveu um bilhete para seu marido que dizia:

 

“Querido,

Tenho certeza de que enlouquecerei novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E, desta vez, não vou me recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Por isso estou fazendo o que me parece ser a melhor coisa a fazer. Você tem me dado a maior felicidade possível. Você tem sido, em todos os aspectos, tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes, até a chegada dessa terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida, que sem mim você poderia trabalhar. E você vai, eu sei. Veja que nem sequer consigo escrever isso apropriadamente. Não consigo ler. O que quero dizer é que devo toda a felicidade da minha vida a você. Você tem sido inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que – todo mundo sabe disso. Se alguém pudesse me salvar teria sido você. Tudo se foi para mim, menos a certeza da sua bondade. Não posso continuar a estragar a sua vida. Não creio que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes do que nós.”

O corpo de Virginia Woolf foi encontrado vários dias depois e cremado. Suas cinzas foram enterradas no jardim de Monk’sHouse, onde a escritora viveu com seu marido desde 1919. Ele quando morreu 28 anos depois teve as cinzas de seu corpo cremado enterradas junto com as de Virginia.

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Segundo Dilva Frazão a respeito de algumas obras de Virginia Woolf:

 

“O Quarto de Jacob

O Quarto de Jacob (1922) foi o primeiro de seus romances experimentais sobre a relação entre o tempo histórico e o tempo interior da consciência, tema que foi expresso em linguagem poética e plena de ressonâncias simbólicas. O tema gira em torno da história de vida de Jacob que não existe como uma realidade concreta e sim como uma coleção de memórias e sensações.

Reconhecimento

Virgínia Woolf tornou-se conhecida com a publicação de “Senhora Dalloway” (1925), um romance onde a escritora faz uma crítica à relação patriarcal da sociedade inglesa da época, à dificuldade da mulher conquistar seu espaço diante do pouco acesso à educação e da opressão sofrida pelos homens.

Um dos mais conhecidos trabalhos, de não ficção, de Virgínia Woolf foi “Um Teto Todo Seu” (1929), um ensaio baseado em uma série de palestras que ela deu em 1928, em várias universidades femininas de Cambridge. O ensaio é visto como um texto feminista, uma crítica à falta de espaço e liberdade que as mulheres sofreram na história.

O mais divulgado romance de Virgínia foi “As Ondas” (1931), no qual retratou, por meio de técnica de fluxo de consciência, a evolução interior de seis personagens, da infância à velhice, e a visão da existência humana como processo inapreensível de interações entre o mundo e a sensibilidade pessoal. Como analogia do ciclo vital a autora descreve um dia na praia, da aurora ao anoitecer, em capítulos intercalados.”

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Segundo a Professora licenciada em Letras Daniela Diana:

 

“As obras de Virginia estão repletas de questões sociais, políticas e feministas. Dona de um espírito revolucionário, ele escreveu romances, contos e ensaios. Confira abaixo algumas das obras de destaque”:

  • A viagem (1915)
  • Noite e dia (1919)
  • O quarto de Jacob (1922)
  • Senhora Dalloway (1925)
  • Ao farol (1927)
  • Orlando: uma biografia (1928)
  • Um teto todo seu (1929)
  • As ondas (1931)
  • Os anos (1937)
  • Entre os atos (1941)
  • Os três Guineus (1938)”

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Frases de Virginia Wolf:

 

“Tranque as bibliotecas, se quiser; mas não há portões, nem fechaduras, nem cadeados com os quais você conseguirá trancar a liberdade do meu pensamento.”

“Meu próprio cérebro é para mim a mais inexplicável das máquinas - sempre zunindo, sussurrando, voando rugindo mergulhando, e depois se enterrando na lama. E por quê? Para que esta paixão?”

“Você não encontra paz, evitando a vida.”

“Luta mental significa pensar contra a corrente, não com a corrente. É nosso trabalho perfurar as bolsas de gás e descobrir as sementes da verdade.”


