quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

A escritora Virginia Woolf

 






A escritora (romancista e ensaísta), crítica e editora britânica Adeline Virginia Woolf nasceu em 25 de janeiro de 1882 em Kensigton, Middlesex, Inglaterra. Pertenceu ao movimento literário modernista. É considerada a maior romancista lírica do idioma inglês. Ela fez parte do Grupo de Bloomsbury, sendo uma figura de importância no tocante à literatura em Londres no período entre a Primeira e a Segunda Guerra Mundial. Os seus romances Mrs. DallowayTo the Lighthouse Orlando: A Biography estão entre seus trabalhos mais famosos. Destacou-se como escritora no final da década de 20 do século passado, inclusive com reconhecimento internacional. Mas após a II Guerra Mundial suas obras ficaram sem grande atenção. Nos anos 70 voltaram com vigor os estudos sobre a escritora. O estilo dela está ligado ao uso do chamado fluxo de consciência, uma técnica literária modernista que escritores como James Joyce e William Faulkner também usaram e juntamente com Gertrude Stein é considerada uma das autoras mais importantes do modernismo clássico. Ela teve nove romances publicados e trinta livros de outros gêneros.  Ela disse sobre a função do escritor :

(...) é transmitir a essência sempre em mutação da mente, por maior que seja a complexidade ou o intrincado das suas manifestações, com o menor número possível de elementos estranhos ou alheios a ela.”

Os pais de Virginia Woolf eram o escritor, historiador, ensaísta e biógrafo Leslie Stephen, que dedicou a ela uma boa educação (ela não foi à escola, mas foi educada por professores particulares e por seu pai) e a mãe era Julia Stephen (vinha de família de importantes editores e foi a segunda esposa de Leslie). Virginia teve três irmãos (dois irmãos e uma irmã) e quatro meios-irmãos (dois meios-irmãos e duas meias-irmãs). Pessoas da elite intelectual de Londres frequentavam a casa dos pais de Virgínia. Seu pai possuía uma ampla biblioteca em casa. Aos nove anos Virgínia já mostrava ser uma criança criativa, criando um jornal familiar. Ela se tornou uma leitora compulsiva. Como não pôde frequentar uma universidade procurou ler sozinha e aprender com o pai, que tinha muitos conhecimentos e também uma personalidade difícil. Em 1895, a mãe dela morreu. Na ocasião, Virgínia tinha 13 anos e sofreu sua primeira crise mental. Sua meia irmã faleceu poucos anos depois. Em junho de 1902 o pai de Virginia foi nomeado Cavaleiro da Mais Honorável Ordem do Banho. Ela teve seu primeiro artigo publicado em janeiro de 1904 e em fevereiro desse ano seu pai morreu. Algumas semanas depois da morte do pai Virginia voltou a ter um colapso mental que a afetou por meses. E em 1906 mais um choque na vida de Virginia: a morte de seu irmão Thoby.

Em 1905 foi formado o Grupo de Bloomsbury, cujos integrantes eram contra tradições literárias, políticas e sociais ligadas à Era Vitoriana. Os membros não se consideravam um “grupo”. Não existiam componentes fixos e não fizeram um manifesto. Virgínia foi uma integrante juntamente com outros escritores como Roger Fry e Duncan Grant, economistas como John Maynard Keynes e outros intelectuais (historiadores, pintores, críticos etc). Eles influenciaram a sociedade em aspectos como a literatura, a economia e questões sociais. Em relação mais especificamente de Virginia, a mesma contribuiu para correntes do feminismo.

Virgínia foi uma das criadoras do chamado fluxo de consciência, que foi uma de suas marcas mais conhecidas. Ela gostou muito de ter podido entrar para o Grupo de Bloomsbury , que tinha uma grande maioria de membros masculinos. Podia dar suas contribuições nas discussões e também ir se libertando de certos pontos repressivos de sua educação. O primeiro romance publicado de Virginia Woolf foi The Voyage Out, no ano de 1915.

Virginia, seu irmão Adrian e amigos organizaram em fevereiro de 1910 o embuste de Dreadnought. Eles enviaram um telegrama falso e viajaram disfarçados como se fossem uma delegação de quatro diplomatas estrangeiros, um membro do Ministério de Relações Exteriores Britânico e um interprete para visitar  o navio HMS Dreadnought. Eles foram recebidos oficialmente no navio. Horace Cole, um integrante desse grupo mandou uma foto do episódio para um jornal e relatou ao Ministério de Relações Exteriores que tudo tinha passado de uma brincadeira. O grupo queria ridicularizar o Império Britânico. Apesar de pressões da Marinha para que Horace fosse preso, ele não foi punido.

Virginia passou a escrever para o jornal The Guardian e para o suplemento literário do The Times. Convidada a lecionar no Morley College, que era uma escola mista da classe trabalhadora, vez ou outra ensinava literatura e historia inglesas.

