Epicuro foi um filósofo grego do
período helenístico, que nasceu na Ilha de Samos em 341 a. C e morreu por volta
de 271 ou 270 a. C em Atenas. O pensamento desse filósofo foi disseminado por
vários lugares do mundo antigo como a Jônia, o Egito e em Roma a partir do
século I, sendo Lucrécio o principal divulgador. Foi chamado
de "Profeta do Prazer" e o "Apóstolo da Amizade”,
apresentou um esboço da evolução 2.300 anos antes da teoria darwiniana.
Estudou em sua infância com Pânfilo, um
estudioso platonista. Quando jovem Epicuro foi para Teos, na costa da Ásia
Menor. Nesse local ele possivelmente estudou com Nausífanes, um discípulo de
Demócrito de Abdera. Nessa época Epicuro pode ter estudado a teoria atomista e
fez mudanças nessa teoria. Aos 18 anos Epicuro cumpriu dois anos de
serviço militar em Atenas. Buscava ter ideias próprias e não se dedicava com
exclusividade a algum filósofo e não pretendia encontrar a suprema verdade em
nenhum escrito de qualquer filósofo.
Ensinou gramática e filosofia em
Lâmpsaco, Mitilene e Cólofon.Voltou para Samos em 323 a. C. Em 306 a. C tinha
fundado a escola filosófica O Jardim e passou a residir em
Atenas com alguns amigos. Teve problemas de saúde por causa de um cálculo renal
e isso lhe proporcionou momentos de dor durante sua vida. Lecionou até sua
morte em 270 a. C e quando morreu estava rodeado de amigos e discípulos.
Contexto histórico do Epicurismo:
Na época que se desenvolveu o
epicurismo, havia já acontecido as conquistas macedônicas sobre territórios
gregos e sobre o império persa. Após a morte do imperador Alexandre, seus
generais dividiram o seu império. Uma forma de dominação de Alexandre foi
manter aspectos culturais dos povos vencidos e houve uma fusão cultural
envolvendo os gregos e povos orientais. Surgiu assim o helenismo. Nesse
contexto foram criadas correntes filosóficas como o epicurismo. As ideias de
Epicuro permaneceram mesmo com a dominação romana que se iniciou em 146 a
.C.
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A filosofia de Epicuro fez oposição à metafísica de Aristóteles e às ideias de Platão. Dizia Epicuro que nada está além de nossos sentidos e que não há outra realidade que possa existir sem o auxílio dos cinco sentidos. Ele dizia que devemos dar prazer para receber prazer, não se deve causar injúria, deve-se viver e deixar viver, ser para si o melhor amigo ao mesmo tempo que se é um bom amigo para os outros. Para Epicuro há três tomadas de consciência do indivíduo: compreensão dos deuses, compreensão da morte e compreensão dos desejos. A sua filosofia buscava atingir a felicidade, buscando a aponia (ausência de dor física) e ataraxia (imperturbabilidade da alma). Para ele o homem segue o exemplo dos animais, procurando evitar a dor e buscando o prazer.
Para explicar a existência das coisas
Epicuro baseou-se na teoria atômica de Demócrito. Dizia ele que tudo é formado
de átomos, mas com diferentes naturezas, sendo os átomos com qualidades
finitas, quantidades infinitas e com infinitas combinações. O corpo para ele
seria uma soma de carne e alma e a morte física seria o fim do corpo e do
indivíduo. Mas os átomos passariam a constituir outros corpos, pois para ele os
átomos seriam eternos e indestrutíveis. A filosofia de Epicuro pretendia
explicar todos os fenômenos naturais e eliminando os maiores medos humanos: o
medo da morte e o medo dos deuses.
Para Epicuro os deuses viviam em
perfeita harmonia e em um estado de felicidade divina. Os deuses não teriam a
intenção de causar sofrimento aos seres humanos. Os deuses teriam de ser considerados
como exemplos de bem-aventurança, servindo de modelos para os homens, sem
instabilidade e sem serem dotados de paixões humanas. Não deveriam
ser temidos durante a vida das pessoas e nem depois da morte delas. Epicuro
defendia a ideia de que não se deve temer a morte. Para ele depois de mortas as
pessoas não poderão sentir algo porque estarão desprovidas de seus sentidos.
Na filosofia epicurista as dores e os
prazeres estarão nesse caminho que busca a felicidade e ainda que nem sempre se
possa evitar as dores físicas, elas não são duradouras, podendo ser suportadas
usando-se as lembranças de momentos prazerosos que se tenha tido. Mas piores
são as dores que atormentam a alma, muitas vezes relacionadas às frustrações,
por causa de desejos que não foram satisfeitos. Para combater este tipo de dor,
Epicuro indicava a reflexão. Os seguidores e discípulos de Epicuro encaravam a
sua doutrina como uma boa nova, um meio de equilibrar dores e prazeres.
