Está passando nos cinemas o
filme britânico "Dunkirk". Eu vi o filme no início
de agosto e achei muito bom. O filme retrata com realismo este episódio da
Segunda Guerra Mundial e é centrado em 3 áreas: mar, terra e ar. Começa com
soldados britânicos fugindo e um deles conseguindo entrar na zona de proteção guarnecida
por tropas francesas e a partir daí começa toda uma série de ações, com o drama
da retirada de centenas de milhares de soldados britânicos e franceses, os
esforços das embarcações para salvar os soldados e batalhas aéreas entre aviões
das forças aéreas inglesa e alemã, com essa fazendo todo o possível para
afundar os barcos e para atacar as tropas em terra e os pilotos ingleses
lutando para evitar que os inimigos conseguissem alcançar seus objetivos.
A
partir desta narrativa inicial sobre o filme, vou falar sobre o que foi a
retirada do porto francês de Dunquerque (no filme é "Dunkirk"), que
aconteceu no período de 26 de maio a 04 de junho de 1940. A operação do governo
da Grã-Bretanha para retirar os soldados chamou-se de "Operação
Dynamo". Para entender melhor como se chegou a tal situação vou fazer uma
retrospectiva dos fatos que antecederam o cerco alemão ao referido porto e a
retirada anglo-francesa.
Após
a vitória alemã contra a Polônia em 1939, começou a chamada "Guerra de
Mentira", em que franceses e ingleses de um lado e os alemães de outro não
se enfrentavam em terra. Em abril de 1940, com receio de a Inglaterra mandar
forças para a Noruega para impedir o transporte de minério de ferro sueco para
a Alemanha, Hitler manda forças alemães atacarem a Dinamarca e a Noruega, que
foram assim conquistadas. Franceses e ingleses
enviaram tropas para impedir esse ataque mas fracassaram.
Depois de assegurado o
controle da Noruega, Holanda e Bélgica foram atacadas, com as forças nazistas
conseguindo anular a pretensa vantagem francesa da Linha Maginot, uma linha
fortificada na fronteira entre França e Alemanha. Segundo John Willians em sua
obra: "França-1940: Catástrofe":
"Na verdade o plano original da invasão alemã previa um movimento desbordante pela
Bélgica Central (seguindo as diretrizes do "Plano Schlieffen" de
1914), conforme estipulado na primeira
versão do "Plano Amarelo" alemão, preparado em meados de
outubro de 1939. Este plano especificava uma operação subsidiária pelas
Ardenas. Mas um general alemão, Erich von Manstein-Chefe de Estado Maior do
General von Rundstedt, comandante do Grupo de Exércitos "A", que
fora destacado para a ação nas
Ardenas-não aprovava esse plano.
Prevendo que a Bélgica
Central seria intensamente defendida, ele queria que o Grupo de Exércitos
"A' desfechasse o ataque principal no setor menos defendido das
Ardenas_Mosa. Mas não seria para os tanques um obstáculo grave o terreno
notoriamente difícil daquela região? Quanto a esse problema, Manstein consultou
o perito em blindados, General Heinz Guderian que, depois de cuidadoso estudo,
considerou a operação viável". E ainda: " O Führer, que tinha dúvidas
quanto ao esquema original, em parte porque fora revelado aos aliados, através
de planos alemães capturados na Bélgica no mês anterior, ficou muito
impressionado e adotou imediatamente o plano das Ardenas de Manstein".
Segundo o referido autor, o
exército que deveria se opor à força maciça atacante pelas Ardenas era o mais
fraco dos exércitos franceses. E disse também que a França estava passando por
dificuldades que a enfraqueciam no dia do ataque (10 de maio), como a falta de
unidade e da determinação necessária para o embate. E a espera na "Guerra
de Mentira" pode ter dado um falso estado de otimismo, como também havia
entre muitos franceses uma aversão à guerra, preocupando-se o governo francês
com uma atitude muito defensiva que se baseou excessivamente na Linha Maginot,
uma linha de defesas estáticas, que não contava com o devido apoio de forças
blindadas, uma linha da qual o inimigo poderia se desviar.
