sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Colonização da Lua e de Marte

 




 


 Após a Segunda Guerra Mundial e com o início da Guerra Fria iniciou-se uma disputa entre as duas maiores potências militares vencedoras da guerra: a União Soviética (URSS) e os Estados Unidos (EUA). Esta disputa, a Guerra Fria, deu-se nos campos ideológico, político, militar e também na chamada “corrida espacial”. Os dois países haviam capturado cientistas alemães que detinham conhecimentos sobre a tecnologia na fabricação de grandes foguetes e também exemplares desses foguetes foram apreendidos. Nos anos 50 viu-se assim a União Soviética sair na frente com o envio para o espaço de seu primeiro satélite. Os Estados Unidos seguiram seus passos. Também a URSS saiu na frente mais uma vez ao colocar o primeiro homem em órbita e os EUA vieram a seguir. Mas, em 1969, os Estados Unidos foram os primeiros a conseguirem mandar uma nave tripulada para a Lua e lá dois astronautas pisaram em solo lunar. Outras viagens nesse sentido foram feitas pela mesma nação. Até hoje nenhum outro país conseguiu realizar tal façanha. É de destacar que o presidente norte-americano Kenedy no começo dos anos 60 já tinha dito que os Estados Unidos se empenhariam em colocar o homem na Lua e muitos recursos foram utilizados por anos até se conseguir fazer isso.

Atualmente o discurso entre proeminentes cientistas, autoridades e capitalistas que estão atuando na área espacial é sobre o envio de uma espaçonave com seres humanos para Marte (de todos os planetas do sistema solar o mais viável para o estabelecimento de uma colônia), com a possibilidade de estabelecer bases ou colônias neste planeta. Na verdade, cientistas em décadas passadas, como o alemão Von Braun, já imaginavam uma viagem para Marte. E também há a intenção de se construir uma base na Lua. O então presidente Obama pouco antes de terminar seu mandato tinha anunciado a intenção dos Estados Unidos em relação a Marte e a Agência Espacial Americana (NASA) deu o seguinte informe em 2015: “São previstos voos preparatórios ao redor da Lua até 2020, antes de finalmente serem realizadas missões a Marte em 2030.”.

 

Para se alcançar os objetivos de colonizar a Lua e Marte, pesquisas estão sendo feitas em relação a combustível, foguetes potentes, proteção contra radiação, condições de suporte à vida e para a saúde física e mental de astronautas durante a longa viagem para Marte e a permanência de seres humanos por meses tanto em Marte como na Lua etc. Há várias nações envolvidas em projetos relacionados à Lua e a Marte, como também estão envolvidas empresas de bilionários interessados na colonização do planeta vermelho e na exploração de recursos econômicos fora da Terra.

O já falecido cientista inglês Stephen Hawkins destacava que o planeta Terra está com seus dias contados devido a certos tipos de ações dos seres humanos, especialmente a destruição do meio ambiente, influenciando em fatores vitais como o clima; citou a exploração de recursos que poderão se extinguir. Também ele apontou que há a possibilidade da Terra poder ser atingida um dia por um asteroide que cause uma gigantesca catástrofe. Assim, segundo o renomado cientista, seria preciso começar a colonização de outros planetas como uma necessária alternativa. Ele afirmava ser preciso enviar pessoas para marte até 2025 e também criar uma colônia lunar nos próximos 30 anos. Disse ele: “Aonde quer que formos, precisaremos criar uma civilização; precisaremos levar meios práticos de estabelecer um novo ecossistema, a vontade de sobreviver em um ambiente sobre o qual sabemos muito pouco, e precisaremos pensar em como transportar milhares de pessoas, animais, plantas, fungos e bactérias”. Quanto à instalação de uma colônia em Marte, esta deveria ser estabelecida até 2067. Ele não descartava a exploração além do nosso sistema solar, indo até o sistema Alpha Centauri. Existe, conforme dizem alguns cientistas, um planeta por lá que pode ser habitável, o Próxima B.

Embora tantos esforços estejam sendo empregados, a missão não é fácil. Para uma missão tripulada chegar em Marte há a necessidade de se empregar um volume imenso de verbas. A duração da viagem seria pelo menos de 6 meses para ir e seis meses para voltar e mais os meses que se ficaria em Marte (há   especialistas que afirmam que o tempo de ida e volta é maior). Teria de se achar meios seguros de se obter água em quantidade suficiente no planeta. A necessidade de adequação física e psicológica dos tripulantes em uma viagem tão longa (em linha reta são cerca de 80 milhões de quilômetros, mas para se chegar ao planeta é preciso viajar considerando uma diagonal curvada, com mais milhões de quilômetros) pelo espaço e a questão do considerável desgaste corporal dos astronautas também são fatores a serem resolvidos.

