terça-feira, 26 de outubro de 2021

O compositor italiano Verdi

 





Em 10 de outubro de 1813 nasceu na localidade de Roncole, no município italiano de Busseto (na época no departamento de Taro, integrante do império napoleônico, que tinha anexado o Ducado de Parma e Piacenza, atualmente na Emília-Romanha), o famoso compositor de óperas do período romântico italiano, considerado o maior compositor nacionalista da Itália, do mesmo modo como foi Richard Wagner na Alemanha. Estou me referindo a Giuseppe Fortunino Francesco Verdi. Ele foi um compositor muito influente no século XIX. Ainda atualmente suas óperas são muito executadas em casas de ópera de muitos países. Alguns de seus temas de óperas já são muito conhecidos do público como “La donna e mobile”, “Va pensiero” , “Libiamo ne’ lieticalici” e a “Gloria al Egito e ad Iside”. Os pais de Verdi eram pobres. O pai era Carlo Verdi, taberneiro. Sua mãe era Luisa Utini, que fazia alguns trabalhos como fiandeira. Apesar de ter sido batizado como Josephus Fortuninus Franciscus, o pai dele o registrou em Busseto no dia seguinte com o nome francês Joseph Fortunin François. Foi um padre da vila onde nasceu que ajudou Verdi, tendo sido o alfabetizador do futuro compositor e ainda lhe deu as primeiras lições de música. 

O talento de Verdi floresceu e foi se revelando, o que influenciou na decisão dos pais de mudar para Busseto, onde ele teria mais condições de aprendizado. O pequeno Verdi pôde ter uma educação facilitada por visitas à grande biblioteca da escola jesuítica desse lugar, onde também teve as primeiras lições de composição e aos vinte anos mudou-se para Milão para continuar seus estudos de música, tendo aulas particulares de contraponto. O conservatório que hoje em dia tem o nome de Verdi o recusou como aluno e ele teve que ter aulas particulares de música. Nos anos de 1830, a convite de Clara Maffei, Verdi apresentou-se nos salões Salotto Maffei em Milão.

Verdi voltou para Busseto, atuando como mestre de capela e maestro da banda. Depois veio a conseguir apoio de um mercador local e amante da música, Antonio Barezzi. Esse apoio deu a Verdi condições financeiras para apresentar-se pela primeira vez em público, na casa de Barezzi, em 1830. Esse patrocinador incumbiu Verdi de ser o professor de Margherita, sua filha. Ela e Verdi se casaram em maio de 1836 e essa união originou duas crianças que morreram ainda na infância. Margherita faleceu em 18 de junho de 1840, com 27 anos. Essas perdas abalaram muito Verdi.

A primeira ópera de Verdi, Oberto, foi apresentada no Teatro ala Scala de Milão, em novembro de 1839, porém sem muito sucesso. O empresário do referido teatro, Bartolomeo Merelli, ofereceu a Verdi um contrato para mais dois trabalhos. A segunda ópera, Um Giorno di Regno, apresentada em setembro de 1840, não teve sucesso, o que provocou uma angústia em Verdi, que prometeu na época que não iria mais compor. Apesar dessa situação, Merelli conseguiu convencer Verdi a compor a ópera Nabucco, apresentada em setembro de 1840, que tornou o compositor famoso em Milão.

Em uma década, a partir de 1843, Verdi compôs 14 óperas, um período descrito pelo compositor como seus "melhores anos". São desse tempo as obras I Lombardi (1843); Ernani (1844); Macbeth (1847), considerada por críticos a mais original e importante ópera de Verdi, que pela primeira vez fazia uma ópera sem uma história de amor, saindo da tradição de óperas italianas do século XIX. I Lombardi foi renomeada em 1847 como Jerusalem e produzida pela Ópera de Paris.