Em 1912 Virginia casou com o economista e historiador Leonard Woolf, um amigo de seu irmão. O casamento foi mantido pela amizade de ambos, porque ela não queria envolvimento sexual com o marido. Ela e seu marido fundaram em 1917 a Editora Hogarth Press, que revelou escritores de qualidade como T.S. Eliot. Em sua vida pessoal, Virgínia teve crises de depressão. Ela possivelmente tinha transtorno bipolar.

Mrs. Dalloway, de 1925; Ao Farol de 1927; e Orlando, de1928;são os principais livros de Virginia. Nas três obras há o que ela chamava de fluxo de consciência. A prática dessa técnica literária confere uma maior aproximação do leitor com o inconsciente dos personagens. Também são exploradas a sensibilidade e a psicologia dos personagens.

Na obra (publicada em dois volumes em 1925 e 1932) The Common Reader (O Leitor Comum), foram escritas as reflexões de Virginia sobre a arte literária em relação à liberdade de criação e ao prazer da leitura. Essas reflexões foram baseadas em obras de escritores como Joseph Conrad, Tolstoi, Tchekov, Jane Austen, Dostoievsky e outros. Virgínia buscava homenagear o leitor que lê para seu próprio prazer pessoal, sem qualquer tipo de obrigação.

Segundo estudiosos da vida da escritora, ela teria passado por algum tipo de abuso de seus dois meios- irmãos, o que pode ter causado nela alguns transtornos de personalidade, como as suas características depressivas.  Houve pesquisadores que apontaram certos sintomas de estresse e ansiedade no pai de Virgínia, sintomas que a escritora também passou a apresentar, sugerindo eles que poderia haver alguma tendência hereditária em relação ao transtorno dela.

Virgínia Woolf foi provavelmente influenciada por ideias do antissemitismo que na época da autora era forte em países europeus, apesar dela ser casada com um judeu. Alguns personagens judeus de obras suas tinham imagens estereotipadas, como pessoas repulsivas e sujas. Mas ela parece ter feito uma autocrítica em 1930, pois escreveu assim para sua amiga Ethel Smyth: “Como eu odiei casar um judeu – Quão esnobe fui eu, já que são eles quem tem a grande vitalidade”. Ela e o marido demonstraram aversão ao fascismo e ao nazismo.

A escritora em algumas obras faz críticas ao poder excessivo dos homens em relação a estruturas do poder, causando dificuldades para as escritoras e também para as mulheres na educação e sociedade. Foi inclusive destacada por Simone de Beauvoir na sua obra O Segundo Sexo. Virginia Woolf fez críticas às restrições impostas às mulheres na Era Vitoriana. Segundo os estudiosos da vida da autora, Virginia teve uma relação amorosa com a poetisa Vita Sackville-West que assim como Virginia também tinha seu marido. Uma das obras de Virginia, Orlando, foi inspirada em Vita.

Em 1941 a Inglaterra vivia a Segunda Guerra Mundial e a casa de Virginia foi bombardeada pela força aérea alemã. Também a crítica dos jornais não deu muita atenção à biografia que a escritora escreveu sobre Roger Fry. Ela então ficou muito depressiva e em 28 de março de 1941 vestiu seu casaco, encheu os bolsos com pedras e se jogou no rio Ouse, morrendo afogada. Escreveu um bilhete para seu marido que dizia:

 

“Querido,

Tenho certeza de que enlouquecerei novamente. Sinto que não podemos passar por outro daqueles tempos terríveis. E, desta vez, não vou me recuperar. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Por isso estou fazendo o que me parece ser a melhor coisa a fazer. Você tem me dado a maior felicidade possível. Você tem sido, em todos os aspectos, tudo o que alguém poderia ser. Não acho que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes, até a chegada dessa terrível doença. Não consigo mais lutar. Sei que estou estragando a sua vida, que sem mim você poderia trabalhar. E você vai, eu sei. Veja que nem sequer consigo escrever isso apropriadamente. Não consigo ler. O que quero dizer é que devo toda a felicidade da minha vida a você. Você tem sido inteiramente paciente comigo e incrivelmente bom. Quero dizer que – todo mundo sabe disso. Se alguém pudesse me salvar teria sido você. Tudo se foi para mim, menos a certeza da sua bondade. Não posso continuar a estragar a sua vida. Não creio que duas pessoas poderiam ter sido mais felizes do que nós.”

O corpo de Virginia Woolf foi encontrado vários dias depois e cremado. Suas cinzas foram enterradas no jardim de Monk’sHouse, onde a escritora viveu com seu marido desde 1919. Ele quando morreu 28 anos depois teve as cinzas de seu corpo cremado enterradas junto com as de Virginia.

