quinta-feira, 13 de julho de 2017

Luís XVI






Este artigo é o segundo que escrevo em referência à Revolução Francesa. É sobre o rei Luís XVI, dos Bourbon, que governava quando houve a revolução. Ele era um rei do chamado "Antigo Regime", que governava segundo o modelo absolutista.

Segundo Bernard Vicent, um dos biógrafos do rei, ele não era mau humorado, mas "indeciso em algumas questões de pressa". Para Bluche, Riais e Tulard em sua obra "Revolução Francesa", ele não era um soberano enérgico e quando isso acontece "as rédeas do poder flutuam".  Conforme esses três autores, ele nasceu em 1754, sendo educado com base no fenelonismo (ideias do arcebispo Fenelon, de cunho místico e contemplativo), carecendo de vontade e de autoconfiança, era benevolente, generoso, muito piedoso, preocupado em fazer as coisas corretamente, tendo aspirações ao mesmo tempo conservadoras e progressistas que se traduziam por constantes oscilações entre firmeza e fraqueza. 

O abade Vermond dizia que ele possuía "o coração melhor que a cabeça". O autor do livro Maria Antonieta-O retrato de uma mulher comum, Stefan Zweig, dizia que ela tinha uma figura pesada e desengonçada, que tinha problemas com impotência, era indeciso, bem fechado e introvertido e o Conde Mercy, embaixador austríaco na França, falava que o rei tinha "muita desgraciosidade e nenhuma sensibilidade.

Vincent de novo nos diz sobre Luís XVI: "... esses traços contraditórios-a reserva,a impetuosidade, a timidez e a veemência-se encontrarão estranhamente misturados no Luís XVI adulto". O mesmo autor relatou que o rei na aparência tinha um rosto calmo, que mostrava gentileza. Tanto Vicent quanto Zweig afirmam que ele não era influenciado politicamente por Maria Antonieta, sua esposa austríaca. 

Pela análise do que diziam os autores, embora ele tivesse seus defeitos, a sua personalidade não foi a principal causa do processo revolucionário que aconteceu e sim toda a realidade da França na época, com aspectos históricos que já tinham começado antes mesmo de seu reinado. 

Segundo Daniel Fresnot, Luís XVI foi um rei bem intencionado e mal aconselhado que recebeu a coroa aos 20 anos em 1774. Luís chamou para auxiliá-lo um ministro que desejava abolir privilégios e servidões: Turgot, que era íntegro e competente, porém que mexeu com os interesses de nobres conservadores e de membros importantes do Clero. As intrigas fazem com que o rei o demita. O ministro seguinte, Necker, embora mais comedido que Turgot em busca de reformas, também é bloqueado por nobres conservadores da corte de Versalhes. Os ministros seguintes, Calonne e Brienne, não tem a mesma grandeza dos outros dois e não entram em confronto com a aristocracia palaciana que continua com seus gastos em demasia.  

Antes da Revolução, Luís XVI agiu em algumas ocasiões de forma humanista, mandando abolir a tortura e dando plenos direitos civis aos protestantes. Ele forneceu ajuda aos revolucionários americanos que lutaram contra a Inglaterra pela independência das treze colônias, embora essa ajuda tenha endividado mais a França.

Para tentar resolver a crise financeira, o rei chamou de novo Necker (1788) e convoca então os Estados Gerais. A situação na França era bem grave naquele tempo, pois os mais pobres estavam passando sérias dificuldades e as ideias iluministas se espalhavam, criticando o Absolutismo.

A popularidade do rei é fortalecida com a decisão de que o Terceiro Estado teria tantos representantes quanto o Clero e Nobreza juntos, só que não soube aproveitar a ocasião para orientar as eleições e nem propor aos deputados um programa de reformas.

Tentou enfraquecer os Estados Gerais, porém os deputados se declararam Assembleia Nacional e depois Assembleia Constituinte. Demitiu  Necker e mesmo com as "jornadas revolucionárias" ainda consegue ter popularidade em Paris, mas suas ações acabam reforçando a política dos radicais quando se recusa a assinar a Declaração dos Direitos do Homem e outras medidas da Assembleia. Assim, teve de sair de Versalhes por pressão popular e se estabelece em Paris em outubro de 1789. Como há ainda uma corrente política que deseja uma monarquia como poder moderador ele tem alguma vantagem. Jurou fidelidade à Constituição, sendo aclamado por parisienses e pelos guardas nacionais que estavam presentes. 

Cometeu um grave erro em não aceitar a monarquia constitucional, com a possibilidade de ter ficado afetado com a questão do juramento civil que a revolução passou a exigir dos padres e começa a desejar a intervenção estrangeira como salvação. Tenta fugir até os exércitos monarquistas que querem invadir a França, porém é descoberto em Varennes, em junho de 1791. Nessa ocasião perdeu toda a sua popularidade, embora continuasse rei. Ele ainda possuía apoio de membros revolucionários mais conservadores e propõe à Assembleia declarar guerra à Áustria, pois tinha esperança que essa ganhasse a guerra. De início, austríacos e prussianos obtém vitórias, mas depois são derrotados em Valmy. 

Após essa vitória francesa contra os invasores, o rei, que já era considerado um traidor, é destronado e aprisionado. A Convenção Nacional que substituiu a Assembleia Legislativa, julga Luís e o condena à morte por uma maioria apertada. Diversos girondinos (grupo político mais moderado formado pela alta burguesia) tentaram defendê-lo. Mas os jacobinos (mais radicais) insistiram em sua execução. Ele portou-se com dignidade e coragem, sem convencer ao negar as acusações que foram feitas contra ele. Assim ele foi condenado e morreu guilhotinado em 21 de janeiro de 1793.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

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