Após a Segunda Guerra Mundial e com o início da Guerra Fria iniciou-se uma disputa entre as duas maiores potências militares vencedoras da guerra: a União Soviética (URSS) e os Estados Unidos (EUA). Esta disputa, a Guerra Fria, deu-se nos campos ideológico, político, militar e também na chamada “corrida espacial”. Os dois países haviam capturado cientistas alemães que detinham conhecimentos sobre a tecnologia na fabricação de grandes foguetes e também exemplares desses foguetes foram apreendidos. Nos anos 50 viu-se assim a União Soviética sair na frente com o envio para o espaço de seu primeiro satélite. Os Estados Unidos seguiram seus passos. Também a URSS saiu na frente mais uma vez ao colocar o primeiro homem em órbita e os EUA vieram a seguir. Mas, em 1969, os Estados Unidos foram os primeiros a conseguirem mandar uma nave tripulada para a Lua e lá dois astronautas pisaram em solo lunar. Outras viagens nesse sentido foram feitas pela mesma nação. Até hoje nenhum outro país conseguiu realizar tal façanha. É de destacar que o presidente norte-americano Kenedy no começo dos anos 60 já tinha dito que os Estados Unidos se empenhariam em colocar o homem na Lua e muitos recursos foram utilizados por anos até se conseguir fazer isso.
Atualmente o discurso
entre proeminentes cientistas, autoridades e capitalistas que estão atuando na
área espacial é sobre o envio de uma espaçonave com seres humanos para Marte
(de todos os planetas do sistema solar o mais viável para o estabelecimento de
uma colônia), com a possibilidade de estabelecer bases ou colônias neste
planeta. Na verdade, cientistas em décadas passadas, como o alemão Von Braun,
já imaginavam uma viagem para Marte. E também há a intenção de se construir uma
base na Lua. O então presidente Obama pouco antes de terminar seu mandato tinha
anunciado a intenção dos Estados Unidos em relação a Marte e a Agência Espacial
Americana (NASA) deu o seguinte informe em 2015: “São previstos voos
preparatórios ao redor da Lua até 2020, antes de finalmente serem realizadas
missões a Marte em 2030.”.
Para se alcançar os
objetivos de colonizar a Lua e Marte, pesquisas estão sendo feitas em relação a
combustível, foguetes potentes, proteção contra radiação, condições de suporte
à vida e para a saúde física e mental de astronautas durante a longa viagem
para Marte e a permanência de seres humanos por meses tanto em Marte como na
Lua etc. Há várias nações envolvidas em projetos relacionados à Lua e a Marte,
como também estão envolvidas empresas de bilionários interessados na
colonização do planeta vermelho e na exploração de recursos econômicos fora da
Terra.
O já falecido
cientista inglês Stephen Hawkins destacava que o planeta Terra está com seus
dias contados devido a certos tipos de ações dos seres humanos, especialmente a
destruição do meio ambiente, influenciando em fatores vitais como o clima; citou
a exploração de recursos que poderão se extinguir. Também ele apontou que há a
possibilidade da Terra poder ser atingida um dia por um asteroide que cause uma
gigantesca catástrofe. Assim, segundo o renomado cientista, seria preciso
começar a colonização de outros planetas como uma necessária alternativa. Ele
afirmava ser preciso enviar pessoas para marte até 2025 e também criar uma
colônia lunar nos próximos 30 anos. Disse ele: “Aonde quer que formos,
precisaremos criar uma civilização; precisaremos levar meios práticos de
estabelecer um novo ecossistema, a vontade de sobreviver em um ambiente sobre o
qual sabemos muito pouco, e precisaremos pensar em como transportar milhares de
pessoas, animais, plantas, fungos e bactérias”. Quanto à instalação de uma
colônia em Marte, esta deveria ser estabelecida até 2067. Ele não descartava a
exploração além do nosso sistema solar, indo até o sistema Alpha Centauri.
Existe, conforme dizem alguns cientistas, um planeta por lá que pode ser
habitável, o Próxima B.
Embora tantos
esforços estejam sendo empregados, a missão não é fácil. Para uma missão
tripulada chegar em Marte há a necessidade de se empregar um volume imenso de
verbas. A duração da viagem seria pelo menos de 6 meses para ir e seis meses
para voltar e mais os meses que se ficaria em Marte (há
especialistas que afirmam que o tempo de ida e volta é maior). Teria de se
achar meios seguros de se obter água em quantidade suficiente no planeta. A
necessidade de adequação física e psicológica dos tripulantes em uma viagem tão
longa (em linha reta são cerca de 80 milhões de quilômetros, mas para se
chegar ao planeta é preciso viajar considerando uma diagonal curvada, com mais
milhões de quilômetros) pelo espaço e a questão do considerável desgaste corporal
dos astronautas também são fatores a serem resolvidos.
