O filósofo liberal e iluminista Thomas Paine nasceu
em 9 de fevereiro de 1737 em Thetford, na Inglaterra. Era cidadão
britânico e tornou-se também cidadão do reino da França, depois da Primeira
República da França e cidadão dos Estados Unidos. Ele também foi panfletário,
revolucionário e inventor, tendo participado ativamente da fundação dos Estados
Unidos da América. Segundo estudiosos sobre Paine, ele foi influenciado por
intelectuais como David Hume, Spinoza,Voltaire e outros pensadores.
Era filho de pais pobres. O pai era quaker e a mãe
era anglicana. Estudou em escolas locais até os 13 anos. A partir daí trabalhou
na confecção de barbantes, participou da tripulação de um navio corsário
durante a Guerra dos Sete Anos e trabalhou na fabricação de
espartilhos. Casou-se em 1759 e no ano seguinte fica viúvo. Em 1763 passou a
ser fiscal de impostos, mas foi demitido pouco tempo depois. Foi professor e
tentou ser pastor anglicano . Casou-se então, pela segunda
vez, com uma protestante Quaker, mas o casamento não deu certo. Chegou
a ser fiscal de novo e organizou manifestações em Londres por salários melhores
para os fiscais. Conheceu Benjamim Franklin e foi para a América em
1774 em busca de oportunidades. Na Filadélfia dedicou-se a
escrever, vindo a ser editor. Sua primeira publicação foi um artigo contra a
escravidão e o comércio de escravos em 1775. Possivelmente Influenciou Thomas
Jefferson na escrita de uma nota no esboço da declaração de independência,
porém essa nota não permaneceu.
Como incentivador da luta das colônias pela
liberdade publicou as obras Common Sense (Senso Comum), em
defesa da independência das 13 colônias, e The American Crisis (Crises
Americanas) que eram panfletos revolucionários). Quando foi publicado o
panfleto “A Crise Americana, Número 1”, de 19 de dezembro de 1776, o exército
americano estava numa situação muito difícil. O general Washington ficou
emocionado ao ler e então ordenou que fosse lido para as tropas. Paine era um
severo crítico à dominação britânica e a sua obra Common Sense se tornou um grande sucesso
editorial. Ele não se contentou em ser um incentivador por meio das
palavras e então foi lutar na Guerra de Independência.
Paine dizia que os direitos pertencem ao Homem pelo
fato de sua existência e todos são iguais em direitos, sendo contrário às
velhas formas de governo. Preocupava-se muito com o cidadão comum, destacando o
povo como fonte única e exclusiva de inspiração do poder. Ele está presente na
defesa das liberdades individuais e de comércio junto com o voto universal.
Paine dizia que deve-se construir um Estado com decisões políticas baseadas no
sufrágio universal e o povo vai sendo inserido em um processo que lhe garanta
cidadania e com igualdade de direitos. Esse Estado tem que ser laico,
independente da religião.
Apesar de ficar famoso na sua
luta pela independência, ele não tinha muitos bens. Foi lhe concedido um valor
em dinheiro e uma propriedade. Ele procurou outro meio de vida e passou a se
dedicar a obras de engenharia, construindo pontes de ferro, tendo ido para a
Inglaterra onde uma ponte sua foi instalada. Em 1789 foi para Paris
pretendendo patentear uma de suas invenções e permaneceu na França.
Lá ele escreveu Rights of Man (Direitos dos Homens), obra
baseada nos ideais do Iluminismo, defendendo que toda vez que um governo não
protege e garante os direitos naturais de seu povo, pode haver uma revolução
política popular. Foi um influenciador na Revolução Francesa, tendo
sido eleito para a Convenção Nacional em 1792, possuindo uma posição moderada,
mais ao lado dos Girondinos, colocando-se contra a execução do rei francês,
pois ele tinha ajudado a luta das 13 colônias contra a Inglaterra. Participou
do grupo que redigiu a Constituição Republicana Francesa. Os
Jacobinos o consideraram um inimigo e o expulsaram da Convenção, determinando
sua prisão de 1793 a 1794. Ainda na França escreveu The Age of Reason (A
Era da Razão), em 1794, no qual dizia acreditar em Deus, mas
criticava as Igrejas cristãs e defendia a razão, assim como a liberdade de
pensamento. Outra obra do filósofo na França foi Agrarian Justice (A
Justiça Agrária), em 1797, lançando a discussão sobre as origens da
propriedade e introduzindo o conceito de renda mínima. Ele propunha uma forma
de política social. Sua teoria ficou conhecida como “dividendo universal”.
Ele defendia um novo sistema tributário em relação aos proprietários de terras,
para procurar compensar desigualdades.
