Este artigo é o segundo que
escrevo em referência à Revolução Francesa. É sobre o rei Luís XVI, dos Bourbon, que
governava quando houve a revolução. Ele era um rei do chamado "Antigo Regime", que governava segundo o modelo absolutista.
Segundo Bernard Vicent, um
dos biógrafos do rei, ele não era mau humorado, mas "indeciso em algumas
questões de pressa". Para Bluche, Riais e Tulard em sua obra
"Revolução Francesa", ele não era um soberano enérgico e quando isso
acontece "as rédeas do poder flutuam". Conforme esses três autores, ele nasceu em
1754, sendo educado com base no fenelonismo (ideias do arcebispo Fenelon, de
cunho místico e contemplativo), carecendo de vontade e de autoconfiança, era
benevolente, generoso, muito piedoso, preocupado em fazer as coisas
corretamente, tendo aspirações ao mesmo tempo conservadoras e progressistas que
se traduziam por constantes oscilações entre firmeza e fraqueza.
O abade Vermond dizia que
ele possuía "o coração melhor que a cabeça". O autor do livro Maria
Antonieta-O retrato de uma mulher comum, Stefan Zweig, dizia que ela tinha uma
figura pesada e desengonçada, que tinha problemas com impotência, era indeciso,
bem fechado e introvertido e o Conde Mercy, embaixador austríaco na França,
falava que o rei tinha "muita desgraciosidade e nenhuma sensibilidade.
Vincent de novo nos diz
sobre Luís XVI: "... esses traços contraditórios-a reserva,a
impetuosidade, a timidez e a veemência-se encontrarão estranhamente misturados
no Luís XVI adulto". O mesmo autor relatou que o rei na aparência tinha um
rosto calmo, que mostrava gentileza. Tanto Vicent quanto Zweig afirmam que ele
não era influenciado politicamente por Maria Antonieta, sua esposa austríaca.
Pela análise do que diziam
os autores, embora ele tivesse seus defeitos, a sua personalidade não foi a
principal causa do processo revolucionário que aconteceu e sim toda a realidade
da França na época, com aspectos históricos que já tinham começado antes mesmo
de seu reinado.
Segundo Daniel Fresnot, Luís
XVI foi um rei bem intencionado e mal aconselhado que recebeu a coroa aos 20
anos em 1774. Luís chamou para auxiliá-lo um ministro que desejava abolir
privilégios e servidões: Turgot, que era íntegro e competente, porém que mexeu
com os interesses de nobres conservadores e de membros importantes do Clero. As
intrigas fazem com que o rei o demita. O ministro seguinte, Necker, embora mais
comedido que Turgot em busca de reformas, também é bloqueado por nobres conservadores
da corte de Versalhes. Os ministros seguintes, Calonne e Brienne, não tem a
mesma grandeza dos outros dois e não entram em confronto com a aristocracia
palaciana que continua com seus gastos em demasia.
Antes da Revolução, Luís XVI
agiu em algumas ocasiões de forma humanista, mandando abolir a tortura e dando
plenos direitos civis aos protestantes. Ele forneceu ajuda aos
revolucionários americanos que lutaram contra a Inglaterra pela independência
das treze colônias, embora essa ajuda tenha endividado mais a França.
Para tentar resolver a crise
financeira, o rei chamou de novo Necker (1788) e convoca então os Estados Gerais. A situação na França era bem grave naquele tempo, pois os mais pobres estavam passando sérias dificuldades e as ideias iluministas se espalhavam, criticando o Absolutismo.
A popularidade do rei é fortalecida com a decisão
de que o Terceiro Estado teria tantos representantes quanto o Clero e Nobreza
juntos, só que não soube aproveitar a ocasião para orientar as eleições e nem
propor aos deputados um programa de reformas.
Tentou enfraquecer os Estados Gerais, porém os
deputados se declararam Assembleia Nacional e depois Assembleia Constituinte. Demitiu
Necker e mesmo com as "jornadas
revolucionárias" ainda consegue ter popularidade em Paris, mas suas ações
acabam reforçando a política dos radicais quando se recusa a assinar a
Declaração dos Direitos do Homem e outras medidas da Assembleia. Assim, teve de
sair de Versalhes por pressão popular e se estabelece em Paris em outubro de
1789. Como há ainda uma corrente política que deseja uma monarquia como poder
moderador ele tem alguma vantagem. Jurou fidelidade à Constituição, sendo
aclamado por parisienses e pelos guardas nacionais que estavam presentes.
Cometeu um grave erro em não aceitar a monarquia
constitucional, com a possibilidade de ter ficado afetado com a questão do
juramento civil que a revolução passou a exigir dos padres e começa a desejar a
intervenção estrangeira como salvação. Tenta fugir até os exércitos
monarquistas que querem invadir a França, porém é descoberto em Varennes, em
junho de 1791. Nessa ocasião perdeu toda a sua popularidade, embora continuasse
rei. Ele ainda possuía apoio de membros revolucionários mais conservadores e
propõe à Assembleia declarar guerra à Áustria, pois tinha esperança que essa
ganhasse a guerra. De início, austríacos e prussianos obtém vitórias, mas depois
são derrotados em Valmy.
Após essa vitória francesa contra os invasores, o
rei, que já era considerado um traidor, é destronado e aprisionado. A Convenção
Nacional que substituiu a Assembleia Legislativa, julga Luís e o condena à morte
por uma maioria apertada. Diversos girondinos (grupo político mais moderado formado pela alta burguesia) tentaram defendê-lo. Mas os jacobinos (mais radicais) insistiram em sua execução. Ele portou-se com dignidade e coragem, sem convencer
ao negar as acusações que foram feitas contra ele. Assim ele foi condenado e morreu
guilhotinado em 21 de janeiro de 1793.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
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