quarta-feira, 31 de março de 2021

O compositor russo Sergei Rachamaninov

 





No dia 28 de março de 1943 falecia nos Estados Unidos um dos grandes destaques do estilo romântico na música erudita do Ocidente, o compositor, pianista e maestro russo Rachmaninov. O seu nome todo era Sergei Vasilievich Rachmaninov . Ele nasceu e, Semyonovo, próximo a Novgorod, no Império Russo, em primeiro de abril de 1873. Foi um ótimo pianista e tinha o talento de logo na primeira audição poder executar composições complexas. Apesar de ter recebido após a sua morte algumas severas críticas como a do Grove Dictionary of Music and Musicians, o compositor foi recohecido em sua grandeza por outros especialistas. Harold Schoberg disse em seu livro A Vida dos Grandes Compositores sobre tal crítica: "figura entre as mais esnobes e estúpidas jamais encontradas em um livro que supostamente deve ser objetivo”.

A popularidade de Rachmaninov passou a crescer desde a segunda metade do século XX, tanto entre os entendidos da música como entre simples ouvintes. Obras dele mais complexas(sinfonias, trabalhos orquestrais, canções e música de coral) foram muito elogiadas por sua qualidade, como também as obras mais populares (para piano). Seus trabalho tem como característica a melancolia, assim como um estilo romântico tardio. Há influência de Tchaikovsky e também nota-se que foi influenciado por Chopin e Liszt. Outras influências foram as músicas de Balakirev, Medtner e Henselt. Sobre  as características físicas e de personalidade de Rachmaninov: “Era um homem alto, tímido e sem desenvoltura, que se refugiava ma própria impenetrabilidade. Mas tinha o caráter afável e bondoso. Triste e solitário, Rachmaninov se definia como um sentimental indolente_ embora a paixão pela música o tenha transformado em trabalhador incansável. Era de pouco falar e, ao entusiasmo pelo que tivera na juventude, sucedeu, mais tarde, certo desapego por tudo o que estivesse além do círculo familiar, ao qual vivia muito apegado”. ...”(Mestres da Música, Abril Cultural,1982)

Rachmaninov veio de uma família nobre, com antepassados tártaros e que tinha ligação com os czares a partir do século XVI. O pai dele era Vassili Rachmaninov, um ex-militar de família rica e a mãe era Lubov Petrovna Butakova, filha de militar. Seus pais sabiam tocar piano e sua mãe lhe deu os primeiros ensinamentos no piano.  Era o terceiro entre seis irmãos. O verdadeiro interesse do pai era que o filho seguisse carreira militar. O pai era descuidado com as finanças e a família teve de se mudar para São Petersburgo. Sobre a infância e o amadurecimento: “Embora descendente de uma família aristocrática em ruínas e apesar da separação de seus pais quando ainda era criança, Sergei Rachmaninov teve a infância e a adolescência felizes. Mas cresceu um homem triste, avesso ao brilho mundano e muito apegado à família, aos pequenos prazeres e velhos hábitos. Foi particularmente talentoso como pianista e sua fama ultrapassou as fronteiras europeias...”(Mestres da Música, Abril Cultural,1982)

Em São Petersburgo Sergei Rachmaninov passou a estudar no Conservatório de lá. Depois foi estudar em Moscou e estudou piano com Nikolai Zverev e Alexander Siloti. Estou também harmonia com Anton Arensky e contraponto com Sergei Taneyev. Sobre esse período: “Foi em Moscou que Rachmaninov iniciou sua carreira de músico. Ali teve como companheiros Lévine e Scriabin, e conheceu Anton e Nikolai Rubinstein, Piotr e Modest Tchaikovsky. Zverev queria que seus alunos recebessem formação integral, levando-os a concertos e ao teatro. Rachmaninov também estudou harmonia com Ladukhin, composiçao e fuga com Arensky. Outro professor importante foi Sergei Ivanovitch Taneyev, que ensinava contraponto no Conservatório de Moscou. Seus conhecimentos musicais eram considerados extraordinários, mas o que ele deixou marcado em Rachmaninov foi o caráter incorruptível e o exemplo de uma vida severa e íntegra.” ...”(Mestres da Música, Abril Cultural,1982)

Na sua juventude passou a mostrar seu talento para compor. Ainda estudante escreveu uma ópera de um ato (Aleko) e ganhou uma medalha de ouro pela composição. Logo depois compôs seu primeiro concerto para piano, um conjunto de peças para piano, Morceaux de Fantaisie, incluindo aí o famoso Prelúdio em Dó Sustenido Menor, composto quando ele tinha 19 anos. E nessa idade ele completou o Concerto para Piano No. 1 (revisado por ele em 1917). Ele também se destacava como pianista.

Em 27 de março de 1897 estreou a Sinfonia Nº 1. A crítica não acolheu bem essa peça. O membro do Grupo dos Cinco, César Cui, que não admirava Rachmaninov, comparou  a Sinfonia Nº 1 a uma descrição das dez pragas do Egito, tendo sugerido que seria admirada em um conservatório de música no inferno. Segundo pesquisadores, o problema foi com o maestro que regia a sinfonia, que não se saiu bem na condução da peça. As críticas a sua sinfonia e a oposição de religiosos ao seu casamento com a prima Natalia Satina, levou o compositor a uma crise nervosa e a uma depressão. Nesses tempos ele conheceu o escritor Tolstoi que lhe disse: “Por acaso você imagina que tudo em minha vida caminhou sobre rodas? Por acaso supõe que não tive problemas, que nunca tenha duvidado nem perdido a confiança em mim mesmo? Você pensa de fato que a fé é sempre igualmente forte? Todos nós temos momentos difíceis, a vida é assim. Levante a cabeça e prossiga no caminho que lhe foi assinalado. Você deve trabalhar e fazê-lo diariamente”.

