Considerando o Dia
Internacional da Mulher, meu segundo artigo deste mês de março é sobre
Patrícia Rehder Galvão, chamada de Pagu. Ela foi poetisa, escritora, diretora,desenhista,
tradutora,cartunista, jornalista e militante comunista. Nasceu em São João da
Boa Vista (SP) em 9 e junho de 1910.
Participou do movimento modernista que iniciou em 1922, ainda que não
tenha participado da Semana de Arte Moderna. Era de uma família abastada e
conservadora do interior paulista, a terceira de quatro irmãos. Seu pai era Thiers
Galvão de França, advogado e jornalista descendente de
portugueses. Sua mãe era Adélia Rehder, que tinha
ancestrais alemães e portugueses. O apelido de infância era Zazá (Pagu foi um
apelidado dado em época posterior pelo poeta Raul Bopp).
Em 1925, Patrícia mudou-se para a cidade de São
Paulo com sua família. Nessa cidade ela foi redatora, criticando o governo e as
injustiças sociais, com o pseudônimo de Patsy,
no Brás Jornal. Ela foi uma mulher
progressista. Diferente de muitas outras mulheres, ela bebia e fumava em
público, vestia-se com roupas colantes e transparentes,usava cabelos curtos e
teve vários relacionamentos amorosos. Era um comportamento ousado que se
diferenciava da grande maioria das pessoas de sua classe social de origem. Foi
uma musa para os modernistas. Aos 18 anos, tendo sido influenciada pelas ideias
de Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, Patrícia integrou-se ao movimento
antropofágico. O apelido Pagu veio do poema escrito em 1928 por Raul Bopp
chamado “Coco de Pagu”:
Pagu tem uns
olhos moles
uns olhos de fazer doer.
Bate-coco quando passa.
Coração pega a bater.
Eh Pagu eh!
Dói porque é bom de fazer doer (...)
O poema para Pagu foi
publicado em jornais e interpretado por ela no Teatro Municipal de São Paulo,
em 1929. Em 1929, Laura Suarez compôs e cantou uma canção, com o mesmo título
do poema, que foi lançada no início de 1930 em disco.
Pagu esteve nos Estados
Unidos, Japão e Manchúria. Lá ela fez a cobertura da coroação do imperador Pu-Yi, um governante fantoche do
Japão e que tinha sido o último imperador da China. Ela ainda entrevistou o
psicanalista Sigmund Freud quando estavam em um navio. Pagu ainda conseguiu na Manchúria
19 saquinhos de soja que deu para o poeta Bopp. Ela teria sido uma das colaboradoras
para o plantio de soja no Brasil.
Pagu, após já ter se
relacionado com homens famosos e anônimos, passou a namorar secretamente em
1928 o escritor Oswald de Andrade, que na época estava casado com a pintora
Tarsila do Amaral. Oswald se separou de Tarsila e ficou com Pagu. Ela e Oswald
fizeram um cerimônia de “casamento”, que foi mais um ato simbólico, realizado
no Cemitério da Consolação, em São Paulo. Mas depois eles se casaram
oficialmente, estando ela grávida de seis meses, o que foi um escândalo para a
sociedade conservadora da época que já a tinha criticado por seu relacionamento
com Oswald. O filho do casal, Rudá de Andrade, nasceu em 25 de setembro de
1930.
Oswald e Pagu passaram a
militar no Partido Comunista Brasileiro e fundaram o jornal O Homem do Povo, que existiu até o ano
de 1945. Nesse ano Oswald desligou-se do partido. Oswald não era fiel e devido
a essas traições, o casal se separou em 1934. Pagu foi morar sozinha e levou
seu filho, sendo de novo criticada pela sociedade conservadora. Ela tinha sido
presa em 1931 por ter participado de uma greve de estivadores em Santos.
Durante sua vida, pagu foi presa 23 vezes. Deixou o Brasil em 1933 para viajar
pelo mundo e publicou, com o pseudônimo de Mara Lobo, o romance Parque Industrial. Foi
presa sob acusação de ser comunista, em Paris, em 1935. Mandada de volta por
autoridades francesas ao Brasil, com identidade falsa, ela foi presa e
torturada pela polícia do governo Vargas e ficou cinco anos presa. Tal fato
ativou mais sua criatividade e sua arte. O filho dela nesse tempo estava com o
pai, Oswald de Andrade.
