Em 10 de outubro de 1813 nasceu na localidade de Roncole, no município italiano de Busseto (na época no departamento de Taro, integrante do império napoleônico, que tinha anexado o Ducado de Parma e Piacenza, atualmente na Emília-Romanha), o famoso compositor de óperas do período romântico italiano, considerado o maior compositor nacionalista da Itália, do mesmo modo como foi Richard Wagner na Alemanha. Estou me referindo a Giuseppe Fortunino Francesco Verdi. Ele foi um compositor muito influente no século XIX. Ainda atualmente suas óperas são muito executadas em casas de ópera de muitos países. Alguns de seus temas de óperas já são muito conhecidos do público como “La donna e mobile”, “Va pensiero” , “Libiamo ne’ lieticalici” e a “Gloria al Egito e ad Iside”. Os pais de Verdi eram pobres. O pai era Carlo Verdi, taberneiro. Sua mãe era Luisa Utini, que fazia alguns trabalhos como fiandeira. Apesar de ter sido batizado como Josephus Fortuninus Franciscus, o pai dele o registrou em Busseto no dia seguinte com o nome francês Joseph Fortunin François. Foi um padre da vila onde nasceu que ajudou Verdi, tendo sido o alfabetizador do futuro compositor e ainda lhe deu as primeiras lições de música.
O talento de Verdi floresceu e foi se revelando, o que influenciou na decisão dos pais de mudar para Busseto, onde ele teria mais condições de aprendizado. O pequeno Verdi pôde ter uma educação facilitada por visitas à grande biblioteca da escola jesuítica desse lugar, onde também teve as primeiras lições de composição e aos vinte anos mudou-se para Milão para continuar seus estudos de música, tendo aulas particulares de contraponto. O conservatório que hoje em dia tem o nome de Verdi o recusou como aluno e ele teve que ter aulas particulares de música. Nos anos de 1830, a convite de Clara Maffei, Verdi apresentou-se nos salões Salotto Maffei em Milão.
Verdi voltou para Busseto, atuando como mestre de capela e maestro da banda. Depois veio a conseguir apoio de um mercador local e amante da música, Antonio Barezzi. Esse apoio deu a Verdi condições financeiras para apresentar-se pela primeira vez em público, na casa de Barezzi, em 1830. Esse patrocinador incumbiu Verdi de ser o professor de Margherita, sua filha. Ela e Verdi se casaram em maio de 1836 e essa união originou duas crianças que morreram ainda na infância. Margherita faleceu em 18 de junho de 1840, com 27 anos. Essas perdas abalaram muito Verdi.
A primeira ópera de Verdi, Oberto,
foi apresentada no Teatro ala Scala de Milão, em novembro de
1839, porém sem muito sucesso. O empresário do referido teatro, Bartolomeo
Merelli, ofereceu a Verdi um contrato para mais dois trabalhos. A segunda
ópera, Um Giorno di Regno, apresentada em setembro de 1840, não
teve sucesso, o que provocou uma angústia em Verdi, que prometeu na época que
não iria mais compor. Apesar dessa situação, Merelli conseguiu convencer Verdi
a compor a ópera Nabucco, apresentada em setembro de 1840, que
tornou o compositor famoso em Milão.
Em uma década, a partir de 1843, Verdi
compôs 14 óperas, um período descrito pelo compositor como seus "melhores
anos". São desse tempo as obras I Lombardi (1843); Ernani (1844); Macbeth (1847),
considerada por críticos a mais original e importante ópera de Verdi, que pela
primeira vez fazia uma ópera sem uma história de amor, saindo da tradição de
óperas italianas do século XIX. I Lombardi foi renomeada em
1847 como Jerusalem e produzida pela Ópera de Paris.
Após a morte de sua esposa Margherita,
Verdi começou um relacionamento amoroso com a soprano Giseppina Strepponi. Eles
primeiro viveram juntos, o que em algumas cidades onde moraram não foi bem
visto até que se casaram em agosto de 1859, na Suiça. Foi morar em Busseto com
a nova esposa e depois que sua mãe morreu em 1851 ele passou a morar em Villa
Verdi Sant’Agata, em Villanova sull’Arda e lá permaneceu até sua morte.