“Pensamento e teoria devem preceder todas as ações saudáveis; ainda que a ação seja mais nobre que o pensamento ou a teoria.”

“Não escrevemos só com os dedos, mas com a pessoa inteira. O nervo que controla a pena enrola-se em cada fibra do nosso ser, trespassa o coração, perfura o fígado.”

 “A beleza do mundo, que é cedo demais para perecer, possui dois extremos, um da alegria, outro da angústia, rachando o coração.”

“Uma vez conformado, uma vez feito o que outras pessoas fazem só porque fazem, e uma letargia infiltra-se em todos os nervos mais finos e faculdades da alma. Ela se torna todo o espetáculo externo e vazio interior; estúpida, rígida e indiferente.”

“Para aproveitarmos a liberdade temos que nos controlar.”

“As mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do homem duas vezes maior que o natural.”

“Realmente, eu não gosto da natureza humana a menos que esteja toda temperada com arte.”

“Somos desfeitos pela verdade. A vida é um sonho. É o despertar que nos mata.”

“Há quem procure o padre, outros refugiam-se na poesia, eu procuro os meus amigos.”

“Como mulher eu não possuo país. Como mulher, meu país é o mundo todo.”

“Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora; e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro.”

“Uma obra prima é algo dito de uma vez por todas, proclamado, finalizado, de modo que está lá completa na mente, mesmo que ainda oculta.”

“No correr de minha vida farei o gigantesco amálgama das discrepâncias tão cruelmente óbvias em mim. Conseguirei isso à força de tanto sofrer. Vou bater. Vou entrar.”

“Amo com tamanha ferocidade que morro quando o objeto de meu amor mostra por uma só frase que pode escapar.”

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Márcio José Matos Rodrigues

 

Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00aqWQB-FSasd_E6O1FCH5kWj0UVw:1611788503325&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+virginia+wollf

domingo, 24 de janeiro de 2021

O escritor George Orwell

 




Em 25 de junho de 1903 nasceu em Motihari, na Índia Britânica, Eric Arthur Blair, mais conhecido como George Orwell (usou também o pseudônimo de John Freeman). Ele era cidadão britânico. Foi romancista, ensaísta, participante de movimentos políticos e jornalista. Foi um escritor crítico, bem perceptivo a respeito da realidade social e política de sua época. Tinha uma posição firme contra regimes totalitaristas e uma paixão pela clareza da escrita. Foi considerado um tipo de anarquista. Ele era um defensor da auto-gestão ou autonomismo. Criticou o Stalinismo que houve na União Soviética e também os rumos que tomou a revolução soviética. Foi um ótimo cronista da cultura inglesa do século XX. Escreveu resenhas, obras de ficção, artigos jornalísticos, crítica literária e poesia. Seu romance de maior sucesso foi o distópico 1984, no qual criticava o totalitarismo. Também ficou muito conhecida a sua satírica obra Animal Farm (bem conhecida no Brasil como A Revolução dos Bichos). Esses dois livros foram muito vendidos. Outra obra muito elogiada foi Homage to Catalonia (1938), sobre sua experiência na Guerra Civil Espanhola. Foi classificado pelo jornal The Times como o segundo lugar em uma lista de "Os 50 maiores escritores britânicos desde 1945”. Foi um escritor ligado ao Modernismo Inglês e suas obras apresentam as seguintes características: linguagem simples; escrita concisa; caráter satírico; enredo distópico; crítica sociopolítica; alegoria; ironia; pessimismo; ausência de idealizações.

Tinha duas irmãs e era filho de Richard Walmesley Blair, que trabalhava no Departamento de Ópio do Serviço Civil Indiano e sua mãe era Ida Mabel Limouzin-Blair, nascida na Inglaterra, mas que passou anos de sua infância na Birmânia (hoje em dia Miamar) e era filha de um negociante francês.

