terça-feira, 15 de agosto de 2017

A Retirada de Dunquerque ou "Operação Dynamo".









Está passando nos cinemas o filme britânico "Dunkirk". Eu vi o filme no início de agosto e achei muito bom. O filme retrata com realismo este episódio da Segunda Guerra Mundial e é centrado em 3 áreas: mar, terra e ar. Começa com soldados britânicos fugindo e um deles conseguindo entrar na zona de proteção guarnecida por tropas francesas e a partir daí começa toda uma série de ações, com o drama da retirada de centenas de milhares de soldados britânicos e franceses, os esforços das embarcações para salvar os soldados e batalhas aéreas entre aviões das forças aéreas inglesa e alemã, com essa fazendo todo o possível para afundar os barcos e para atacar as tropas em terra e os pilotos ingleses lutando para evitar que os inimigos conseguissem alcançar seus objetivos.

A partir desta narrativa inicial sobre o filme, vou falar sobre o que foi a retirada do porto francês de Dunquerque (no filme é "Dunkirk"), que aconteceu no período de 26 de maio a 04 de junho de 1940. A operação do governo da Grã-Bretanha para retirar os soldados chamou-se de "Operação Dynamo". Para entender melhor como se chegou a tal situação vou fazer uma retrospectiva dos fatos que antecederam o cerco alemão ao referido porto e a retirada anglo-francesa.

Após a vitória alemã contra a Polônia em 1939, começou a chamada "Guerra de Mentira", em que franceses e ingleses de um lado e os alemães de outro não se enfrentavam em terra. Em abril de 1940, com receio de a Inglaterra mandar forças para a Noruega para impedir o transporte de minério de ferro sueco para a Alemanha, Hitler manda forças alemães atacarem a Dinamarca e a Noruega, que foram assim conquistadas. Franceses e ingleses enviaram tropas para impedir esse ataque mas fracassaram.

Depois de assegurado o controle da Noruega, Holanda e Bélgica foram atacadas, com as forças nazistas conseguindo anular a pretensa vantagem francesa da Linha Maginot, uma linha fortificada na fronteira entre França e Alemanha. Segundo John Willians em sua obra: "França-1940: Catástrofe": "Na verdade o plano original da invasão alemã previa um movimento desbordante pela Bélgica Central (seguindo as diretrizes do "Plano Schlieffen" de 1914), conforme estipulado na primeira  versão do "Plano Amarelo" alemão, preparado em meados de outubro de 1939. Este plano especificava uma operação subsidiária pelas Ardenas. Mas um general alemão, Erich von Manstein-Chefe de Estado Maior do General von Rundstedt, comandante do Grupo de Exércitos "A", que fora  destacado para a ação nas Ardenas-não aprovava esse plano.

Prevendo que a Bélgica Central seria intensamente defendida, ele queria que o Grupo de Exércitos "A' desfechasse o ataque principal no setor menos defendido das Ardenas_Mosa. Mas não seria para os tanques um obstáculo grave o terreno notoriamente difícil daquela região? Quanto a esse problema, Manstein consultou o perito em blindados, General Heinz Guderian que, depois de cuidadoso estudo, considerou a operação viável". E ainda: " O Führer, que tinha dúvidas quanto ao esquema original, em parte porque fora revelado aos aliados, através de planos alemães capturados na Bélgica no mês anterior, ficou muito impressionado e adotou imediatamente o plano das Ardenas de Manstein".

Segundo o referido autor, o exército que deveria se opor à força maciça atacante pelas Ardenas era o mais fraco dos exércitos franceses. E disse também que a França estava passando por dificuldades que a enfraqueciam no dia do ataque (10 de maio), como a falta de unidade e da determinação necessária para o embate. E a espera na "Guerra de Mentira" pode ter dado um falso estado de otimismo, como também havia entre muitos franceses uma aversão à guerra, preocupando-se o governo francês com uma atitude muito defensiva que se baseou excessivamente na Linha Maginot, uma linha de defesas estáticas, que não contava com o devido apoio de forças blindadas, uma linha da qual o inimigo poderia se desviar.

Com muitos efetivos do exército francês e também da Força Expedicionária Britânica marchando em território belga, em auxílio à defesa daquele país, foi uma terrível surpresa quando fortes divisões blindadas alemãs saíram das Ardenas e entraram em território francês. O ataque alemão à Holanda e à Bélgica propiciaram aos exércitos de Hitler dar a volta por trás da Linha Maginot, evitando o combate frontal. Assim, em um enorme movimento circular, os exércitos de Rudstendt, vindos do sul, e as divisões Panzer de Güderian, a oeste, iriam encurralar franceses e britânicos contra o Canal da Mancha. O rompimento das linhas francesas em Sedan, que deveriam barrar os alemães na invasão do país, fizeram com que a França entrasse em colapso, sendo muitas de suas forças capturadas ou aniquiladas.

A rapidez dos ataques alemães cercou o exército francês, terminando por dispersá-lo completamente. Quebrada a linha francesa, a  Sétima Divisão Panzer de Rommel e os Panzerkorps dos generais Guderian, Hoth e Reindthart avançaram para o norte, alcançando o rio Somme  no dia 20 de maio. Não houve ataques bem ordenados dos aliados para derrotar o inimigo.
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Quando as tropas alemãs atingiram o Canal da Mancha, Hitler, antes nervoso, ficara exultante e passou a pensar em negociações de paz. Ele estava pensando nas conseqüências políticas, não só nos resultados militares. Em 20 de maio de 1940, Hitler estava bastante confiante para mencionar, pela primeira vez, que levaria os franceses a assinar a rendição na clareira da floresta em Compiègne, no lugar exato onde eles haviam obrigado os alemães a assinar o armistício em novembro de 1918. 

