Considerando que dia 02 de novembro se comemora o “Dia de Finados” vou, neste
artigo, falar sobre como era vista a morte na Idade Média.
As pessoas na Idade Média europeia
costumavam ver a morte com muita tranquilidade e naturalidade, pressentindo
quando a morte estava se aproximando e tendo tempo assim de se preparar para
ela. Era importante essa preparação para a morte, já que para o cristianismo, a
morte é o início da vida eterna. Portanto, quem vivia nessa época, dizia sentir
o momento da morte de aproximando e começavam a se confessar, doar esmolas e
receber sacramentos para poder merecer a “vida eterna”.
A morte era aguardada no leito de casa.
O moribundo teria de ficar deitado de costas porque desse jeito seu rosto
estaria voltado para o céu. A morte era um ritual compartilhado por toda a
família, por todos da casa.
Na Idade Média a morte era um rito de
passagem para a morada definitiva da alma, a última peregrinação do homem-viajante medieval
O sentimento mais comum em relação à essa cerimônia é provavelmente a
palavra serenidade.
O mundo para os medievais era um local
de combate contra o Diabo, um combate pela salvação da alma. São elementos
(mentais) interferindo em ações (materiais), aspectos culturais e, acima de
tudo, religiosos, que alteram e modificam o comportamento social.
A difusão dessa nova
espiritualidade e concepção do além no século XIII aconteceu graças às ordens
mendicantes. Os pregadores franciscanos e dominicanos lembravam às massas a
corruptabilidade de todas as coisas. A imagem preferida dos sermões será
O cadáver putrefato . A carne associada ao pó e aos vermes.
Os medievais tornaram a realidade
transcendente ao pensarem o Além, ao preocuparem-se com o pós-morte. Para eles,
sendo o mundo dos vivos, o mundo material algo efêmero, era um mundo de
aparências, era uma representação - uma imagem, uma ideia de
alguma coisa. A vida no mundo deveria estar voltada para o significado
verdadeiramente oculto por trás do véu da matéria e esse sentido da vida humana
era dado pelo mundo do Além. Os medievais acreditavam que o mundo havia sido
criado num ato de amor, que funcionava por amor e tal contemplação deveria
orientar os espíritos de volta para Deus, salvando-os do Inferno.
Os rituais fúnebres também tinham um
valor considerável na Idade Média. Toda a família e a comunidade eram
envolvidas nesse ritual, que se tornava uma grande cerimônia que tinha de ser
acompanhada por todos. Os familiares se preocupavam com a salvação da alma do
ser querido e não tanto com a sua morte.
Essa era a morte no leito lenta e domesticada em
relação ao que havia sobrevivido ao infanticídio, às intempéries da natureza,
às doenças e às fomes. Porém existia também a morte na guerra, a morte
antecipada, momento supremo do cavaleiro. Os cavaleiros iam alegres, cantantes
e ansiosos em direção à morte. Os trovadores nos contam da felicidade daqueles
cavaleiros rudes quando da chegada da primavera e do momento do combate.
Abaixo uma citação da obra de
Bertrand de Born (1159-1197):
“Digo-vos, já não encontro tanto
sabor no comer, no beber, no dormir como quando ouço o grito
“Avante!”. Elevar-se dos dois lados, o relinchar dos cavalos sem
cavaleiros na sombra e os brados “Socorro! Socorro!”
Quando vejo cair, para lá dos fossos,
grandes e pequenos na erva; quando vejo, enfim, os mortos que, nas
entranhas, têm ainda cravados os restos das lanças, com as suas flâmulas.”
A morte na Idade Média era uma agonia apenas
para o usurário (que emprestava dinheiro a juros). Ela era temida porque era
imprevisível, mas desejada pelo cristão quando anunciada, em sonhos ou visões.
Mas no século XV essa visão sobre a condenação do usurário já se modificava e
ele já podia conseguir o perdão divino, o que prova que a mudança do contexto
social vai mudando a visão que se tem em determinados aspectos relacionados à
morte. Tal conceito sobre a morte na Idade Média teve uma grande duração, porém
à medida que os progressos materiais e o crescente sentimento individualista
iam acontecendo, foi mudando a postura diante da morte.
Quando se começava a viver
melhor, mais se queria viver. A morte passa a ser uma vilã a separar o homem
das suas conquistas materiais. Havia uma horrorização com a morte, pelas
pessoas que se viam perante a Peste Negra. A morte passava a ser trágica e
destrutiva, tornando a morte não uma amiga, mas a vilã.
Atualmente, a sociedade dita ocidental
cada vez mais tenta prolongar a vida, procurando se distanciar da morte e
tentando não pensar nela ou querendo esquecê-la. Por exemplo, há a crença de
alguns de que após o sono eterno há o nada, o aniquilamento. O que pensam então
essas pessoas sobre a questão? Viver a vida terrena, gozar os prazeres dos
sentidos corporais...Na Idade Média havia por parte de muitos na sociedade uma
espécie de platonismo, um estoicismo diante da morte.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+ossu%C3%A1rio+medieval&sxsrf=ALeKk00vTh-gFzBvnaNOg67af_QFMRSWnQ:1604268348231&tbm=isch&source
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