quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Pensadores romanos: O pensador, orador e escritor romano Marco Túlio Cícero

 









Após minha trilogia “Nações Esfaceladas”, vou agora publicar outra trilogia: “Pensadores Romanos”, começando por Cícero.

Marco Túlio Cícero nasceu em Arpino, 3 de janeiro de 106 a. C. Foi advogado, divulgador da filosofia, escritor, tradutor, orador, cônsul da República Romana em 63 a . C , juntamente com Caio Antônio Híbrida e governador da Cilícia, de 51 a. C a 50 a. C. Foi casado com Terência e depois com Publília. Seus filhos foram Túlia e Cícero Menor. Pertencia ao partido aristocrático (Optimates), era adepto da religião politeísta romana, pertencente à gens Túlia, filho de Cícero, o Velho e Élvia. O sobrenome Cícero vem da palavra latina para grão-de-bico. Havia uma versão que dizia que era por causa do nariz de um dos ancestrais de Cícero que tinha características que se assemelhavam a um grão de bico. Outra versão é de que houve antepassados de Cícero que prosperaram com o cultivo e venda de grão-de-bico.

Cícero era de uma família de posses, da ordem equestre, tendo se destacado na Civilização Romana Antiga como grande orador e escritor em prosa. Cícero recebeu uma educação baseada em ensinamentos de filósofos, poetas e historiadores gregos. Estudando o poeta grego Árquias, ele teve mais compreensão da teoria e prática da retórica.

Com o vasto conhecimento que adquiriu por meio de sua educação ele teve mais possibilidade de se inserir entre a aristocracia romana. Foi um importante influenciador na língua latina e nas línguas europeias. Ele foi um introdutor das principais escolas filosóficas gregas entre os romanos, sendo um criador de um vocabulário filosófico latino, como por exemplo neologismos como evidentia, humanitas, qualitas, quantitas e essentia. Foi um profundo estudioso do Direito Romano. Entre os oradores da Antiguidade Clássica, Cícero foi considerado inferior apenas ao grego Demóstenes. Quando conheceu Filon de Larissa, diretor da Academia, escola filosófica criada por Platão e Atenas cerca de 300 anos antes, Cícero sentou-se aos seus pés para aprender filosofia platônica.

Na chamada Guerra Social, que atingiu a civilização romana, Cícero atuou servindo Pompeu Estrabão e Sula. Mas como intelectual Cícero não se sentia atraído pela vida militar. Ele começou sua carreira de advogado aproximadamente entre 83 e 81 a. C. Em um famoso caso jurídico, Cícero conseguiu ser vitorioso na defesa de um acusado de patricídio e corajosamente acusou de homicídio pessoas ligadas ao poderoso general Sula. Para escapar de uma possível vingança de Sula Cícero foi para a Grécia e Ásia, assim como para a ilha de Rodes.

A carreira política de Cícero começou na Sicília, como questor, tendo sido reconhecido por sua honestidade e integridade. Foi solicitado a ele que processasse o governador da Sicília, Caio Verres, acusado de vários atos de corrupção. O trabalho de acusação foi assumido por Cícero que no tribunal derrotou o famoso advogado de Verres, Quinto Hortênsio Hórtalo. Cícero com a vitória nesse caso ficou conhecido como o mais brilhante orador de Roma. Foi tal brilhantismo na oratória que possibilitou a Cícero ascender politicamente. Antes de ser cônsul Cícero foi, além de questor, também edil e pretor, tendo sido presidente da corte de “reclamações”.

Quando a filha de Cícero morreu, ele ficou muito triste. Seu amigo Ático o convidou para ir até sua imensa biblioteca e lá Cícero leu o que filósofos gregos tinham escrito sobre como superar o luto. Ainda assim ele comentou: "mas minha tristeza supera qualquer consolo”.

Cícero como cônsul desmantelou a chamada Segunda Conspiração de Catilina, que tentou derrubar o governo romano da época, tendo Cícero conseguido expulsar Catilina e mandado executar sem um processo legal cinco conspiradores. Ficaram famosos os seus discursos contra a conspiração chamados de Catilinárias, nos quais mais uma vez a retórica de Cícero se destacou. Foi chamado na época de"Pai da Pátria".

Ele se envolveu na política romana de seu tempo, que foi marcado por guerras civis e pela ditadura de Júlio César, que antes da formação definitiva do Primeiro Triunvirato (antes de César ser ditador), convidou Cícero para se juntar a ele, Pompeu e Crasso, porém Cícero recusou porque acreditava que a República estava ameaçada.

