Em 5 de março de 1887, na cidade do Rio
de Janeiro (na época era o chamado Município Neutro, onde ficava a sede do
governo imperial) nasceu o famoso e talentoso compositor brasileiro Heitor
Villa-Lobos. Além de compositor foi maestro, pianista, violoncelista e
violonista. Ficou conhecido como "a figura
criativa mais significativa do Século XX na música clássica brasileira".
Tornou-se o mais conhecido compositor sul-americano. Na sua criação estão
obras as mais diversas, como orquestrais, de câmara, instrumentais e vocais,
sendo mais de duas mil obras até sua morte. Foi um importante descobridor de
uma linguagem peculiarmente brasileira em música. Destacou-se como modernista
na música e criou obras com características regionais brasileiras, indo na
fonte de músicas populares e indígenas, tendo influências do folclore
brasileiro e de elementos estilísticos da música da Europa. Um exemplo disso
foi a criação de Bachianas Brasileiras. O dia de nascimento de
Villa-Lobos é celebrado como “Dia Nacional da Música Clássica”.
O pai do
compositor, Raul Villa-Lobos, era funcionário da Biblioteca do Senado Nacional e
músico amador. A mãe era Noêmia Monteiro Villa-Lobos. Ela queria vê-lo
formar-se em medicina e o pai deu a ele instrução musical. Com seis anos de
idade Heitor foi incentivado por seu pai a reconhecer características do gênero,
caráter, origem, estilo e ruído musicais. Uma tia sua o influenciou a ouvir
composições de Johann Sebastian Bach, compositor que foi importante em futuras
criações de Heitor Villa-Lobos.
O pai morreu
quando Heitor tinha 13 anos. Passou a se aperfeiçoar no violão. Foi várias
vezes a localidades do interior brasileiro, começando asim a ser influenciado
pelo universo musical do Brasil. Esteve no Nordeste em 1905, ficando fascinado
com o folclore. Escreveu em 1907 “Os Cantos Sertanejos”, para pequena
orquestra. Um fato importante dessa época foi a inauguração do Teatro
Municipal do Rio de Janeiro, em 1909, que teve em seu início a referência o
modelo parisiense. Lá eram encenadas as óperas dos italianos Gaetano Donizetti
(1797-1848), Vincenzo Bellini (1801-1835), Giacomo Puccini (1858-1924) e
Giuseppe Verdi (1813-1901). As óperas eram de origem italiana e a música de
salão tocada era de compositores franceses. Nesse contexto cultural onde estava
o jovem Heitor também existia outro aspecto, de característica popular que era
o choro, tocado nas ruas, em lugares públicos, nos bares. Ele passou a
participar do grupo do violonista Quincas Laranjeiras (1873-1935).
Matriculou-se no curso de Harmonia de Frederico Nascimento, no Instituto
Nacional de Música, mas teve dificuldades de adaptação à disciplina dos
estudos. Tocava violoncelo, piano, violão e saxofone nos teatros e cinemas
cariocas como meio de sustento. Começou uma produção de obras musicais
compondo Suíte Floral Para Piano” (1914), “Danças Africanas” (1914), “Uirapuru”
(1917) e “Canto do Cisne Negro Para Piano e Violoncelo” (1917), “Amazonas”
(1917) etc. Casou-se com a pianista Lucília Guimarães em 1913,
indo morar na cidade do Rio de Janeiro.
