Com este artigo termino a série sobre a
Industrialização no Brasil. No artigo 1 falei do tempo do Brasil Colônia e
Império. No segundo artigo falei da industrialização na República Velha e na
Era Vargas. Agora falarei sobre a Industrialização de 1946 até a atualidade.
1-Industrialização no período de 1946-1964
Com o fim do Estado Novo começa um novo período, a
Redemocratização. Foi um período marcado pelo chamado Populismo (política que
procurava manipular massas de eleitores em busca de votos) . No contexto
internacional começou a Guerra Fria, que se caracterizou por conflitos
políticos, econômicos e ideológicos ligados aos Estados Unidos e União
Soviética. No Brasil, após a queda de Vargas, que defendia uma política
nacionalista, houve a influência do liberalismo entre correntes políticas
brasileiras que pregavam uma maior abertura ao capital estrangeiro e setores
agro-exportadores desejavam uma menor carga de tributos.
Com o surgimento de vários grupos de interesse
econômico no Brasil havia a necessidade de uma considerável dose de negociação
política. E a economia era influenciada por essa política. Nesse contexto,
havia as forças político-econômicas do lado do liberalismo e outras contrárias
a ele.
Durante o governo do primeiro presidente desse
período, Eurico Gaspar Dutra, esse se colocou a favor dos liberais e
considerando as reservas-ouro adquiridas com a exportação de produtos agrícolas
durante a Segunda Guerra Mundial, em vez de importar tecnologia para as
indústrias de base, resolveu abrir as importações de bens de consumo
estrangeiros. Tal decisão equivocada provocou não só um gasto desnecessário das
reservas como também levou à necessidade de imprimir papel-moeda, o que
desvalorizou o cruzeiro, provocando inflação que passou a corroer salários. Os
trabalhadores passaram a fazer greves reprimidas pelo governo. Com os estoques
de dólares desperdiçados houve uma momentânea paralisia da industrialização no
país, que ficou sem recursos para importar tecnologia ou matérias-primas
industriais.
Diante dos problemas econômicos, Dutra adotou
medidas que facilitavam a importação de combustível e maquinário industrial
para o país. Em maio de 1947, o Plano Salte pretendia reorganizar os gastos
públicos com saúde, alimentação, transporte e energia. Foram reinstalados os
controles cambiais e de importação. Com o câmbio valorizado houve o
barateamento da importação de máquinas e equipamentos. Foi criada uma
reserva de mercado, a proteger a indústria nacional. Houve também medidas
favoráveis à indústria que vieram da política monetária e fiscal expansionistas
a partir de 1949.
Quando Getúlio voltou ao poder, dessa vez pelo voto
popular, implantou sua política econômica nacionalista, com intervencionismo
estatal e resistência ao capital estrangeiro, exceto quando achasse necessário.
Houve então a criação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE) e
da Patrobras. Havia o conflito entre a linha neoliberal que queria a abertura
ao capital estrangeiro para modernizar a indústria e a linha nacionalista que
defendia uma industrialização baseada no capital nacional, com restrições ao
capital internacional. Mas houve fatores que interferiram com o projeto
nacionalista, como a queda do preço internacional do café em 1953, que afetou a
balança comercial.
No governo de Juscelino Kubitschek houve a opção
por desenvolver o setor de bens de consumo duráveis e favorecendo a livre
participação do capital estrangeiro. Entre os bens de consumo duráveis havia os
eletrodomésticos e automóveis. Assim passou a existir um tripé da
industrialização brasileira: o setor de bens de consumo não duráveis (iniciado
na República Velha); o setor de bens de produção (implantado na Era Vargas) e o
setor de bens de consumo duráveis (começou no período JK). É de se
destacar que na época que foi iniciado esse último setor já havia um
considerável mercado consumidor baseado no grande número de trabalhadores
urbanos, muitos vindos do campo.
Também estava em crescimento o número de
profissionais especializados que ganhavam maiores salários. Já havia portanto
consumidores para produtos como automóveis e eletrodomésticos. O maior número
de consumidores pertenciam à classe média urbana que tinha crescido. E o centro
econômico dos Estados Unidos após a II Guerra Mundial estava atrás de
novas frentes de investimento de capitais e o Brasil era um dos lugares onde
podia investir.
As indústrias de bens de consumo duráveis
eram de propriedade do capital estrangeiro, com multinacionais instaladas no
Brasil, como as grandes empresas automobilísticas. Foi o modo como o governo JK
encontrou para conseguir a superação em relação à escassez de recursos
destinados à modernização da indústria . Mas o que estava acontecendo era uma
internacionalização da economia brasileira. E para criar mais recursos JK
mandou emitir mais dinheiro, o que causou inflação. O rápido crescimento da
economia aumentava o número de empregos.