Uma de suas melhores obras, Rigolleto,
estreou em 1851, em Veneza. Foi baseada na peça Le rois'amuse, de
Vitor Hugo. Mas houve revisões no libreto por causa da censura. Logo a ópera se
tornou um grande sucesso. Nessa obra Verdi misturava comédia e tragédia, com
uma complexidade social e cultural, misturando elementos heterogêneos. Em 1853
foram compostas por Verdi as óperas Il trovatore (produzida em
Roma) e La Traviata (produzida em Veneza), duas de suas melhores
obras. Outras grandes óperas foram compostas entre 1855 e 1867: Um
ballo in maschera (1859); La forzadel destino (apresentada
em 1862). Também foi produzida a versão revisada de Macbeth (1855).
Outras obras da época foram: Les vêpres siciliennes (1855)
e Don Carlo (1867), feitas para a Ópera de Paris, na língua
francesa. Na atualidade essas duas obras tem mais interpretações em italiano.
Outra obra foi Simon Boccanegra, de 1857.
Verdi e outros compositores compuseram
uma seção para uma missa de réquiem em memória do grande compositor italiano
Gioachino Rossini, porém a apresentação foi cancelada e Verdi culpou o maestro
que iria conduzir a obra, Angelo Mariani, que não mostrou vontade de ir em
frente com o projeto. Essa situação levou a uma ruptura de relações entre Verdi
e esse maestro. Mas Verdi aproveitou a parte “Libera Me” que fez para
esse Requiem , tendo feito uma revisão cinco anos depois,
compondo um Requiem homenageando o poeta e romancista
Alessandro Manzoni, morto em 1873. Essa obra foi apesentada na Catedral de
Milão, em 22 de maio de 1874.
Houve rumores que a cantora Teresa
Stolz, que participou na première europeia da ópera Aida, em Milão,
em fevereiro de 1872 (mas que não apareceu na première da ópera, no Cairo em
1871), tenha tido um romance com Verdi depois que ela se separou do maestro
Angelo Mariani. O papel de Aida foi escrito para ela, que
também foi solista na primeira produção do Requiem.
Quando Giseppina morreu, Teresa e Verdi ficaram mais ligados.
A respeito de outro grande compositor
da época, também autor de óperas, Wagner, os dois não se conheceram. Eles
conheciam sobre obras um do outro. É possível que tenha havido uma influência
mútua, mesmo que inconscientemente. Sobre Wagner Verdi comentou: "Ele
sempre escolhe, desnecessariamente, o caminho não trilhado, tentando fazer com
que as pessoas alcancem os melhores resultados”. E quando Wagner
morreu Verdi disse:"Triste, triste, triste! Um nome que deixará uma
marca muito forte na história da arte”. Já Wagner sobre Verdi, o compositor
alemão disse após ouvir o Requiem do italiano: "É melhor não dizer
nada!".
Para Verdi o amor era tema constante em
suas composições, houve censura em conteúdos políticos de obras suas. Ele era
impulsionado a exaltar os humilhados e injustiçados. Era um romântico, com
intensas paixões e com a crença na capacidade redentora do amor, tendo Victor
Hugo e Shakespeare como fontes de inspiração. Compositores que antecederam
Verdi e que podem ter exercido influência sobre ele: Rossini, Bellini,
Meyerbeer, Donizetti e Mercadante. As óperas Otello e Aida possivelmente
sofreram influência de Richard Wagner no processo de criação dessas obras.
Segundo o pesquisador Leonardo
Martinelli na Revista CONCERTO de maio de 2011: “Giuseppe Verdi foi um dos
maiores compositores de óperas de todos os tempos, juntamente com Wolfgang
Amadeus Mozart e Richard Wagner. Suas obras são notáveis pela intensidade
emocional, belas melodias e caracterizações dramáticas.
