Estive lendo um livro muito interessante :O
Mosquito: a incrível história do maior predador de Humanidade. A partir
dessa leitura tive ideia de escrever sobre uma doença infecciosa que é
transmitida por mosquito e causada por protozoários parasitários de gênero Plasmodium.
Esta doença é a malária, cujos sintomas (que começam a manifestar-se de 10 a 15
dias após o mosquito ter picado, sendo que esse tempo pode ser maior, de mais
de 25 dias, se a pessoa tiver tomado medicação antimalárica de prevenção)
costumam ser: fadiga, febre, vômitos, dores de cabeça, dores nas articulações,
anemia hemolítica, icterícia, hemoglobina na urina, lesões na retina,
convulsões, podendo levar ao estado de coma e à morte. As
manifestações no começo da doença, iguais em todas as espécies de malária, são
semelhantes aos sintomas da gripe podendo ainda ser semelhantes aos
de outras doenças virais e condições clínicas como a sepse ou a
gastroenterite. A doença não tratada adequadamente pode voltar meses depois. Há
então uma imunidade parcial, que pode sumir em anos ou mesmo meses.
Podem
acontecer complicações muito sérias em casos de malária, como o desenvolvimento
de “stress” respiratório. De 5% a 25% dos adultos e 29% de grávidas, em
situações graves de malária, há o desenvolvimento de Síndrome
do desconforto respiratório do adulto. Outra situação grave é a febre
da água negra. Nestes casos a hemoglobina de glóbulos vermelhos danificados
são depositados na urina.
Durante a gravidez, se houver malária do
tipo falciparumou P. vivax, o feto poderá morrer ou a criança nascer
com peso muito baixo. Pode ocorrer malária cerebral em infecção
com P. Falciparum. Esse tipo de malária envolve encefalopatia,
podendo também haver esplenomegalia, dor de cabeça intensa, hepatomegalia, hipoglicemia ou hemoglobinúria com
insuficiência renal.
O mosquito
que transmite a malária é uma fêmea infectada do mosquito Anopheles.
O hospedeiro que foi alvo do mosquito tem assim introduzido no sistema
circulatório os parasitas presentes na saliva do inseto. Os parasitas vão para
o fígado, local onde se desenvolvem e se reproduzem. São cinco as espécies de Plasmodium que
podem infectar os seres humanos:
A P.
Falciparum, que causa a maior parte das mortes; a P
knowlesi, que muito dificilmente irá causar a doença em seres humanos; e as
espécies P.vivax, P.ovale e P.
Malarie, que podem causar formas de malária que não costumam ser fatais.
Análises microscópicas de sangue irão fornecer a base necessária para a
detecção de parasitas ou então por meio de testes de diagnóstico rápido,
que podem detectar se há antígenos no sangue. Há também técnicas de diagnóstico
rápido que usam a reação em cadeia da polimerase para detectar o DNA do
parasita. Mas é um método mais caro e complexo. Por isso, é bem menos utilizado
em certas regiões de malária endêmica. Há duas fases na infecção de malária: a
que envolve o fígado (fase exoeritrocítica) e outra que envolve
os glóbulos vermelhos ou eritrócitos (fase eritrocítica).
Após a pele
ter sido perfurada pelo mosquito, os esporozoítos presentes na saliva do
mosquito penetram na corrente sanguínea e depositam-se no fígado e infectam os
hepatócitos, reproduzindo-se assexualmente. Os organismos invasores ficam
dormentes no fígado e diferenciam-se para produzir milhares de merozoítos.
Estes, depois que romperam as células hospedeiras, se introduzem na corrente
sanguínea e infectam os glóbulos vermelhos, dando início à fase eritrocítica do
ciclo de vida. Quando estão nos glóbulos vermelhos, os parasitas reproduzem-se
outra vez, também de forma assexuada, rompendo periodicamente as células
hospedeiras e irão infectar novos glóbulos vermelhos.
A malária
só é transmitida pela fêmea do mosquito Anopheles, porque é ela que
se alimenta de sangue. Já os machos se alimentam do néctar de plantas. As
fêmeas transmitem a malária quando se alimentam preferencialmente à noite, a
partir do pôr do sol. A malária também pode ser transmitida (mais raramente)
por meio de transfusões de sangue.
