Minha homenagem ao Dia Internacional da
Mulher começa com este artigo sobre a compositora, instrumentista e maestrina
Chiquinha Gonzaga. Seus gêneros musicais eram Choro, Polka, Tango brasileiro,
Marcha e Valsa e o instrumento com o qual ela se destacou foi o piano. Seu nome
completo era Francisca Edwiges Neves Gonzaga. Ela nasceu na cidade do Rio de
Janeiro, na época Município Neutro, em 17 de outubro de 1847. Foi a primeira
pianista musicista de choro, tendo sido a autora da marcha “Ó Abre Alas”, que
foi a primeira marcha carnavalesca com letra. Foi a primeira mulher regente de
orquestra no Brasil. No dia de seu aniversário, a partir da Lei 12
624 de maio de 2012, é comemorado o Dia da Música Popular
Brasileira. Ela foi uma mulher de fibra e coragem que enfrentou os
preconceitos da sociedade oligárquica de sua época.
O pai de Chiquinha era o marechal de
campo do Exército Imperial Brasileiro José
Basileu Gonzaga. Sua mãe, Rosa Maria Neves de Lima, era filha de uma escrava
alforriada. Mesmo tendo a oposição de sua família, o pai de Chiquinha casou-se
com Rosa logo assim que a filha nasceu. A família paterna de Chiquinha era
tradicional, rígida, com ares aristocráticos e ela era afilhada do Duque de
Caxias. Como mulher jovem de família tradicional aprendeu a escrever, ler,
fazer cálculos, estudou o catecismo e aprendeu a tocar piano. Estudou na infância
com o cônego Trindade e na área musical (piano) com o Maestro Elias Álvares
Lobo. Passou a ir a rodas de lundu, umbigada e outros ritmos de origem
africana. A Canção dos Pastores foi sua primeira composição,
quando tinha apenas 11 anos.
Pressionada por seu pai casou-se aos 16
anos com Jacinto Ribeiro do Amaral, oficial da Marinha Mercante. Após o
casamento engravidou logo. Mas não aguentou o regime fechado do navio no qual
seu marido trabalhava e nem aceitava a imposição de não se envolver com a música.
Deixou assim o marido depois de seis anos de matrimônio, o que não foi bem
visto pela sociedade da época. Seu pai não a aceita de volta e a ela só foi
permitido ficar com um de seus três filhos, o filho João Gualberto. Foi
doloroso para ela não ter podido criar os outros dois filhos, Maria do
Patrocínio e Hilário.
Já separada Chiquinha passou a lecionar
piano e a frequentar rodas de choro, tendo como acompanhante o flautista
Joaquim Antônio Callado. Do relacionamento com o engenheiro João
Batista de Carvalho veio a filha Alice Maria. Ficaram juntos muitos anos, mas a
infidelidade dele causou indignação de Chiquinha. Eles se separam e
a guarda da filha de Chiquinha fica com o pai. Ela continua seu trabalho lecionando e
frequentando a boemia e bailes, sendo musicista independente com o grupo Choro
Carioca. Ela também tocava piano em lojas de instrumentos musicais. Teve
reconhecimento como autora de valsas, polcas, tangos e cançonetas. Não era bem
aceita na sociedade patriarcal uma mulher que se inserisse no tipo de atividade
musical que Chiquinha se envolveu, uma música de dança para consumo em salões.
Portanto Chiquinha além de seu talento, demonstrou ser corajosa e determinada.
O sucesso de Chiquinha começou com a
polca Atraente (1877). Depois vieram as composições Sultana (1878)
e Camila (1879). Ela nesse tempo teve estudos musicais com Artur Napoleão.
Compôs em 1885 a trilha da opereta "A Corte na Roça", no Teatro
Imperial, com texto de Palhares Ribeiro. A sua reconhecida opereta Forrobodó
estreou em 1911, tendo 1500 apresentações seguidas, um recorde neste gênero no
Brasil. Sua última composição foi "Maria", quando ela tinha 87 anos.
Foi autora de outras composições como a música da opereta Juriti e em 1888, na
apresentação de A Filha do Guedes regeu pela
primeira vez uma orquestra. Reuniu-se em 1886 com violonistas em bairros
cariocas buscando a valorização do violão, que era estigmatizado pela elite
social da época. Por essa época compôs o choro Sabiá na
Mata para concerto de 100 violões, que aconteceu no Teatro São Pedro.