Verdi transformou a ópera italiana – de
um conjunto repetitivo de recitativos e árias, com libretos antiquados e ênfase
nas proezas vocais – em uma entidade musical e dramática unificada. Suas óperas
estão entre as mais executadas da atualidade (...)”.
Quando o processo de reunificação da
Itália estava se concluindo, o slogan “Viva Verdi” foi interpretado como “Viva
Vítor Emanuel Rei da Itália”. Vitor Emanuel II era o rei do Piemonte e Sardenha
que se tornou o primeiro rei da Itália. Verdi tinha sido eleito membro
da Câmara dos Deputados em 1861, por causa de um conselho
do Primeiro-Ministro Cavour, porém em 1865 renunciou a esse cargo e em
1874 foi nomeado Senador do Reino pelo rei da Itália. Na ópera Nabucco,
a opressão do povo judeu foi relacionada à situação da Itália sob ocupação
militar estrangeira. Verdi tinha de conseguir que obras suas de caráter
patriótico não fossem barradas por censores austríacos ou franceses, mantendo
características essenciais de suas obras.
Verdi fez trabalhos de revisão de suas
primeiras composições, como novas versões de Don Carlo, La
forza del destino e Simon Boccanegra. Em 1887 a sua
ópera Otello, que foi baseada na obra de William Shakespeare, teve
sua première em Milão. O libreto foi escrito pelo compositor Arrigo Boito. As
opiniões críticas se dividem entre críticos musicais, com uns dizendo que é a
obra-prima trágica de Verdi e outros dizendo que não tem o brilho melódico
característico do compositor. Diferentemente de outras obras de Verdi, não há
prelúdio. Na estreia da obra houve destaque para a participação de Arturo
Toscanini como violoncelista, que veio a ser amigo de Verdi.
Falstaff (1893) foi
aúltima ópera de Verdi, com libreto escrito por Boito e baseada na obra “As
Esposas Alegres de Windsor”, com tradução de Victor Hugo. Foi muito elogiada
essa ópera, uma obra cômica, um grande sucesso, com destaque para a capacidade
criativa de Verdi no contraponto.
A última composição orquestral de Verdi
foi um curto balé para a produção francesa de Otello. Tempo depois Toscanini
gravou com orquestra sinfônica da NBC a música para a RCA Victor. E finalmente
a última composição de Verdi foi em 1897. Tratava-se de uma obra com base nos
textos em latim de Stabat Mater. Foi a última de quatro obras
sacras compostas por Verdi: Quattro Pezzi Sacri. Essas obras
são: Ave Maria, Stabat Mater, Laudo ala Vergine
Maria e Te Deum. Em 7 de abril de 1898 foi executada a
primeira apresentação das quatro obras na Grande Ópera, em Paris.Em 1895,
ele recebeu do rei da Itália o título de Marquês de Busseto.
Verdi faleceu em 27 de janeiro de 1901.
Ele havia tido um AVC no dia 21 de janeiro quando estava hospedado no Grande
Hotel de Milão. Em seu funeral Arturo Toscanini conduziu orquestras e coros
combinados de toda a Itália, em Milão. Toscanini conduziu coro de 820 cantores
que cantaram O Coro dos Hebreusantes do corpo de Verdi ser levado
para o cemitério.
Segundo a autora Dilva Frazão sobre
Verdi:
“(...) Em 1839, estreou no Scala de
Milão com a ópera, Oberto, Conde de San Bonifácio, conseguindo
imediata aceitação de parte do público. A apresentação da ópera foi seguida da
morte de sua filha Virgínia, de seu filho Icílio e de sua esposa Margherita.
Desesperado, o compositor jurou que jamais criaria outra ópera. Em 1842, no
entanto, Nabuco obteve extraordinário sucesso em Milão, em
parte por sua descrição do cativeiro judeu na Babilônia. A celebridade de Verdi
consolidou-se com uma série de óperas de temas literários e históricos: Ernani
(1844), Joana d’Arc e Macbeth (1947).Depois de uma estada em
Paris, Verdi estabeleceu-se perto de Busseto com a soprano Giuseppina
Strepponi, com quem manteve uma feliz e duradoura união, oficializada em
1859.Em 1848, satisfeito com os acontecimentos da revolução, Verdi abandonou o
gênero patriótico em suas óperas e escreveu três obras-primas: Rigoletto
(1851), Il Trovatore (1853) e La Traviata (1853).