A malária
pode ser recorrente, isto é, os sintomas podem acontecer novamente depois de
certo tempo. A recorrência pode ser classificada em recrudescência (quando se
manifestam novamente sintomas após um período sem qualquer sintoma, devido a
terem ficado vivos parasitas no sangue), recidiva (devido à reativação de
estruturas chamadas de hipnozoitos presentes no fígado) ou reinfecção (quando o
parasita que provocou a infecção anterior foi completamente eliminado do corpo,
mas foi introduzido um novo parasita).
Para se
evitar a malária há a prevenção contra os mosquitos, como o uso de redes
mosquiteiras ou repelentes de insetos. Também se usa inseticidas ou escoamento
de águas paradas. Não há ainda uma vacina eficaz. Atualmente recomenda-se nos
casos de malária o uso de uma artemisinina junto com um segundo antimalárico,
como mefloquina, lumefantrina ou sulfadoxina/pirimetamina. Na falta de
artemisinina a opção é usar quinina com doxiciclina. O P. falciparum tornou-se
resistente ao quinino e em partes do Sudeste Asiático também à artemisinina.
Devido aos períodos muito chuvosos associados ao calor, com presença de água
estagnada (onde podem se desenvolver larvas de mosquitos), a malária tornou-se
endêmica em regiões tropicais e subtropicais.
Houve em
2016, 216 milhões de casos de malária em todo o mundo causando cerca de 731 mil
mortes. A África nesse ano foi o continente onde ocorreram aproximadamente 90%
dos casos e de mortes. É de se destacar que entre 2000 e 2015 houve uma redução
de 37% dos casos de malária no mundo. A malária existe muito em países pobres e
afeta bastante o desenvolvimento econômico de várias nações. Na África, em
relação à malária, há despesas significativas a cada ano em virtude dos gastos
com saúde, as perdas em relação ao trabalho e as dificuldades com o turismo.
Histórico:
O parasita
da malária falciparum tem
uma existência de 50.000 a 100.000 anos. Há 10 mil anos sua população aumentou,
a partir do desenvolvimento das primeiras cidades. Pode ser que a origem da malária
falciparum tenha sido em gorilas. Há registros sobre sintomas da
malária em escritos chineses desde 2700 a. C. A Civilização Romana também foi
afetada pela malária e o fim do Império Romano do Ocidente pode ter tido forte
influência da malária. O historiador Timothy Winegard, em sua obra O
Mosquito: a incrível história do maior predador de Humanidade mencionou
determinados aspectos relativos às civilizações romana e grega na
Antiguidade:
Civilização
Romana
“Após essa
decisiva vitória cartaginesa no Trébia, os elefantes desnutridos, os cavalos e
os soldados seguiram com dificuldade até acampar e descansar nas “planícies que
ficam perto do rio Pó”, proporcionando a Aníbal “a melhor forma de reanimar o
espírito de suas tropas e restabelecer o vigor e a condição dos homens e dos
cavalos”. Em março de 217 a. C, Aníbal deu ordens para uma operação orquestrada
com grande astúcia e habilidade.
O sucesso
dessa campanha dependia do elemento surpresa, preservado e protegido por um
avanço deliberado e penoso ao longo de uma rota inesperada nos montes Apeninos,
seguido de uma marcha lenta de quatro dias através de brejos infestados de
mosquitos transmissores da malária. Os cartagineses conseguiram sair dos
pântanos doentios, mas pagaram um preço enorme por isso. O mosquito sugou a
saúde e a moral das tropas cartaginesas e do líder incrivelmente talentoso.
Aníbal contraiu malária, e as febres intensas o privaram da visão do olho
direito. A esta altura, a doença já havia tomado a vida de sua esposa espanhola
e do filho. Combalido, mas não derrotado, o general cartaginês seguiu a
trajetória que havia planejado.
