Em 25 de junho de
1903 nasceu em Motihari, na Índia Britânica, Eric Arthur Blair, mais
conhecido como George Orwell (usou também o pseudônimo de John Freeman). Ele
era cidadão britânico. Foi romancista, ensaísta, participante de movimentos
políticos e jornalista. Foi um escritor crítico, bem perceptivo a respeito da
realidade social e política de sua época. Tinha uma posição firme contra
regimes totalitaristas e uma paixão pela clareza da escrita. Foi considerado um
tipo de anarquista. Ele era um defensor da auto-gestão ou autonomismo. Criticou
o Stalinismo que houve na União Soviética e também os rumos que tomou a
revolução soviética. Foi um ótimo cronista da cultura inglesa do século XX.
Escreveu resenhas, obras de ficção, artigos jornalísticos, crítica literária e
poesia. Seu romance de maior sucesso foi o distópico 1984, no qual
criticava o totalitarismo. Também ficou muito conhecida a sua satírica
obra Animal Farm (bem conhecida no Brasil como A
Revolução dos Bichos). Esses dois livros foram muito vendidos. Outra obra
muito elogiada foi Homage to Catalonia (1938), sobre sua
experiência na Guerra Civil Espanhola. Foi classificado pelo jornal The
Times como o segundo lugar em uma lista de "Os 50 maiores
escritores britânicos desde 1945”. Foi um escritor ligado ao Modernismo Inglês
e suas obras apresentam as seguintes características: linguagem simples;
escrita concisa; caráter satírico; enredo distópico; crítica sociopolítica;
alegoria; ironia; pessimismo; ausência de idealizações.
Tinha duas irmãs e
era filho de Richard Walmesley Blair, que trabalhava no Departamento de Ópio do
Serviço Civil Indiano e sua mãe era Ida Mabel Limouzin-Blair, nascida na
Inglaterra, mas que passou anos de sua infância na Birmânia (hoje em dia
Miamar) e era filha de um negociante francês.
Eric Blair (George
Orwell), foi levado para morar na Inglaterra quando tinha um ano de idade.
Ficou morando com a mãe e as irmãs, enquanto o pai estava trabalhando na
Irlanda, onde ficou até 1912 e fazia breves visitas a sua família. Quando
menino Eric disse a uma amiga de infância que um dia iria escrever um livro
como A Modern Utopia do escritor britânico H. G. Wells.
Eric passou a
estudar no internato de Henley-on-Thames, quando tinha cinco anos de idade.
O internato era dirigido por freiras Ursulinas francesas. Mas como a família
não podia pagar a alta mensalidade, ele acabou indo estudar na Escola de São
Cipriano, em Sussex. Mas Eric não gostou de lá. Nessa escola, ele publicou dois
poemas publicados no jornal local Henley and South Oxfordshire Standard e
ficou em segundo lugar no Prêmio de Historia Harrow, tendo se destacado nos
estudos e ganhou bolsas de estudo para duas consideradas instituições de
ensino, o Wellington College e o Elton College, tendo estudando primeiramente
no primeiro colégio e depois no segundo onde ficou até 1921. Em
Elton ele teve o escritor Aldous Huxley como professor de francês por algum
tempo, mas os dois não tiveram contatos fora de sala de aula. Não foi um aluno
destacado no Elton, mas ajudou na produção de uma revista e participou dos
jogos da escola. Sobre esta escola escreveu posteriormente Eric no prefácio de
uma de suas obras: “Era a mais cara e esnobe das escolas Públicas da
Inglaterra”.
Terminando seus
estudos, ele se preparou para passar em um exame para ser um funcionário no
Oriente e foi aprovado em sétimo lugar, vindo a trabalhar a partir de 1922 na
Birmânia, na Polícia Imperial Indiana. Depois de uma preparação foi enviado para
trabalhar em postos policiais. No final de 1924 já era Assistente de
Superintendente Distrital. Em 1925 foi transferido para Insein. Uma amiga
jornalista de Eric que trabalhava na mesma cidade disse que ele procurava
sempre ser justo. Foi transferido para outros lugares na Birmânia e
em 1927 ficou doente e voltou para a Inglaterra, ocasião em que pediu demissão,
pois tinha a intenção de se tornar escritor e tornou-se um crítico sobre o
imperialismo britânico. Inspirado em suas experiências na Birmânia ele
escreveu Burmese Days em 1934 e os ensaios "A
Hanging" (1931) e "Shooting an Elephant" (1936).