O governo procurou controlar a entrada de capitais
estrangeiros com um planejamento econômico integral, que foi o Plano de Metas.
O Estado assim não seria só proprietário de empresas produtivas, como também o
banqueiro dos capitais privados e planejador da economia como um todo. O plano
dividia-se 31 metas, dirigidas para 4 setores-chave: energia, transporte,
indústria de base e alimentação. A construção de Brasília passou a ser a
meta-síntese, porque simbolizava um "novo Brasil", dominado pela
Civilização do Automóvel. Desse forma foram construídas rodovias, a maioria
para ligar Brasília a diversos pontos do país. Foi dada prioridade à indústria
automobilística multinacional e estimulada a produção de automóveis. Se a meta
da construção de rodovias foi ultrapassada, por outro lado, a construção de
ferrovias foi muito reduzida. Isso trouxe custos para o país até os dias de
hoje.
O crescimento da produção de petróleo aumentou
bastante, visando a grande quantidade de automóveis produzidos. Se em alguns
pontos o Plano de Metas foi bem sucedido em seus objetivos, em outros
fracassou, como na Educação e Alimentação. E se a indústria cresceu o preço
pago foi a desnacionalização da economia brasileira. Na época, o avanço
tecnológico não atingiu só a indústrias multinacionais como também as
indústrias nacionais. E novas empresas brasileiras surgiram em decorrência das
multinacionais, como as que forneciam peças complementares à montagem de
veículos. E se de início não houve agitações populares devido à inflação, no
fim do governo JK quando ela atingiu patamares muito altos, começou a haver
protestos de trabalhadores. Além da inflação alta, houve outro fator negativo
que foi o aumento da dívida externa brasileira. Em relação a financiamentos e
acesso a tecnologias mais modernas as multinacionais cresciam mais que as
indústrias nacionais. Houve uma grande concentração de renda, pois um número
cada vez menor de pessoas passou a ganhar cada vez mais. As desigualdades
sociais cresciam. Também eram grandes as diferenças de desenvolvimento
regionais.
Se no final do governo JK já havia sinais de uma
crise econômica, nos governos seguintes (Jânio e João Goulart) ela aumentaria
muito. Acabou se tornando uma crise econômica, política e social. Os problemas
gerados pelo modelo nacional desenvolvimentista apareceram, causando uma grande
diminuição do ritmo de crescimento econômico do país. Os investimentos industriais
deram uma parada causando uma recessão econômica comum nas economias
capitalistas.
Com aumento inflacionário e menos empregos, começou
a haver um grande descontentamento entre os trabalhadores. Esse
descontentamento levou a uma intensa mobilização política popular, com o
surgimento de greves sucessivas de diversas categorias profissionais. Quando as
greves saíram das ruas e começou a haver insatisfações no interior do Exército,
como a greve dos sargentos, a realidade mudou. Iniciava-se o clima para um
golpe. E os grandes empresários alinharam-se com o Exército em nome da ordem e
da "segurança nacional". E o capital estrangeiro diante da crise
política passou a investir menos no país. Assim, para que houvesse o golpe de
1964 houve a concordância entre militares, burguesia nacional e capital
estrangeiro presente no Brasil.
3- Governos Militares:
Em relação aos governos militares, houve uma
consolidação do modelo econômico implantado na década de 50 e um
aperfeiçoamento desse modelo, por exemplo a primeira característica da
industrialização brasileira dessa época foi continuar com as diretrizes do
Plano de Metas, mantendo o tripé dos anos 50. De 1964 a 1967 houve crise e
recessão. De 1968 a 1974 houve a retomada do crescimento industrial conhecido
vulgarmente como "milagre econômico" ; de 1974 em diante aconteceu o
declínio do "milagre".
Em 1964 os governos militares tinham dois objetivos
maiores que eram conseguir novos recursos de modo a retomar o crescimento
industrial e incentivar a concentração oligopolista em relação a empresas e
capitais.
Para conseguir os recursos que almejava ficava a
questão de como se poderia ter os mesmos sem recorrer a uma emissão de moeda.
