terça-feira, 3 de agosto de 2021

O fabulista grego Esopo

 





Esopo foi possivelmente um fabulista que pode ter nascido em 620  a. C e que morreu em 564 a. C, na cidade grega de Delfos. Suas obras principais foram suas fábulas. A ele é atribuída a criação desse gênero literário. As fábulas de Esopo inspiraram escritores ocidentais posteriores como Fedro e La Fontaine. Não se tem certeza sobre a real existência de Esopo, mas as fábulas tidas como obras dele foram se espalhando em muitas línguas por meio de tradição oral. As fábulas se caracterizam, por exemplo, por animais com características humanas e que podem falar.

Não se sabe sobre qual seria o local exato de nascimento de Esopo, podendo ser na Frígia, Egito, Etiópia, Samos, Atenas, Sardes e Amório. A hipótese sobre a origem africana de Esopo é forte, considerando-se que alguns animais de suas fábulas seriam muito comuns neste continente. Uma outra questão levantada por estudiosos em relação à origem de Esopo é que em locais de tradição oral de povos africanos e do Oriente Próximo, como também da Pérsia, havia contos em que animais tinham qualidades humanas, como nas fábulas. Escritos egípcios diziam que Esopo nasceu na Trácia, aproximadamente em 550 a. C. O escritor antigo Plutarco afirmou que Esopo pode ter sido conselheiro do rei Creso, da Lídia. Esopo teria viajado muito, com passagens pelo Egito, Babilônia e outros lugares, incluindo influências culturais dessas regiões nas suas fábulas.

Um relato do historiador grego Heródoto diz que Esopo foi executado injustamente em Delfos. Segundo esse historiador, Esopo teria sido escravo do filósofo Janto, de Samos, que pode ter dado a liberdade a Esopo. Quem reuniu as fábulas que Esopo teria escrito foi Demétrio de Faleros, no século III a. C. Na sua obra Retórica, Aristóteles afirmou que Esopo uma vez fez um discurso na Assembleia de Samos defendendo um demagogo. Também Platão no diálogo Fédon mencionou Esopo. As fábulas, nas quais os animais eram os personagens, tinham um sentido moral e simbólico. Em Atenas, no século V a. C, havia gosto em apreciar as fábulas. Além dos animais podia haver a presença de homens, deuses e objetos inanimados. Baseando-se na cultura popular Esopo criava as fábulas que apontavam normas que deveriam ser seguidas pelas pessoas. Os animais se comportavam como os homens. Para a atualidade chegaram 40 fábulas atribuídas a Esopo. No século I   d. C Fedro, um escravo liberto, escreveu em latim livros de fábulas parecidas em estilo com as de Esopo.


Os fabulistas medievais fizeram uso das fábulas de Esopo. O monge bizantino e humanista, do século XIV, Maximus Planudes, revisou as fábulas, que eram comparadas aos ensinamentos morais dos evangelhos cristãos. Poetas medievais também se inspiraram em Esopo. O escritor francês La Fontaine também foi influenciado pelas fábulas de Esopo. Sobre Esopo o filósofo Apolônio de Tiana, no século III d. C disse: “Como aqueles que jantam bem nos pratos mais  planos, ele fez uso de humildes incidentes para ensinar grandes verdades, e após servir uma história ele adiciona a ela o aviso para fazer uma coisa ou não fazê-la. Então, também, ele foi realmente mais atacado por causa da verdade do que os poetas são.”

 


Frases atribuídas a  Esopo:
 

“Unidos venceremos. Divididos, cairemos.”

“Um pedaço de pão comido em paz é melhor do que um banquete comido com ansiedade.”

“Nenhum gesto de amizade, por muito insignificante que seja, é desperdiçado.”

“O amor constrói, a violência arruína.”

“Quem tudo quer, tudo perde.”

“Não se deve contar com o ovo quando ele está dentro da galinha.”

“Ninguém é tão grande que não possa aprender, nem tão pequeno que não possa ensinar.”

“As desventuras servem de lição aos homens.”

“Os hábeis oradores, com astúcia e prudência, sabem converter em elogios os insultos recebidos dos amigos.”

