No dia 10 de outubro fui ao cinema
terminar de ver o filme Amsterdam. Eu tinha ido antes no dia 7 e vi quase todo,
por volta de 90%, mas houve falta de energia em todo o shopping e eu decidi que
queria ver o fim do filme e o cinema me ressarciu o ingresso. Pois bem, vamos
ao filme e à trama que faz parte dele, envolvendo uma tentativa de golpe
fascista contra o presidente Franklin Roosevelt.
Segundo o diretor David O. Russel,
citado na revista Isto é, numero 2750: “Amizade e amor são a essência do filme.
O pacto que os personagens fazem para cuidar um do outro é o pilar da trama”.
No filme há a presença de ótimos atores e atrizes como: Robert De Niro,
Christian Bale, Chris Rock, Rami Malek, Margot Robbie, Anya Taylor-Joy e John
David Washington e tem com base a amizade de três personagens principais: o
oficial médico e depois somente médico Burt (Bale); o soldado e depois advogado
Harold (John David Washington) e a enfermeira de guerra Valerie (Margot
Robbie), pertencente a uma família rica nos Estados Unidos. Eles se tornam
amigos no ambiente do fim da I Guerra Mundial, em 1918 e passaram um tempo em
uma vida boêmia em Amsterdam, Holanda. Burt permanece no grupo até a sua
decisão em retornar para ficar com sua esposa, oriunda de uma tradicional
família de Nova York. Pouco depois Valerie vai embora misteriosamente.
No filme há o envolvimento de Burt e
Harold em uma investigação sobre a morte de um general que tinha comandado o
regimento deles na I Guerra Mundial e a filha desse general, que tinha
contratado os dois, também é morta de forma trágica, com a dupla sendo acusada
de ter causado essa morte. Os assassinatos do general e de sua filha estão
relacionados à uma conspiração de poderosos empresários dos Estados Unidos para
derrubar o presidente eleito Franklin Roosevelt. E o restante do filme se
desenvolve mostrando como os três amigos e outros que os ajudam lidam com essa
investigação, lidando com perigos e contando com o apoio de um general
aposentado, que liderou tropas na Primeira Guerra Mundial e em outros
conflitos. Esse general conhece um segredo que o outro general assassinado
tinha lhe contado e que estava ligado ao ditador fascista Mussolini: o
atropelamento de um menino, fato menosprezado pelo ditador.
De todos os personagens do filme, um se
baseia em um personagem que de fato existiu e que, como aconteceu no filme,
denunciou o complô para instalar uma ditadura fascista nos Estados Unidos. O
diretor David Russell tomou como base esses fatos para criar a historia de
Amsterdam, incluindo a relação entre os três amigos. O general do filme
convidado a participar da trama dos conspiradores, Gil Dillenbeck (De Niro) ,
na verdade é um personagem baseado no general Smedley Butler. Mas quem foi esse
general?
O major-general dos fuzileiros navais
dos Estados Unidos, Smedley Darlington Butler, nasceu em 30 de julho de 1881,
em West Chester e faleceu em 21 de junho de 1940, na Filadélfia. Ele participou
de intervenções armadas em outras nações, tendo depois se tornado um crítico
dessas intervenções. Foi o fuzileiro naval (chamado nos Estados Unidos de marine)
mais condecorado de seu país até a data de sua morte. Em seu tempo de quase 34
anos como oficial dos marines ele participou de ações nas Filipinas, China,
América Central, México, Caribe e na França durante a I Guerra Mundial.
Quando
deixou de ser um militar da ativa, o general Smedley Butler criticou o
aventureirismo militar dos Estados Unidos. Publicou em 1935 o seu livro War
is a Racket ("A Guerra É Uma Extorsão”).
Nessa obra ele descreveu a questão militar-industrial que estava relacionada a
diversas intervenções militares. Também foi orador em reuniões de veteranos de
guerra e eventos pacifistas na década de 1930. Disse ele:
“Passei
33 anos e quatro meses no serviço ativo, como membro da mais ágil força militar
do meu país - o Corpo de Fuzileiros Navais. Servi em todos os postos, desde
segundo-tenente a general. E, durante tal período, passei a maior parte de meu
tempo como guarda-costas de alta classe, para os homens de negócios,
para Wall Street e para os banqueiros. Em suma, fui
um quadrilheiro, um gangster para o capitalismo. Foi assim
que ajudei a transformar o México, especialmente Tampico, em lugar
seguro para os interesses petrolíferos americanos, em 1914. Ajudei a fazer
de Cuba e Haiti lugares
decentes para que os rapazes do National City Bank pudessem recolher
os lucros. Eu ajudei a estuprar meia dúzia de repúblicas da América
Central em prol dos lucros de Wall Street [...] Ajudei a
"limpar" a Nicarágua para
os interesses da casa bancária internacional dos Brown Brothers,
em 1909-1912. Trouxe a luz à República Dominicana para os
interesses açucareiros norte-americanos em 1916. Ajudei a fazer
de Honduras um lugar "adequado às companhias frutíferas
americanas, em 1903. Na China, em 1927, ajudei a fazer com que
a Standard Oil continuasse a agir sem ser molestada. Durante todos
esses anos, eu tinha, como diriam os rapazes do gatilho, uma boa quadrilha. Fui
recompensado com honrarias, medalhas, promoções. Voltando os olhos ao passado,
acho que poderia dar a Al Capone algumas sugestões. O melhor que ele
podia fazer era operar em três distritos urbanos. Nós, os fuzileiros navais,
operávamos em três continentes.”