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Segundo Dilva Frazão a respeito de algumas obras de Virginia Woolf:

 

“O Quarto de Jacob

O Quarto de Jacob (1922) foi o primeiro de seus romances experimentais sobre a relação entre o tempo histórico e o tempo interior da consciência, tema que foi expresso em linguagem poética e plena de ressonâncias simbólicas. O tema gira em torno da história de vida de Jacob que não existe como uma realidade concreta e sim como uma coleção de memórias e sensações.

Reconhecimento

Virgínia Woolf tornou-se conhecida com a publicação de “Senhora Dalloway” (1925), um romance onde a escritora faz uma crítica à relação patriarcal da sociedade inglesa da época, à dificuldade da mulher conquistar seu espaço diante do pouco acesso à educação e da opressão sofrida pelos homens.

Um dos mais conhecidos trabalhos, de não ficção, de Virgínia Woolf foi “Um Teto Todo Seu” (1929), um ensaio baseado em uma série de palestras que ela deu em 1928, em várias universidades femininas de Cambridge. O ensaio é visto como um texto feminista, uma crítica à falta de espaço e liberdade que as mulheres sofreram na história.

O mais divulgado romance de Virgínia foi “As Ondas” (1931), no qual retratou, por meio de técnica de fluxo de consciência, a evolução interior de seis personagens, da infância à velhice, e a visão da existência humana como processo inapreensível de interações entre o mundo e a sensibilidade pessoal. Como analogia do ciclo vital a autora descreve um dia na praia, da aurora ao anoitecer, em capítulos intercalados.”

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Segundo a Professora licenciada em Letras Daniela Diana:

 

“As obras de Virginia estão repletas de questões sociais, políticas e feministas. Dona de um espírito revolucionário, ele escreveu romances, contos e ensaios. Confira abaixo algumas das obras de destaque”:

  • A viagem (1915)
  • Noite e dia (1919)
  • O quarto de Jacob (1922)
  • Senhora Dalloway (1925)
  • Ao farol (1927)
  • Orlando: uma biografia (1928)
  • Um teto todo seu (1929)
  • As ondas (1931)
  • Os anos (1937)
  • Entre os atos (1941)
  • Os três Guineus (1938)”

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Frases de Virginia Wolf:

 

“Tranque as bibliotecas, se quiser; mas não há portões, nem fechaduras, nem cadeados com os quais você conseguirá trancar a liberdade do meu pensamento.”

“Meu próprio cérebro é para mim a mais inexplicável das máquinas - sempre zunindo, sussurrando, voando rugindo mergulhando, e depois se enterrando na lama. E por quê? Para que esta paixão?”

“Você não encontra paz, evitando a vida.”

“Luta mental significa pensar contra a corrente, não com a corrente. É nosso trabalho perfurar as bolsas de gás e descobrir as sementes da verdade.”


“Pensamento e teoria devem preceder todas as ações saudáveis; ainda que a ação seja mais nobre que o pensamento ou a teoria.”

“Não escrevemos só com os dedos, mas com a pessoa inteira. O nervo que controla a pena enrola-se em cada fibra do nosso ser, trespassa o coração, perfura o fígado.”

 “A beleza do mundo, que é cedo demais para perecer, possui dois extremos, um da alegria, outro da angústia, rachando o coração.”

“Uma vez conformado, uma vez feito o que outras pessoas fazem só porque fazem, e uma letargia infiltra-se em todos os nervos mais finos e faculdades da alma. Ela se torna todo o espetáculo externo e vazio interior; estúpida, rígida e indiferente.”

“Para aproveitarmos a liberdade temos que nos controlar.”

“As mulheres, durante séculos, serviram de espelho aos homens por possuírem o poder mágico e delicioso de refletirem uma imagem do homem duas vezes maior que o natural.”

“Realmente, eu não gosto da natureza humana a menos que esteja toda temperada com arte.”

“Somos desfeitos pela verdade. A vida é um sonho. É o despertar que nos mata.”

“Há quem procure o padre, outros refugiam-se na poesia, eu procuro os meus amigos.”

“Como mulher eu não possuo país. Como mulher, meu país é o mundo todo.”

“Pensei o quanto desconfortável é ser trancado do lado de fora; e pensei o quanto é pior, talvez, ser trancado no lado de dentro.”

“Uma obra prima é algo dito de uma vez por todas, proclamado, finalizado, de modo que está lá completa na mente, mesmo que ainda oculta.”

“No correr de minha vida farei o gigantesco amálgama das discrepâncias tão cruelmente óbvias em mim. Conseguirei isso à força de tanto sofrer. Vou bater. Vou entrar.”

“Amo com tamanha ferocidade que morro quando o objeto de meu amor mostra por uma só frase que pode escapar.”

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Márcio José Matos Rodrigues

 

Figura: https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk00aqWQB-FSasd_E6O1FCH5kWj0UVw:1611788503325&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+virginia+wollf

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