Com a rota
genial, ainda que infestada de mosquitos transmissores da malária, Aníbal
executou a primeira ocorrência de que tem notícia de uma “manobra de
envolvimento” na história militar, contornando e evitando deliberadamente o
flanco esquerdo dos romanos...” E em outros trechos:
“...Aníbal
finalmente poderia concretizar sua retaliação contra Roma e vingar o pai pela desonra
da derrota na Primeira Guerra Púnica. Contudo, Roma contava com mais um
guardião imprevisto aguardando nos bastidores-as legiões de leais e famintos
mosquitos, que faziam patrulha nos pântanos pontinos. Com o desmonte da máquina
de guerra romana em Canas, o mosquito atendeu ao chamado de alistamento e
entrou em ação. Ele começou seu reinado, de dois mil anos de picadas
devastadoras de história, como arauto do sofrimento e da morte nos pântanos
pontinos. Agiu como embaixador informal de Roma, com o único dever de abordar e
devorar exércitos estrangeiros hostis, bem como dignitários invasores (...).”
“... O mais grave, porém, era que as poucas vias de aproximação e áreas para
montagem do cerco deixariam o exército cartaginês entrincheirado nos pântanos pontinos,
que eram infestados de mosquitos e nos quais a malária vicejava o ano todo
(...)”
“(...) Após
o assassinato de Júlio César durante os Idos de Março, em 44 a. C, uma série de
ditadores à frente do Império Romano sofreu acessos de malária, e alguns
chegaram a sucumbir à doença, como Vespasiano, Tito e Adriano...” .
“ (...) A
queda do Império Romano Ocidental foi um declínio gradual, que vinha ocorrendo
dsde o século III. Porém, ao longo das últimas décadas, Roma acabou ruindo sob
o peso e as pressões sociais impostas por um conjunto de fatores como a malária
endêmica, as epidemias, a fome, o despovoamento, as guerras e o flagelo
desestabilizador de uma série de invasões...”
Na Grécia
Antiga, o mesmo historiador destaca como a malária influenciou nas sociedades
daquela época:
“As forças
dos persas foram obrigadas a atravessar um terreno pantanoso e se dispersar,
cercando diversos povoados gregos rodeados por brejos intratáveis. Enquanto o
exército persa invadia seus domínios, o mosquito logo anunciou sua presença aos
desafortunados e ignorantes soldados estrangeiros. As fileiras dos persas foram
imediatamente tomadas pela malária e pela desinteria, a tal ponto que as baixas
superaram a faixa dos 40%...”
“Hipócrates,
também conhecido como pai da medicina ocidental, fez questão de distinguir a
malária de outros tipos de febre. Ele descreveu em detalhes minuciosos o
inchaço do baço, os ciclos febris, as faixas de tempo e a severidade das
diferentes infecções maláricas “terçãs, quartãs e cotidianas”, chegando a
apontar quais variedades tendiam a fazer com que os enfermos apresentassem
recaídas. Hipócrates reconheceu que a malária era a “pior, mais duradoura e
dolorosa de todas as doenças em ocorrência”, acrescentando que “as febres que
atacam são do tipo mais agudo quando a terra é encharcada por ocasião das
chuvas de primavera”. Ele foi o primeiro maleriologista do mundo, já que
ninguém antes-nem durante séculos depois-diagnosticou, estudou e registrou com
tamanho empenho e método os sintomas da malária...” (...) “Hipócrates retirou a
medicina da alçada da religião, afirmando que as doenças não eram castigos
impostos pelos deuses, mas resultado de fatores ambientais ou disparidades
internas do próprio corpo humano. Esse foi um deslocamento monumental e inédito
no equilíbrio entre o mundo sobrenatural e o natural. Hipócrates defendia que o
melhor remédio era a prevenção, não a cura...”.
O termo
malária vem do italiano medieval: mala aria (“maus ares). Era
chamada antes de “ague” ou “febre dos pântanos” por causa das áreas alagadiças
relacionadas ao aparecimento da doença. A malária já foi muito comum em grande
parte da Europa e da América do Norte.
O
historiador Timothy Winegard faz relatos da malária em relação às Cruzadas, às
questões políticas da Irlanda e da Escócia, assim como fatos da Guerra de
Independência das Treze Colônias (que deu origem aos Estados Unidos) e da
Guerra de Secessão:
Cruzadas
“Impelidos
por um ardor cristão, cerca de oitenta mil pessoas que formavam um grupo
bastante diversificado abandonaram a Europa durante a Primeira Cruzada
(1096-1099) para encarar a viagem traiçoeira até Jerusalém, devastando os não
cristãos que encontrassem pelo caminho. Conforme avançava rumo à Terra Santa,
esse bando desconexo foi encolhendo. Quando os fanáticos passaram por
Constantinopla e adentraram a Ásia, a malária atacou, diminuindo ainda mais o
contingente. A primavera de 1098 foi acompanhada por chuvas e monções, o que
proporcionou um verão carregado de malária e mosquitos implacáveis. No início
do outono, milhares de cruzados já haviam morrido por causa do parasita letal,
incluindo um reforço inteiro de 1500 germanos...”