Epicuro escreveu cerca de 300 obras,
porém sobraram somente três cartas que tratam a respeito da natureza, meteoros
e sobre a moral. Também restaram uma coleção de pensamentos e partes
fragmentadas de obras da filosofia epicurista perdidas. As cartas e os
fragmentos foram reunidos por Herman Useneer, que em 1887 deu a todo este
conjunto o título de Epicurea. O autor Hermann Diels veio a
descobrir mais tarde que os fragmentos não eram de Epicuro e sim de Leucipo.
Epicuro dizia que o medo em relação aos
deuses fazia que se cometessem maus atos, sendo empecilho à serenidade.
Defendia que teria de haver a liberdade humana e a tranquilidade do espírito.
Para se conseguir a liberdade e a tranquilidade seria preciso o atomismo. Na
teoria epicurista há um encontro fortuito dos átomos devido a uma pequena
inclinação em sua trajetória e com o choque deles se constitui a matéria. O
átomo, para Epicuro, se desvia, por causa da inclinação e essa poderia ser por
um desejo, uma vontade ou afinidade com outro átomo. O encontro fortuito dos
átomos para ele é que asseguraria a liberdade. O Homem teria que compreender
como funciona a natureza e essa compreensão o levaria a libertar-se do medo e
das superstições que fazem o espírito sofrer. Epicuro em uma de suas cartas
teria dito que há um número infinito de mundos no cosmos, sendo alguns
habitados e outros não.
É importante destacar que o epicurismo,
embora diga que o bem está no prazer, não é a mesma coisa que o hedonismo,
que considera os prazeres sexuais e incentiva que haja prazer de forma intensa.
No epicurismo o prazer é passivo, com ausência de paixões e com o fim de
fatores que possam causar o sofrimento ou o temor, por exemplo, a morte.
Segundo João Quartim de Moraes, professor aposentado da Universidade Estadual
de Campinas: “Para Epicuro, a vida prazerosa exige paz de espírito, não sendo
somente a totalidade dos prazeres da vida. A principal diferença, portanto, do
epicurismo e do hedonismo é que o primeiro considera o prazer do repouso, a
experiência psíquica da lembrança também é um prazer; enquanto a segunda
considera apenas a experiência prazerosa no momento de sua fruição.”
O prazer para Epicuro é o do sábio, é a
quietude da mente, domínio das emoções e de si próprio. A justa medida e não os
excessos. Um prazer que satisfaz uma necessidade e acalma a dor. Para ele deve-se
ter uma vida simples conduzida pela Natureza. O prazer que existe, segundo essa
teoria, é o prazer corpóreo, o prazer do espírito seria lembrança dos prazeres
do corpo. A saúde seria o máximo prazer. A amizade seria um desses prazeres. Na
academia de Epicuro, O Jardim, os amigos se dedicavam à filosofia e
essa teria como característica maior a libertação do Homem e uma vida feliz.
A classificação dos desejos para
Epicuro seriam: 1- Necessários: para a felicidade, para a tranquilidade do
corpo, para a vida (nutrição, sono); 2-Simplesmente naturais: variação de
prazeres, busca do que é agradável; 3-Artificiais (como a riqueza e a glória);
4-Irrealizáveis (como a imortalidade). Para Epicuro, os desejos não naturais e
não necessários surgem de uma opinião falsa sobre o mundo, estimulados por
sentimentos de vaidade, orgulho ou inveja. Epicuro considerava que os seres
humanos tinham o dever de tornar a vida presente a melhor possível e a vida
teria de ter prazer, um prazer refinado, não turbulento, com uma vida simples e
evitando os excitamentos de querer sempre mais. Ele dizia que a filosofia é
dividida em: Uma parte lógica para diferenciar as formas de conhecimento
verdadeiro; uma parte física para mostrar a estrutura verdadeira da realidade;
uma parte que se constituiria na chave para abrir as portas da felicidade.
Pode-se dizer que o epicurismo é um
sistema filosófico que diz que deve-se buscar prazeres moderados de modo a se
atingir uma condição de tranquilidade e de libertação do medo, evitando-se o
sofrimento do corpo a partir do conhecimento de como o mundo funciona e da
limitação dos desejos. Os desejos exagerados podem assim gerar perturbações
frequentes e causando dificuldades para se obter a
felicidade, estando essa relacionada à saúde do corpo e à serenidade
do espírito. Para essa teoria, é preciso controlar medos e desejos e assim ser
feliz, o estado de prazer tem que ser estável e equilibrado, havendo a
tranquilidade e evitando-se a existência de perturbações.