Um enorme desafio é a proteção dos astronautas diante da radiação solar e cósmica que pode afetar mortalmente a eles durante a viagem(até mesmo na Lua, a permanência por muitos dias na superfície lunar pode levar à morte seres humanos devido à radiação). Na Terra o nosso planeta possui condições especiais que nos protegem desta radiação. Em Marte as condições são menores e está se pesquisando por meio de sondas sobre a quantidade de radiação que chega até o planeta para se ter certeza se é nociva ao ser humano. Outras situações seriam: como construir habitações e se produzir alimentos em Marte e como conseguir combustível suficiente para a longa viagem de ida e volta? A professora do Instituto Nacional Aeroespacial dos Estados Unidos, Rebecca Jaramillo fez o seguinte relato: "Quanto mais longo o trajeto, aumenta a necessidade de ampliar a quantidade de provisões para a viagem e, em consequência, aumenta também o tamanho do foguete para poder abrigar tudo”. Como eu disse anteriormente, estão sendo feitas pesquisas para se conseguir achar formas de se superar as dificuldades mencionadas, inclusive na busca por um combustível mais eficaz que possibilite a diminuição do tempo do trajeto para Marte, considerando uma diminuição de meses na duração da viagem. 

Ainda que existam muitos problemas a serem resolvidos para que o homem pise em Marte, a NASA diz que é questão de tempo. Um administrador desta agência disse: "O destino do homem é ir a outro planeta”. Segundo a cientista Rebecca a data mais possível para que o ser humano chegue em Marte é o ano de 2030. O rico empresário espacial Dennis Tito disse que pretende mandar um casal à Marte nos anos trinta deste século. Inclusive milhares de pessoas já se apresentaram na empresa holandesa Mars One para irem para Marte. O astronauta Buzz Aldrin, o segundo a pisar em solo lunar, escreveu em seu livro "Missão a Marte": "Estamos em um ponto de inflexão. Podemos escolher fazer o que é fácil, o que é seguro. Ou podemos optar por fazer a diferença. A escolha para mim está absolutamente clara. Não há outra opção que comprometer-se com Marte". E ainda disse: "Marte está aí para ser explorado".

 Vê-se então que há muitos interesses na questão espacial da atualidade: Cientistas querem fazer novas descobertas. Governantes podem desejar  mostrar a força de seus países. Empresários querem abrir novos ramos de negócios com turismo, colônias que se constituirão em novos mercados e até mesmo a exploração de minérios em planetas e asteroides. Turistas ricos pretendem conhecer novos territórios. Variados tipos de pessoas podem querer novas oportunidades em outro planeta.

Já se viu na História que os seres humanos alcançaram objetivos que antes pareciam impossíveis. Navegadores cruzaram oceanos que antes eram tidos como lares de monstros e chegaram em novas terras. Foguetes conseguiram chegar á Lua permitindo que homens lá descessem. Então pode ser possível que aconteça o estabelecimento de colônias na Lua e em Marte. Se isto acontecer, o que poderá haver? Uma colaboração mais humana entre as nações ou mais uma disputa entre elas? Uma colonização pacífica e humanista ou será mais uma forma de poderosos capitalistas lucrarem com a exploração destas colônias, dos recursos encontrados em novos lugares e do turismo espacial? O filme Avatar mostrou uma visão interessante. Nesse filme uma expedição militar da Terra estava interessada em obter recursos do planeta descoberto à custa da submissão de povos nativos. Ou seja: Imperialismo! Sobre a questão da colonização de Marte nos diz Leandro Siqueira, doutor em ciências sociais pela PUC-SP:    

“Não mais impulsionada pela utopia da imortalidade ou pela exibição de supremacia estatal, a colonização sideral funda-se hoje sobre possibilidades de negócios que poderia gerar. Todos os novos projetos que ligam a Terra a Marte, passando pela Lua, mais do que o povoamento humano, programam a expansão do capitalismo para o sideral. O acontecimento sideral trouxe consigo a possibilidade de o humano habitar outros lugares, povoar novos planetas, abrindo-o para um dos mais radicais exercícios de lançar-se ao novo. Enquanto incomensurável instante de liberdade, este momento não pode ser desperdiçado e, para tanto, torna-se urgente distinguir o que embarca para fora e o que se deixa.

Experimentar o sideral, logo de início, convida a nos desvencilhar do próprio modelo de colonização que conhecemos, aquele que explorou de forma depredatória os recursos planetários e subjugou povos aos interesses de poucos Estados. Fujamos das catástrofes antropogênicas, das razões de Estado ou das atualizações de “negócios da China” que “autorizam” a colonização. Que além da criação de novas tecnologias, também haja espaço para inventar novos modos de povoar.”