Nos anos de 1920 Villa-Lobos foi
audaciosamente criativo, tendo produzido serestas, choros, os Estudos para
violão e as Cirandas para piano. A sua estreia oficial na Semana de Arte
Moderna, em São Paulo, em 1922 foi o começo para ele se projetar
internacionalmente como um criador original, embora tenham existido vaias durante
a apresentação de sua música moderna. Ainda não havia uma compreensão da
crítica sobre a sua música. Com 36 anos, em 1923, obtendo financiamento do
governo, foi a Paris onde mostrou seu talento. Em Paris pôde conhecer as
músicas do russo Igor Stravinsky (1882-1971) e do húngaro Béla Bartók
(1881-1945), que o inspiraram e ele fez uma ligação desse tipo de música com a
sua experiência com a música urbana carioca
Em 1927 o milionário carioca
Carlos Guinle financiou uma segunda viagem de Villa- Lobos para a Europa , que
voltou ao Brasil somente em 1930. Logo após a sua volta ao Brasil, Heitor fez
uma turnê pelo país, apresentando-se em 66 cidades. Nos anos 30 seu primeiro
casamento acabou. Heitor operou-se de um câncer em 1948. Passou a viver com Arminda Neves d'Almeida, a Mindinha, que tinha
sido sua aluna. Eles não chegaram a se casar. Foi Arminda que divulgou ainda
mais as obras de Villa-Lobos depois que ele faleceu e se tornou diretora
do Museu de Villa-Lobos em 1960. Ela teve bastante influência no trabalho dele,
que dedicou várias composições à Arminda . Mas Lucília, segundo estudiosos,
teve também sua influência no trabalho de Villa-Lobos, embora tenha sido uma
influência sutil. Segundo o pesquisador Luís Gustavo Torres, a troca de experiências
entre Lucília e Villa-Lobos possibilitou a composição Ondulando, de
1914, pois possui uma forte influência do romantismo europeu. Lucília, ao
contrário do marido, era uma pianista estudiosa dos compositores românticos
Schumann e Chopin. O pesquisador disse: “A obra parece ter sido feita por
alguém que conhecia bem esse tipo de linguagem pianística.” Houve decerto algum
tipo de parceria musical entre eles enquanto estiveram casados, mesmo que
Villa-Lobos não tenha reconhecido isso publicamente.
As obras de Villa-Lobos tiveram impacto muito grande no exterior, como na França e nos Estados Unidos. O The New York Times, dedicou a Heitor Villa-Lobos um editorial no dia seguinte à morte do compositor. Os estilos europeus da virada do século XIX para o século XX, influenciaram Villa-Lobos em suas primeiras composições. Os compositores Wagner, Puccini, o modernismo da Escola de Frankfurt e os impressionistas exerceram influências sobre Villa-Lobos. Mas em 1914 já existia uma crítica dele aos moldes europeus e ele começou a descobrir uma linguagem própria. Exemplo disso foi a série de peças para piano Danças características africanas.
Na era Vargas as publicações de Villa-Lobos tinham propaganda pela nacionalidade brasileira e também estavam relacionadas à teoria musical. No filme “O Descobrimento do Brasil", de 1936 há música de Villa-Lobos, que foi adaptada para suíte orquestral. Na sua publicação A Música Nacionalista no Governo Getúlio Vargas (1941), Villa-Lobos considerava a nação como entidade sagrada. Ele fez parte de um comitê visando estabelecer uma versão definitiva para o hino nacional. Na ditadura do Estado Novo Villa-Lobos continuou produzindo obras patrióticas. Para a celebração do dia 7 de setembro (“Dia da Independência”), em 1943, Villa-Lobos compôs o ballet Dança da terra, que não foi bem considerado pelas autoridades, o que obrigou a uma revisão. Também em 1943 houve o hino de Villa-Lobos Invocação em defesa da pátria, numa época de guerra, na qual o Brasil iria entrar contra a Alemanha nazista. Nessa época, quando vigorava o Estado Novo, ele foi Secretário de Educação Musical e dava orientações a professores para que soubessem como ensinar música aos seus alunos.
Em sua vida musical, houve
discípulos e colaboradores de Villa-Lobos, como os compositores, regentes e
instrumentistas que trabalhavam com ele de várias formas para que funcionasse o
projeto de Canto Orfeônico nas escolas públicas brasileiras,
assim como em grandiosos espetáculos e também na revisão, cópia e
organização de suas partituras. Dois grandes parceiros de Villa-Lobos foram os
maestros e pianistas José Vieira Brandão e Alceo Bocchino.
Villa-Lobos não dizia que fazia parte
de algum movimento específico dentro da área musical. O grande público por um
tempo considerável não o conheceu e houve severas críticas de alguns
especialistas em música. Nos últimos de sua vida ele estava sendo criticado por
sua postura política. Entre seus críticos estavam os seguidores de novas
tendências europeias, como o serialismo. Alguns compositores brasileiros
queriam que houvesse uma volta de certos modelos europeus, considerados como um
tipo de música mais universal. O compositor faleceu no dia 17 de novembro de
1959, aos 72 anos, na cidade do Rio de Janeiro, vítima de câncer. Não teve filhos.
Mesmo tendo recebido críticas,
houve um notável reconhecimento nacional e internacional a respeito de
Villa-Lobos. Ele recebeu o título de Doutor Honoris Causa pela Universidade de
Nova Iorque e foi o fundador e primeiro presidente da Academia Brasileira de
Música. Era membro a Academia de Belas Artes de Nova Iorque. Apareceu
pessoalmente no filme da Disney “Alô Amigos” , em 1940, ao lado de Walt Disney.
