domingo, 24 de janeiro de 2021

O escritor George Orwell

 




Em 25 de junho de 1903 nasceu em Motihari, na Índia Britânica, Eric Arthur Blair, mais conhecido como George Orwell (usou também o pseudônimo de John Freeman). Ele era cidadão britânico. Foi romancista, ensaísta, participante de movimentos políticos e jornalista. Foi um escritor crítico, bem perceptivo a respeito da realidade social e política de sua época. Tinha uma posição firme contra regimes totalitaristas e uma paixão pela clareza da escrita. Foi considerado um tipo de anarquista. Ele era um defensor da auto-gestão ou autonomismo. Criticou o Stalinismo que houve na União Soviética e também os rumos que tomou a revolução soviética. Foi um ótimo cronista da cultura inglesa do século XX. Escreveu resenhas, obras de ficção, artigos jornalísticos, crítica literária e poesia. Seu romance de maior sucesso foi o distópico 1984, no qual criticava o totalitarismo. Também ficou muito conhecida a sua satírica obra Animal Farm (bem conhecida no Brasil como A Revolução dos Bichos). Esses dois livros foram muito vendidos. Outra obra muito elogiada foi Homage to Catalonia (1938), sobre sua experiência na Guerra Civil Espanhola. Foi classificado pelo jornal The Times como o segundo lugar em uma lista de "Os 50 maiores escritores britânicos desde 1945”. Foi um escritor ligado ao Modernismo Inglês e suas obras apresentam as seguintes características: linguagem simples; escrita concisa; caráter satírico; enredo distópico; crítica sociopolítica; alegoria; ironia; pessimismo; ausência de idealizações.

Tinha duas irmãs e era filho de Richard Walmesley Blair, que trabalhava no Departamento de Ópio do Serviço Civil Indiano e sua mãe era Ida Mabel Limouzin-Blair, nascida na Inglaterra, mas que passou anos de sua infância na Birmânia (hoje em dia Miamar) e era filha de um negociante francês.

Eric Blair (George Orwell), foi levado para morar na Inglaterra quando tinha um ano de idade. Ficou morando com a mãe e as irmãs, enquanto o pai estava trabalhando na Irlanda, onde ficou até 1912 e fazia breves visitas a sua família. Quando menino Eric disse a uma amiga de infância que um dia iria escrever um livro como A Modern Utopia do escritor britânico H. G. Wells.

Eric passou a estudar no internato de Henley-on-Thames, quando tinha cinco anos de idade. O internato era dirigido por freiras Ursulinas francesas. Mas como a família não podia pagar a alta mensalidade, ele acabou indo estudar na Escola de São Cipriano, em Sussex. Mas Eric não gostou de lá. Nessa escola, ele publicou dois poemas publicados no jornal local Henley and South Oxfordshire Standard e ficou em segundo lugar no Prêmio de Historia Harrow, tendo se destacado nos estudos e ganhou bolsas de estudo para duas consideradas instituições de ensino, o Wellington College e o Elton College, tendo estudando primeiramente no primeiro colégio e depois no segundo onde ficou até 1921.  Em Elton ele teve o escritor Aldous Huxley como professor de francês por algum tempo, mas os dois não tiveram contatos fora de sala de aula. Não foi um aluno destacado no Elton, mas ajudou na produção de uma revista e participou dos jogos da escola. Sobre esta escola escreveu posteriormente Eric no prefácio de uma de suas obras: “Era a mais cara e esnobe das escolas Públicas da Inglaterra”.

Terminando seus estudos, ele se preparou para passar em um exame para ser um funcionário no Oriente e foi aprovado em sétimo lugar, vindo a trabalhar a partir de 1922 na Birmânia, na Polícia Imperial Indiana. Depois de uma preparação foi enviado para trabalhar em postos policiais. No final de 1924 já era Assistente de Superintendente Distrital. Em 1925 foi transferido para Insein. Uma amiga jornalista de Eric que trabalhava na mesma cidade disse que ele procurava sempre ser justo.  Foi transferido para outros lugares na Birmânia e em 1927 ficou doente e voltou para a Inglaterra, ocasião em que pediu demissão, pois tinha a intenção de se tornar escritor e tornou-se um crítico sobre o imperialismo britânico. Inspirado em suas experiências na Birmânia ele escreveu Burmese Days em 1934 e os ensaios "A Hanging" (1931) e "Shooting an Elephant" (1936).