Eric Blair (George Orwell), foi levado para morar na Inglaterra quando tinha um ano de idade. Ficou morando com a mãe e as irmãs, enquanto o pai estava trabalhando na Irlanda, onde ficou até 1912 e fazia breves visitas a sua família. Quando menino Eric disse a uma amiga de infância que um dia iria escrever um livro como A Modern Utopia do escritor britânico H. G. Wells.

Eric passou a estudar no internato de Henley-on-Thames, quando tinha cinco anos de idade. O internato era dirigido por freiras Ursulinas francesas. Mas como a família não podia pagar a alta mensalidade, ele acabou indo estudar na Escola de São Cipriano, em Sussex. Mas Eric não gostou de lá. Nessa escola, ele publicou dois poemas publicados no jornal local Henley and South Oxfordshire Standard e ficou em segundo lugar no Prêmio de Historia Harrow, tendo se destacado nos estudos e ganhou bolsas de estudo para duas consideradas instituições de ensino, o Wellington College e o Elton College, tendo estudando primeiramente no primeiro colégio e depois no segundo onde ficou até 1921.  Em Elton ele teve o escritor Aldous Huxley como professor de francês por algum tempo, mas os dois não tiveram contatos fora de sala de aula. Não foi um aluno destacado no Elton, mas ajudou na produção de uma revista e participou dos jogos da escola. Sobre esta escola escreveu posteriormente Eric no prefácio de uma de suas obras: “Era a mais cara e esnobe das escolas Públicas da Inglaterra”.

Terminando seus estudos, ele se preparou para passar em um exame para ser um funcionário no Oriente e foi aprovado em sétimo lugar, vindo a trabalhar a partir de 1922 na Birmânia, na Polícia Imperial Indiana. Depois de uma preparação foi enviado para trabalhar em postos policiais. No final de 1924 já era Assistente de Superintendente Distrital. Em 1925 foi transferido para Insein. Uma amiga jornalista de Eric que trabalhava na mesma cidade disse que ele procurava sempre ser justo.  Foi transferido para outros lugares na Birmânia e em 1927 ficou doente e voltou para a Inglaterra, ocasião em que pediu demissão, pois tinha a intenção de se tornar escritor e tornou-se um crítico sobre o imperialismo britânico. Inspirado em suas experiências na Birmânia ele escreveu Burmese Days em 1934 e os ensaios "A Hanging" (1931) e "Shooting an Elephant" (1936).

Tendo se mudado para Londres em 1927, Ruth Pitter, uma conhecida de sua família se interessou por seus escritos. Nessa época, Eric Blair passou a ir aos lugares pobres de Londres, tendo se vestido como um vagabundo. Ele registrou suas experiências de vida nessas condições em algumas obras.

Em 1928 mudou-se para Paris, onde viveu até o ano seguinte com a ajuda de uma tia. Nesse tempo escreveu romances, com destaque apenas para Burmese Days. Trabalhou como jornalista e escreveu artigos no Monde, assim como em outros jornais: G. K.'s Weekly e Le Progres Civique. Em março de 1929 esteve doente e foi roubado. Após esses fatos, ele trabalhou em serviços domésticos, lavando pratos em um hotel, o que lhe deu material para escrever Down and Out in Paris and London (Na pior em Paris e Londres), obra na qual fez relatos de Paris e Londres. Em agosto de 1929 conseguiu que publicassem sua obra The Spike, em Londres.  Foi professor na The Hawthorns High School em Hayes, Inglaterra nos anos de 1932 e 1933.

Em 1937 publicou a obra “A Estrada para Wigan Pier” que era , uma coletânea de ensaios, que refletiam a convivência do escritor com mineiros e ele então faz críticas as abstrações teóricas dos intelectuais de esquerda.

Durante a Guerra Civil Espanhola, Eric se engajou em força armada do Partido Operário de Unificação Marxista (POUM), um grupo marxista não stalinista, onde atuavam espanhois de orientação trotskista, que lutava contra o exército de Franco,que era  apoiado por Hitler e Mussolini. Na guerra Eric foi ferido na garganta, o que lhe prejudicou a voz. A sua experiência nessa guerra foi relatada em Homage to Catalonia.