“Não conte os seus pintos antes de saírem da casca.”

“Até mesmo os poderosos podem precisar dos fracos.”

“O intenso desejo de honras perturba a mente humana e obscurece a visão dos perigos.”

“A gratidão é a virtude das almas nobres.”

 

Algumas fábulas que podem ter sido criadas por Esopo:

 

 

“A Raposa e a Cegonha

A raposa e a cegonha mantinham boas relações e pareciam ser amigas sinceras. Certo dia, a raposa convidou a cegonha para jantar e, por brincadeira, botou na mesa apenas um prato raso contendo um pouco de sopa. Para ela, foi tudo muito fácil, mas a cegonha pode apenas molhar a ponta do bico e saiu dali com muita fome.

- Sinto muito, disse a raposa, parece que você não gostou da sopa.
- Não pense nisso, respondeu a cegonha. Espero que, em retribuição a esta visita, você venha em breve jantar comigo.

No dia seguinte, a raposa foi pagar a visita. Quando sentaram à mesa, o que havia para o jantar estava contido num jarro alto, de pescoço comprido e boca estreita, no qual a raposa não podia introduzir o focinho. Tudo o que ela conseguiu foi lamber a parte externa do jarro.

- Não pedirei desculpas pelo jantar, disse a cegonha, assim você sente no próprio estomago o que senti ontem.

(Quem com ferro fere, com ferro será ferido)”

 

“O Leão Apaixonado


Certa vez um leão se apaixonou pela filha de um lenhador e foi pedir a mão dela em casamento. O lenhador não ficou muito animado com a idéia de ver a filha com um marido perigoso daquele e disse ao leão que era uma honra, mas muito obrigado, não queria. O leão se irritou; sentindo o perigo, o homem foi esperto e fingiu que concordava:
- É uma honra, meu senhor. Mas que dentões o senhor tem! Que garras compridas! Qualquer moça ia ficar com medo. Se o senhor quer casar com minha filha, vai ter que arrancar os dentes e cortar as garras.
O leão apaixonado foi correndo fazer o que o outro tinha mandado; depois voltou à casa do pai da moça e repetiu seu pedido de casamento. Mas o lenhador, que já não sentia medo daquele leão manso e desarmado, pegou um pau e tocou o leão para fora de casa.

Moral da história:


Quem perde a cabeça por amor, sempre acaba mal.”

 

“O Rato e a Ratoeira

Numa planície da Ática, perto de Atenas, morava um fazendeiro com sua mulher; ele tinha vários tipos de cultivares, assim como: oliva, grão de bico, lentilha, vinha, cevada e trigo. Ele armazenava tudo num paiol dentro de casa, quando notou que seus cereais e leguminosas, estavam sendo devoradas pelo rato. O velho fazendeiro foi a Atenas vender partes de suas cultivares e aproveitou para comprar uma ratoeira. Quando chegou em casa, adivinha quem estava espreitando?

Um rato, olhando pelo buraco na parede, vê o fazendeiro e sua esposa abrindo um pacote. Pensou logo no tipo de comida que haveria ali.

Ao descobrir que era uma ratoeira ficou aterrorizado.

Correu para a esplanada da fazenda advertindo a todos:

- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira na casa !!

A galinha disse:

- Desculpe-me Sr. Rato, eu entendo que isso seja um grande problema para o senhor, mas não me prejudica em nada, não me incomoda.

O rato foi até o porco e disse:

- Há uma ratoeira na casa, uma ratoeira !

- Desculpe-me Sr. Rato, disse o porco, mas não há nada que eu possa fazer, a não ser orar. Fique tranqüilo que o Sr. Será lembrado nas minhas orações.

O rato dirigiu-se à vaca. E ela lhe disse:

- O que ? Uma ratoeira ? Por acaso estou em perigo? Acho que não !

Então o rato voltou para casa abatido, para encarar a ratoeira. Naquela noite ouviu-se um barulho, como o da ratoeira pegando sua vítima.

A mulher do fazendeiro correu para ver o que havia pego.

No escuro, ela não viu que a ratoeira havia pego a cauda de uma cobra venenosa. E a cobra picou a mulher… O fazendeiro chamou imediatamente o médico, que avaliou a situação da esposa e disse: sua mulher está com muita febre e corre perigo.