Os
fatos históricos relacionados ao filme, o complô contra Roosevelt, foi chamado
na época Business Plot (“Complô dos Empresários”). No filme o
general fictício Gil Dillenbeck denuncia toda a trama de
grandes empresários simpáticos a Hitler e a Mussolini em uma reunião
de veteranos, com seu discurso transmitido pelo rádio. Mas o personagem real, o
general Butler denunciou em 1933 ao Congresso a conspiração. Ele contou
que altos industriais planejavam destituir o presidente Roosevelt e tinham-no
convidado para liderar um exército com 500 mil soldados. Nesse golpe Roosevelt
seria assassinado e seria instalado um regime fascista. Entre os industriais
citados pelo general estavam a família Du Pont, investidores de Wall Street,
dirigentes da Standart Oil, da General Motors, Chase National Bank, Goodyear
etc. Os acusados, de tão poderosos que eram, não foram punidos e a mídia não
deu importância ao caso, dando a entender que o general estava mentindo. Mas
foi constatado pela comissão do Congresso que Butler falava a verdade e a
conspiração existiu. O golpe então fracassou.
Outra questão, o
atropelamento da criança realmente existiu, como mencionado no filme e na
realidade foi o general Butler quem mencionou o acontecido. Em 1931 ele foi
submetido a uma corte marcial, sendo acusado de ter ofendido Mussolini, pois
contou em uma entrevista que Benito Mussolini teria atropelado uma criança com
seu carro. O presidente Hoover, atendendo uma reclamação do ditador fascista,
ordenou a corte marcial contra Butler, que de início foi preso, mas acabou
inocentado.
O filme Amsterdam,
ao abordar a questão da tentativa de golpe da extrema direita nos Estados
Unidos não faz apenas uma menção ao passado, como também um alerta ao presente.
Não se deve esquecer por exemplo, no próprio Brasil, a investigação da Polícia
Federal a respeito de uma possível trama de altos empresários caso o candidato
deles não seja eleito.
Sobre
esta questão cito a seguir um trecho da notícia publicada no portal Yahoo! Notícias :
“Empresários
bolsonaristas defendem golpe caso Lula ganhe eleição, diz site
Redação
Notícias
17 de agosto de 2022
Empresários que apoiam o
presidente Jair Bolsonaro (PL) estão defendendo abertamente um golpe
de Estado caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT) vença as eleições de outubro. A
informação foi divulgada na tarde desta quarta-feira (17) pelo jornalista
Guilherme Amado, do portal Metrópoles.
O grupo de WhatsApp chamado
“Empresários % Política” está sendo acompanhado há meses pela coluna.
De acordo com o jornalista, além da
defesa explícita de um golpe por parte de alguns integrantes do grupo, constam
também na troca de mensagens ataques ao STF (Supremo Tribunal Federal), ao TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) e a quaisquer pessoas ou instituições contrárias
ao atual chefe do Executivo (...)”
Segundo o site, um empresário teria dito:
“Prefiro golpe do que a volta do PT. Um
milhão de vezes. E com certeza ninguém vai deixar de fazer negócios com o
Brasil. Como fazem com várias ditaduras pelo mundo”, publicou o empresário no
grupo.”
Encerrando, vou citar um trecho do
artigo publicado na revista Isto é sobre o filme Amsterdam:
“Essa divertida produção de época
recria com perfeição o clima dos EUA durante a Segunda Guerra, antes de o país
entrar para valer no conflito. Inspirado em um caso real, revela a estratégia
de um grupo de banqueiros e magnatas norte-americanos que agiram na surdina
para se aproximar de Adolph Hitler e faturar negócios com a Alemanha. Para
isso, buscam o apoio de um respeitado militar, papel de Robert de Niro. O
general Gil Dillenberg, seu personagem, foi inspirado em Smedley Butler, cuja
ação ajudou a mudar o rumo da Humanidade (...)”
Sugestão de vídeos:
A Trama Para Derrubar o Franklin
Roosevelt
https://www.youtube.com/watch?v=StFUOSy6ViM
Amsterdam | Trailer Oficial Legendado
https://www.youtube.com/watch?v=RLBuMdYN4Ds
Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+do+cartaz+do+filme+amsterdam&sxsrf=ALiCzsYLReWCnt9-4BaC5xMnlH1
Nenhum comentário:
Postar um comentário