Quis servir ao exército britânico na Segunda Guerra Mundial, porém foi rejeitado por causa de apresentar sintomas de tuberculose. Estando envolvido com movimentos socialistas, foi nomeado em 1943 diretor literário do periódico socialista “Tribune” e lá escreveu artigos e ensaios.

Para Eric (George Orwell), o nazismo era uma forma de capitalismo que empresta do socialismo certas características com a finalidade de ter eficiência na guerra. Em 1946, sobre a União Soviética ele disse: “o regime russo ou se democratiza ou morrerá". Sobre o método de não violência de Gandhi, o autor disse que possuía limitações e só funcionaria em países com "uma imprensa livre e o direito de reunião" que possibilitassem "não apenas apelar à opinião pública externa, mas atrair uma massa de pessoas para o movimento, ou mesmo para tornar suas intenções conhecidas pelo adversário". Também escreveu para um jornal em outubro de 1945 comentando sobre a Guerra Fria, onde destacava o aspecto da ameaça de uma guerra nuclear. Em 1946 escreveu novamente sobre a Guerra Fria para outro jornal.

O biógrafo Jeff Meyers, que escreveu sobre Orwell, disse que uma brasileira, a gaúcha Mabel Lilian Sinclair Fierz, que era filha de um casal inglês que se mudara para a Inglaterra aos 17 anos, teve importância na vida do escritor de 1984. Ela convenceu o editor Leonard Moore a publicar o primeiro livro de Orwell e teria sido amante dele

Eric Blair assumiu o pseudônimo de George Orwell desde o lançamento do seu primeiro livro, Na Pior em Paris e Londres, em 1933. O sobrenome Orwell era devido ao rio Orwell, que tem sua foz no sudeste. Em relação ao seu posicionamento político ele disse certa vez: “Tornei-me pró-socialista mais por desgosto com a maneira com os setores mais pobres dos trabalhadores industriais eram oprimidos e negligenciados do que devido a qualquer admiração teórica por uma sociedade planificada”. Ele era contra o autoritarismo e defendia um socialismo democrático.

Foi casado com Eileen O’Shaughnessy de 1935 a 1945, quando ela faleceu e depois com Sonia Brwnell, de 1949 até a morte dele em 1950. Ele faleceu em 21 de janeiro de 1950, em Londres, devido à tuberculose. No seu túmulo na Igreja Anglicana All Saints' Churchyard há a identificação de Eric Arthur Blair e nenhuma menção ao pseudônimo George Orwell.

O primeiro biógrafo de Orwell, Sir Bernard Crick, criou a Orwell Foundation, que se dedica a destacar grandes trabalhos jornalísticos e jovens talentos da escrita política.

A obra A Revolução dos Bichos (1945) deu prestígio literário a Orwell. Era uma fábula satírica inspirada no que o autor considerava um desvirtuamento de ideais da revolução soviética. E o livro 1984, publicado em 1949, era uma crítica a um Estado controlador absoluto da sociedade, onde os indivíduos tinham perdido sua liberdade. Nessa sociedade todos eram vigiados o tempo todo por meio de câmeras e a verdade era constantemente manipulada. Críticos atuais dizem que os controles cada vez maiores estabelecidos por governos em diversos países sobre a Internet, a forma como grandes corporações utilizam as mídias sociais e o considerável uso de fakes news nas sociedades são exemplos atuais dos tipos de controle que Orwell denunciava quando mencionava a vigilância do Estado e o uso crescente de mentiras para exercer um domínio ou manipulação.

 

Obras:

1-    RomancesBurmese Days (Título no Brasil: Dias na Birmânia); A Clergyman’s Daughter (Título no Brasil: A Filha do Reverendo); Keep the Aspidistra Flyng (Título no Brasil: Mantenha o Sistema); Coming Up for Air (Título no Brasil: Um pouco de Ar, Por favor!); Animal Farm (Título no Brasil: A Revolução dos Bichos); Nineteen Eighty-Four (Título no Brasil: 1984).