A filosofia epicurista teve muitos seguidores
no mundo antigo mediterrânico. A sua influência ainda perdurou por cerca de
sete séculos após a morte do seu criador. Três elementos eram fundamentais para
Epicuro para se atingir a felicidade: liberdade, amizade e tempo para
filosofar. Na teoria do conhecimento epicurista há a valorização da experiência
imediata. Para Epicuro o conhecimento tem origem nas sensações e impressões dos
sentidos e as sensações são sempre verdadeiras. Deve-se aproximar da realidade
por meio de sensação, antecipação e afecção. As afecções ocorrem de dois modos:o
prazer, que é segundo a natureza, e a dor que é oposta à
natureza. Faz-se necessário, segundo Epicuro, deixar os prazeres que possam
causar aflição e aceitar a dor quando ela traz em si um bem futuro. Ele
valorizava a contemplação intelectual e a amizade como os mais elevados
prazeres e ensinou que o ser humano se livra da dor por intermédio de suas
recordações e esperanças.
Para Epicuro há uma forma de pensar,
o logismós, envolvendo raciocínio, cálculo e pensamento
discursivo. Assim, pelo logismós pode-se fazer a alma não cair
no erro em seus julgamentos e em suas opiniões, fazendo-a ser capaz de perceber
os limites do prazer e saber quais prazeres causam uma vida que seja agradável
e sem perturbações, havendo uma capacidade de medir e ponderar.
Epicuro teve discípulos de vários
tipos, alguns ricos e outros não, até mesmo mulheres e escravos. Ele não
entendia o conhecimento como algo a ser direcionado a um só tipo de pessoa,
acreditando que todos tinham direito a conhecer, defendendo que a sabedoria
pode conduzir à felicidade.
Em pensadores estoicos, como Cícero,
Sêneca e até mesmo Marco Aurélio pode-se perceber uma influência de Epicuro,
embora existam diferenças entre estoicos e epicuristas. Para os estoicos a
perfeição humana estava relacionada ao fundamento de que os seres humanos estão
ligados à natureza e precisam negar seus desejos e voltarem-se à realização de
uma vontade direcionada pela razão, que tem que estar em equilíbrio com a
natureza. A felicidade para os estoicos baseia-se numa ética rigorosa e para
eles o universo é governado por uma razão universal divina e que os homens
devem dominar suas paixões. Para os estóicos deve haver também a indiferença em
relação ao que é externo ao ser. O epicurismo está relacionado aos prazeres
terrenos. Os epicuristas dizem que os homens são inclinados aos seus interesses
individuais e cada um deve buscar nos prazeres a felicidade. Para os estoicos o
que deve ser procurado não é o prazer e sim a virtude.
Epicuro era conhecido por estar sempre
sereno, calmo e benevolente ele, antes de morrer disse: “lembrem de meus
ensinamentos“
Sobre Epicuro disse Diógenes Laércio em
sua obra sobre o filósofo:
“Há testemunhas suficientes para provar
a índole insuperavelmente nobre deste homem para com todos os homens: a sua
cidade natal, que o honrou com estátuas de bronze; seus amigos, tão numerosos
que nem podem ser contados; seus partidários que ficaram cativados pelos seus
ensinamentos atraentes, com exceção de Metrodoro de Estratoniceia, que passou
para Carnéades, ficando, porém, profundamente humilhado pela bondade sem
limites de Epicuro; pela sequência da escola, que, enquanto todas as outras,
praticamente, se perderam, continuou a florescer sob a direção de diversos
discípulos epicureus; pela sua gratidão para com seus pais; pela caridade para
com seus irmãos; pela sua brandura para com seus escravos e, em geral, pelo seu
proceder cheio de afeto para com todos os homens. O seu respeito piedoso para
com a divindade e o seu amor à pátria são indizíveis: pois num excesso de
equidade, ele nem quis ocupar-se com política. E, apesar de, naquele tempo, a
sua pátria natal helênica haver padecido nas piores circunstâncias, lá passou
ele a sua vida, viajando apenas por duas ou três vezes na região jônica da Ásia
Menor para visitar seus amigos, que acorriam de todos os pontos cardeais para
com ele viverem no Jardim, da maneira mais moderada e simples... Assim era o
homem que pregava o “gozo” como finalidade da vida”.