Questão
envolvendo politicamente a Irlanda
“Além dos
que saíram em busca de um abrigo contra a malária nas colônias americanas,
muitos residentes do pântano também fugiram para a Irlanda e inspiraram um um
provérbio popular: “Da fazenda para o brejo, do brejo para a Irlanda”. A
divisão atual da República da Irlanda e da Irlanda do Norte tem relação direta
com os destinos que esses agricultores do século XVIII tomaram em sua fuga dos
pântanos malarientos da Inglaterra. O mosquito preparou as bases e a fundação
dos conflitos étnicos e nacionalistas do século XX na região...”
Questão
Escocesa
“Para
atenuar a recessão econômica na Escócia e impulsionar as perspectivas
financeiras, investidores escoceses lançaram, em 1698, uma iniciativa colonial
audaciosa. Os problemas financeiros da Escócia foram agravados pela falta de
acesso ao sistema mercantilista inglês. A solução óbvia, pelo menos segundo o nacionalista
escocês William Paterson, empreendedor e cofundador do Banco da Inglaterra, era
a Escócia empunhar a espada do imperialismo e criar seu próprio domínio
imperialista. Para ele, o Panamá seria o coração comercial das veias
endinheiradas do Império Escocês...” . “(...) Paterson saiu de
Londres e levou sua proposta de negócios aos ventos úmidos de sua terra natal
independente, a Escócia. Ele trouxe, 1400 investidores escoceses, incluindo o
Parlamento escocês, para sua causa e reuniu um valor estimado de 25% a 50% do
capital líquido do país já empobrecido e aflito. Para tempos de desespero,
medidas desesperadas-assim o espectro de capitalistas de risco abarcou todas as
classes da sociedade escocesa, desde a elite de Edimburgo até os pobres e despossuídos...”
“(...) O que aconteceu quando chegaram a Darién não perdia em nada para um
roteiro de filme de terror apocalíptico. As palavras que aparecem repetidas ad
nauseam em diários, cartas e relatos dos colonos escoceses são: mosquitos,
febres e morte. Seis meses após a chegada, quase metade dos 1200 colonos já
estava morta por causa de malária ou febre amarela (e talvez também por uma
primeira ocorrência de dengue nas Américas), em uma média de até doze óbitos
por dia...”.
“(...) Os
mosquitos panamenhos sugaram o sangue da independência escocesa, fazendo pouco
dos brados inflamados de liberdade de William Wallace. Já em apuros
financeiros, a Escócia quebrou com a iniciativa de Dárien liquidada pelo
mosquito. Nas selvas do Panamá, o mosquito havia devorado o Tesouro escocês.
Milhares de escoceses perderam suas economias, o povo se rebelou, o desemprego
foi às alturas e o país mergulhou em um caos financeiro. Na época, embora
compartilhassem um monarca, a Inglaterra e a Escócia eram países independentes
que possuíam parlamentos próprios. A Inglaterra era mais rica, mas populosa, e
de modo geral tinha condições muitos melhores, além do fato de que fazia
séculos que vinha perturbando o vizinho pobre do norte em nome da
unificação...” “(...)Quando a Inglaterra se ofereceu para quitar toda a dívida
do Parlamento escocês e reembolsar os investidores”, explica J. R. McNeill,
“para muitos escoceses foi uma proposta irresistível. Até alguns patriotas
inveterados, como Paterson, apoiaram o Ato de União de 1707. E assim nasceu a
Grã-Bretanha, com ajuda das febres de Dárien”.