 

2-    Documentários NarrativosDown and Out in Paris and London (Título no Brasil: Na Pior em Paris e Londres); The Road to Wigan Pier (Título no Brasil: A Caminho de Wigan); Homage to Catalonia (Título no Brasil: Lutando na Catalunha)

 

3-    Poemas: “Romance”; "A Little Poem"; "Awake! Young Men of England"; "Kitchener"; "Our Minds are Married, But we are Too Young"; "The Pagan"

 

Além destas obras acima, George Orwell publicou diversos ensaios, artigos e outros escritos como: The Spike, A Hanging, Shooting an Elephant, Bookshop Memories etc.


Frases de Orwell:

 

"Pensamento duplo indica a capacidade de ter na mente, ao mesmo tempo, duas opiniões contraditórias e aceitar ambas."

 

"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."

 

"Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade."

 

"Se o pensamento corrompe a linguagem, a linguagem também pode corromper o pensamento."

 

“A covardia intelectual é o pior inimigo que um escritor ou jornalista tem de encarar.”

 

 “O primeiro passo em direção à sanidade é romper o ciclo da violência.”

 

  “Quanto mais a sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia

   aqueles que a revelam” . 

 

   “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o

     presente, controla o passado”.     

    

   “A maneira mais eficaz para destruir as pessoas é negar e destruir a

    sua própria compreensão de sua história”

 

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História



Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+george+orwell&sxsrf=ALeKk015fWmeX-x45_J1Xwy-91fSDq0kjA:1611535427458&tbm=isch&source

 


sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Colonização da Lua e de Marte

 




 


 Após a Segunda Guerra Mundial e com o início da Guerra Fria iniciou-se uma disputa entre as duas maiores potências militares vencedoras da guerra: a União Soviética (URSS) e os Estados Unidos (EUA). Esta disputa, a Guerra Fria, deu-se nos campos ideológico, político, militar e também na chamada “corrida espacial”. Os dois países haviam capturado cientistas alemães que detinham conhecimentos sobre a tecnologia na fabricação de grandes foguetes e também exemplares desses foguetes foram apreendidos. Nos anos 50 viu-se assim a União Soviética sair na frente com o envio para o espaço de seu primeiro satélite. Os Estados Unidos seguiram seus passos. Também a URSS saiu na frente mais uma vez ao colocar o primeiro homem em órbita e os EUA vieram a seguir. Mas, em 1969, os Estados Unidos foram os primeiros a conseguirem mandar uma nave tripulada para a Lua e lá dois astronautas pisaram em solo lunar. Outras viagens nesse sentido foram feitas pela mesma nação. Até hoje nenhum outro país conseguiu realizar tal façanha. É de destacar que o presidente norte-americano Kenedy no começo dos anos 60 já tinha dito que os Estados Unidos se empenhariam em colocar o homem na Lua e muitos recursos foram utilizados por anos até se conseguir fazer isso.

Atualmente o discurso entre proeminentes cientistas, autoridades e capitalistas que estão atuando na área espacial é sobre o envio de uma espaçonave com seres humanos para Marte (de todos os planetas do sistema solar o mais viável para o estabelecimento de uma colônia), com a possibilidade de estabelecer bases ou colônias neste planeta. Na verdade, cientistas em décadas passadas, como o alemão Von Braun, já imaginavam uma viagem para Marte. E também há a intenção de se construir uma base na Lua. O então presidente Obama pouco antes de terminar seu mandato tinha anunciado a intenção dos Estados Unidos em relação a Marte e a Agência Espacial Americana (NASA) deu o seguinte informe em 2015: “São previstos voos preparatórios ao redor da Lua até 2020, antes de finalmente serem realizadas missões a Marte em 2030.”.