Tendo se mudado para Londres em 1927,
Ruth Pitter, uma conhecida de sua família se interessou por seus escritos.
Nessa época, Eric Blair passou a ir aos lugares pobres de Londres, tendo se
vestido como um vagabundo. Ele registrou suas experiências de vida nessas
condições em algumas obras.
Em 1928 mudou-se para Paris, onde viveu
até o ano seguinte com a ajuda de uma tia. Nesse tempo escreveu romances, com
destaque apenas para Burmese Days. Trabalhou como jornalista e
escreveu artigos no Monde, assim como em outros jornais: G.
K.'s Weekly e Le Progres Civique. Em março de 1929 esteve
doente e foi roubado. Após esses fatos, ele trabalhou em serviços domésticos,
lavando pratos em um hotel, o que lhe deu material para escrever Down
and Out in Paris and London (Na pior em Paris e Londres), obra na qual fez
relatos de Paris e Londres. Em agosto de 1929 conseguiu que publicassem sua
obra The Spike, em Londres. Foi professor na The
Hawthorns High School em Hayes, Inglaterra nos anos de 1932 e 1933.
Em 1937 publicou a obra “A Estrada
para Wigan Pier” que era , uma coletânea de ensaios, que refletiam a
convivência do escritor com mineiros e ele então faz críticas as abstrações
teóricas dos intelectuais de esquerda.
Durante a Guerra Civil Espanhola, Eric
se engajou em força armada do Partido Operário de Unificação
Marxista (POUM), um grupo marxista não stalinista, onde atuavam
espanhois de orientação trotskista, que lutava contra o exército de
Franco,que era apoiado por Hitler e Mussolini. Na guerra Eric foi
ferido na garganta, o que lhe prejudicou a voz. A sua experiência nessa guerra
foi relatada em Homage to Catalonia.
Quis servir ao exército britânico na
Segunda Guerra Mundial, porém foi rejeitado por causa de apresentar sintomas de
tuberculose. Estando envolvido com movimentos socialistas, foi nomeado em
1943 diretor literário do periódico socialista “Tribune” e lá escreveu artigos
e ensaios.
Para Eric (George Orwell), o nazismo
era uma forma de capitalismo que empresta do socialismo certas características
com a finalidade de ter eficiência na guerra. Em 1946, sobre a União Soviética
ele disse: “o regime russo ou se democratiza ou morrerá". Sobre o método
de não violência de Gandhi, o autor disse que possuía limitações e só funcionaria
em países com "uma imprensa livre e o direito de reunião" que
possibilitassem "não apenas apelar à opinião pública externa, mas atrair
uma massa de pessoas para o movimento, ou mesmo para tornar suas intenções
conhecidas pelo adversário". Também escreveu para um jornal em outubro de
1945 comentando sobre a Guerra Fria, onde destacava o aspecto da ameaça de uma
guerra nuclear. Em 1946 escreveu novamente sobre a Guerra Fria para outro
jornal.
O biógrafo Jeff Meyers, que escreveu
sobre Orwell, disse que uma brasileira, a gaúcha Mabel Lilian Sinclair Fierz,
que era filha de um casal inglês que se mudara para a Inglaterra aos 17 anos,
teve importância na vida do escritor de 1984. Ela convenceu o
editor Leonard Moore a publicar o primeiro livro de Orwell e teria sido
amante dele
Eric Blair assumiu o pseudônimo de
George Orwell desde o lançamento do seu primeiro livro, Na Pior em
Paris e Londres, em 1933. O sobrenome Orwell era devido ao rio Orwell, que
tem sua foz no sudeste. Em relação ao seu posicionamento político ele disse
certa vez: “Tornei-me pró-socialista mais por desgosto com a maneira com os
setores mais pobres dos trabalhadores industriais eram oprimidos e
negligenciados do que devido a qualquer admiração teórica por uma sociedade
planificada”. Ele era contra o autoritarismo e defendia um socialismo
democrático.
