Minha terceira homenagem para o Dia das Mulheres é
sobre as cientistas afro-americanas da Agência Espacial Americana (NASA)
Katherine Johnson, Mary Jackson e Dorothy Vaughan. Elas foram mostradas
no filme “Estrelas Além do Tempo” (“Hidden Figures” – título do
filme em inglês),de 2016. Elas trabalharam no Langley Research Center (“Centro
de Pesquisas Langley”) da NASA, em Hampton, no estado da Virgínia.
Katherine Johnson e Dorothy Vaughan eram matemáticas. Mary Jackson era
matemática e depois também engenheira.
As três trabalharam na NASA na época da Guerra Fria, quando Estados Unidos e União Soviética disputavam influências e poder. Também foi um tempo em que ainda existia a chamada segregação racial especialmente em estados do Sul e Sudeste, inclusive a Virgínia, onde está Langley. Havia segregação na Virgínia em vários locais como escolas, faculdades. Os banheiros públicos e bebedouros eram separados, como também os assentos nos ônibus.
Foi nos anos da década de 1940 que começou pela NACA (Comitê Nacional para Aconselhamento sobre Aeronáutica), antecessora da NASA, o recrutamento de mulheres para serem uma espécie de computadores humanos ou “calculadoras”. Elas tinham de checar as equações que possibilitavam o trabalho dos engenheiros, matemáticos e físicos, cuja maioria era de homens brancos. Inicialmente mulheres brancas foram contratadas para trabalharem no Centro de Langley, com salários menores e mais tarde as mulheres negras também foram contratadas como calculadoras.
Dorothy Vaughan, uma dessas mulheres matemáticas afro-americanas, nasceu em Kansas City em 1910 e formou-se em Wilberforce University (que atendia pessoas da comunidade negra). Dorothy foi professora de matemática em escola de ensino médio em Virgínia. Foi contratada pela NACA em 1943. Passou a trabalhar no Centro de Pesquisas Langley. Ela foi trabalhar na West Area Computing Unit (“Unidade Computacional da Área Oeste”). Lá trabalhavam mulheres negras que exerciam a função de calculadoras. Foi promovida em 1949 a chefe da Unidade Oeste. Foi a primeira pessoa da comunidade negra a ser supervisora na NACA, que depois foi NASA. Era uma defensora pelo progresso das mulheres matemáticas em sua equipe na busca de outras oportunidade em Langley. Ela tornou-se uma especialista na linguagem de computação FORTRAN, após a instalação de computadores IBM. Aposentou-se em 1971, tendo se tornado uma incentivadora na entrada de mulheres nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Faleceu com 98 anos, em novembro de 2008.
Mary
Jackson, a mais nova dessas três mulheres cientistas, nasceu em Hampton,
Virgínia. Era uma aluna brilhante e formou-se em Matemática e Ciências Físicas
em 1942 no Hampton Institute. Também foi professora de matemática e
em 1951 foi trabalhar no Centro Langley, sob supervisão de Dorothy. Ela passou
para a área de Engenharia, em um processo de transição difícil. Foi convidada
para entrar em uma equipe que estava trabalhando em um Túnel de Vento
Supersônico. Teve de frequentar aulas de matemática e física oferecidas pela
Universidade da Virgínia, mas as aulas eram ministradas na Hampton High
School, onde vigorava o ensino segregado. Assim, teve de conseguir uma
permissão especial para poder assistir as aulas. Ela frequentou as aulas e
tornou-se a primeira engenheira negra da NASA, em 1958. Foi autora e coautora
de artigos e relatórios referentes à engenharia aeronáutica. Em 1979
ela fez a passagem de engenheira para gerente no Federal Women’s
Program (“Programa Federal Voltado para Mulheres”) em Langley.
Aposentou-se em 1985. Foi agraciada com o prêmio Apollo Group
Achievement Award. Deu apoio a jovens cientistas e faleceu em 2005, com quase
84 anos.
Katherine Johnson foi uma
matemática. Ela nasceu em 1918 na Virgínia Ocidental. Desde criança mostrava
inclinação para a matemática. Na cidade de White Sulphur
Springs, onde nasceu, o ensino era segregado e ela só podia estudar até a
sexta série. Sua família mudou-se para outra cidade, Institute. Estava com
apenas dez anos quando entrou no ensino médio, em uma escola que tinha
associação à universidade hoje chamada de West
Virginia State. Aos 14 anos ela se formou no ensino médio e entrou na West
Virginia State. O
professor William Waldron Schieffelin Claytor deu incentivo para que ela fosse
uma pesquisadora na Matemática. Formou-se com brilhantismo em 1937 e trabalhou
como professora em escola pública para estudantes negros. Foi convidada para
prosseguir seus estudos na West Virginia University.
Casou-se depois do primeiro ano de pós-graduação e deixou os estudos. Continuou
a carreira de professora e em 1952 entrou como calculadora no Centro Langley e ficou sob a
supervisão de Dorothy Vaughan. Após dois meses de trabalho Dorothy a indicou
para trabalhar em um projeto da Flight Research Division (“Divisão de Pesquisas em Voo”).
Analisava dados dos testes de voo na NACA. Em 1957, quando a União Soviética
lançou o satélite Sputnik , o governo dos Estados Unidos não querendo ficar
para trás na corrida espacial resolveu criar o Space
Task Group .Em
1958 a NASA estava formada e as pesquisas se aceleraram.
Em 1961 Katherine fez cálculos para a primeira missão espacial tripulada dos Estados Unidos, a Freedom 7, que decolou em 5 maio com o astronauta Alan Shepard. Ela checou os cálculos dos computadores IBM para a rota da missão Friendship, com nave tripulada pelo astronauta John Glenn (o primeiro astronauta estadunidense a entrar em órbita na Terra em 20 de fevereiro de 1962). Também integrou a equipe da Apollo 11, fazendo importantes cálculos que ajudaram a sincronizar o módulo lunar da Apollo 11 com o módulo de serviço. Depois ela esteve na equipe que trabalhava no Space Shuttle, o ônibus espacial. Após 33 anos no Centro Langley, ela se aposentou em 1986. Foi homenageada em 2015 com a Medalha Presidencial da Liberdade . Ela gostou de ver o filme Hidden Figures (“Estrelas Além do Tempo”) baseado na vida dele e de suas outras duas colegas. Faleceu com 101 anos em 24 de fevereiro de 2020. A NASA nomeou duas instalações com seu nome: o Katherine Johnson Computational Research Facility, no Centro Langley em Hampton, Virgínia; e o Katherine Johnson Independent Verification & Validation Facility em Fairmont, Virgínia Ocidental.
A contribuição
dessas três mulheres é inegável. Além da colaboração para a Ciência, elas
tiveram de superar várias dificuldades em uma sociedade dominada por homens e
com forte preconceito contra pessoas negras, nas décadas de 1950 e 1960 nos
Estados Unidos.
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Márcio
José Matos Rodrigues-Professor de História
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