É de se destacar entre os investidores privados nestes projetos para viagens para Marte o bilionário Elon Musk. Ele deseja criar uma base neste planeta na década de 2050. Mas ele quer que sua colônia não esteja sob o controle de qualquer que seja o governo terrestre. Musk pretende estabelecer suas próprias leis nesta colônia. Em relação a este posicionamento, especialistas dizem que tal independência não é possível.

Enquanto se almeja a instalação de colônias fora da Terra, vemos nosso planeta muito devastado, o que combina com as preocupações de Hawking. de que uma destruição contínua está pondo em risco a vida humana. Disse ele: "Estamos ficando sem espaço aqui e os únicos lugares disponíveis para irmos estão em outros planetas, outros universos. É hora de explorar outros sistemas solares. Tentar se espalhar por aí talvez seja a única estratégia que pode nos salvar de nós mesmos. Estou convencido de que os seres humanos precisam sair da Terra". E também: . "Deixar a Terra exige uma movimentação global, todos devem estar juntos nisso. Precisamos fazer renascer a empolgação dos primórdios das viagens espaciais, na década de 1960" (...) “"Se a humanidade quiser continuar (a viver) por mais milhões de anos, nosso futuro residirá na ousadia de ir onde ninguém mais ousou ir. Espero que seja para o melhor. Nós não temos outra opção.". Ele se mostrava otimista com a possibilidade de colonizar outros planetas: “Sempre que damos um grande salto, como nos pousos lunares, unimos pessoas e nações, trazemos novas descobertas e novas tecnologias”

 

Quanto à colaboração entre países nesta nova corrida espacial, em 2016 a Agência Espacial Europeia (ESA), em 2016 anunciou que deseja instalar uma base lunar (uma “vila lunar”) a ser habitada por vários tipos de pessoas (artistas, cientistas etc) e para ser utilizada por diferentes organizações públicas e privadas, com objetivos de turismo, pesquisa ou prospecção geológica de minerais que existem em pouca quantidade na Terra. A ESA está fazendo um trabalho em colaboração com a agência espacial chinesa, ao contrário da NASA que, ao menos por enquanto, não quis esta colaboração. A primeira grande preocupação para se instalar uma base lunar na Lua é a sobrevivência. Na Lua há temperaturas entre 127ºC e -173ºC, há o perigo da radiação cósmica, a baixa gravidade e um dia lunar equivale a 29 dias terrestres, com duas semanas de luz seguidas por duas semanas no escuro, o que pode atrapalhar no uso da energia solar. E tanto na Lua como em Marte, sondas estão procurando lugares com gelo que possa ser convertido em água para o consumo de moradores de bases ou colônias. 

 

Bem diante de tudo que foi dito, se houver realmente no futuro a instalação de colônias na Lua e em Marte, que estas colônias possam ter uma forma de convivência pacífica e que  não existam interesses econômicos e políticos que as tornem tão semelhantes à realidade dura que vemos em certos lugares da Terra. Que sejam colônias onde haja desenvolvimento do conhecimento e as pessoas possam conviver bem, também considerando que os interesses de grandes empresas não tornem os colonos apenas objetos de seus interesses corporativos. E que, mesmo com todos estes esforços para que um dia se estabeleça colônias em lugares fora da Terra, as nações e os povos diversos possam conviver melhor e tratar bem o nosso planeta, diminuindo a poluição, cuidando mais do meio ambiente, evitando tanta destruição da natureza. Que se aumente a cooperação e se fortaleçam os laços de solidariedade, dando mais condições de se viver bem a todos os habitantes do mundo. Porque a se continuar o ritmo de desrespeito ao meio ambiente em grande escala em muitos lugares, vão se acelerar as dificuldades que existem na Terra, possibilitando a expansão de fome, doenças e sofrimento, assim como a escassez de recursos naturais, dificuldades estas em grau bem mais elevado para os mais pobres, porém que acabam atingindo de alguma forma toda a Humanidade. E é preciso considerar que entre bilhões de habitantes terrestres, certamente no máximo alguns milhares conseguirão se estabelecer em novas colônias no século XXI. Quem estará melhor se houver mesmo as migrações para as colônias na Lua e em Marte? Os que enfrentarão o desconhecido, tendo de adaptar a situações diversas ou os que ficarem, ainda que em um planeta que pode estar em condições difíceis para os seres humanos?

 

Sugestão de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=V6ljjTOuMCE

______________________________________

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00F_me5MjGpLv_hBcSd4pvFURtgMg:1611361970469&source=univ&tbm=isch&q=imagem+do+planeta+marte


Nenhum comentário:

Postar um comentário