Em 1940, Pagu estava livre da prisão e mudou sua postura política, saindo do Partido Comunista e seguindo uma abordagem socialista trotskista, fazendo parte do jornal Vanguarda Socialista, no qual também trabalhavam, entre outros, o crítico de arte Mário Pedrosa e o então marido de Pagu, Geraldo Ferraz. Com Geraldo, Pagu teve seu segundo filho, Geraldo Galvão Ferraz, nascido em junho de 1941. Nessa época Pagu passou a morar com o marido e seus dois filhos em São Paulo. Fez uma viagem para a China e lá lançou obras suas. Um novo livro foi publicado por ela em 1945, A Famosa Revista, em parceria com seu marido. Pagu tentou ser eleita deputada estadual em 1950, sem ser bem sucedida. Frequentou a Escola de Arte Dramática de São Paulo, em 1952. Foi para Santos, onde atuou em espetáculos no teatro. Estava inserida no teatro de vanguarda.
Pagu fez traduções das obras A
Cantora Careca, de Eugène Lonesco e Fando e Liz, de Fernando Arrabal. Traduziu poemas de Guiiaume
Apollinaire. Trabalhou como animadora cultural em Santos, passando a residir
nessa cidade em 1953, onde incentivava jovens talentos e grupos amadores de
teatro. Além dos livros Parque Industrial e A Famosa Revista,
Pagu escreveu contos policiais, com o pseudônimo King Shelter, publicados na
revista Detective, que estava sob direção de Nelson Rodrigues. Em 1998 a
Livraria José Olympio Editora reuniu
esses contos na obra Safra Macabra. Pagu traduziu e revelou para o Brasil
autores como James Joyce, Octávio Paz etc. O último jornal onde ela trabalhou
foi A Tribuna.
Pagu também destacou-se
como desenhista e ilustradora, tendo participado da Revista de Antropofagia
(1928-1929). Houve a publicação em 2004 de 22 desenhos de Pagu no chamado Caderno
de croquis de Pagu e outros momentos felizes que foram devorados reunidos.
Fez parte da equipe que organizou os desenhos da autora, o filho dela Rudá de
Andrade.
Em 1960, quando estava
trabalhando como crítica de arte, descobriu que tinha câncer de pulmão. Foi a
Paris para uma cirurgia, que não adiantou. Ficou morando em Paris e fazendo
quimioterapia. Ficou desesperada por não poder trabalhar com arte e ter de
ficar deitada na cama. Deprimida, tentou o suicídio, mas foi salva pelo marido.
Ela escreveu sobre o acontecido: ": "Uma bala ficou para trás, entre gazes
e lembranças estraçalhadas". Mesmo com o tratamento, ela não se curou,
voltou ao Brasil e morreu em Santos em 12 de dezembro de 1962.
Em São Paulo, no ano de 2005 foi feita uma
comemoração pelos 95 anos de Pagu, com ampla programação, com exposição de
fotos, desenhos e textos da autora, com lançamento de livros e um espetáculo
foi apresentada sobre a vida dela. No dia do nascimento de Pagu, os convidados
compareceram a uma festa com roupas de época, realizada no Museu da Imagem e
do Som de São Paulo. Houve um filme sobre a vida de Pagu feito em 1987: Eternamente Pagu. Rita Lee e Zélia
Duncan fizeram a canção Pagu:
“Nem toda feiticeira é corcunda
Nem toda brasileira é bunda
Meu peito não é de silicone
Sou mais macho que muito homem
Sou rainha do meu tanque
Sou Pagu indignada no palanque... “
Também
houve documentários e peças sobre ela e foi
enredo da Escola de Samba X-9, em Santos.
A pesquisadora Márcia Costa escreveu o livro: De Pagu a Patrícia - o Último Ato
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+Pagu&sxsrf=APq-WBv7bJBJHIQ_oTN1FO1Q9Guo4t_6vg:1647145866772&tbm=isch&source=iu&ictx=1&vet=1&fir=
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