quarta-feira, 2 de agosto de 2017

Homenagem a Gonçalves Dias








  
Neste mês de agosto além de outros assuntos, pretendo homenagear neste blog pessoas famosas que deram sua contribuição para a Humanidade e que nasceram neste mês. 

Vou começar por Gonçalves Dias, um importante poeta e escritor brasileiro (que também foi advogado, jornalista e teatrólogo), que nasceu em Caxias, Maranhão, em 10 de agosto de 1823. Destacou-se como poeta romântico e na tradição literária conhecida como “indianismo”. Recebeu o título de poeta nacional do Brasil. É famoso por ter escrito o poema "Canção do Exílio" — um dos poemas mais conhecidos da literatura brasileira —, o curto poema épico I- Juca Pirama e muitos outros poemas nacionalistas e patrióticos. Foi um pesquisador das línguas indígenas e do folclore brasileiro. Era advogado de formação e escreveu 4 peças de teatro. Colaborou com a Revista Contemporânea de Portugal e Brasil.

Estudou em Cuba e Portugal, terminando aí seus estudos secundários e fez bacharelado na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra (1840-1845). Ainda em Coimbra, participou dos grupos medievalistas da Gazeta Literária e de O Trovador, compartilhando das ideias românticas de Almeida Garrett, Alexandre Herculano e Antonio Feliciano de Castilho. Estando tanto tempo fora do Brasil, inspirou-se para escrever a Canção do Exílio. 

Um ano depois de retornar conheceu aquela que foi sua grande musa inspiradora: Ana Amélia Ferreira Vale. No mesmo ano viajou para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como professor de história e latim do Colégio Pedro II, além de ter atuado como jornalista, contribuindo para as seguintes publicações:  Jornal do Comercio, Gazeta Oficial, Correio da Tarde e Sentinela da Monarquia, publicando crônicas, folhetins teatrais e crítica literária.

Gonçalves Dias pediu Ana Amélia em casamento em 1852, mas a família dela, em virtude da ascendência do escritor, filho de um português com uma mestiça, recusou o pedido. No mesmo ano retornou ao Rio de Janeiro, onde casou-se com Olímpia da Costa.

Foi nomeado oficial da Secretaria dos Negócios Estrangeiros e durante quatro anos ficou na Europa realizando pesquisas em prol da educação nacional. De volta ao Brasil foi convidado a participar da Comissão Científica de Exploração, pela qual viajou por quase todo o norte do país.

Foi à Europa em 1862 para um tratamento de saúde, mas não conseguiu resultados e retornou ao Brasil em 1864, tendo o navio em que viajava naufragado na costa brasileira. Todos no navio se salvaram, exceto o poeta, que foi esquecido, agonizando em seu leito, e se afogou. O acidente ocorreu perto de Tutoia, no Maranhão em 03 de novembro de 1864.

Características de seu estilo literário:

- Representação romântica e valorização do indígena brasileiro e sua cultura.

- Poesias escritas buscando sempre a perfeição rítmica e formal.

- Poemas marcados pela presença de rima, musicalidade e métrica.

- Retratou também, de forma positiva, os negros.

- Exaltou as belezas naturais do Brasil.

-Retratou temas ligados aos valores medievais (principalmente dos cavaleiros), transportados para o contexto brasileiro.

- Abordou também a religiosidade de caráter cristão.

- Em suas poesias, abordou o sentimentalismo.

Principais obras e poesias de Gonçalves Dias:

- I-Juca Pirama

- Primeiros Cantos

- Leonor de Mendonça

- Leito de folhas verdes

- Marabá

- Canção do Tamoio

- Últimos cantos

- O canto do piaga

- Se se morre de amor

- Os Timbiras

- Lira Varia

A seguir dois poemas do autor (Gonçalves Dias):

Seus Olhos

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
Estrelas incertas, que as águas dormentes
Do mar vão ferir;

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Têm meiga expressão,
Mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta
De noite cantando, — mais doce que a flauta
Quebrando a solidão,

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
De vivo luzir,
São meigos infantes, gentis, engraçados
Brincando a sorrir.

São meigos infantes, brincando, saltando
Em jogo infantil,
Inquietos, travessos; — causando tormento,
Com beijos nos pagam a dor de um momento,
Com modo gentil.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Às vezes luzindo, serenos, tranquilos,
Às vezes vulcão!

Às vezes, oh! sim, derramam tão fraco,
Tão frouxo brilhar,
Que a mim me parece que o ar lhes falece,
E os olhos tão meigos, que o pranto humedece
Me fazem chorar.

Assim lindo infante, que dorme tranquilo,
Desperta a chorar;
E mudo e sisudo, cismando mil coisas,
Não pensa — a pensar.

Nas almas tão puras da virgem, do infante,
Às vezes do céu
Cai doce harmonia duma Harpa celeste,
Um vago desejo; e a mente se veste
De pranto co'um véu.

Quer sejam saudades, quer sejam desejos
Da pátria melhor;
Eu amo seus olhos que choram em causa
Um pranto sem dor.

Eu amo seus olhos tão negros, tão puros,
De vivo fulgor;
Seus olhos que exprimem tão doce harmonia,
Que falam de amores com tanta poesia,
Com tanto pudor.

Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros,
Assim é que são;
Eu amo esses olhos que falam de amores
Com tanta paixão.
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Canção do Exílio
Minha terra tem palmeiras,
Onde Canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorgeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar - sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura: Imagem do Google.



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