Assim, começou-se a ir atrás de empréstimos no exterior e o capital estrangeiro
passou de novo a dominar no país, ditando seu ritmo à expansão da indústria e
por outro lado, para conseguir o capital que desejava de modo interno
recorreu-se ao aperto no que diz respeito aos salários, aumentando as perdas
salariais dos trabalhadores e os preços não deixavam de subir. Tal medida
salarial acabou reforçando a concentração de renda. Também os novos governantes
queriam dar uma atenção à classe média, de forma que continuasse a comprar bens
de consumo duráveis produzidos pelas multinacionais e os trabalhadores deveriam
ser mantidos sob controle. Houve um benefício às grandes empresas, em especial
as estrangeiras, e procurando eliminar empresas menores e com uma estrutura
técnica industrial considerada menos modernas.
Para as grandes empresas abria-se mais
oportunidades de crédito, capitais e tecnologias, como também mais uma parte do
mercado consumidor que antes era dividido com as empresas menores que estavam
falindo. Um dos fatores que levaram à falência as pequenas empresas foi que elas
não tinham condições de pagar os novos tributos e havia um controle de preços
que beneficiava as grandes e prejudicava as pequenas. E o aumento do poder das
empresas mais poderosas acabou dando mais poder político a elas em relação ao
governo.
Com o FGTS, o PIS e PASEP, que arrecadavam em
conjunto muitos recursos que ficavam sob controle do Estado, o governo podia
investir nas indústrias de base e emprestar dinheiro às grandes empresas, com
juros baixos e a longo prazo. Os oligopólios eram mais uma vez beneficiados. O
Estado brasileiro se endividava para assegurar a remessa de lucros das
multinacionais. No exterior o governo conseguia empréstimos também a juros com
taxas mais baixas e a prazos de longa duração. Mas isso teve um preço
para o país, com o aumento do endividamento. E, quando a recessão atingiu as
grandes estatais, elas passaram a aumentar seus bens e serviços como energia
elétrica, telecomunicações etc.
Outra medida dos governos militares foi a emissão
de papéis para gerar dinheiro para a recuperação industrial do país. Surgiram
as LTNs e as ORTNs. No entanto tais papéis não derivavam de atividade
produtiva, eram títulos da dívida pública. Para estimular que tais títulos
fossem vendidos foi criada a correção monetária. Foram atraídos muitos
investidores com considerável capital. Tal procedimento abriu espaço para
especulação, pois acontecia de que empresários passavam a investir nos títulos
que em produção. No dito "milagre econômico", entre 1968 até 1974
houve recordes no crescimento econômico, por volta de 10% ao ano.
A classe trabalhadora foi prejudicada pela nova
base de cálculo do salário mínimo, o que prejudicou o poder de compra e
aumentou a concentração de renda. Isso obrigou o operariado a recorrer a
alternativas como fazer mais horas extras. Tal fato acabou tendo certas
consequências como um maior nível de desgaste físico e psicológico e o
aumento dos acidentes de trabalho. E o medo de perder o emprego durante o
regime militar provocava uma subordinação maior dos empregados. E a
rotatividade nos empregos era útil ao grande empresariado, que podia contratar
novos trabalhadores com salários menores. Apesar do enfraquecimento sindical
nessa época, houve greves entre metalúrgicos nos estados de São Paulo e
Minas Gerais em busca de melhores condições salariais.
A crise do petróleo poria fim ao tal do
"milagre", com problemas na economia mundial que atingiram o Brasil.
Houve uma crise de endividamento externo, com o aumento dos juros sobre
empréstimos estrangeiros e a falta de capacidade do Estado em manter o ritmo de
crescimento industrial. E os itens industriais que precisavam ser importados
para atualização da tecnologia nas fábricas tiveram aumento de valor, logo numa
época que precisavam repor equipamentos.
Para tentar melhorar a condição da economia, o
general e presidente Geisel lançou o 2º PND o investimento em bens de produção
pelo Estado. Por meio de novas empresas o Estado tinha como objetivo reduzir
gastos com importações e em um prazo médio poder ter recursos para pagar a
dívida externa. O 2º PND fracassou, pois acabou aumentando a dívida externa e
as multinacionais reagiram negativamente porque o plano pretendia auxiliar as
empresas estatais e não a elas e não havia como manter os empréstimos
estrangeiros a altos juros. Os capitalistas no Brasil não aprovavam o plano,
com os bancos nacionais cobrando altos juros das indústrias; os industriais
privados evitavam comprar das empresas estatais e as multinacionais aumentavam
os preços de seus produtos. E houve um aumento da especulação financeira o que
causou mais inflação.