Com
muitos efetivos do exército francês e também da Força Expedicionária Britânica
marchando em território belga, em auxílio à defesa daquele país, foi uma
terrível surpresa quando fortes divisões blindadas alemãs saíram das Ardenas e
entraram em território francês. O ataque alemão à Holanda e à Bélgica propiciaram
aos exércitos de Hitler dar a volta por trás da Linha Maginot, evitando o
combate frontal. Assim, em um enorme movimento circular, os exércitos de
Rudstendt, vindos do sul, e as divisões Panzer de Güderian, a oeste, iriam
encurralar franceses e britânicos contra o Canal da Mancha. O rompimento das
linhas francesas em Sedan, que deveriam barrar os alemães na invasão do país,
fizeram com que a França entrasse em colapso, sendo muitas de suas forças
capturadas ou aniquiladas.
A
rapidez dos ataques alemães cercou o exército francês, terminando por
dispersá-lo completamente. Quebrada a linha francesa, a Sétima Divisão Panzer de Rommel e os
Panzerkorps dos generais Guderian, Hoth e Reindthart avançaram para o norte,
alcançando o rio Somme no dia 20 de
maio. Não houve ataques bem ordenados dos aliados para derrotar o inimigo.
.
Quando
as tropas alemãs atingiram o Canal da Mancha, Hitler, antes nervoso, ficara
exultante e passou a pensar em negociações de paz. Ele estava pensando nas
conseqüências políticas, não só nos resultados militares. Em 20 de maio de
1940, Hitler estava bastante confiante para mencionar, pela primeira vez, que
levaria os franceses a assinar a rendição na clareira da floresta em Compiègne,
no lugar exato onde eles haviam obrigado os alemães a assinar o armistício em
novembro de 1918.
Com
a dispersão do exército francês, Churchill decidiu que a Força Expedicionária
Britânica tinha de recuar em direção à Mancha. Já haviam sido expedidas as
primeiras ordens para reunir todos os tipos de embarcações nos portos ingleses,
além da costa de Flandres. O governo estava ciente dos perigos para Londres,
tanto que começou a tomar providências contra uma possível invasão alemã. Churchill
foi a paris e se encontrou com Weygand que propôs um plano de ataque conjunto
franco-britânico. De início Churchill
concordou, porém os exércitos franceses não tinham mais condições de um ataque
decisivo aos alemães.
Dois
dias antes de se iniciar a evacuação britânica de Dunquerque, Hitler tomou uma
decisão cuja importância não deve ser subestimada. Em 24 de maio, sexta-feira,
dezoito minutos antes do meio-dia, Hitler ordenou ao general Rundstedt que
detivesse o avanço das vanguardas em direção a Dunquerque.
Dunquerque fica a cerca de 40km de Calais. As frentes alemãs estavam a cerca de 25km de Dunquerque quando a ordem de parar dada por Hitler partiu, às onze e quarenta e dois do dia 24. Ela foi enviada em linguagem clara, sem código. Os britânicos a interceptaram. Antes do raiar do dia 24 de maio, às duas horas da madrugada, o Ministério da Guerra inglês ordenou a evacuação de Calais.
Dunquerque fica a cerca de 40km de Calais. As frentes alemãs estavam a cerca de 25km de Dunquerque quando a ordem de parar dada por Hitler partiu, às onze e quarenta e dois do dia 24. Ela foi enviada em linguagem clara, sem código. Os britânicos a interceptaram. Antes do raiar do dia 24 de maio, às duas horas da madrugada, o Ministério da Guerra inglês ordenou a evacuação de Calais.