Segundo Johannes Mewaldt na introdução
de Pensamentos. Epicuro. Textos Selecionados:
“De pura origem ática, como nos relatam
com ênfase, de velha linhagem nobre, Epicuro nasceu em janeiro do ano 341 a. C,
filho de Néocles e de Queréstrata, não em Atenas, mas na ilha jônica de Samos,
onde seu pai, que emigrara dez anos antes para lá, tomava conta de uma
propriedade rural. Era uma época difícil, também do ponto de vista econômico,
na qual a luta entre Atenas, dirigida por Demóstenes, e o rei da Macedônia,
Filipe, se tornava séria; três anos depois do nascimento de Epicuro, ano de 338
a. C, a coalizão dos helenos foi aniquilada em Queroneia. Epicuro cresceu num
meio campestre simples, sob a guarda de seus pais, aos quais demonstrou, por
toda a sua vida, um profundo reconhecimento, e juntamente com três irmãos que
mais tarde se tornaram seus discípulos (...)”
Pensamentos de Epicuro:
“É impossível viver
prazerosamente sem viver prudente, bela e justamente, nem viver prudente,
bela e justamente sem viver prazerosamente. Aquele que está privado daquilo
que permite viver prudente, bela e justamente, não pode viver feliz, mesmo se
for correto e justo.“ |
|
|
“Nenhum
prazer é em si mesmo um mal, mas aquilo que produz certos prazeres acarreta
sofrimentos bem maiores do que os prazeres.” |
||
“Aqueles
desejos naturais que quando permanecem insatisfeitos não provocam
padecimento, mas suscitam forte tensão, são produto de uma vã opinião, e
quando não se dissipam não é por causa de sua natureza própria, mas da
futilidade humana.” |
“Aquele que melhor
goza a riqueza é aquele que menos necessidade dela tem.”
“O prazer de fazer o
bem, é maior do que recebê-lo.”
“Se queres a
verdadeira liberdade, deves fazer-te servo da filosofia.”
“Nada
é bastante ao homem para quem tudo é demasiado pouco.”
O prazer não é um mal
em si; mas certos prazeres trazem mais dor do que felicidade.
“Só há um
caminho para a felicidade. Não nos preocuparmos com coisas que
ultrapassam o poder da nossa vontade.”
“O
homem sereno procura serenidade para si e para os outros.”
“Queres
ser rico? Pois não te preocupes em aumentar os teus bens,
mas sim em diminuir a tua cobiça.”
“As
pessoas felizes lembram o passado com gratidão, alegram-se com o presente e
encaram o futuro sem medo.”
“O
justo é tranquilíssimo, o injusto é sempre muito solícito.”
“A amizade e a
lealdade residem numa identidade de almas raramente encontrada.”
“É estupidez pedir
aos deuses aquilo que se pode conseguir sozinho.”
“A
liberdade é o maior fruto da autossuficiência.”
“Não se pode não ter
medo quando se inspira o medo.”
“Os grandes
navegadores devem sua reputação aos temporais e tempestades.”
“Todo
o desejo incômodo e inquieto se dissolve no amor da verdadeira filosofia.”
“Nunca se protele o
filosofar quando se é jovem, nem canse o fazê-lo quando se é velho, pois que
ninguém é jamais pouco maduro nem demasiado maduro para conquistar a saúde da
alma.”
“E
quem diz que a hora de filosofar ainda não chegou ou já passou, assemelha-se ao
que diz que ainda não chegou ou já passou a hora de ser feliz.”
“Se queres enriquecer
Pítocles, não lhe acrescentes riquezas: diminui-lhe os desejos.”
"Qualquer
argumentação filosófica que não tenha como preocupação principal abordar
terapeuticamente o sofrimento humano é inútil"
“Somente o justo
desfruta de paz de espírito.”
“Faz
tudo como se alguém te contemplasse.”
“Caráter é aquilo que
você é quando ninguém está te olhando.”
“Na discussão, o
vencido obtém maior proveito, pois aprende aquilo que ainda não sabia.”
“Lembre-se de que
aquilo que você tem hoje, um dia esteve entre as coisas que desejava."
“Os alimentos mais
simples proporcionam o mesmo prazer que as iguarias mais requintadas, desde que
se remova a dor provocada pela falta.”
“Das coisas que a
sabedoria proporciona para tornar a vida inteiramente feliz, a maior de todas é
uma amizade”.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+epicuro&sxsrf=ALeKk01nz9xTJwGUVywyfGKBN5FeJEolmw:1628728527602&tbm=isch&source
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