Todo mundo sabe que para alimentar alguém com febre, nada melhor que uma canja de galinha. O fazendeiro pegou seu cutelo e foi providenciar o ingrediente principal. Como a doença da mulher continuava, os amigos e vizinhos vieram visitá-la.

Para alimentá-los, o fazendeiro matou o porco.

A mulher não melhorou e acabou morrendo.

Muita gente veio para o funeral. O fazendeiro então sacrificou a vaca, para alimentar todo aquele povo.

Moral:


Na próxima vez que você ouvir dizer que alguém está diante de um problema e acreditar que o problema não lhe diz respeito, lembre-se que quando há uma ratoeira na casa, toda fazenda corre risco. O problema de um é problema de todos.”

 

“A coruja e a águia

A coruja e a águia, depois de muita briga, resolveram fazer as pazes.
– Basta de guerra – disse a coruja. – O mundo é tão grande, e tolice maior que o mundo é andarmos a comer os filhotes uma da outra.
– Perfeitamente – respondeu a águia. – Também eu não quero outra coisa.
– Nesse caso combinemos isto: de agora em diante não comerás nunca os meus filhotes.
– Muito bem. Mas como vou distinguir os teus filhotes?
– Coisa fácil. Sempre que encontrares uns borrachos lindos, bem feitinhos de corpo, alegres, cheio de uma graça especial que não existe em filhote de nenhuma outra ave, já sabes, são os meus.
– Está feito! – concluiu a águia.
Dias depois, andando à caça, a águia encontrou um ninho com três monstrengos dentro, que piavam de bico muito aberto.
– Horríveis bichos! Vê-se logo que não são os filhos da coruja – disse ela, e comeu-os.
Mas eram os filhos da coruja. Ao regressar à toca a triste mãe chorou amargamente o desastre e foi ajustar as contas com a rainha das aves.
– Quê? – perguntou esta, admirada. – Eram teus filhos aqueles monstrenguinhos? Pois, olha, não se pareciam nada com o retrato que deles me fizeste...

Moral:


Quem ama o feio, bonito lhe parece.

 

 

“O Camundongo da Cidade e o do Campo


Um camundongo que morava na cidade foi, uma vez, visitar um primo que vivia no campo. Este era um pouco arrogante e espevitado, mas queria muito bem ao primo, de maneira que o recebeu com muita satisfação. Ofereceu-lhe o que tinha de melhor: feijão, toucinho, pão e queijo.

O camundongo da cidade torceu o nariz e disse:
– Não posso entender, primo, como você consegue viver com estes pobres alimentos. Naturalmente, aqui no campo, é difícil obter coisa melhor. Venha comigo e eu lhe mostrarei como se vive na cidade. Depois que passar lá uma semana, você ficará admirado de ter suportado a vida no campo.

Os dois puseram-se, então, a caminho. Tarde da noite, chegaram à casa do camundongo da cidade.
– Certamente você gostará de tomar um refresco, após esta caminhada, disse ele polidamente ao primo.

Conduziu-o à sala de jantar, onde encontraram os restos de uma grande festa. Puseram-se a comer geleias e bolos deliciosos. De repente, ouviram rosnados e latidos.
– O que é isto? – perguntou, assustado, o camundongo do campo.
– São, simplesmente, os cães da casa – respondeu o da cidade.
– Simplesmente? Não gosto desta música durante o meu jantar.

Neste momento, a porta se abriu e apareceram dois enormes cães. Os camundongos tiveram que fugir a toda pressa.

– Adeus, primo – disse o camundongo do campo. – Vou voltar para minha casa no campo.
– Já vai tão cedo? – perguntou o da cidade.
– Sim, já vou e não pretendo voltar – concluiu o primeiro.

Moral:


Mais vale o pouco certo do que o muito duvidoso.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: 

https://www.google.com/search?q=imagem+de+esopo&sxsrf=ALeKk03SA5Kt1hewM7mwTmMnzTYwjYjMiw:1628049480842&tbm=isch&source=iu&ictx

 

 


 


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