Após a morte de sua esposa Margherita, Verdi começou um relacionamento amoroso com a soprano Giseppina Strepponi. Eles primeiro viveram juntos, o que em algumas cidades onde moraram não foi bem visto até que se casaram em agosto de 1859, na Suiça. Foi morar em Busseto com a nova esposa e depois que sua mãe morreu em 1851 ele passou a morar em Villa Verdi Sant’Agata, em Villanova sull’Arda e lá permaneceu até sua morte.

Uma de suas melhores obras, Rigolleto, estreou em 1851, em Veneza. Foi baseada na peça Le rois'amuse, de Vitor Hugo. Mas houve revisões no libreto por causa da censura. Logo a ópera se tornou um grande sucesso. Nessa obra Verdi misturava comédia e tragédia, com uma complexidade social e cultural, misturando elementos heterogêneos. Em 1853 foram compostas por Verdi as óperas Il trovatore (produzida em Roma) e La Traviata (produzida em Veneza), duas de suas melhores obras. Outras grandes óperas foram compostas entre 1855 e 1867: Um ballo in maschera (1859); La forzadel destino (apresentada em 1862). Também foi produzida a versão revisada de Macbeth (1855). Outras obras da época foram: Les vêpres siciliennes (1855) e Don Carlo (1867), feitas para a Ópera de Paris, na língua francesa. Na atualidade essas duas obras tem mais interpretações em italiano. Outra obra foi Simon Boccanegra, de 1857.

Verdi e outros compositores compuseram uma seção para uma missa de réquiem em memória do grande compositor italiano Gioachino Rossini, porém a apresentação foi cancelada e Verdi culpou o maestro que iria conduzir a obra, Angelo Mariani, que não mostrou vontade de ir em frente com o projeto. Essa situação levou a uma ruptura de relações entre Verdi e esse maestro. Mas Verdi aproveitou a parte “Libera Me” que fez para esse Requiem , tendo feito uma revisão cinco anos depois, compondo um Requiem homenageando o poeta e romancista Alessandro Manzoni, morto em 1873. Essa obra foi apesentada na Catedral de Milão, em 22 de maio de 1874.

Houve rumores que a cantora Teresa Stolz, que participou na première europeia da ópera Aida, em Milão, em fevereiro de 1872 (mas que não apareceu na première da ópera, no Cairo em 1871), tenha tido um romance com Verdi depois que ela se separou do maestro Angelo Mariani. O papel de Aida foi escrito para ela, que também foi solista na primeira produção do Requiem. Quando Giseppina morreu, Teresa e Verdi ficaram mais ligados.

A respeito de outro grande compositor da época, também autor de óperas, Wagner, os dois não se conheceram. Eles conheciam sobre obras um do outro. É possível que tenha havido uma influência mútua, mesmo que inconscientemente. Sobre Wagner Verdi comentou: "Ele sempre escolhe, desnecessariamente, o caminho não trilhado, tentando fazer com que as pessoas alcancem os melhores resultados”. E quando Wagner morreu Verdi disse:"Triste, triste, triste! Um nome que deixará uma marca muito forte na história da arte”. Já Wagner sobre Verdi, o compositor alemão disse após ouvir o Requiem do italiano: "É melhor não dizer nada!".

Para Verdi o amor era tema constante em suas composições, houve censura em conteúdos políticos de obras suas. Ele era impulsionado a exaltar os humilhados e injustiçados. Era um romântico, com intensas paixões e com a crença na capacidade redentora do amor, tendo Victor Hugo e Shakespeare como fontes de inspiração. Compositores que antecederam Verdi e que podem ter exercido influência sobre ele: Rossini, Bellini, Meyerbeer, Donizetti e Mercadante. As óperas Otello e Aida possivelmente sofreram influência de Richard Wagner no processo de criação dessas obras.

Segundo o pesquisador Leonardo Martinelli na Revista CONCERTO de maio de 2011: “Giuseppe Verdi foi um dos maiores compositores de óperas de todos os tempos, juntamente com Wolfgang Amadeus Mozart e Richard Wagner. Suas obras são notáveis pela intensidade emocional, belas melodias e caracterizações dramáticas.