Os vários problemas econômicos acabaram
enfraquecendo o governo de regime militar, que foi perdendo os apoios políticos
e com mais pressões populares contra a manutenção desse tipo de governo. Assim,
em 1985 começou um novo período que se chamou Nova República.
4-Nova República
4-Nova República
No Governo Sarney, o mesmo herdou dos militares
todo um conjunto de problemas econômicos como inflação alta, a falência do
Estado e a espiral especulatória financeira. Assim surgiram os Planos Cruzado,
Bresser e Verão que procuraram dar estabilidade à economia e fazer a
industrialização voltar a crescer. Mas todos fracassaram em suas intenções.
Tentou-se inutilmente fazer um verdadeiro controle de preços e o que se viu foi
mais um congelamento dos salários.
Com o presidente Collor (que não completou seu
governo por ter sido impedido pelo Congresso Nacional devido à denúncia de
corrupção), houve um bloqueio de contas correntes e poupança com a
justificativa de conter a inflação. Na realidade o novo presidente seguia um
modelo neoliberal que pregava a defesa do livre mercado e a diminuição do papel
do Estado na economia. O plano Brasil Novo, que continha um pacote de
medidas econômicas apresentadas pelo governo, tinha a pretensão de conter a hiperinflação
no país, que chegava à 2.000% ao ano.
Para a maioria dos economistas que analisaram o
Plano Collor, o bloqueio de contas foi um erro e acabou causando inquietação e
sofrimento à sociedade, pois prejudicou uma grande parte da população que precisava
da poupança como fonte de renda. Tal medida provocou desemprego e causou sérios
problemas ao aparelho produtivo, inclusive com o fechamento de muitas empresas
e outras diminuíram sua produção e salários ou mesmo demitindo empregados. Até
mesmo o sistema financeiro-bancário ficou insatisfeito por causa da restrição
na capacidade de expansão de financiamentos e créditos. Outra grande falha do
plano foi a redução e extinção de cargos públicos e a diminuição de políticas
públicas e com prejuízos no desenvolvimento científico e tecnológico como o
fechamento do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Para certos economistas houve um aspecto
positivo, como o aprendizado obtido com os acertos e equívocos, pois para eles
o plano teve alguns equívocos, como a limitação no uso da poupança, porém
favoreceu a importação de bens e estimulou a concorrência local, além de ter
controlado a inflação por um curto espaço de tempo.
No governo Itamar Franco, iniciou-se o Plano Real,
que teve efeitos positivos para conter a inflação e estabilizar preços. Foi
criada a Unidade Real de Valor (URV) para uniformizar reajustes de preços,
câmbio e salários e uma nova moeda para o país, o Real, artificialmente
equiparada ao dólar. Tal equivalência só se tornou possível com o grande uso de
reservas cambiais. Também houve a redução das tarifas aduaneiras para diversos
produtos, ampliando o nível de abertura do mercado brasileiro às mercadorias e
capitais externos. Assim, o controle de preços e inflação aconteceu à custa de
um grande aumento das importações, já que a moeda forte barateava os produtos
estrangeiros. Muitos produtos nacionais tiveram uma baixa de preços para
poderem enfrentar a concorrência estrangeira. Mas isso provocou uma queda do
PIB. E também a industrialização nacional foi afetada. O desempenho da
indústria no período entre 1995 e 1997 foi baixo, com crescimento de somente 2%
ao ano.
Com uma redução dos preços industriais devido à
entrada considerável de produtos importados causou ruína a vários empresários,
ficando apenas os mais poderosos, que muitas vezes aderiram a métodos de
reorganização produtiva com novas tecnologias que poupavam mão de obra e que
precarizavam as relações de trabalho. Foi o que se chamou de
desindustrialização. O setor de bens de consumo duráveis foi o único que
teve um significativo crescimento. Mas os setores de bens de capital e bens
intermediários enfraqueceram bastante. Houve grande desnacionalização da
economia brasileira. Houve uma maior dependência de capitais externos e uma
política de privatizações de empresas públicas. Em acordo com o FMI no seu
segundo governo, o governo FHC aumentou o corte dos gastos públicos, o que
levou a uma redução maior das atividades produtivas, aumentando a possibilidade
de desemprego.
No governo Lula foi lançado em 2004 o
programa de Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior
(PITCE), que se estendeu até 2008. Para dar continuidade à PITCE, foi lançada a
Política Desenvolvimento Produtivo (PDP), que durou de 2008 até 2010. E no Governo
Dilma, foi lançado em 2010 o Plano Brasil Maior, também focado para a
Indústria.