Com a dispersão do exército francês, Churchill decidiu que a Força Expedicionária Britânica tinha de recuar em direção à Mancha. Já haviam sido expedidas as primeiras ordens para reunir todos os tipos de embarcações nos portos ingleses, além da costa de Flandres. O governo estava ciente dos perigos para Londres, tanto que começou a tomar providências contra uma possível invasão alemã. Churchill foi a paris e se encontrou com Weygand que propôs um plano de ataque conjunto franco-britânico. De início  Churchill concordou, porém os exércitos franceses não tinham mais condições de um ataque decisivo aos alemães.

Dois dias antes de se iniciar a evacuação britânica de Dunquerque, Hitler tomou uma decisão cuja importância não deve ser subestimada. Em 24 de maio, sexta-feira, dezoito minutos antes do meio-dia, Hitler ordenou ao general Rundstedt que detivesse o avanço das vanguardas em direção a Dunquerque.

Dunquerque fica a cerca de 40km de Calais. As frentes alemãs estavam a cerca de 25km de Dunquerque quando a ordem de parar dada por Hitler partiu, às onze e quarenta e dois do dia 24. Ela foi enviada em linguagem clara, sem código. Os britânicos a interceptaram. Antes do raiar do dia 24 de maio, às duas horas da madrugada, o Ministério da Guerra inglês ordenou a evacuação de Calais.

Antes do meio-dia, partiu a ordem de "alto" dada por Hitler. Para ele os britânicos estavam indo embora. Na noite anterior ao dia 24, o general Rundstedt havia diminuído um pouco a marcha. Ele informou que metade das vanguardas blindadas estava exausta. Ele também se preocupava com a possibilidade de um contra-ataque franco-britânico mais a leste, por trás de suas linhas avançadas - o plano Weygand, que não se concretizou. Hitler concordou com Rundstedt e deu ordem para que os panzers serem poupados. Alguns dos generais alemães ficaram surpresos, pois lá estava Dunquerque, o último porto, que podia ser facilmente atingido.

Hitler, em sua tática tinha uma disposição de acreditar em Göring, que três dias antes da ordem de "alto" tentou convencê-lo de que  capturaria os britânicos em Dunquerque, atacando-os pelo ar. Göring convenceu Hitler de que a Luftwaffe poderia fazer o trabalho em Dunquerque. 

Göring havia garantido que a Luftwaffe poderia impedir a fuga dos Aliados. Os estragos causados pelos Stukas foram imensos. Cidades demolidas e embarcações afundadas. Mas mesmo assim cerca de 338 mil soldados – britânicos e franceses – foram resgatados de 27 de maio a 4 de junho. 

A partir da ordem de Sir Eden, originou-se um deslocamento de tropas sem precedentes até então. Milhares de soldados, sob fogo cerrado das divisões alemães, deslocaram-se ao longo desta linha em direção ao mar. A retirada de um número tão grande de soldados e equipamentos era, por si só, uma tarefa monumental; sob ataque pesado do inimigo, então, era algo que parecia impossível. Acompanhando a esta movimentação estava a temível Luftwaffe, que com pouca resistência no ar, bombardeava as tropas em retirada. Durante a Operação Dynamo, a Força Aérea Real, da Inglaterra, perdeu 177 aviões e a Luftwaffe 132, sobre Dunquerque. 

Um total de cinco nações fizeram parte da evacuação de Dunquerque: Reino Unido, França, Bélgica, Holanda e Polônia.

A seguir uma citação do livro "Memórias da Segunda Guerra Mundial" de Winston Churchill: "Escreveram-se relatos preciosos e excelentes sobre a evacuação dos exércitos inglês e francês de Dunquerque. Desde o dia 20, a concentração de navios e pequenas embarcações vinha prosseguindo sob o controle do almirante Ramsay, que comandava em Dover. No entardecer do dia 26, um sinal do Almirantado desencadeou a Operação Dynamo. As primeira tropas foram trazidas para casa naquela noite. Depois da perda de Boulogne e Calais, apenas o que restava do porto de Dunquerque e as praias próximas da fronteira belga estava em nosso poder. Nesse momento achou-se que em dois dias conseguiríamos resgatar no máximo cerca de 45.000 homens. Logo no começo da manhã seguinte, 27 de maio, tomaram-se medidas de emergência para encontrar pequenas embarcações adicionais "para uma necessidade especial". Tratava-se de nada menos que a evacuação completa da Força Expedicionária Britânica".

Assim se deu uma grande operação de resgate de tropas. Essas tropas britânicas seriam muito úteis à Grã-Bretanha que se preparava para uma possível invasão alemã e depois puderam ser usadas em outros lugares na guerra contra os nazistas. A retirada não se tratou de uma covardia, mas sim de se recuar em um momento que não se podia vencer para lutar outras vezes em outras condições. Se as forças inglesas tivessem sido esmagadas pelos alemães antes da retirada, poderia ter ocorrido um golpe profundo na oposição militar à Hitler, podendo afetar as operações inglesas na África do Norte e poderia causar também um abalo moral na população da Grã-Bretanha e em suas lideranças políticas, talvez enfraquecendo  a vontade de  continuar lutando.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: Google.





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