Ficou na França até o início do governo de Napoleão
a quem criticava, chamando-o de "o mais completo
charlatão que já existiu”. Retornou aos Estados Unidos em 1802, a convite do
presidente Thomas Jefferson. Acabou se indispondo com George
Washington e quando soube que iriam construir uma estátua dele disse:
"Tire da mina a pedra mais fria e mais dura, Ela não precisará ser
esculpida: é Washington. Mas, se cinzelar, que o golpe seja rude, e em seu
coração, grave:-Ingratidão."
Na obra A Era da Razão Paine
escreveu no primeiro capítulo: “Acredito em Deus, e nada mais: espero
ser feliz para além desta vida. Acredito que os homens são iguais, e que as
obrigações religiosas consistem em fazer justiça, amar a misericórdia e
esforçar-se por fazer com que nossos semelhante sejam felizes’’. Recebeu
muitas críticas de pessoas conservadoras na época pela publicação dessa obra e
por determinadas ideias que tinha sobre política, tendo sido atacado na cidade
onde morava nos Estados Unidos e acusado de imoralidade, ficando isolado e
empobrecido.
Em 8 de junho de 1809 Thomas Paine faleceu em
Greenwich Village, estado de Nova Iorque, com 72 anos. Poucas pessoas foram ao
funeral.
Frases de Thomas Paine
“Para ser feliz um homem tem que ser fiel a
si mesmo. A infidelidade não consiste em acreditar ou em não acreditar, consiste
em professar aquilo em que não se acredita.”
“A forma de escrever insinuante e ameaçadora que
era usada antigamente em assuntos deste tipo [religião] produziu ceticismo, e
não convicção. É necessário ser ousado. Algumas pessoas podem ser persuadidas à
compreensão, e outras devem ser arremessadas em direção a ela. Dizer algo
ousado que as faça titubear, e, então, elas começarão a pensar.”
“O erro que começou há mil anos é tão errado
como o que começa hoje, e o acerto que surge hoje é tão certo como se tivesse a
sanção de séculos.”
“As leis de difícil execução em geral não podem ser
boas.”
“O mundo é o meu país, toda a humanidade são meus irmãos, e fazer o bem é a minha religião.”
“A sociedade, em qualquer forma, é uma benção, mas
o governo, mesmo em sua melhor forma, não é nada mais que um mal necessário; na
sua pior forma, é intolerável.”
“É impossível calcular o dano moral, se é que posso
chamá-lo assim, que a mentira mental tem causado na sociedade.”
“É muito mais fácil conservar o caráter do que
recobrá-lo.”
“Eu admiro aqueles que conseguem sorrir com os
problemas, reunir forças na angústia, e ganhar coragem na reflexão. É coisa de
pequenas mentes encolher-se, mas aquele cujo coração é firme, e cuja
consciência aprova sua conduta, perseguirá seus princípios até a morte.”
“Muitas vezes, o sublime e o ridículo encontram-se tão estreitamente relacionados, que é difícil classificá-los separadamente. Um passo além do sublime e cai-se no ridículo; um passo além do ridículo e chega-se ao sublime.”
“O facto de continuarmos a pensar que uma determinada coisa não é errada dá-nos uma aparência superficial de estarmos certos.”
"Discutir com um homem que renunciou à sua razão é como medicar um cadáver."
"Não fazer nada é o trabalho mais cansativo do
mundo, pois você não pode se demitir e descansar!"
“Embora a avareza impeça um homem de se
tornar necessariamente pobre, geralmente torna-o demasiado com medo para
enriquecer.”
" A natureza irresistível da verdade é tal que
tudo que ela pede, e tudo o que é, é a liberdade de aparecer".
É a
direção e não a intensidade que deve ser levada em consideração”
“Estes são os tempos que provam as almas dos
homens. O soldado do verão e o patriota radiante irão, nesta crise, se esquivar
do serviço ao país; mas aquele que o mantém agora merece o amor e a gratidão do
homem e da mulher. Tirania, como o inferno, não é facilmente conquistado; ainda
assim, temos este consolo conosco - que quanto mais difícil o conflito, mais
glorioso o triunfo. O que obtemos barato demais, estimamos muito levianamente:
é o preço que dá valor a tudo. O céu sabe como colocar um preço adequado sobre
seus bens; e seria realmente estranho se um artigo tão celestial como a
liberdade não fosse bem avaliado. A Grã-Bretanha, com um exército para impor
sua tirania, declarou que tem o direito não apenas de tributar, mas "de
nos obrigar em todos os casos", e se ser amarrado dessa maneira não é
escravidão, então não existe tal coisa como escravidão na terra. Até a
expressão é ímpia, pois um poder tão ilimitado só pode pertencer a Deus.”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História