 

Para se alcançar os objetivos de colonizar a Lua e Marte, pesquisas estão sendo feitas em relação a combustível, foguetes potentes, proteção contra radiação, condições de suporte à vida e para a saúde física e mental de astronautas durante a longa viagem para Marte e a permanência de seres humanos por meses tanto em Marte como na Lua etc. Há várias nações envolvidas em projetos relacionados à Lua e a Marte, como também estão envolvidas empresas de bilionários interessados na colonização do planeta vermelho e na exploração de recursos econômicos fora da Terra.

O já falecido cientista inglês Stephen Hawkins destacava que o planeta Terra está com seus dias contados devido a certos tipos de ações dos seres humanos, especialmente a destruição do meio ambiente, influenciando em fatores vitais como o clima; citou a exploração de recursos que poderão se extinguir. Também ele apontou que há a possibilidade da Terra poder ser atingida um dia por um asteroide que cause uma gigantesca catástrofe. Assim, segundo o renomado cientista, seria preciso começar a colonização de outros planetas como uma necessária alternativa. Ele afirmava ser preciso enviar pessoas para marte até 2025 e também criar uma colônia lunar nos próximos 30 anos. Disse ele: “Aonde quer que formos, precisaremos criar uma civilização; precisaremos levar meios práticos de estabelecer um novo ecossistema, a vontade de sobreviver em um ambiente sobre o qual sabemos muito pouco, e precisaremos pensar em como transportar milhares de pessoas, animais, plantas, fungos e bactérias”. Quanto à instalação de uma colônia em Marte, esta deveria ser estabelecida até 2067. Ele não descartava a exploração além do nosso sistema solar, indo até o sistema Alpha Centauri. Existe, conforme dizem alguns cientistas, um planeta por lá que pode ser habitável, o Próxima B.

Embora tantos esforços estejam sendo empregados, a missão não é fácil. Para uma missão tripulada chegar em Marte há a necessidade de se empregar um volume imenso de verbas. A duração da viagem seria pelo menos de 6 meses para ir e seis meses para voltar e mais os meses que se ficaria em Marte (há   especialistas que afirmam que o tempo de ida e volta é maior). Teria de se achar meios seguros de se obter água em quantidade suficiente no planeta. A necessidade de adequação física e psicológica dos tripulantes em uma viagem tão longa (em linha reta são cerca de 80 milhões de quilômetros, mas para se chegar ao planeta é preciso viajar considerando uma diagonal curvada, com mais milhões de quilômetros) pelo espaço e a questão do considerável desgaste corporal dos astronautas também são fatores a serem resolvidos.

Um enorme desafio é a proteção dos astronautas diante da radiação solar e cósmica que pode afetar mortalmente a eles durante a viagem(até mesmo na Lua, a permanência por muitos dias na superfície lunar pode levar à morte seres humanos devido à radiação). Na Terra o nosso planeta possui condições especiais que nos protegem desta radiação. Em Marte as condições são menores e está se pesquisando por meio de sondas sobre a quantidade de radiação que chega até o planeta para se ter certeza se é nociva ao ser humano. Outras situações seriam: como construir habitações e se produzir alimentos em Marte e como conseguir combustível suficiente para a longa viagem de ida e volta? A professora do Instituto Nacional Aeroespacial dos Estados Unidos, Rebecca Jaramillo fez o seguinte relato: "Quanto mais longo o trajeto, aumenta a necessidade de ampliar a quantidade de provisões para a viagem e, em consequência, aumenta também o tamanho do foguete para poder abrigar tudo”. Como eu disse anteriormente, estão sendo feitas pesquisas para se conseguir achar formas de se superar as dificuldades mencionadas, inclusive na busca por um combustível mais eficaz que possibilite a diminuição do tempo do trajeto para Marte, considerando uma diminuição de meses na duração da viagem. 