Guerra de
Independência das Treze Colônias (origem dos Estados Unidos)
“No
detalhado estudo Slavery,
Disease, and Suffering in the Southern Lowcontry (Escravidão, doença e
sofrimento no sul de Lowcontry), Peter McCandles disseca a participação do
mosquito na conquista da independência americana em um capítulo meticuloso com
o título “Revolutionary Fever” (Febre Revolucionária). Ele afirma que, “diante
dos relatos contemporâneos, é difícil ignorar a conclusão de que os maiores
vencedores nas campanhas do sul foram os micróbios e os mosquitos que, em
grande medida, os transportavam (...) A respeito do resultado da guerra, as
picadas de mosquito talvez tenham feito mais do que os tiros dos insurgentes para
garantir a vitória americana”... “(...) Enquanto a força franco-americana
apertava o cerco, o mosquito continuava seu ataque implacável contra os
ingleses presos em Yorktown. Os comentários palpitantes de David Petriello
sobre a malfadada estratégia de Clinton no sul, cercada de mosquitos e corroída
de malária em Yorktown, determinam que os “ingleses haviam sido rechaçados do
Sul não pelos canhões dos patriotas, mas pela prosbócide do mosquito
Anopheles”(...).
Guerra de
Secessão
“Dos 360
mil mortos no lado da União, 65% sucumbiram a doenças. Foram registrados mais
de milhão de casos de malária nos hospitais da União e dez mil mortes, embora a
quantidade seja muito maior...” (...) Embora os registros confederados tenham
se perdido com a queda de Richmond, o principal cirurgião confederado estimou
racionalmente que, das 290 mil fatalidades militares, 75% foram causadas por
doenças. Só nos resta especular qual foi o impacto real da malária nas tropas
confederadas. O consenso entre os historiadores que pesquisam a Guerra de
Secessão é que os índices de malária e mortes foram cerca de 10% a 15% maiores
do que entre as forças da União. Considerando questões de contingentes, os
mosquitos da malária ajudaram a exaurir a força militar do Sul, promoveram a
vitória do Norte, preservaram a União e desmantelaram a instituição da
escravatura. Com a Proclamação de Emancipação, defendida pelo mosquito, os
escravizados sulistas que foram libertados se converteram em soldados e
ajudaram a salvaguardar as promessas de liberdade...” “(...) Mais de duzentos
mil afro-americanos serviram no Exército da União durante a Guerra de Secessão,
e foram registrados 152 mil casos de malária...”
Em 1880
houve o primeiro progresso significativo na investigação científica da malária.
O médico francês Charles Loius Alphonse Laveran que trabalhava no hospital
militar de Constantina, na Argélia, observou pela primeira vez os parasitas no
interior dos glóbulos vermelhos de pessoas infectadas. Ele então fez a
suposição de que este organismo seria a causa da malária. Em 1908, o
médico cubano Carlos Finlay, que tratava de pacientes de febre amarela em
Havana, apresentou provas de que os mosquitos eram os transmissores da doença.
Em 1898 o
médico Ronald Ross, trabalhando no hospital geral de Calcutá demonstrou o ciclo
de vida completo do parasita da malária nos mosquitos. Ele conseguiu provar que
o mosquito é o vector da malária em humanos e ao ingressar na nova Escola de
Medicina Tropical em Liverpool organizou campanhas de controle da
malária no Egito, Panamá, Grécia e Ilhas Maurício. Durante a construção do
canal do Panamá, as recomendações de uma comissão médica presidida por Walter
Reed puderam salvar as vidas de milhares de trabalhadores.
O quinino,
princípio ativo extraído da casca de cinchona foi o principal medicamento
antimalárico até à década de 1920, quando se começaram a desenvolver novos
fármacos. Os índios peruanos faziam uma tintura da casca do arbusto
cinchona para o tratamento da febre. Os jesuítas na Europa introduziram a
substância tirada da cinchona na Europa como remédio. Em 1820 o princípio
ativo, o quinino, foi extraído da casca, isolado e batizado pelos químicos
franceses Pierre Joseph Pelletier e Joseph
Bienaimé Caventou. Sobre a questão da malária na América do
Sul e o uso dessa substância Timothy Winegard disse:
“Antes do Intercâmbio Colombiano, os
letais mosquitos Anopheles e Aedes ainda
não haviam penetrado nas Américas. Embora o continente fervilhasse com
populações ativas de mosquitos, eles não transmitiam doenças e não passavam de
insetos irritantes. O hemisfério ocidental continuava isolado e livre das
forças de ocupação estrangeiras até aquele momento. Desde a chegada deles às
Américas, há pelo menos vinte mil anos, até o início do contato permanente com
os europeus a partir de 1492, os cerca de cem milhões de habitantes nativos
ainda não haviam sido submetidos ao flagelo e à ira do mosquito, então não
estavam aclimados nem preparados para resistir às doenças. Os mosquitos
americanos não devassavam populações humanas, ou pelo menos não ainda...”.