Verdi transformou a ópera italiana – de um conjunto repetitivo de recitativos e árias, com libretos antiquados e ênfase nas proezas vocais – em uma entidade musical e dramática unificada. Suas óperas estão entre as mais executadas da atualidade (...)”.

Quando o processo de reunificação da Itália estava se concluindo, o slogan “Viva Verdi” foi interpretado como “Viva Vítor Emanuel Rei da Itália”. Vitor Emanuel II era o rei do Piemonte e Sardenha que se tornou o primeiro rei da Itália. Verdi tinha sido eleito membro da Câmara dos Deputados em 1861, por causa de um conselho do Primeiro-Ministro Cavour, porém em 1865 renunciou a esse cargo e em 1874 foi nomeado Senador do Reino pelo rei da Itália. Na ópera Nabucco, a opressão do povo judeu foi relacionada à situação da Itália sob ocupação militar estrangeira. Verdi tinha de conseguir que obras suas de caráter patriótico não fossem barradas por censores austríacos ou franceses, mantendo características essenciais de suas obras.

Verdi fez trabalhos de revisão de suas primeiras composições, como novas versões de Don CarloLa forza del destino e Simon Boccanegra. Em 1887 a sua ópera Otello, que foi baseada na obra de William Shakespeare, teve sua première em Milão. O libreto foi escrito pelo compositor Arrigo Boito. As opiniões críticas se dividem entre críticos musicais, com uns dizendo que é a obra-prima trágica de Verdi e outros dizendo que não tem o brilho melódico característico do compositor. Diferentemente de outras obras de Verdi, não há prelúdio. Na estreia da obra houve destaque para a participação de Arturo Toscanini como violoncelista, que veio a ser amigo de Verdi.

Falstaff (1893) foi aúltima ópera de Verdi, com libreto escrito por Boito e baseada na obra “As Esposas Alegres de Windsor”, com tradução de Victor Hugo. Foi muito elogiada essa ópera, uma obra cômica, um grande sucesso, com destaque para a capacidade criativa de Verdi no contraponto.

A última composição orquestral de Verdi foi um curto balé para a produção francesa de Otello. Tempo depois Toscanini gravou com orquestra sinfônica da NBC a música para a RCA Victor. E finalmente a última composição de Verdi foi em 1897. Tratava-se de uma obra com base nos textos em latim de Stabat Mater. Foi a última de quatro obras sacras compostas por Verdi: Quattro Pezzi Sacri. Essas obras são: Ave MariaStabat MaterLaudo ala Vergine Maria e Te Deum. Em 7 de abril de 1898 foi executada a primeira apresentação das quatro obras na Grande Ópera, em Paris.Em 1895, ele recebeu do rei da Itália o título de Marquês de Busseto.

Verdi faleceu em 27 de janeiro de 1901. Ele havia tido um AVC no dia 21 de janeiro quando estava hospedado no Grande Hotel de Milão. Em seu funeral Arturo Toscanini conduziu orquestras e coros combinados de toda a Itália, em Milão. Toscanini conduziu coro de 820 cantores que cantaram O Coro dos Hebreusantes do corpo de Verdi ser levado para o cemitério.

Segundo a autora Dilva Frazão sobre Verdi:

“(...) Em 1839, estreou no Scala de Milão com a ópera, Oberto, Conde de San Bonifácio, conseguindo imediata aceitação de parte do público. A apresentação da ópera foi seguida da morte de sua filha Virgínia, de seu filho Icílio e de sua esposa Margherita. Desesperado, o compositor jurou que jamais criaria outra ópera. Em 1842, no entanto, Nabuco obteve extraordinário sucesso em Milão, em parte por sua descrição do cativeiro judeu na Babilônia. A celebridade de Verdi consolidou-se com uma série de óperas de temas literários e históricos: Ernani (1844), Joana d’Arc e Macbeth (1947).Depois de uma estada em Paris, Verdi estabeleceu-se perto de Busseto com a soprano Giuseppina Strepponi, com quem manteve uma feliz e duradoura união, oficializada em 1859.Em 1848, satisfeito com os acontecimentos da revolução, Verdi abandonou o gênero patriótico em suas óperas e escreveu três obras-primas: Rigoletto (1851), Il Trovatore (1853) e La Traviata (1853).