Foi em 1899 que
compôs a sua famosa obra Ó Abre Alas, com a finalidade de animar o cordão Rosa
de Ouro na cidade do Rio de Janeiro. Constituiu-se essa marcha na primeira
composição criada para o Carnaval, com o início de novo estilo na música, a
Marcha-Rancho. Tornou-se amiga em 1900 da artista Nair de Tefé von Hoonholtz, a
primeira caricaturista feminina do mundo. Esteve no período de 1902 a 1910 em
Portugal, escrevendo músicas para vários autores. Na ocasião que Chiquinha
voltou ao Brasil a sua amiga Nair de Tefé tinha se casado com Hermes da Fonseca,
presidente do Brasil. A amiga lhe convida a apresentar-se em alguns saraus no
Palácio do Catete. O recital de lançamento do maxixe de Chiquinha chamado
de Corta Jaca, em 1914, nesse palácio, foi muito criticado pela
imprensa e a alta sociedade da cidade do Rio de Janeiro, porque na ocasião
Nair, a primeira-dama, acompanhou Chiquinha no violão. Esses críticos
consideravam escandalosas essas apresentações.
Chiquinha foi fundadora da Sociedade
Brasileira de Autores Teatrais, tendo composto músicas para 77 peças teatrais.
Compôs cerca de duas mil obras musicais ( polcas, valsas, tangos, lundus,
maxixes, fados, quadrilhas, choros, mazurcas e serenatas).
Ela foi ardorosa defensora da abolição
da escravidão e era a favor do fim da monarquia. Ela usou dinheiro que ganhou
na venda de composições e fez doações para para abolicionistas e republicanos. As
partituras de sua obra Caramuru possibilitam ter recursos para comprar a
alforria do escravizado Zé da Flauta, que era músico.
Nas rodas de boemia fumava (o que não
era comum para uma mulher daquele tempo) e mostrava-se independente, o que despertava
atenção e era condenável moralmente na sociedade da época. Aos 52 anos, em
1899, apaixonou-se por um estudante de música português, João Batista Fernandes
Lage, que tinha 16 anos, muito mais novo que ela, que temeu o preconceito
social. Ela o adotou como filho. Assim vivia seu amor evitando escândalos e que
sua carreira fosse abalada. E em 1902 ela e João Batista mudaram-se para
Lisboa, em Portugal. Mesmo no início não concordando, após algum tempo, os
filhos de Chiquinha aceitaram o relacionamento de Chiquinha com João, que teve
muitos ensinamentos sobre música com ela. Os dois retornaram ao Brasil
sem nunca terem assumido publicamente o romance, que só foi descoberto quando
foram vistas fotografias e cartas do casal depois que Chiquinha morreu. Sua morte foi em 28 de fevereiro de 1935 na cidade do Rio de Janeiro, ao
lado do amor de sua vida, amigo e parceiro. Encontra-se sepultada no Cemitério
de São Francisco de Paula. Ela foi reconhecida como a primeira compositora
popular do Brasil.
A
vida de Chiquinha foi mostrada no teatro, na televisão e no cinema. Na Tv Globo
houve a minissérie Chiquinha Gonzaga, em 1999. No carnaval carioca de 1985 ela
foi homenageada pela escola de samba Mangueira, em 1985, com o enredo Abram
alas que eu quero passar . A Imperatriz Leopoldinense a homenageou em
1997, com o enredo Eu Sou Da Lira, Não Posso Negar. O Projeto
de Resolução 14/1999 criou a Medalha de reconhecimento Chiquinha Gonzaga,
para as mulheres que participam ativamente de lutas a favor das causas
democráticas, humanitárias, artísticas e culturais, seja a nível da União, como
também em relação a Estados e Municípios.
Lua
Branca
Oh, lua branca de fulgores e de encanto
Se é verdade que ao amor tu dás abrigo
Vem tirar dos olhos meus o pranto
Ai, vem matar essa paixão que anda comigo
Oh, por quem és desce do céu, oh lua branca
Essa amargura do meu peito, oh, vem, arranca
Dá-me o luar de tua compaixão
Oh, vem, por Deus, iluminar meu coração
E quantas vezes lá no céu me aparecias
A brilhar em noite calma e constelada
E em tua luz então me surpreendias
Ajoelhado junto aos pés da minha amada
E ela a chorar, a soluçar, cheia de pejo
Vinha em seus lábios me ofertar um doce beijo
Ela partiu, me abandonou assim
Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim
Ela partiu, me abandonou assim
Ó, lua branca, por quem és, tem dó de mim
Chiquinha Gonzaga
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Sugestão de
vídeos:
Lua Branca
https://www.letras.mus.br/chiquinha-gonzaga/386811/
Programa Harmonia
https://www.youtube.com/watch?v=WQ2h01Fsoy4
CORTA-JACA (Chiquinha Gonzaga e Machado Careca) por
Lysia Condé
https://www.youtube.com/watch?v=4wfrA54BMZg
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
Figura:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+chiquinha+gonzaga&sxsrf=ALeKk03VNvZj02aj4gc_g3ISPcxBXEen0g:1615229300990&tbm=isch&source
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