Quando Pompeu enfrentou César, Cícero colocou-se ao lado de Pompeu, considerando-o um aliado do Senado. Quando César invadiu a Itália Cícero fugiu e foi para onde estava Pompeu, na Ilíria e depois até Farsalos onde Pompeu foi derrotado. Cícero retornou a Roma e César o perdoou.

Após o assassinato do ditador por conspiradores, Cícero se colocou como inimigo de Marco Antônio, tendo feito discursos contra esse general, chamados de "Filípicas” (procurando fazer referência aos discursos de Demóstenes contra o rei Filipe da Macedônia). Cícero tentava jogar Otaviano, filho adotivo de César, contra Marco Antônio. O Segundo Triunvirato formado por Marco Antônio, Otaviano e Lépido considerou Cícero um inimigo do Estado romano, sendo proscrito e depois executado em Fórmias por ordem de Marco Antônio (embora com algumas objeções de Otaviano) em7 de dezembro de 43 a. C. Marco Antônio mandou exibir as mãos e a cabeça de Cícero no Fórum Romano.

Entre os teóricos da Igreja Católica, Cícero foi admirado por Santo Agostinho e São Jerônimo. Na Idade Média as obras de Cícero sobre direito natural influenciaram filósofos. O pensador renascentista Petrarca fez a redescoberta das cartas de Cícero, fato que foi considerado um dos eventos iniciais do Renascimento no século XIV, em relação ao humanismo e à cultura romana clássica. Pensadores como Erasmo e John Locke admiravam Cícero e quando foi inventada a prensa móvel, a obra de Cícero “De Officilis” foi o segundo livro impresso na Europa, ficando atrás somente da Bíblia de Guttenberg. Também na política viu-se a influência do pensamento de Cícero entre líderes intelectuais da formação dos Estados Unidos e entre revolucionários que participaram na Revolução Francesa.

O historiador polonês Tadeusz Zieliński disse a respeito da importância de Cícero para o Renascimento: "o Renascimento era, acima de tudo, um reavivamento de Cícero e, apenas depois dele e através dele, do resto da antiguidade clássica”. Também a importância de Cícero foi reconhecida no Iluminismo, influenciando David Hume, John Locke e Montesquieu. Os escritos dele servem até hoje como uma base de estudos sobre fatos da República Romana.

Apesar de muito elogiado, Cícero também foi alvo de críticas. Alguns críticos acusaram Cícero de ser comprometido com os valores da República, mas que desprezava os pobres e se opunha aos meios de representação popular. Friedrich Engels chamou Cícero de "canalha mais desprezível da história", devido à postura dele por um lado a favor de uma “democracia” republicana e de outro lado ser contrário a reformas agrárias e sociais. Para Michael Parenti, Cícero era um grande orador, no entanto com uma personalidade vaidosa, pomposa e hipócrita, que em certas ocasiões, quando julgava oportuno a ele, mostrava ser simpático a causas populares, embora intimamente sendo contra.

Das obras de Cícero restaram todos os seus tratados de retórica (sete); doze tratados, de um total de dezesseis ou dezessete, sobre política e moral; cinquenta e um discursos e arrazoados dentre aproximadamente cinqüenta e cinco; todas as suas cartas, inclusive algumas apócrifas; e fragmentos de poesia. A Igreja medieval considerou Cícero um pagão justo e assim as obras dele foram consideradas dignas de preservação.

 

Segundo a professora Diva Frazão:

“(...) Ao exercer o cargo no Consulado, Cícero descobriu que o senador Lúcio Catilina, organizava uma conspiração para assassiná-lo. Ao se inteirar dos planos do Senador, Cícero reuniu o senado e proferiu o primeiro de seus quatro célebres discursos contra Catilina, que ficaram conhecidos como “Catilinárias”.

Em um trecho do Livro I, cap. 1, Cícero diz: “Até quando, enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda este teu rancor nos enganará? Até que ponto a tua audácia desenfreada se gabará?”. Essa intervenção de Cícero foi tomada como exemplo de correção no exercício do poder público e, passou a ser invocada sempre que um homem público atentava contra o interesse geral da população.

