Após minha trilogia “Nações Esfaceladas”, vou agora publicar outra trilogia: “Pensadores Romanos”, começando por Cícero.
Marco Túlio Cícero nasceu em Arpino, 3 de janeiro de
106 a. C. Foi advogado, divulgador da filosofia, escritor, tradutor,
orador, cônsul
da República Romana em 63 a . C , juntamente com Caio Antônio Híbrida e
governador da Cilícia, de 51 a. C a 50 a. C. Foi casado com Terência e depois
com Publília. Seus filhos foram Túlia e Cícero Menor. Pertencia ao partido
aristocrático (Optimates), era adepto da religião politeísta romana,
pertencente à gens Túlia, filho de Cícero, o Velho e Élvia. O sobrenome Cícero
vem da palavra latina para grão-de-bico. Havia uma versão que dizia que era por
causa do nariz de um dos ancestrais de Cícero que tinha características que se
assemelhavam a um grão de bico. Outra versão é de que houve antepassados de
Cícero que prosperaram com o cultivo e venda de grão-de-bico.
Cícero
era de uma família de posses, da ordem equestre, tendo se destacado na
Civilização Romana Antiga como grande orador e escritor em prosa. Cícero
recebeu uma educação baseada em ensinamentos de filósofos, poetas e
historiadores gregos. Estudando o poeta grego Árquias, ele teve mais
compreensão da teoria e prática da retórica.
Com
o vasto conhecimento que adquiriu por meio de sua educação ele teve mais
possibilidade de se inserir entre a aristocracia romana. Foi um importante
influenciador na língua latina e nas línguas europeias. Ele foi um introdutor
das principais escolas filosóficas gregas entre os romanos, sendo um criador de
um vocabulário filosófico latino, como por exemplo neologismos como evidentia, humanitas, qualitas, quantitas e essentia. Foi um profundo estudioso do Direito Romano. Entre os
oradores da Antiguidade Clássica, Cícero foi considerado inferior apenas ao
grego Demóstenes. Quando conheceu Filon de Larissa, diretor da Academia, escola filosófica criada por
Platão e Atenas cerca de 300 anos antes, Cícero sentou-se aos seus pés para
aprender filosofia platônica.
Na chamada Guerra Social, que
atingiu a civilização romana, Cícero atuou servindo Pompeu Estrabão e Sula. Mas
como intelectual Cícero não se sentia atraído pela vida militar. Ele começou
sua carreira de advogado aproximadamente entre 83 e 81 a. C. Em um famoso caso
jurídico, Cícero conseguiu ser vitorioso na defesa de um acusado de patricídio
e corajosamente acusou de homicídio pessoas ligadas ao poderoso general Sula. Para
escapar de uma possível vingança de Sula Cícero foi para a Grécia e Ásia, assim
como para a ilha de Rodes.
A carreira política de
Cícero começou na Sicília, como questor, tendo sido reconhecido por sua
honestidade e integridade. Foi solicitado a ele que processasse o governador da
Sicília, Caio Verres, acusado de vários atos de corrupção. O trabalho de
acusação foi assumido por Cícero que no tribunal derrotou o famoso advogado de
Verres, Quinto Hortênsio Hórtalo. Cícero com a vitória nesse caso ficou
conhecido como o mais brilhante orador de Roma. Foi tal brilhantismo na
oratória que possibilitou a Cícero ascender politicamente. Antes de ser cônsul
Cícero foi, além de questor, também edil e pretor, tendo sido presidente da
corte de “reclamações”.
Quando a filha de Cícero
morreu, ele ficou muito triste. Seu amigo Ático o convidou para ir até sua
imensa biblioteca e lá Cícero leu o que filósofos gregos tinham escrito sobre
como superar o luto. Ainda assim ele comentou: "mas minha tristeza supera
qualquer consolo”.
Cícero como cônsul desmantelou
a chamada Segunda Conspiração de Catilina, que tentou derrubar o governo
romano da época, tendo Cícero conseguido expulsar Catilina e mandado executar
sem um processo legal cinco conspiradores. Ficaram famosos os seus discursos
contra a conspiração chamados de Catilinárias,
nos quais mais uma vez a retórica de Cícero se destacou. Foi chamado na época
de"Pai
da Pátria".