Tendo se mudado para Londres em 1927, Ruth Pitter, uma conhecida de sua família se interessou por seus escritos. Nessa época, Eric Blair passou a ir aos lugares pobres de Londres, tendo se vestido como um vagabundo. Ele registrou suas experiências de vida nessas condições em algumas obras.

Em 1928 mudou-se para Paris, onde viveu até o ano seguinte com a ajuda de uma tia. Nesse tempo escreveu romances, com destaque apenas para Burmese Days. Trabalhou como jornalista e escreveu artigos no Monde, assim como em outros jornais: G. K.'s Weekly e Le Progres Civique. Em março de 1929 esteve doente e foi roubado. Após esses fatos, ele trabalhou em serviços domésticos, lavando pratos em um hotel, o que lhe deu material para escrever Down and Out in Paris and London (Na pior em Paris e Londres), obra na qual fez relatos de Paris e Londres. Em agosto de 1929 conseguiu que publicassem sua obra The Spike, em Londres.  Foi professor na The Hawthorns High School em Hayes, Inglaterra nos anos de 1932 e 1933.

Em 1937 publicou a obra “A Estrada para Wigan Pier” que era , uma coletânea de ensaios, que refletiam a convivência do escritor com mineiros e ele então faz críticas as abstrações teóricas dos intelectuais de esquerda.

Durante a Guerra Civil Espanhola, Eric se engajou em força armada do Partido Operário de Unificação Marxista (POUM), um grupo marxista não stalinista, onde atuavam espanhois de orientação trotskista, que lutava contra o exército de Franco,que era  apoiado por Hitler e Mussolini. Na guerra Eric foi ferido na garganta, o que lhe prejudicou a voz. A sua experiência nessa guerra foi relatada em Homage to Catalonia.

Quis servir ao exército britânico na Segunda Guerra Mundial, porém foi rejeitado por causa de apresentar sintomas de tuberculose. Estando envolvido com movimentos socialistas, foi nomeado em 1943 diretor literário do periódico socialista “Tribune” e lá escreveu artigos e ensaios.

Para Eric (George Orwell), o nazismo era uma forma de capitalismo que empresta do socialismo certas características com a finalidade de ter eficiência na guerra. Em 1946, sobre a União Soviética ele disse: “o regime russo ou se democratiza ou morrerá". Sobre o método de não violência de Gandhi, o autor disse que possuía limitações e só funcionaria em países com "uma imprensa livre e o direito de reunião" que possibilitassem "não apenas apelar à opinião pública externa, mas atrair uma massa de pessoas para o movimento, ou mesmo para tornar suas intenções conhecidas pelo adversário". Também escreveu para um jornal em outubro de 1945 comentando sobre a Guerra Fria, onde destacava o aspecto da ameaça de uma guerra nuclear. Em 1946 escreveu novamente sobre a Guerra Fria para outro jornal.

O biógrafo Jeff Meyers, que escreveu sobre Orwell, disse que uma brasileira, a gaúcha Mabel Lilian Sinclair Fierz, que era filha de um casal inglês que se mudara para a Inglaterra aos 17 anos, teve importância na vida do escritor de 1984. Ela convenceu o editor Leonard Moore a publicar o primeiro livro de Orwell e teria sido amante dele

Eric Blair assumiu o pseudônimo de George Orwell desde o lançamento do seu primeiro livro, Na Pior em Paris e Londres, em 1933. O sobrenome Orwell era devido ao rio Orwell, que tem sua foz no sudeste. Em relação ao seu posicionamento político ele disse certa vez: “Tornei-me pró-socialista mais por desgosto com a maneira com os setores mais pobres dos trabalhadores industriais eram oprimidos e negligenciados do que devido a qualquer admiração teórica por uma sociedade planificada”. Ele era contra o autoritarismo e defendia um socialismo democrático.

