quarta-feira, 1 de novembro de 2017

A ideia da Morte na Idade Média

 












Considerando que dia 02 de novembro se comemora o “Dia de Finados” vou, neste artigo, falar sobre como era vista a morte na Idade Média.

As pessoas na Idade Média europeia costumavam ver a morte com muita tranquilidade e naturalidade, pressentindo quando a morte estava se aproximando e tendo tempo assim de se preparar para ela. Era importante essa preparação para a morte, já que para o cristianismo, a morte é o início da vida eterna. Portanto, quem vivia nessa época, dizia sentir o momento da morte de aproximando e começavam a se confessar, doar esmolas e receber sacramentos para poder merecer a “vida eterna”.

A morte era aguardada no leito de casa. O moribundo teria de ficar deitado de costas porque desse jeito seu rosto estaria voltado para o céu. A morte era um ritual compartilhado por toda a família, por todos da casa. 

Na Idade Média a morte era um rito de passagem para a morada definitiva da alma, a última peregrinação do homem-viajante medieval O sentimento mais comum em relação à essa cerimônia é provavelmente a palavra serenidade.

O mundo para os medievais era um local de combate contra o Diabo, um combate pela salvação da alma. São elementos (mentais) interferindo em ações (materiais), aspectos culturais e, acima de tudo, religiosos, que alteram e modificam o comportamento social.

 A difusão dessa nova espiritualidade e concepção do além no século XIII aconteceu graças às ordens mendicantes. Os pregadores franciscanos e dominicanos lembravam às massas a corruptabilidade de todas as coisas. A imagem preferida dos sermões será O cadáver putrefato . A carne associada ao pó e aos vermes.

Os medievais tornaram a realidade transcendente ao pensarem o Além, ao preocuparem-se com o pós-morte. Para eles, sendo o mundo dos vivos, o mundo material algo efêmero, era um mundo de aparências, era uma representação - uma imagem, uma ideia de alguma coisa. A vida no mundo deveria estar voltada para o significado verdadeiramente oculto por trás do véu da matéria e esse sentido da vida humana era dado pelo mundo do Além. Os medievais acreditavam que o mundo havia sido criado num ato de amor, que funcionava por amor e tal contemplação deveria orientar os espíritos de volta para Deus, salvando-os do Inferno.

Os rituais fúnebres também tinham um valor considerável na Idade Média. Toda a família e a comunidade eram envolvidas nesse ritual, que se tornava uma grande cerimônia que tinha de ser acompanhada por todos. Os familiares se preocupavam com a salvação da alma do ser querido e não tanto com a sua morte. 

Essa era a morte no leito lenta e domesticada em relação ao que havia sobrevivido ao infanticídio, às intempéries da natureza, às doenças e às fomes. Porém existia também a morte na guerra, a morte antecipada, momento supremo do cavaleiro. Os cavaleiros iam alegres, cantantes e ansiosos em direção à morte. Os trovadores nos contam da felicidade daqueles cavaleiros rudes quando da chegada da primavera e do momento do combate.

 Abaixo uma citação da obra de Bertrand de Born (1159-1197):

 “Digo-vos, já não encontro tanto sabor no comer, no beber, no dormir como quando ouço o grito  “Avante!”. Elevar-se dos dois lados, o relinchar dos cavalos sem cavaleiros na sombra e os brados “Socorro! Socorro!”

Quando vejo cair, para lá dos fossos, grandes e pequenos na erva; quando vejo, enfim, os mortos que, nas entranhas, têm ainda cravados os restos das lanças, com as suas flâmulas.”

A morte na Idade Média era uma agonia apenas para o usurário (que emprestava dinheiro a juros). Ela era temida porque era imprevisível, mas desejada pelo cristão quando anunciada, em sonhos ou visões. Mas no século XV essa visão sobre a condenação do usurário já se modificava e ele já podia conseguir o perdão divino, o que prova que a mudança do contexto social vai mudando a visão que se tem em determinados aspectos relacionados à morte. Tal conceito sobre a morte na Idade Média teve uma grande duração, porém à medida que os progressos materiais e o crescente sentimento individualista iam acontecendo, foi mudando a postura diante da morte.

 Quando se começava a viver melhor, mais se queria viver. A morte passa a ser uma vilã a separar o homem das suas conquistas materiais. Havia uma horrorização com a morte, pelas pessoas que se viam perante a Peste Negra. A morte passava a ser trágica e destrutiva, tornando a morte não uma amiga, mas a vilã.

Atualmente, a sociedade dita ocidental cada vez mais tenta prolongar a vida, procurando se distanciar da morte e tentando não pensar nela ou querendo esquecê-la. Por exemplo, há a crença de alguns de que após o sono eterno há o nada, o aniquilamento. O que pensam então essas pessoas sobre a questão? Viver a vida terrena, gozar os prazeres dos sentidos corporais...Na Idade Média havia por parte de muitos na sociedade uma espécie de  platonismo, um estoicismo diante da morte.

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 


Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+ossu%C3%A1rio+medieval&sxsrf=ALeKk00vTh-gFzBvnaNOg67af_QFMRSWnQ:1604268348231&tbm=isch&source










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