A PITCE objetivou estimular a inovação e o
desenvolvimento tecnológico com maior inserção externa e modernização do
ambiente institucional e aumento da capacidade produtiva. Com este objetivo,
certas medidas foram tomadas como a Lei de Inovação (Lei nº 10973 de 2004),
estabelecendo um marco regulatório para incentivar a pesquisa científica
no âmbito produtivo por meio de parceria entre institutos tecnológicos, universidades
e empresas inovadoras. Também outras leis foram implantadas como a Lei do Bem
(Lei nº11. 196 de 2005) e a Lei de Biossegurança (Lei 11.105 de 2005) para
estimular a inovação tecnológica através de incentivos à pesquisa científica e
garantias de propriedade intelectual. A Política de Desenvolvimento Produtivo
(PDP) focou também no desenvolvimento tecnológico, entretanto com maior
ênfase nas micro e pequenas empresas inovadoras. Dessa forma, as principais
medidas tomadas se referem à crescente expansão de linhas de financiamento a
taxas reais nulas para capital de giro das médias e pequenas empresas e também
para investimentos em P&D via FINEP (Fundo Nacional de Estudos e Projetos).
Também foram amplamente utilizadas isenções fiscais para investimentos em bens
de capital.
Quando houve a alta das commodities, como o minério
de ferro e o petróleo no mercado internacional e mais a queda do dólar, ocorreu
um impulso nos resultados de empresas não-financeiras. E a cotação da moeda dos
Estados Unidos também ajudou em certos momentos, pois no governo Lula houve uma
desvalorização de 38, 7% até junho de 2006, o que ocasionou ganhos financeiros
para empresas.
Se houve determinados méritos nos governos Lula e
Dilma em seus esforços para apoiar a industrialização também tais governos
merecem críticas. Por exemplo, o BNDES que deveria incentivar o progresso
industrial emprestou dinheiro para obras no exterior sem ganho comprovado para
nosso país. Descobriu-se uma lista com mais de 3.000 empréstimos concedidos pelo
banco voltados à construção de usinas, portos, rodovias e aeroportos no
exterior. Quais foram os critérios usados pelo BNDES para escolher os
agraciados pelos empréstimos? Outra questão polêmica é a concessão de juros
abaixo do mercado que o banco concede às empresas. E surgiram recentemente
diversas acusações de favorecimento indevido à empresas como Odebrecht, OAS e
JBS, assim como à empresas do empresário Eike Batista, acusações que estão
sendo investigadas.
Quanto ao governo atual, que afirma que está
recuperando a economia, muitas de suas autoridades participaram dos governos
Lula e Dilma e estão sendo alvo também de investigações. A política econômica
do governo atual está se voltando para um modelo neoliberal, direcionado-se
para privatizações das empresas públicas, querendo implementar uma
terceirização que pode afetar na eficácia do serviço público (embora o governo
diga o contrário) e há denúncias de relacionamentos estranhos entre poderosos
do governo atual com empresários nacionais.
O incentivo aos empresários da indústria nacional é
algo necessário. Porém é fundamental que as regras legais sejam respeitadas. As
investigações estão apurando sobre como foram feitos diversos financiamentos
nos últimos anos e sobre a gestão de determinados órgãos, diversos ligados ao
setor industrial.
Para concluir, quero dizer que a questão
educacional ainda apresenta graves problemas que interferem negativamente no
desenvolvimento industrial, pois há queixas de empresas em relação à carência
de trabalhadores qualificados. Há necessidade, portanto, de mais investimentos
educacionais, não só no ensino universitário como também na educação básica,
que ainda tem muitas dificuldades. As universidades também precisam ser mais
integradas em relação ás indústrias. Outro problema é a questão de
infraestrutura, como no que diz respeito aos transportes, às comunicações, à
energia e ao saneamento. O sistema produtivo precisa ser mais dinamizado, com
mais ênfase na inovação e difusão tecnológica. Existe a necessidade de
conciliação entre as políticas macroeconômicas, industriais, aquelas voltadas à
inovação, à educação e à construção das condições básicas de operação das
indústrias.
Espero sinceramente que a indústria nacional seja
valorizada e incentivada em seu crescimento. Mas que tudo seja sempre feito da
maneira correta e que os trabalhadores e a classe média não sejam terrivelmente
prejudicados com políticas equivocadas. Não escrevi este artigo com interesse
em louvar este ou aquele governante e nem de fazer críticas absurdas. O que foi
escrito foi baseado em leituras que fiz. Mas se houver discordância quanto ao
que escrevi considero normal e respeito as opiniões contrárias.
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
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