A escritora
(romancista e ensaísta), crítica e editora britânica Adeline Virginia Woolf
nasceu em 25 de janeiro de 1882 em Kensigton, Middlesex, Inglaterra. Pertenceu
ao movimento literário modernista. É considerada a maior romancista
lírica do idioma inglês. Ela fez parte
do Grupo de Bloomsbury, sendo uma figura de importância no tocante
à literatura em Londres no período entre a Primeira e a Segunda Guerra
Mundial. Os seus romances Mrs. Dalloway, To the Lighthouse e Orlando:
A Biography estão entre seus trabalhos mais famosos. Destacou-se como
escritora no final da década de 20 do século passado, inclusive com
reconhecimento internacional. Mas após a II Guerra Mundial suas obras ficaram
sem grande atenção. Nos anos 70 voltaram com vigor os estudos sobre a
escritora. O estilo dela está ligado ao uso do chamado fluxo de consciência,
uma técnica literária modernista que escritores como James Joyce e William
Faulkner também usaram e juntamente com Gertrude Stein é considerada uma das
autoras mais importantes do modernismo clássico. Ela teve nove romances
publicados e trinta livros de outros gêneros. Ela disse sobre a
função do escritor :
“(...) é transmitir a essência
sempre em mutação da mente, por maior que seja a complexidade ou o intrincado
das suas manifestações, com o menor número possível de elementos estranhos ou
alheios a ela.”
Os pais de
Virginia Woolf eram o escritor, historiador, ensaísta e biógrafo Leslie
Stephen, que dedicou a ela uma boa educação (ela não foi à escola, mas foi
educada por professores particulares e por seu pai) e a mãe era Julia Stephen (vinha
de família de importantes editores e foi a segunda esposa de Leslie). Virginia
teve três irmãos (dois irmãos e uma irmã) e quatro meios-irmãos (dois
meios-irmãos e duas meias-irmãs). Pessoas da elite intelectual de Londres
frequentavam a casa dos pais de Virgínia. Seu pai possuía uma ampla biblioteca
em casa. Aos nove anos Virgínia já mostrava ser uma criança criativa, criando um jornal
familiar. Ela se tornou uma leitora compulsiva. Como não pôde frequentar uma
universidade procurou ler sozinha e aprender com o pai, que tinha muitos
conhecimentos e também uma personalidade difícil. Em 1895, a mãe dela morreu.
Na ocasião, Virgínia tinha 13 anos e sofreu sua primeira crise mental. Sua meia
irmã faleceu poucos anos depois. Em junho de 1902 o pai de Virginia foi nomeado
Cavaleiro da Mais Honorável Ordem do Banho. Ela teve seu primeiro artigo
publicado em janeiro de 1904 e em fevereiro desse ano seu pai morreu. Algumas
semanas depois da morte do pai Virginia voltou a ter um colapso mental que a
afetou por meses. E em 1906 mais um choque na vida de Virginia: a morte de seu
irmão Thoby.
Em 1905 foi formado o Grupo de
Bloomsbury, cujos integrantes eram contra tradições literárias, políticas e
sociais ligadas à Era Vitoriana. Os membros não se consideravam um “grupo”. Não
existiam componentes fixos e não fizeram um manifesto. Virgínia foi uma
integrante juntamente com outros escritores como Roger Fry e Duncan Grant,
economistas como John Maynard Keynes e outros intelectuais (historiadores,
pintores, críticos etc). Eles influenciaram a sociedade em aspectos como a
literatura, a economia e questões sociais. Em relação mais especificamente de
Virginia, a mesma contribuiu para correntes do feminismo.
Virgínia foi uma das criadoras do
chamado fluxo de consciência, que foi uma de suas marcas mais
conhecidas. Ela gostou muito de ter podido entrar para o Grupo de
Bloomsbury , que tinha uma grande maioria de membros masculinos. Podia dar
suas contribuições nas discussões e também ir se libertando de certos pontos
repressivos de sua educação. O primeiro romance publicado de Virginia
Woolf foi The Voyage Out, no ano de 1915.
Virginia, seu irmão Adrian e amigos
organizaram em fevereiro de 1910 o embuste de Dreadnought. Eles enviaram um
telegrama falso e viajaram disfarçados como se fossem uma delegação de quatro
diplomatas estrangeiros, um membro do Ministério de Relações Exteriores
Britânico e um interprete para visitar o navio HMS Dreadnought. Eles
foram recebidos oficialmente no navio. Horace Cole, um integrante desse grupo
mandou uma foto do episódio para um jornal e relatou ao Ministério de Relações
Exteriores que tudo tinha passado de uma brincadeira. O grupo
queria ridicularizar o Império Britânico. Apesar de pressões da Marinha para que
Horace fosse preso, ele não foi punido.