Ainda que existam muitos problemas a serem resolvidos para que o homem pise em Marte, a NASA diz que é questão de tempo. Um administrador desta agência disse: "O destino do homem é ir a outro planeta”. Segundo a cientista Rebecca a data mais possível para que o ser humano chegue em Marte é o ano de 2030. O rico empresário espacial Dennis Tito disse que pretende mandar um casal à Marte nos anos trinta deste século. Inclusive milhares de pessoas já se apresentaram na empresa holandesa Mars One para irem para Marte. O astronauta Buzz Aldrin, o segundo a pisar em solo lunar, escreveu em seu livro "Missão a Marte": "Estamos em um ponto de inflexão. Podemos escolher fazer o que é fácil, o que é seguro. Ou podemos optar por fazer a diferença. A escolha para mim está absolutamente clara. Não há outra opção que comprometer-se com Marte". E ainda disse: "Marte está aí para ser explorado".

 Vê-se então que há muitos interesses na questão espacial da atualidade: Cientistas querem fazer novas descobertas. Governantes podem desejar  mostrar a força de seus países. Empresários querem abrir novos ramos de negócios com turismo, colônias que se constituirão em novos mercados e até mesmo a exploração de minérios em planetas e asteroides. Turistas ricos pretendem conhecer novos territórios. Variados tipos de pessoas podem querer novas oportunidades em outro planeta.

Já se viu na História que os seres humanos alcançaram objetivos que antes pareciam impossíveis. Navegadores cruzaram oceanos que antes eram tidos como lares de monstros e chegaram em novas terras. Foguetes conseguiram chegar á Lua permitindo que homens lá descessem. Então pode ser possível que aconteça o estabelecimento de colônias na Lua e em Marte. Se isto acontecer, o que poderá haver? Uma colaboração mais humana entre as nações ou mais uma disputa entre elas? Uma colonização pacífica e humanista ou será mais uma forma de poderosos capitalistas lucrarem com a exploração destas colônias, dos recursos encontrados em novos lugares e do turismo espacial? O filme Avatar mostrou uma visão interessante. Nesse filme uma expedição militar da Terra estava interessada em obter recursos do planeta descoberto à custa da submissão de povos nativos. Ou seja: Imperialismo! Sobre a questão da colonização de Marte nos diz Leandro Siqueira, doutor em ciências sociais pela PUC-SP:    

“Não mais impulsionada pela utopia da imortalidade ou pela exibição de supremacia estatal, a colonização sideral funda-se hoje sobre possibilidades de negócios que poderia gerar. Todos os novos projetos que ligam a Terra a Marte, passando pela Lua, mais do que o povoamento humano, programam a expansão do capitalismo para o sideral. O acontecimento sideral trouxe consigo a possibilidade de o humano habitar outros lugares, povoar novos planetas, abrindo-o para um dos mais radicais exercícios de lançar-se ao novo. Enquanto incomensurável instante de liberdade, este momento não pode ser desperdiçado e, para tanto, torna-se urgente distinguir o que embarca para fora e o que se deixa.

Experimentar o sideral, logo de início, convida a nos desvencilhar do próprio modelo de colonização que conhecemos, aquele que explorou de forma depredatória os recursos planetários e subjugou povos aos interesses de poucos Estados. Fujamos das catástrofes antropogênicas, das razões de Estado ou das atualizações de “negócios da China” que “autorizam” a colonização. Que além da criação de novas tecnologias, também haja espaço para inventar novos modos de povoar.”

É de se destacar entre os investidores privados nestes projetos para viagens para Marte o bilionário Elon Musk. Ele deseja criar uma base neste planeta na década de 2050. Mas ele quer que sua colônia não esteja sob o controle de qualquer que seja o governo terrestre. Musk pretende estabelecer suas próprias leis nesta colônia. Em relação a este posicionamento, especialistas dizem que tal independência não é possível.