No contexto de disputas internas e ameaças externas, quando Júlio César matou Pompeu, e se tornou senhor de Roma, Cícero, pronunciou um grande discurso em honra de César. Mais tarde, quando César foi assassinado, querendo agradar a todos, Cícero fez igualmente um grande discurso contra ele, o que enfureceu o amigo e partidário de César, Marco Antônio.

As desavenças entre os dois eram constantes. Cícero atacou Marco Antônio, colocando-o contra os membros do senado. Marco Antônio organizou uma marcha para prender Cícero. No dia 7 de dezembro de 43 a.C., Cícero acabou sendo capturado e decapitado. A cabeça e mãos foram pregadas por cima da porta do Senado.

Entre suas obras destacam-se: “Da República”, “Sobre as Leis”, “Sobre a Consolação”, “Sobre os Objetivos da Ética”, “Discussões em Túsculo”, “Sobre a Natureza dos Deuses”, “Catão o Velho ou Sobre a Velhice”, “Sobre a Adivinhação”, “Sobre a Amizade” e “Sobre os Deveres”.(...)”

Frases de Cícero

“Não basta conquistar a sabedoria, é preciso usá-la.”

“Dos amores humanos, o menos egoísta, o mais puro e desinteressado é o amor da amizade.”

“Os homens são como os vinhos: a idade azeda os maus e apura os bons.”

“Ninguém é assim tão velho que não acredite que poderá viver por mais um ano.”

“Nunca estou mais acompanhado do que quando estou sozinho.”

“Se ao lado da biblioteca houver um jardim, nada faltará.”

“Reconhece-se o amigo certo numa situação incerta.”

“Não há nada mais gratificante do que o afeto correspondido, nada mais perfeito do que a reciprocidade de gostos e a troca de atenções.”

“Não há nada que não se consiga com a força de vontade, a bondade e, principalmente, com o amor.”

“Nem chega a ser útil saber o que acontecerá: é muito triste angustiar-se por aquilo que não se pode remediar.”

“A ignorância é a maior enfermidade do gênero humano.”

“O melhor tempero da comida é a fome.”

“O hábito de tudo tolerar pode ser a causa de muitos erros e de muitos perigos.”

“Assim como gosto do jovem que tem dentro de si algo do velho, gosto do velho que tem dentro de si algo do jovem: quem segue essa norma poderá ser velho no corpo, mas na alma não o será jamais.”

“Prudência é saber distinguir as coisas desejáveis das que convém evitar.”

“Viver feliz não é mais do que viver com honestidade e retidão.”

“Qualquer pessoa pode errar; mas ninguém que não seja tolo persiste no erro.”

“Os livros são o alimento da juventude.”

“A história é testemunha do passado, luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos antigos.”

“Quanto melhor é uma pessoa, mais difícil se torna suspeitar da maldade dos outros.”

“Não nascemos apenas para nós mesmos.”

“Para que possamos ser livres, somos escravos das leis.”

“A amizade apenas encontra a sua plena irradiação na maturidade da idade e do espírito.”

“Para se ter vida longa é preciso viver devagar.”

“Quanto maiores são as dificuldades a vencer, maior será a satisfação.”

“A minha consciência tem mais peso pra mim do que a opinião do mundo inteiro.”

“A vida feliz consiste na tranquilidade da mente.”

“A filosofia é o melhor remédio para a mente.”

“Este é o primeiro preceito da amizade: pedir aos amigos só aquilo que é honesto, e fazer por eles apenas aquilo que é honesto.”

“Tirar a amizade da vida é tirar o sol do universo...”

“Embora seja curta a vida que nos é dada pela natureza, é eterna a memória de uma vida bem empregada.”

“Uma casa sem livros é um corpo sem alma.”

“O primeiro dever do historiador é não trair a verdade, não calar a verdade, não ser suspeito de parcialidades ou rancores.”

“Entendo que os chefes devem reconduzir tudo a este princípio: aqueles que eles governam devem ser tão felizes quanto possível.”

“Não me envergonho de confessar aquilo que ignoro.”

“O prazer dos banquetes não está na abundância dos pratos e, sim, na reunião dos amigos e na conversação.”

“Paixões são como fogo: útil de inúmeras maneiras e perigoso de uma só forma - o excesso.”

“A inveja é a amargura que se sofre por causa da felicidade alheia.”

“O maior estímulo para cometer faltas é a esperança da impunidade.”

“Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino,
nem a ronda noturna da cidade,
nem o temor do povo,
nem a afluência de todos os homens de bem,
nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado,
nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 

Figura: 

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