Virginia passou a escrever para o
jornal The Guardian e para o suplemento literário do The
Times. Convidada a lecionar no Morley College, que era uma escola mista da
classe trabalhadora, vez ou outra ensinava literatura e historia inglesas.
Em 1912 Virginia casou com o economista
e historiador Leonard Woolf, um amigo de seu irmão. O casamento foi mantido
pela amizade de ambos, porque ela não queria envolvimento sexual com o marido.
Ela e seu marido fundaram em 1917 a Editora Hogarth Press, que revelou
escritores de qualidade como T.S. Eliot. Em sua vida pessoal, Virgínia teve
crises de depressão. Ela possivelmente tinha transtorno bipolar.
Mrs. Dalloway, de 1925; Ao Farol de 1927; e
Orlando, de1928;são os principais livros de Virginia. Nas três
obras há o que ela chamava de fluxo de consciência. A prática dessa técnica
literária confere uma maior aproximação do leitor com o inconsciente dos
personagens. Também são exploradas a sensibilidade e a psicologia dos
personagens.
Na obra (publicada em dois volumes em
1925 e 1932) The Common Reader (O Leitor Comum), foram
escritas as reflexões de Virginia sobre a arte literária em relação à liberdade
de criação e ao prazer da leitura. Essas reflexões foram baseadas em obras de
escritores como Joseph Conrad, Tolstoi, Tchekov, Jane Austen, Dostoievsky e
outros. Virgínia buscava homenagear o leitor que lê para seu próprio prazer
pessoal, sem qualquer tipo de obrigação.
Segundo estudiosos da vida da
escritora, ela teria passado por algum tipo de abuso de seus dois meios-
irmãos, o que pode ter causado nela alguns transtornos de personalidade, como
as suas características depressivas. Houve pesquisadores que
apontaram certos sintomas de estresse e ansiedade no pai de Virgínia, sintomas
que a escritora também passou a apresentar, sugerindo eles que poderia haver
alguma tendência hereditária em relação ao transtorno dela.
Virgínia Woolf foi provavelmente
influenciada por ideias do antissemitismo que na época da autora era forte em
países europeus, apesar dela ser casada com um judeu. Alguns personagens judeus
de obras suas tinham imagens estereotipadas, como pessoas repulsivas e sujas.
Mas ela parece ter feito uma autocrítica em 1930, pois escreveu assim para sua
amiga Ethel Smyth: “Como eu odiei casar um judeu – Quão esnobe fui eu, já que
são eles quem tem a grande vitalidade”. Ela e o marido demonstraram aversão ao
fascismo e ao nazismo.
A escritora em algumas obras faz
críticas ao poder excessivo dos homens em relação a estruturas do poder,
causando dificuldades para as escritoras e também para as mulheres na educação
e sociedade. Foi inclusive destacada por Simone de Beauvoir na sua obra O
Segundo Sexo. Virginia Woolf fez críticas às restrições impostas às mulheres
na Era Vitoriana. Segundo os estudiosos da vida da autora, Virginia teve uma
relação amorosa com a poetisa Vita Sackville-West que assim como Virginia
também tinha seu marido. Uma das obras de Virginia, Orlando, foi
inspirada em Vita.
Em 1941 a Inglaterra vivia a Segunda
Guerra Mundial e a casa de Virginia foi bombardeada pela força aérea alemã.
Também a crítica dos jornais não deu muita atenção à biografia que a escritora
escreveu sobre Roger Fry. Ela então ficou muito depressiva e em 28 de março de
1941 vestiu seu casaco, encheu os bolsos com pedras e se jogou no rio Ouse,
morrendo afogada. Escreveu um bilhete para seu marido que dizia:
“Querido,
Tenho certeza de que enlouquecerei
novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E,
desta vez, não vou me recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo me
concentrar. Por isso estou fazendo o que me parece ser a melhor coisa a fazer. Você
tem me dado a maior felicidade possível. Você tem sido, em todos os aspectos,
tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais
felizes, até a chegada dessa terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que
estou estragando a sua vida, que sem mim você poderia trabalhar. E você vai, eu
sei. Veja que nem sequer consigo escrever isso apropriadamente. Não consigo
ler. O que quero dizer é que devo toda a felicidade da minha vida a você. Você
tem sido inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que –
todo mundo sabe disso. Se alguém pudesse me salvar teria sido você. Tudo se foi
para mim, menos a certeza da sua bondade. Não posso continuar a estragar a sua
vida. Não creio que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes do que nós.”
O corpo de Virginia Woolf foi
encontrado vários dias depois e cremado. Suas cinzas foram enterradas no jardim
de Monk’sHouse, onde a escritora viveu com seu marido desde 1919. Ele quando
morreu 28 anos depois teve as cinzas de seu corpo cremado enterradas junto com
as de Virginia.
