Após os artigos sobre
Esopo e Epicuro, agora vou tratar neste artigo sobre outro grego famoso da
Antiguidade: Diógenes de Sinope. O que se sabe sobre Diógenes é principalmente
por meio da obra Vidas e Opiniões de Filósofos Eminentes, de
Diógenes Laércio. Não há variadas fontes históricas sobre Diógenes, que também
era conhecido como Diógenes, o Cínico. Não se sabe ao certo a data
de nascimento dele.Pode ter sido 404 ou 412 a. C. na cidade portuária
de Sínope. Seu pai era Hicésio, que era uma espécie de banqueiro que
trabalhava com cunhagem e troca de moedas e acusado de falsificar moedas.
Segundo alguns, não teria sido o pai que falsificou e sim o próprio Diógenes,
que foi exilado e seu pai foi preso.
Diógenes mudou-se para Atenas. Lá foi
discípulo de Antístenes, que foi seguidor de Sócrates. Antístenes de
início não queria ensinar para Diógenes e, diante da insistência do mesmo em
segui-lo, levantou um bastão para bater na cabeça dele que disse: “Podes
golpear, pois não encontrarás um bastão tão duro que possa me fazer desistir de
obter que me digas algo, como a mim parece que devas”.
Diógenes teria sido,
em determinada ocasião, aprisionado por piratas para que fosse vendido como
escravo e foi comprado por um cidadão instruído, Xeníades, que viu que se
tratava de um homem inteligente, que deu a seu escravo as funções de gerenciar
seus bens e educar seus filhos.
Diógenes passou a viver nas ruas como um mendigo e considerava sua pobreza uma virtude. Segundo relatos, ele vivia em um enorme barril, o qual fazia de casa, andando pelas ruas e carregava uma espécie de lamparina em plena luz do dia dizendo estar a procura de um homem honesto (virtuoso). Depois de ter vivido em Atenas, Diógenes foi viver na cidade grega de Corinto.
Em Corinto, Diógenes continuou com seu ideal cínico de autossuficiência, de forma natural e rejeitando os confortos que a civilização pudesse dar. Para ele a virtude aparece mais com ação e não com teoria. Ele persistia em suas críticas às instituições e aos valores vigentes na sociedade da época, que achava corrupta, ele não considerava a opinião pública e tinha como seus bens um manto, um bastão e uma tigela. Era chamado de forma pejorativa como kinos, ou seja, o cão, por causa de seu estilo de vida. Ele entendia o autodomínio e a liberdade como a verdadeira felicidade e a realização da vida. Era contra o prazer, o desejo e a luxúria. Defendia a prática da virtude, que não deveria ficar só na teoria. Ele dizia: "Sou uma criatura do mundo e não de um estado ou uma cidade particular”. Segundo Peter Sloterdijk – Crítica da Razão Cínica: “A insolência apresenta fundamentalmente duas posições: alto e baixo poder e contrapoder; em termos mais convencionais: senhor e escravo. O kynismos antigo inicia o processo dos ‘argumentos nus’ a partir da oposição, sustentado pelo poder que vem de baixo...” E ainda o mesmo autor: “(...) ele despreza a glória, menospreza a arquitetura, não respeita nada, parodia as histórias de deuses e heróis, come carne e legumes crus, deita-se ao sol, mexe com as prostitutas e enxota Alexandre, o Grande, para que ele saia da frente do seu sol”.
Não se sabe ao certo, mas pode ser que Diógenes tenha escrito tragédias que mostravam a condição humana e também uma obra que teria influenciado o fundador da filosofia do Estoicismo, Zenão de Cítio. Havia histórias que se contavam sobre ele. Uma delas dizia que, certa vez, em Corinto, o general Alexandre perguntou ao filósofo se podia fazer algo por ele. Alexandre se encontrava numa posição que encobria o sol e fazia sombra para Diógenes. Este então teria dito: "Não me tires o que não me podes dar!" Ou:"Deixa-me com meu sol". A esse comportamento de Diógenes, os oficiais de Alexandre riram e ele teria dito: "Se eu não fosse Alexandre, queria ser Diógenes." Contavam também que Diógenes certa vez estava pedindo esmola a uma estátua. Para pessoas que perguntaram a razão disso ele teria respondido: "Por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém." Ele não teve discípulos e falava usando parábolas, simbolismos, respostas curtas e grossas e com sua forma de viver. Fazendo ironias, sátiras e provocações, como também gritando, Diógenes causava incômodo em Platão, que o chamava de “Sócrates enlouquecido”. Sobre essa relação com Platão contava-se a seguinte história:
Platão teria dito que “O Homem é um bípede sem penas!” Então Diógenes, depois de pensar, teve a ideia de roubar uma galinha e foi até a escola de Platão, tirou as penas da ave e jogou-a no salão, apontando e dizendo: “Um humano! Um humano! Um bípede sem penas!” Os que estavam ali riram e Platão envergonhado por fim teria concluído: “O Homem é um bípede sem penas, das unhas chatas”.
Nunca se soube se
Diógenes se considerava ofendido por ser chamado de “cão”, mas parece que ele
acabou considerando essa forma de lhe chamarem como uma virtude. O termo
“cínico” e “cinismo” vem de "kynikos”, oriunda de “Kynon”(cão).
Para Diógenes os seres humanos tinham hábitos hipócritas e ganhariam se vissem
como vive o cão. O filósofo dizia que os cães não reclamavam sobre o lugar que
dormiam, viviam o presente e não ficavam em uma vida ansiosa e que sabiam por
instinto quem era amigo e quem não era, sendo honestos diante da verdade.
Os coríntios homenagearam Diógenes após sua morte com a criação de um pilar onde estava descansando um cão entalhado em mármore. A obra que teria sido escrita por Diógenes (não há certeza se ele escreveu essa obra), com nome de Politeia (A República),criticava valores do mundo grego e defendia a liberdade sexual, a igualdade entre homens e mulheres, o fim das armas e protestava contra a arrecadação de impostos para as cidades. Ele criticava o amor, dizia que era algo absurdo, pois acreditava que não se devia ter apego a outra pessoa.
As histórias de sua morte são várias. Eis algumas: Alguns diziam que se deu por auto-asfixia, outros contavam que foi mordido por um cão. Outra versão dizia que morreu tentando comer um polvo cru.
Foi feito um túmulo por seus admiradores com os seguintes dizeres:
“Até o bronze cede
ao tempo e envelhece, mas tua glória, Diógenes, permanecerá intacta eternamente
porque só tu ensinaste aos mortais a doutrina de que a vida basta-se a si
mesma, e mostraste o caminho mais fácil para viver”.
Algumas frases de
Diógenes:
“Quanto mais
procuro por homens honestos, mais admiro meus cachorros”.
“Qual o melhor
momento para o jantar? Se alguém é rico, quando quiser, se é pobre, quando
puder”.
“A liberdade para
falar é a coisa mais bela para um homem”.
“O tempo é o espelho
da eternidade”.
“Elogiar a si mesmo
desagrada a todos”.
__________________________________
Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História.
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+di%C3%B3genes&sxsrf=ALeKk01-fq5Jb6-KJdViA0S69ljyMjKjBQ:1628882004907&tbm=isch&source=iu&ictx
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