Tendo alcançado grande prestígio internacional, Verdi alternou a criação de obras para a Ópera de Paris com trabalhos artisticamente mais ambiciosos, como: “Simon Boccanegra” (1857), “Um Ballo in Maschera” (1859) e “La Forzadel Destino” (1862).Em 1860, com a Itália unificada, Verdi livrou-se dos censores austríacos. Por insistência do conde Cavour, tornou-se deputado por um breve período e não teve ativa participação política. Em 1871, recebeu o convite e a encomenda de uma ópera para a inauguração do Canal de Suez. Verdi compôs a célebre Aida, com que atingiu o auge de sua carreira, sempre auxiliado por sua nova companheira, a soprano Giuseppina, que faleceu em 1879 (...)”

Segundo o maestro Roberto Minczuk:

“Não há como falar da obra de Verdi sem falar do homem que ele foi. Filho de um estalajadeiro e de uma fiandeira, sua educação se dá pelo som rude de rabecas e flautas tocadas por viajantes que se hospedavam nas humildes instalações de sua casa. Verdi não teve em sua infância uma formação de base, não teve de seu pai o apoio necessário, não teve de seus professores a instrução correta, mas algo suplantava tudo isso: o seu amor pela música.

Sério e dedicado, Verdi nunca deixou que as inúmeras dificuldades o afastassem do sonho de se tornar um músico reconhecido. Graças à proteção do comerciante Antônio Barezzi iniciou seus estudos na escola de música de sua cidade natal. Foi recusado no exame que prestou para o Conservatório de Música de Milão, que hoje leva seu nome. Após o relativo êxito obtido com sua primeira ópera no Teatro ala Scala, em menos de um ano perde sua mulher e seus dois filhos, e sua segunda ópera fracassa. Nesse momento muito difícil, mais uma vez a música faz com que ele renasça. Graças a Nabucco e seu eterno VaPensiero, Verdi se torna um dos grandes nomes da ópera italiana. Seus sucessos se sucedem com força e constância jamais vistas na história da ópera. Passou, em seus mais de 50 anos como compositor, pelas mais diversas modas e movimentos. Viu a criação dos dramas líricos de Wagner; do Fausto, de Gounod; da Carmen, de Bizet; de Boris Godunov de Mussorgsky, sem nunca perder o foco e desviar sua trajetória sob o efeito dessas novas ideias estéticas.

Sua obra tem a nobreza e a simplicidade de seu caráter. Era um camponês humilde, sensível e entusiasta. Não criou nenhuma doutrina ou sistema. Acreditava que somente a sinceridade justificava a arte. E essa deve ser a busca de um intérprete de uma ópera de Verdi: transmitir ao público a verdade do drama, dos personagens e, consequentemente, de nós mesmos.”

Frases de Verdi:

 

"De todos os compositores do passado e do presente, eu sou o que menos aprendeu"

“Todo mundo deveria sentir respeito diante da humanidade sofrida.”

“Não sou um compositor culto, mas sou experiente.”

"Pode ser uma coisa boa copiar a realidade; mas para inventar a realidade é muito melhor".

“Eu adoro arte, quando estou sozinho com minhas notas, meu coração e minhas lágrimas caem, minha emoção e prazer são imensos.”

 

Sugestão de videos:

 

https://www.youtube.com/watch?v=FJ8JRD4xVmQ

Ópera nabucco de verdi com legendas em português

 

https://www.youtube.com/watch?v=4fba_2RKuV4

VERDI, AIDA "MARCHA TRIUNFAL"

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Márcio José Matos Rodrigues-professor de História

 

 

 

Figura: https://www.gettyimages.com.br/fotos/giuseppe-fortunino-francesco-verdi


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