Tendo alcançado grande prestígio
internacional, Verdi alternou a criação de obras para a Ópera de Paris com
trabalhos artisticamente mais ambiciosos, como: “Simon Boccanegra” (1857), “Um
Ballo in Maschera” (1859) e “La Forzadel Destino” (1862).Em 1860, com a Itália
unificada, Verdi livrou-se dos censores austríacos. Por insistência do conde
Cavour, tornou-se deputado por um breve período e não teve ativa participação
política. Em 1871, recebeu o convite e a encomenda de uma ópera para a
inauguração do Canal de Suez. Verdi compôs a célebre Aida, com
que atingiu o auge de sua carreira, sempre auxiliado por sua nova companheira,
a soprano Giuseppina, que faleceu em 1879 (...)”
Segundo o maestro Roberto Minczuk:
“Não há como falar da obra de Verdi sem
falar do homem que ele foi. Filho de um estalajadeiro e de uma fiandeira, sua
educação se dá pelo som rude de rabecas e flautas tocadas por viajantes que se
hospedavam nas humildes instalações de sua casa. Verdi não teve em sua infância
uma formação de base, não teve de seu pai o apoio necessário, não teve de seus
professores a instrução correta, mas algo suplantava tudo isso: o seu amor pela
música.
Sério e dedicado, Verdi nunca deixou
que as inúmeras dificuldades o afastassem do sonho de se tornar um músico
reconhecido. Graças à proteção do comerciante Antônio Barezzi iniciou seus
estudos na escola de música de sua cidade natal. Foi recusado no exame que
prestou para o Conservatório de Música de Milão, que hoje leva seu nome. Após o
relativo êxito obtido com sua primeira ópera no Teatro ala Scala, em menos de
um ano perde sua mulher e seus dois filhos, e sua segunda ópera fracassa. Nesse
momento muito difícil, mais uma vez a música faz com que ele renasça. Graças
a Nabucco e seu eterno Va, Pensiero,
Verdi se torna um dos grandes nomes da ópera italiana. Seus sucessos se sucedem
com força e constância jamais vistas na história da ópera. Passou, em seus mais
de 50 anos como compositor, pelas mais diversas modas e movimentos. Viu a
criação dos dramas líricos de Wagner; do Fausto, de Gounod;
da Carmen, de Bizet; de Boris Godunov de
Mussorgsky, sem nunca perder o foco e desviar sua trajetória sob o efeito
dessas novas ideias estéticas.
Sua obra tem a nobreza e a simplicidade
de seu caráter. Era um camponês humilde, sensível e entusiasta. Não criou
nenhuma doutrina ou sistema. Acreditava que somente a sinceridade justificava a
arte. E essa deve ser a busca de um intérprete de uma ópera de Verdi:
transmitir ao público a verdade do drama, dos personagens e, consequentemente,
de nós mesmos.”
Frases de Verdi:
"De todos os compositores do
passado e do presente, eu sou o que menos aprendeu"
“Todo mundo deveria sentir respeito
diante da humanidade sofrida.”
“Não sou um compositor culto, mas sou
experiente.”
"Pode ser uma coisa boa copiar a
realidade; mas para inventar a realidade é muito melhor".
“Eu adoro arte, quando estou sozinho
com minhas notas, meu coração e minhas lágrimas caem, minha emoção e prazer são
imensos.”
Sugestão de videos:
https://www.youtube.com/watch?v=FJ8JRD4xVmQ
Ópera nabucco de verdi com legendas em
português
https://www.youtube.com/watch?v=4fba_2RKuV4
VERDI, AIDA "MARCHA TRIUNFAL"
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Márcio José Matos Rodrigues-professor
de História
Figura:
https://www.gettyimages.com.br/fotos/giuseppe-fortunino-francesco-verdi
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