Enquanto se almeja a instalação de colônias fora da Terra, vemos nosso planeta muito devastado, o que combina com as preocupações de Hawking. de que uma destruição contínua está pondo em risco a vida humana. Disse ele: "Estamos ficando sem espaço aqui e os únicos lugares disponíveis para irmos estão em outros planetas, outros universos. É hora de explorar outros sistemas solares. Tentar se espalhar por aí talvez seja a única estratégia que pode nos salvar de nós mesmos. Estou convencido de que os seres humanos precisam sair da Terra". E também: . "Deixar a Terra exige uma movimentação global, todos devem estar juntos nisso. Precisamos fazer renascer a empolgação dos primórdios das viagens espaciais, na década de 1960" (...) “"Se a humanidade quiser continuar (a viver) por mais milhões de anos, nosso futuro residirá na ousadia de ir onde ninguém mais ousou ir. Espero que seja para o melhor. Nós não temos outra opção.". Ele se mostrava otimista com a possibilidade de colonizar outros planetas: “Sempre que damos um grande salto, como nos pousos lunares, unimos pessoas e nações, trazemos novas descobertas e novas tecnologias”

 

Quanto à colaboração entre países nesta nova corrida espacial, em 2016 a Agência Espacial Europeia (ESA), em 2016 anunciou que deseja instalar uma base lunar (uma “vila lunar”) a ser habitada por vários tipos de pessoas (artistas, cientistas etc) e para ser utilizada por diferentes organizações públicas e privadas, com objetivos de turismo, pesquisa ou prospecção geológica de minerais que existem em pouca quantidade na Terra. A ESA está fazendo um trabalho em colaboração com a agência espacial chinesa, ao contrário da NASA que, ao menos por enquanto, não quis esta colaboração. A primeira grande preocupação para se instalar uma base lunar na Lua é a sobrevivência. Na Lua há temperaturas entre 127ºC e -173ºC, há o perigo da radiação cósmica, a baixa gravidade e um dia lunar equivale a 29 dias terrestres, com duas semanas de luz seguidas por duas semanas no escuro, o que pode atrapalhar no uso da energia solar. E tanto na Lua como em Marte, sondas estão procurando lugares com gelo que possa ser convertido em água para o consumo de moradores de bases ou colônias. 

 

Bem diante de tudo que foi dito, se houver realmente no futuro a instalação de colônias na Lua e em Marte, que estas colônias possam ter uma forma de convivência pacífica e que  não existam interesses econômicos e políticos que as tornem tão semelhantes à realidade dura que vemos em certos lugares da Terra. Que sejam colônias onde haja desenvolvimento do conhecimento e as pessoas possam conviver bem, também considerando que os interesses de grandes empresas não tornem os colonos apenas objetos de seus interesses corporativos. E que, mesmo com todos estes esforços para que um dia se estabeleça colônias em lugares fora da Terra, as nações e os povos diversos possam conviver melhor e tratar bem o nosso planeta, diminuindo a poluição, cuidando mais do meio ambiente, evitando tanta destruição da natureza. Que se aumente a cooperação e se fortaleçam os laços de solidariedade, dando mais condições de se viver bem a todos os habitantes do mundo. Porque a se continuar o ritmo de desrespeito ao meio ambiente em grande escala em muitos lugares, vão se acelerar as dificuldades que existem na Terra, possibilitando a expansão de fome, doenças e sofrimento, assim como a escassez de recursos naturais, dificuldades estas em grau bem mais elevado para os mais pobres, porém que acabam atingindo de alguma forma toda a Humanidade. E é preciso considerar que entre bilhões de habitantes terrestres, certamente no máximo alguns milhares conseguirão se estabelecer em novas colônias no século XXI. Quem estará melhor se houver mesmo as migrações para as colônias na Lua e em Marte? Os que enfrentarão o desconhecido, tendo de adaptar a situações diversas ou os que ficarem, ainda que em um planeta que pode estar em condições difíceis para os seres humanos?

 

Sugestão de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=V6ljjTOuMCE

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00F_me5MjGpLv_hBcSd4pvFURtgMg:1611361970469&source=univ&tbm=isch&q=imagem+do+planeta+marte