“...
Trouxeram a colonização e um coquetel de doenças genocidas, que incluía a
malária e a febre amarela, dos portões da Europa e da África para os
despreparados povos indígenas do outro lado do mundo (...)”
“O quinino,
o primeiro medicamento eficaz para a profilaxia e o tratamento contra a
malária, nadou nas últimas ondas de colonização e chegou às praias globais do
Intercâmbio Colombiano. Em meados do século XVII, os circuitos de fofoca do
Velho Mundo fervilhavam com uma história milagrosa de um lugar misterioso
chamado Peru. Em questão de décadas, espalharam-se pela Europa anúncios que
exaltavam os poderes mágicos e as propriedades curativas da “Casca dos
Jesuítas”, do “Pó da Condessa” e da “Chinchona”. Segundo os boatos, em 1638, a
bela dona Francisca Enríquez de Ribera, quarta condessa de Chinchón, uma
província espanhola no Peru, foi curada inexplicavelmente da febre malárica
(...)”
É na década
de 1940 que o quinino passa a ser substituído pela cloroquina como medicamento
antimalárico. No Sudeste Asiático e na América do Sul a cloroquina começou a
ser usada na década de 1950 e em outras partes do mundo nos anos de 1980. A
equipe da cientista chinesa Tu Youyou descobre a artemisinina a
partir da planta Artemisia
annua, na década de 1970. Este medicamento passou a ser recomendado para a
malária falciparum,
em associação com outros remédios.
Para matar
mosquitos transmissores de doenças, como a malária e febre amarela, passou a
ser usado na década de 1940 o chamado DDT. Depois o mesmo passou a ser usado
contra pragas de insetos na agricultura. Mas esse uso intenso do inseticida
causou a resistência ao pesticida pelos mosquitos em diversas regiões do mundo.
Nos anos de 1960 o DDT começou a ser proibido em muitos países. No Brasil e
outros países de clima tropical, antes do uso do DDT se utilizou o pesticida
Verde de Paris em águas paradas. Mas esse pesticida se revelou muito tóxico.
Ainda se
está realizando pesquisas sobre uma vacina contra a malária. Desde os anos de
1970 que tem sido feito esforços para se conseguir uma vacina realmente eficaz.
Sobre a
questão da eliminação de mosquitos que causam doenças como malária, febre
amarela, dengue e outras, assim como a questão do tratamento da malária o autor
Timothy Winegard diz:
“Quando as
gigantes farmacêuticas finalmente adquiriram os direitos à artemisinina, em
1994, os governos ocidentais começaram o longo processo de estudos e testes das
terapias combinadas com artemisinina (TCA), que foram disponibilizadas em 1999,
sendo aprovadas uma década depois pela Food and Drug Administration, nos
Estados Unidos. As TCAs logo tornaram o tratamento de referência
contra a malária, finalmente rendendo a Tu Youyou, a pioneira do Projeto 523, o
prêmio Nobel em 2015 “por suas descobertas relativas a uma nova terapia contra
a malária”... “(...) Hoje em dia, as TCAs não são baratas, e as campanhas de
marketing são voltadas para viajantes e mochileiros ricos-para recuperar os
custos de pesquisa e desenvolvimento, mas também porque o relógio da
resistência está contando para as TCAs. A indústria farmacêutica precisa ganhar
dinheiro antes que o parasita evolua e se adapte e o tempo da artemisinina
acabe, como aconteceu com a maioria dos outros antimaláricos. “Por mais que a
artemisinina seja eficaz e robusta hoje”, alertou o Institute of
Medicine em 2004, “é mera questão de tempo até cepas geneticamente
resistentes surgirem e se disseminarem”. Quatro anos depois, essa frase se
tornou realidade...” “(...) Não foi surpresa para ninguém, visto que o
medicamento novo teve uso mais prolongado no Sudeste Asiático, quando foram
confirmados no Camboja, em 2008, os primeiros casos de resistência. Em 2014,
variações da malária blindadas para a artemisinina já haviam se alastrado para
os países vizinhos: Vietnã, Laos, Tailândia e Mianmar.”