Antes
do meio-dia, partiu a ordem de "alto" dada por Hitler. Para ele os
britânicos estavam indo embora. Na noite anterior ao dia 24, o general
Rundstedt havia diminuído um pouco a marcha. Ele informou que metade das
vanguardas blindadas estava exausta. Ele também se preocupava com a
possibilidade de um contra-ataque franco-britânico mais a leste, por trás de
suas linhas avançadas - o plano Weygand, que não se concretizou. Hitler
concordou com Rundstedt e deu ordem para que os panzers serem poupados. Alguns
dos generais alemães ficaram surpresos, pois lá estava Dunquerque, o último
porto, que podia ser facilmente atingido.
Hitler, em sua tática tinha uma disposição de acreditar em Göring, que três dias antes da ordem de "alto" tentou convencê-lo de que capturaria os britânicos em Dunquerque, atacando-os pelo ar. Göring convenceu Hitler de que a Luftwaffe poderia fazer o trabalho em Dunquerque.
Göring havia garantido que a
Luftwaffe
poderia impedir a fuga dos Aliados. Os estragos causados pelos Stukas foram imensos.
Cidades demolidas e embarcações afundadas. Mas mesmo assim cerca de 338 mil
soldados – britânicos e franceses – foram resgatados de 27 de maio a 4 de
junho.
A partir da ordem de Sir Eden, originou-se um
deslocamento de tropas sem precedentes até então. Milhares de soldados, sob
fogo cerrado das divisões alemães, deslocaram-se ao longo desta linha em
direção ao mar. A retirada de um número tão grande de soldados e equipamentos
era, por si só, uma tarefa monumental; sob ataque pesado do inimigo, então, era
algo que parecia impossível. Acompanhando a esta movimentação estava a temível
Luftwaffe, que com pouca resistência no ar, bombardeava as tropas em retirada. Durante
a Operação Dynamo, a Força Aérea
Real, da Inglaterra, perdeu 177 aviões e a Luftwaffe 132, sobre Dunquerque.
Um total de cinco nações fizeram parte da evacuação
de Dunquerque: Reino Unido, França, Bélgica, Holanda e Polônia.
A seguir uma citação do livro "Memórias da
Segunda Guerra Mundial" de Winston Churchill: "Escreveram-se relatos
preciosos e excelentes sobre a evacuação dos exércitos inglês e francês de
Dunquerque. Desde o dia 20, a concentração de navios e pequenas embarcações
vinha prosseguindo sob o controle do almirante Ramsay, que comandava em Dover.
No entardecer do dia 26, um sinal do Almirantado desencadeou a Operação Dynamo. As primeira tropas
foram trazidas para casa naquela noite. Depois da perda de Boulogne e Calais,
apenas o que restava do porto de Dunquerque e as praias próximas da fronteira
belga estava em nosso poder. Nesse momento achou-se que em dois dias
conseguiríamos resgatar no máximo cerca de 45.000 homens. Logo no começo da
manhã seguinte, 27 de maio, tomaram-se medidas de emergência para encontrar
pequenas embarcações adicionais "para uma necessidade especial".
Tratava-se de nada menos que a evacuação completa da Força Expedicionária
Britânica".
Assim se deu uma grande operação de resgate de
tropas. Essas tropas britânicas seriam muito úteis à Grã-Bretanha que se
preparava para uma possível invasão alemã e depois puderam ser usadas em outros
lugares na guerra contra os nazistas. A retirada não se tratou de uma covardia,
mas sim de se recuar em um momento que não se podia vencer para lutar outras
vezes em outras condições. Se as forças inglesas tivessem sido esmagadas pelos
alemães antes da retirada, poderia ter ocorrido um golpe profundo na oposição
militar à Hitler, podendo afetar as operações inglesas na África do Norte e poderia causar também um abalo moral na população da
Grã-Bretanha e em suas lideranças políticas, talvez enfraquecendo a vontade de
continuar lutando.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura: Google.
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