Foi casado com Eileen O’Shaughnessy de
1935 a 1945, quando ela faleceu e depois com Sonia Brwnell, de 1949 até a morte
dele em 1950. Ele faleceu em 21 de janeiro de 1950, em Londres, devido à tuberculose.
No seu túmulo na Igreja Anglicana All Saints' Churchyard há a identificação de
Eric Arthur Blair e nenhuma menção ao pseudônimo George Orwell.
O primeiro biógrafo de Orwell, Sir
Bernard Crick, criou a Orwell Foundation, que se dedica a destacar grandes
trabalhos jornalísticos e jovens talentos da escrita política.
A obra A Revolução dos Bichos (1945) deu prestígio literário a Orwell. Era uma fábula satírica inspirada no que o autor
considerava um desvirtuamento de ideais da revolução soviética. E o livro 1984,
publicado em 1949, era uma crítica a um Estado controlador absoluto da
sociedade, onde os indivíduos tinham perdido sua liberdade. Nessa sociedade
todos eram vigiados o tempo todo por meio de câmeras e a verdade era
constantemente manipulada. Críticos atuais dizem que os controles cada vez
maiores estabelecidos por governos em diversos países sobre a Internet, a forma
como grandes corporações utilizam as mídias sociais e o considerável uso
de fakes news nas sociedades são exemplos atuais dos tipos de
controle que Orwell denunciava quando mencionava a vigilância do Estado e o uso
crescente de mentiras para exercer um domínio ou manipulação.
Obras:
1- Romances: Burmese
Days (Título no Brasil: Dias na Birmânia); A
Clergyman’s Daughter (Título no Brasil: A Filha do Reverendo); Keep
the Aspidistra Flyng (Título no Brasil: Mantenha o Sistema); Coming
Up for Air (Título no Brasil: Um pouco de Ar, Por favor!); Animal
Farm (Título no Brasil: A Revolução dos Bichos); Nineteen
Eighty-Four (Título no Brasil: 1984).
2- Documentários
Narrativos: Down and Out in Paris and London (Título no
Brasil: Na Pior em Paris e Londres); The Road to Wigan Pier (Título
no Brasil: A Caminho de Wigan); Homage to Catalonia (Título
no Brasil: Lutando na Catalunha)
3- Poemas:
“Romance”; "A Little Poem"; "Awake! Young Men of
England"; "Kitchener"; "Our Minds are Married,
But we are Too Young"; "The Pagan"
Além destas obras acima, George Orwell
publicou diversos ensaios, artigos e outros escritos como: The Spike, A
Hanging, Shooting an Elephant, Bookshop Memories etc.
Frases de Orwell:
"Pensamento duplo indica a
capacidade de ter na mente, ao mesmo tempo, duas opiniões contraditórias e
aceitar ambas."
"Numa época de mentiras
universais, dizer a verdade é um ato revolucionário."
"Jornalismo é publicar aquilo que
alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade."
"Se o pensamento corrompe a
linguagem, a linguagem também pode corromper o pensamento."
“A covardia intelectual é o pior
inimigo que um escritor ou jornalista tem de encarar.”
“O primeiro passo em direção à
sanidade é romper o ciclo da violência.”
“Quanto mais a sociedade se
distancia da verdade, mais ela odeia
aqueles que a
revelam” .
“Quem controla o passado,
controla o futuro. Quem controla o
presente,
controla o passado”.
“A maneira mais
eficaz para destruir as pessoas é negar e destruir a
sua própria
compreensão de sua história”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+george+orwell&sxsrf=ALeKk015fWmeX-x45_J1Xwy-91fSDq0kjA:1611535427458&tbm=isch&source
É interessante constatar a posição marcadamente socialista do escritor, face às suas ácidas críticas ao esquerdismo radical, especialmente na obra Animal Farm. Obrigado pelo texto bastante ilustrativo, Márcio.
ResponderExcluirObrigado César, pelo comentário. O autor realmente tinha uma posição socialista, mas não deixou de criticar o que achou errado na época em especial em relação à questão do regime fechado e autoritário da União Soviética. No fundo o que o autor defendia era a liberdade e criticava a grande desigualdade em sociedades do seu tempo , sem se identificar com determinadas ideias e práticas do socialismo como o stalinismo.
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