“(...)
Baseado nessa caracterização, também somos responsáveis por criar essas
resistências devido ao nosso desastroso comportamento como “variações
hipocondríacas de Homo
sapiens” na cultura de massa. Nossa ignorância em ao abusar de antibióticos
ou usá-los de forma completamente errada, já
que eles só combatem bactérias, não vírus como os do resfriado ou da
gastroenterite, resultou em “supermicróbios” bacterianos letais e invulneráveis...”
“(...) O abuso indiscriminado de antibióticos, o surgimento de supermicróbios e
a mortalidade correspondente a esses dois fatores não são exclusividade dos
Estados Unidos: essa tendência é um problema global para nossa imunidade de
rebanho comunal. Segundo estimativas da OMS, se esse crescimento acentuado
continuar, em 2050 os supermicróbios já serão responsáveis por dez milhões de
mortes por ano no mundo todo....”
“... Sob o
espírito derrotista após o encerramento do Programa de Erradicação da Malária
da OMS, em 1969, para o mundo foi mais fácil esquecer ou ignorar essa
renascença do mosquito do que despejar em um esforço de pesquisa e erradicação
milhões de dólares que jamais seriam recuperados. Afinal, 90% dos casos
ocorriam na África, onde a maior parte das vítimas não tinha condições de
comprar remédios antimaláricos...” “(...) O desenvolvimento e a adoção de
terapias combinadas já aumentaram muito o custo do tratamento medicamentoso.”
Em nosso mundo material moderno, o capitalismo, quando associado à margem de
lucros e à relação custo-benefício da investigação médica, pode ser um tirano
cruel.”
“Após a
experiência de quase morte nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, o
mosquito renasceu como a fênix de suas cinzas impregnadas de DDT e voltou a se
tornar uma força global. A tocha da erradicação e do extermínio que se apagara
durante as primaveras silenciosas dos anos 1960 foi erguida e acesa de novo por
uma coalização multinacional engajada, sob a liderança de Bill e Melinda Gates.”
“...Uma
série de reuniões imternacionais, durante a década de 1990, levou à criação da
Parceria Roll Back Malaria m 1998, que dez anos depois anunciou o Plano de Ação
Global contra a Malária...” “(...) As ações de ajuda rumo à erradicação da
malária e dos mosquitos, assim como a presença na mídia, aumentaram
drasticamente na última década, mas é comum que os programas sejam prejudicados
por complicações administrativas, corrupção e outros obstáculos. Empresas
farmacêuticas gastam bilhões de dólares com a pesquisa e o desenvolvimento de
medicamentos e vacinas antimaláricas, e é compreensível que elas tenham que
recuperar o investimento, mas com isso os tratamentos ficam mais inacessíveis
para quem precisa. “A malária e a pobreza”, destaca Randall Packard, “se
sustentam mutuamente”. Hoje em dia, por exemplo, 85% dos casos de malária
acontecem na África Subsaariana, onde 55% da população vive com menos de 1
dólar por dia. O Sudeste Asiático abriga 8% dos casos de malária, com 5% na
região do Mediterrâneo Oriental, 1% no Pacífico Ocidental e cerca de 0,5% nas
Américas”.
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“Dia
de Conscientização para a Malária”
Em 2007 a
Organização Mundial da Saúde criou o “Dia
de Conscientização para a Malária”, que passou a ser celebrado no dia 25 de
abril, com a finalidade de reconhecer o esforço global para o controle efetivo
da malária.
É
importante destacar as medidas de prevenção:
Individual: uso de mosquiteiros impregnados ou não
com inseticidas, roupas que protejam pernas e braços, telas em portas e
janelas, uso de repelentes.
Coletiva: drenagem,
obras de saneamento para eliminação de criadouros do vetor, aterro, limpeza das
margens dos criadouros, modificação do fluxo da água, controle da vegetação
aquática, melhoria da moradia e das condições de trabalho, uso racional da
terra.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de
História
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=ALiCzsb823ttXDJD8WqdiMksMee1RT7J1g:1666925474425&source=univ&tbm=isch&q=Imagem+de+mosquito+da+mal%C3%A1ria