Ficando alguns anos sem compor, por meio do apoio do psicólogo Nikolai Dahl Rachmaninov recuperou sua auto-estima. Assim, revigorado, ele compôs o Concerto para Piano No. 2, dedicado ao seu terapeutaRachmaninov foi o solista e a sua composição foi bem recebida pelo púbico, sendo nos dias de hoje ainda uma de suas obras mais populares. Com finalmente obtendo a permissão oficial para seu casamento com sua prima em 1902, ele se sentiu ainda melhor. Em 1903 nasceu a primeira filha, Irina. Em 1904 ele foi nomeado maestro da Orquestra do Teatro Bolshoi. Nessa orquestra fez várias inovações. No mesmo ano ele concluiu duas obras de sucesso: O Cavaleiro Avaro e Francesca da Rimini. Em 1906 foi para a Itália e depois para Dresden em novembro, onde ficou por três anos. Nos verões passava um tempo no sul da Rússia onde ele compunha e se sentia ligado à terra e aos camponeses. Em Dresden, na Alemanha, ele compôs a Primeira Sonata para Piano, o poema sinfônico A Ilha dos Mortos e a Segunda Sinfonia.

Em 1907 se apresentou com sucesso em Paris e nasceu sua segunda filha. Em 1909 Rachmaninov apresentou-se pela primeira vez nos Estados Unidos. Lá ele apresentou seu Concerto para Piano Nº 3. Ele foi bem sucedido e se tornou popular nesse país. No ano de 1910, na Rússia, a escritora Marieta Shaginian o ajudou na seleção de textos poéticos para canções e escreveu artigos falando bem do compositor. 

Com a eclosão da Revolução Bolchevique de 1917, Rachmaninov foi para Estocolmo, na Suécia, em dezembro, foi para a Dinamarca e depois para a Finlândia e então da Noruega foi para os Estados Unidos. Fixou-se em Nova York. De 1919 foi concertista em salões por vários países e sua situação econômica melhorou. Não compôs muito. São dessa época em que ele deixou a Rússia as obras Quarto Concerto para PianoTrês Canções Populares Russas, Variações sobre um tema de Corelli , a Rapsódia sobre um Tema de Paganini, a Terceira Sinfonia e as Danças Sinfônicas, Opus 45. Ele também fez gravações para Thomas Edison em 1919, usando um piano vertical. Assinou um contrato com a gravadora Victor Talking Machine Company até fevereiro de 1942. Uma escola de música foi fundada por ele e outros exilados russos em Paris em 1931.

Em 1942 Rachmaninov ficou muito doente enquanto estava se apresentando em concertos e foi diagnosticado como câncer. Ele passou a morar em Beverly Hills, na Califórnia. O último recital dele foi em 17 de fevereiro de 1943 em Knoxville, Tennessee. Ele tocou a Sonata N° 2 em Si Bemol Menor, de Chopin, que contém uma marcha fúnebre. Ele nessa época encontrava-se melancólico.

Quando morreu, em 28 de março de 1943, em Beberly Hills, Rachmaninov estava perto de fazer 70 anos. Foi enterrado no Cemitério de Kensico, no Estado de Nova York. 

Citações:

“Não sou um compositor que produz obras de acordo com fórmulas de teorias preconcebidas. Sempre senti que a música deve ser a expressão da completa personalidade do autor; não deve ser criada cerebralmente, com medida exata, para adequar-se a certos moldes preestabelecidos”. (Rachmaninov)

“Um dos mais refinados pianistas de seu tempo, o russo Sergei Rachmaninov foi um dos últimos representantes do romantismo tardio. Apaixonado pela Escola Russa de Composição, principalmente pela obra de Tchaikovsky e de Korsakov, Rachmaninov foi encontrando com o tempo o seu próprio idioma: lírico, romântico e expressivo.

Ele viveu situações paradoxais: esbanjava talento compondo ou tocando, mas não dispunha da mesma facilidade para manter o equilíbrio emocional. Por causa disso, ficou muito tempo sem tocar ou compor e só voltou à ativa graças a uma terapia de autossugestão. Depois da Revolução Russa, foi para os estados Unidos, onde permaneceu até a morte. Em mais de 25 anos de “exílio”, compôs somente seis peças.

Sua expressividade e elegância ao piano o colocaram em posição de destaque no cenário musical. Sua escrita, no entanto, era muito criticada pelos grandes compositores e intelectuais da época. Não raramente, ele era chamado de antiquado e démodé. Porém o lirismo de sua música e suas melodias tocavam a todos os ouvintes, assim como suas harmonias amplas e a orquestração requintada e brilhante. Hollywood colocou um de suas obras mais célebres, a Rapsódia Sobre um Tema de Paganini, no topo dos grandes sucessos da década de 1980, ao incluí-la na trilha do filme “Em algum lugar do Passado...”

Roberto Minczuk, maestro brasileiro e titular da Orquestra Sinfônica Municipal de São Paulo ( Grandes Compositores da Música Clássica, Rachmaninov, Abril Coleções).

 

Sugestão de vídeos:

Em Algum Lugar do Passado (Somewhere in Time) John Barry

https://www.youtube.com/watch?v=hWijW4_sKlM

 

Rachmaninov - Rapsódia sobre um tema de Paganini (Giuliano Montini, OSESP, reg. Tibiriçá) (1992

https://www.youtube.com/watch?v=4fOuBdUwCsw

 

Rachmaninov: Piano Concerto no.2 op.18 - Anna Fedorova - Complete Live Concert - HD

https://www.youtube.com/watch?v=rEGOihjqO9w

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História


Figura:

https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk005uqFuIyc5AakhNg9smYBcXjKflw:1617209709004&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+rachmaninov&sa=

 

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