Foi casado com Eileen O’Shaughnessy de 1935 a 1945, quando ela faleceu e depois com Sonia Brwnell, de 1949 até a morte dele em 1950. Ele faleceu em 21 de janeiro de 1950, em Londres, devido à tuberculose. No seu túmulo na Igreja Anglicana All Saints' Churchyard há a identificação de Eric Arthur Blair e nenhuma menção ao pseudônimo George Orwell.

O primeiro biógrafo de Orwell, Sir Bernard Crick, criou a Orwell Foundation, que se dedica a destacar grandes trabalhos jornalísticos e jovens talentos da escrita política.

A obra A Revolução dos Bichos (1945) deu prestígio literário a Orwell. Era uma fábula satírica inspirada no que o autor considerava um desvirtuamento de ideais da revolução soviética. E o livro 1984, publicado em 1949, era uma crítica a um Estado controlador absoluto da sociedade, onde os indivíduos tinham perdido sua liberdade. Nessa sociedade todos eram vigiados o tempo todo por meio de câmeras e a verdade era constantemente manipulada. Críticos atuais dizem que os controles cada vez maiores estabelecidos por governos em diversos países sobre a Internet, a forma como grandes corporações utilizam as mídias sociais e o considerável uso de fakes news nas sociedades são exemplos atuais dos tipos de controle que Orwell denunciava quando mencionava a vigilância do Estado e o uso crescente de mentiras para exercer um domínio ou manipulação.

 

Obras:

1-    RomancesBurmese Days (Título no Brasil: Dias na Birmânia); A Clergyman’s Daughter (Título no Brasil: A Filha do Reverendo); Keep the Aspidistra Flyng (Título no Brasil: Mantenha o Sistema); Coming Up for Air (Título no Brasil: Um pouco de Ar, Por favor!); Animal Farm (Título no Brasil: A Revolução dos Bichos); Nineteen Eighty-Four (Título no Brasil: 1984).

 

2-    Documentários NarrativosDown and Out in Paris and London (Título no Brasil: Na Pior em Paris e Londres); The Road to Wigan Pier (Título no Brasil: A Caminho de Wigan); Homage to Catalonia (Título no Brasil: Lutando na Catalunha)

 

3-    Poemas: “Romance”; "A Little Poem"; "Awake! Young Men of England"; "Kitchener"; "Our Minds are Married, But we are Too Young"; "The Pagan"

 

Além destas obras acima, George Orwell publicou diversos ensaios, artigos e outros escritos como: The Spike, A Hanging, Shooting an Elephant, Bookshop Memories etc.


Frases de Orwell:

 

"Pensamento duplo indica a capacidade de ter na mente, ao mesmo tempo, duas opiniões contraditórias e aceitar ambas."

 

"Numa época de mentiras universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."

 

"Jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade."

 

"Se o pensamento corrompe a linguagem, a linguagem também pode corromper o pensamento."

 

“A covardia intelectual é o pior inimigo que um escritor ou jornalista tem de encarar.”

 

 “O primeiro passo em direção à sanidade é romper o ciclo da violência.”

 

  “Quanto mais a sociedade se distancia da verdade, mais ela odeia

   aqueles que a revelam” . 

 

   “Quem controla o passado, controla o futuro. Quem controla o

     presente, controla o passado”.     

    

   “A maneira mais eficaz para destruir as pessoas é negar e destruir a

    sua própria compreensão de sua história”

 

 

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História



Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+george+orwell&sxsrf=ALeKk015fWmeX-x45_J1Xwy-91fSDq0kjA:1611535427458&tbm=isch&source

 


2 comentários:

  1. É interessante constatar a posição marcadamente socialista do escritor, face às suas ácidas críticas ao esquerdismo radical, especialmente na obra Animal Farm. Obrigado pelo texto bastante ilustrativo, Márcio.

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  2. Obrigado César, pelo comentário. O autor realmente tinha uma posição socialista, mas não deixou de criticar o que achou errado na época em especial em relação à questão do regime fechado e autoritário da União Soviética. No fundo o que o autor defendia era a liberdade e criticava a grande desigualdade em sociedades do seu tempo , sem se identificar com determinadas ideias e práticas do socialismo como o stalinismo.

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