Um enorme desafio é a
proteção dos astronautas diante da radiação solar e cósmica que pode afetar
mortalmente a eles durante a viagem(até mesmo na Lua, a permanência por muitos
dias na superfície lunar pode levar à morte seres humanos devido à radiação).
Na Terra o nosso planeta possui condições especiais que nos protegem desta
radiação. Em Marte as condições são menores e está se pesquisando por meio de
sondas sobre a quantidade de radiação que chega até o planeta para se ter
certeza se é nociva ao ser humano. Outras situações seriam: como construir
habitações e se produzir alimentos em Marte e como conseguir combustível
suficiente para a longa viagem de ida e volta? A professora do Instituto Nacional Aeroespacial dos Estados
Unidos, Rebecca Jaramillo fez o seguinte relato: "Quanto mais longo o
trajeto, aumenta a necessidade de ampliar a quantidade de provisões para a
viagem e, em consequência, aumenta também o tamanho do foguete para poder
abrigar tudo”. Como eu disse anteriormente, estão sendo feitas
pesquisas para se conseguir achar formas de se superar as dificuldades
mencionadas, inclusive na busca por um combustível mais eficaz que possibilite
a diminuição do tempo do trajeto para Marte, considerando uma diminuição de
meses na duração da viagem.
Ainda que existam muitos problemas a
serem resolvidos para que o homem pise em Marte, a NASA diz que é questão de
tempo. Um administrador desta agência disse: "O destino do homem é ir a outro planeta”. Segundo a cientista
Rebecca a data mais possível para que o ser humano chegue em Marte é o ano de
2030. O rico empresário espacial Dennis Tito disse que pretende mandar um casal
à Marte nos anos trinta deste século. Inclusive milhares de pessoas já se
apresentaram na empresa holandesa Mars One para irem para
Marte. O astronauta Buzz Aldrin, o segundo a pisar em solo lunar, escreveu em
seu livro "Missão a Marte": "Estamos em um ponto de inflexão.
Podemos escolher fazer o que é fácil, o que é seguro. Ou podemos optar por
fazer a diferença. A escolha para mim está absolutamente clara. Não há outra
opção que comprometer-se com Marte". E ainda disse: "Marte está aí
para ser explorado".
Vê-se então que há muitos interesses na questão espacial da
atualidade: Cientistas querem fazer novas descobertas. Governantes podem
desejar mostrar a força de seus países. Empresários querem abrir
novos ramos de negócios com turismo, colônias que se constituirão em novos mercados
e até mesmo a exploração de minérios em planetas e asteroides. Turistas ricos
pretendem conhecer novos territórios. Variados tipos de pessoas podem querer
novas oportunidades em outro planeta.
Já se viu na
História que os seres humanos alcançaram objetivos que antes pareciam
impossíveis. Navegadores cruzaram oceanos que antes eram tidos como lares de
monstros e chegaram em novas terras. Foguetes conseguiram chegar á Lua
permitindo que homens lá descessem. Então pode ser possível que aconteça o
estabelecimento de colônias na Lua e em Marte. Se isto acontecer, o que poderá
haver? Uma colaboração mais humana entre as nações ou mais uma disputa entre
elas? Uma colonização pacífica e humanista ou será mais uma forma de poderosos
capitalistas lucrarem com a exploração destas colônias, dos recursos
encontrados em novos lugares e do turismo espacial? O filme Avatar mostrou
uma visão interessante. Nesse filme uma expedição militar da Terra estava
interessada em obter recursos do planeta descoberto à custa da submissão de povos
nativos. Ou seja: Imperialismo! Sobre a questão da colonização de Marte nos
diz Leandro
Siqueira, doutor em ciências sociais pela PUC-SP:
“Não mais impulsionada
pela utopia da imortalidade ou pela exibição de supremacia estatal, a
colonização sideral funda-se hoje sobre possibilidades de negócios que poderia
gerar. Todos os novos projetos que ligam a Terra a Marte, passando pela Lua,
mais do que o povoamento humano, programam a expansão do capitalismo para o
sideral. O acontecimento sideral trouxe consigo a possibilidade de o humano
habitar outros lugares, povoar novos planetas, abrindo-o para um dos mais
radicais exercícios de lançar-se ao novo. Enquanto incomensurável instante de
liberdade, este momento não pode ser desperdiçado e, para tanto, torna-se
urgente distinguir o que embarca para fora e o que se deixa.
Experimentar o
sideral, logo de início, convida a nos desvencilhar do próprio modelo de
colonização que conhecemos, aquele que explorou de forma depredatória os
recursos planetários e subjugou povos aos interesses de poucos Estados. Fujamos
das catástrofes antropogênicas, das razões de Estado ou das atualizações de
“negócios da China” que “autorizam” a colonização. Que além da criação de novas
tecnologias, também haja espaço para inventar novos modos de povoar.”