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Segundo Dilva Frazão a respeito de
algumas obras de Virginia Woolf:
“O Quarto de Jacob
O Quarto de Jacob (1922) foi o primeiro
de seus romances experimentais sobre a relação entre o tempo histórico e o
tempo interior da consciência, tema que foi expresso em linguagem poética
e plena de ressonâncias simbólicas. O tema gira em torno da história de vida de
Jacob que não existe como uma realidade concreta e sim como uma coleção de
memórias e sensações.
Reconhecimento
Virgínia Woolf tornou-se conhecida com
a publicação de “Senhora Dalloway” (1925), um romance onde a escritora
faz uma crítica à relação patriarcal da sociedade inglesa da época, à
dificuldade da mulher conquistar seu espaço diante do pouco acesso à educação e
da opressão sofrida pelos homens.
Um dos mais conhecidos trabalhos, de
não ficção, de Virgínia Woolf foi “Um Teto Todo Seu” (1929), um ensaio
baseado em uma série de palestras que ela deu em 1928, em várias universidades
femininas de Cambridge. O ensaio é visto como um texto feminista, uma crítica à
falta de espaço e liberdade que as mulheres sofreram na história.
O mais divulgado romance de Virgínia
foi “As Ondas” (1931), no qual retratou, por meio de técnica de fluxo de
consciência, a evolução interior de seis personagens, da infância à velhice, e
a visão da existência humana como processo inapreensível de interações entre o
mundo e a sensibilidade pessoal. Como analogia do ciclo vital a autora
descreve um dia na praia, da aurora ao anoitecer, em capítulos intercalados.”
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Segundo a Professora licenciada em
Letras Daniela Diana:
“As obras de Virginia estão repletas de
questões sociais, políticas e feministas. Dona de um espírito revolucionário,
ele escreveu romances, contos e ensaios. Confira abaixo algumas das obras de
destaque”:
- A
viagem (1915)
- Noite
e dia (1919)
- O
quarto de Jacob (1922)
- Senhora
Dalloway (1925)
- Ao
farol (1927)
- Orlando:
uma biografia (1928)
- Um
teto todo seu (1929)
- As
ondas (1931)
- Os
anos (1937)
- Entre
os atos (1941)
- Os
três Guineus (1938)”
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Frases de Virginia Wolf:
“Tranque as bibliotecas, se quiser; mas
não há portões, nem fechaduras, nem cadeados com os quais você conseguirá
trancar a liberdade do meu pensamento.”
“Meu próprio cérebro é para mim a mais
inexplicável das máquinas - sempre zunindo, sussurrando, voando rugindo
mergulhando, e depois se enterrando na lama. E por quê? Para que esta paixão?”
“Você não encontra paz, evitando a
vida.”
“Luta mental significa pensar contra a
corrente, não com a corrente. É nosso trabalho perfurar as bolsas de gás e
descobrir as sementes da verdade.”
“Pensamento e teoria devem preceder
todas as ações saudáveis; ainda que a ação seja mais nobre que o pensamento ou
a teoria.”
“Não escrevemos só com os dedos, mas com a pessoa inteira. O nervo que controla a pena enrola-se em cada fibra do nosso ser, trespassa o coração, perfura o fígado.”
“A beleza do mundo,
que é cedo demais para perecer, possui dois extremos, um da alegria, outro da
angústia, rachando o coração.”
“Uma vez conformado, uma vez feito o
que outras pessoas fazem só porque fazem, e uma letargia infiltra-se em todos
os nervos mais finos e faculdades da alma. Ela se torna todo o espetáculo
externo e vazio interior; estúpida, rígida e indiferente.”
“Para aproveitarmos a liberdade temos
que nos controlar.”
“As mulheres, durante séculos, serviram
de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem
uma imagem do homem duas vezes maior que o natural.”
“Realmente, eu não gosto da natureza
humana a menos que esteja toda temperada com arte.”
“Somos desfeitos pela verdade. A vida é
um sonho. É o despertar que nos mata.”
“Há quem procure o padre, outros
refugiam-se na poesia, eu procuro os meus amigos.”
“Como mulher eu não possuo país. Como
mulher, meu país é o mundo todo.”
“Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora; e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro.”
“Uma obra prima é algo dito de uma vez por todas, proclamado, finalizado, de modo que está lá completa na mente, mesmo que ainda oculta.”
“No correr de minha vida farei o gigantesco amálgama das discrepâncias tão cruelmente óbvias em mim. Conseguirei isso à força de tanto sofrer. Vou bater. Vou entrar.”
“Amo com tamanha ferocidade que morro quando o objeto de meu amor mostra por uma só frase que pode escapar.”
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Márcio José Matos Rodrigues
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00aqWQB-FSasd_E6O1FCH5kWj0UVw:1611788503325&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+virginia+wollf
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