Villa-Lobos foi retratado nos filmes Bachianas Brasileiras: Meu Nome é
Villa-Lobos, de 1979; O Mandarim, de 1995 e Villa-Lobos, Uma Vida de Paixão, do
ano 2000. A esfígie do compositor foi impressa em notas de quinhentos cruzados
em 1986. Há ruas, parques, praças com nome de Villa-Lobos em cidades brasileiras,
como o Parque Villa-Lobos, em São Paulo.
Dilva Frazão cita as seguintes
curiosidades sobre Villa-Lobos:
“Heitor Villa-Lobos contrariou sua mãe
quando entrou para a escola de música, pois o desejo dela era que ele
entrasse para a faculdade de medicina.
Na Semana de Arte Moderna, em São
Paulo, Heitor Villa-Lobos se apresentou de casaca e chinelo, pois estava
sofrendo com sintomas da “gota”.
Um episódio turbulento da vida pessoal
do maestro ocorreu em 1936, em uma viagem a Berlim, quando ele mandou uma
carta desmanchando o casamento de 23 anos com a pianista Lucília
Guimarães. Ele viajou em companhia de Arminda Neves d’Almeida,
professora de música, então com 24 anos (quando ele tinha 46). A união com
Arminda durou até sua morte.”.
Conforme disse Daniela Diana
(licenciada em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e
Bacharelada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense) a
respeito de Villa Lobos: “Villa Lobos foi um importante compositor
brasileiro, além de instrumentista, regente e professor de música. Durante sua
vida, criou cerca de mil obras. Cirandas, choros, sinfonias, música de câmara,
óperas e outros gêneros musicais — em tudo o que compôs, imprimiu uma marca de
brasilidade.” Ainda segundo Daniela: Entre as cerca de mil composições do
maestro Heitor Villa-Lobos é possível destacar: Cantilena; O Trenzinho Caipira;
Uirapuru; Choros nº 1 e Choros nº 5”.
Frases de Heitor Villa-Lobos
"Quando
procurei formar a minha cultura, guiado pelo meu próprio instinto e tirocínio,
verifiquei que só poderia chegar a uma conclusão de saber consciente,
pesquisando, estudando obras que, à primeira vista, nada tinham de musicais.
Assim, o meu primeiro livro foi o mapa do Brasil. O Brasil que eu palmilhei,
cidade por cidade, estado por estado, floresta por floresta, perscrutando a
alma de uma terra."
Certa vez Villa-Lobos proferiu as
seguintes frases em uma turnê pela Europa: "Eu não uso o folclore, eu sou
o folclore." (I don't use folklore, I am the folklore.) e também
"eu não estou aqui pra aprender, mas sim para mostrar o que eu até então
construí" (Ich bin nichtgekommen, um zulernen, sondern um zuzeigen,
wasichbishergemachthabe).
“A minha música é o reflexo da
sinceridade.”
“Eu somente sou útil, de alguma forma,
através da música.”
“Muitos compositores de nossa época
pretendem ser modernos, sem possuir o dom da originalidade. E não compreendem
que todo artista original é moderno por força.”
“Considero minhas obras como cartas que
escrevi à posteridade, sem esperar resposta.”
“Quando o criador é original por
natureza, pouco importam os meios de que se vale para fixar seu pensamento.”
“A música folclórica é a expansão, o
desenvolvimento livre do próprio povo expresso pelo som.”
“É preciso fazer o mundo inteiro
cantar. A música é tão útil quanto o pão e a água.”
“O Brasil reconhece a minha glória, me
incensa, me acha formidável, mas ignora o principal de minha obra. Gostaria de
saber o motivo, mas não posso perder tempo em descobri-lo.”
“Sim sou brasileiro e bem brasileiro.
Na minha música deixo cantar os rios e os mares deste grande Brasil. Eu não
ponho mordaça na exuberância tropical de nossas florestas e dos nossos céus,
que transporto instintivamente para tudo que escrevo.”
Melodia Sentimental
Acorda, vem ver a lua
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo meu sonhar
As asas da noite que surgem
E correm no espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar teu calor ao luar
Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor
Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sentir meu amor e sonhar
Composição: Dora/ Heitor Villa-Lobos
https://www.youtube.com/watch?v=F-HZYe5kqSQ
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+heitor+villa+lobos&sxsrf=ALeKk0309YNDv_DyAr8HsEoyB0kpJgIhoQ:1614798460052&tbm=isch&source=
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