É
de se destacar entre os investidores privados nestes projetos para viagens para
Marte o bilionário Elon Musk. Ele deseja criar uma base neste planeta na década de 2050.
Mas ele quer que sua colônia não esteja sob o controle de qualquer que seja o
governo terrestre. Musk pretende estabelecer suas próprias leis nesta colônia.
Em relação a este posicionamento, especialistas dizem que tal independência não
é possível.
Enquanto
se almeja a instalação de colônias fora da Terra, vemos nosso planeta muito
devastado, o que combina com as preocupações de Hawking. de que uma destruição
contínua está pondo em risco a vida humana. Disse ele: "Estamos ficando
sem espaço aqui e os únicos lugares disponíveis para irmos estão em outros
planetas, outros universos. É hora de explorar outros sistemas solares. Tentar
se espalhar por aí talvez seja a única estratégia que pode nos salvar de nós
mesmos. Estou convencido de que os seres humanos precisam sair da Terra".
E também: . "Deixar a Terra exige uma movimentação global, todos devem
estar juntos nisso. Precisamos fazer renascer a empolgação dos primórdios das
viagens espaciais, na década de 1960" (...) “"Se a humanidade quiser
continuar (a viver) por mais milhões de anos, nosso futuro residirá na ousadia
de ir onde ninguém mais ousou ir. Espero que seja para o melhor. Nós não temos
outra opção.". Ele se mostrava otimista com a possibilidade de colonizar
outros planetas: “Sempre que damos um grande salto, como nos pousos lunares,
unimos pessoas e nações, trazemos novas descobertas e novas tecnologias”
Quanto à colaboração entre países nesta nova corrida espacial, em 2016 a Agência Espacial Europeia (ESA), em 2016 anunciou que deseja instalar uma base lunar (uma “vila lunar”) a ser habitada por vários tipos de pessoas (artistas, cientistas etc) e para ser utilizada por diferentes organizações públicas e privadas, com objetivos de turismo, pesquisa ou prospecção geológica de minerais que existem em pouca quantidade na Terra. A ESA está fazendo um trabalho em colaboração com a agência espacial chinesa, ao contrário da NASA que, ao menos por enquanto, não quis esta colaboração. A primeira grande preocupação para se instalar uma base lunar na Lua é a sobrevivência. Na Lua há temperaturas entre 127ºC e -173ºC, há o perigo da radiação cósmica, a baixa gravidade e um dia lunar equivale a 29 dias terrestres, com duas semanas de luz seguidas por duas semanas no escuro, o que pode atrapalhar no uso da energia solar. E tanto na Lua como em Marte, sondas estão procurando lugares com gelo que possa ser convertido em água para o consumo de moradores de bases ou colônias.
Bem diante de tudo que foi dito, se houver realmente no futuro a
instalação de colônias na Lua e em Marte, que estas colônias possam ter uma forma
de convivência pacífica e que não existam interesses econômicos e
políticos que as tornem tão semelhantes à realidade dura que vemos em certos
lugares da Terra. Que sejam colônias onde haja desenvolvimento do conhecimento
e as pessoas possam conviver bem, também considerando que os interesses de grandes empresas não
tornem os colonos apenas objetos de seus interesses corporativos. E que, mesmo
com todos estes esforços para que um dia se estabeleça colônias em lugares fora
da Terra, as nações e os povos diversos possam conviver melhor e tratar bem o
nosso planeta, diminuindo a poluição, cuidando mais do meio ambiente, evitando
tanta destruição da natureza. Que se aumente a cooperação e se fortaleçam os
laços de solidariedade, dando mais condições de se viver bem a todos os
habitantes do mundo. Porque a se continuar o ritmo de desrespeito ao meio
ambiente em grande escala em muitos lugares, vão se acelerar as dificuldades
que existem na Terra, possibilitando a expansão de fome, doenças e sofrimento,
assim como a escassez de recursos naturais, dificuldades estas em grau bem mais
elevado para os mais pobres, porém que acabam atingindo de alguma forma
toda a Humanidade. E é preciso considerar que entre bilhões de habitantes
terrestres, certamente no máximo alguns milhares conseguirão se estabelecer em
novas colônias no século XXI. Quem estará melhor se houver mesmo as migrações
para as colônias na Lua e em Marte? Os que enfrentarão o desconhecido, tendo de adaptar a situações diversas ou os que
ficarem, ainda que em um planeta que pode estar em condições difíceis para os
seres humanos?
Sugestão de vídeo: https://www.youtube.com/watch?v=V6ljjTOuMCE
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Márcio José Matos
Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00F_me5MjGpLv_hBcSd4pvFURtgMg:1611361970469&source=univ&tbm=isch&q=imagem+do+planeta+marte
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