Ele se envolveu na política
romana de seu tempo, que foi marcado por guerras civis e pela ditadura de Júlio
César, que antes da formação definitiva do Primeiro Triunvirato (antes de César
ser ditador), convidou Cícero para se juntar a ele, Pompeu e Crasso, porém
Cícero recusou porque acreditava que a República estava ameaçada.
Quando Pompeu enfrentou César,
Cícero colocou-se ao lado de Pompeu, considerando-o um aliado do Senado. Quando
César invadiu a Itália Cícero fugiu e foi para onde estava Pompeu, na Ilíria e
depois até Farsalos onde Pompeu foi derrotado. Cícero retornou a Roma e César o
perdoou.
Após o assassinato do ditador
por conspiradores, Cícero se colocou como inimigo de Marco Antônio, tendo feito
discursos contra esse general, chamados de "Filípicas” (procurando fazer referência aos
discursos de Demóstenes contra o rei Filipe da Macedônia). Cícero
tentava jogar Otaviano, filho adotivo de César, contra Marco Antônio. O Segundo
Triunvirato formado por Marco Antônio, Otaviano e Lépido considerou Cícero um
inimigo do Estado romano, sendo proscrito e depois executado em Fórmias por
ordem de Marco Antônio (embora com algumas objeções de Otaviano) em7 de dezembro de 43
a. C. Marco Antônio mandou exibir as mãos e a cabeça de Cícero no Fórum Romano.
Entre os teóricos da Igreja
Católica, Cícero foi admirado por Santo Agostinho e São Jerônimo. Na Idade
Média as obras de Cícero sobre direito natural influenciaram filósofos. O
pensador renascentista Petrarca fez a redescoberta das cartas de Cícero, fato
que foi considerado um dos eventos iniciais do Renascimento no século XIV, em
relação ao humanismo e à cultura romana clássica. Pensadores como Erasmo e John
Locke admiravam Cícero e quando foi inventada a prensa móvel, a obra de Cícero
“De Officilis” foi o segundo livro impresso na Europa, ficando atrás somente da
Bíblia de Guttenberg. Também na política viu-se a influência do pensamento de
Cícero entre líderes intelectuais da formação dos Estados Unidos e entre
revolucionários que participaram na Revolução Francesa.
O historiador polonês Tadeusz Zieliński disse a respeito da importância de Cícero para o Renascimento: "o Renascimento era, acima de tudo, um reavivamento de Cícero e, apenas depois dele e através dele, do resto da antiguidade clássica”. Também a importância de Cícero foi reconhecida no Iluminismo, influenciando David Hume, John Locke e Montesquieu. Os escritos dele servem até hoje como uma base de estudos sobre fatos da República Romana.
Apesar de muito elogiado,
Cícero também foi alvo de críticas. Alguns críticos acusaram Cícero de ser
comprometido com os valores da República, mas que desprezava os pobres e se
opunha aos meios de representação popular. Friedrich Engels chamou Cícero de "canalha mais desprezível da
história", devido à postura dele por um lado a favor de uma
“democracia” republicana e de outro lado ser contrário a reformas agrárias e
sociais. Para Michael Parenti, Cícero era um grande orador, no entanto com uma
personalidade vaidosa, pomposa e hipócrita, que em certas ocasiões, quando
julgava oportuno a ele, mostrava ser simpático a causas populares, embora
intimamente sendo contra.
Das obras de Cícero restaram todos os seus tratados de retórica
(sete); doze tratados, de um total de dezesseis ou dezessete, sobre política e moral;
cinquenta e um discursos e arrazoados dentre aproximadamente cinqüenta e cinco;
todas as suas cartas, inclusive algumas apócrifas; e fragmentos de poesia. A
Igreja medieval considerou Cícero um pagão justo e assim as obras dele foram
consideradas dignas de preservação.
Segundo a professora Diva Frazão:
“(...) Ao exercer o cargo no Consulado, Cícero descobriu que o senador Lúcio Catilina, organizava uma conspiração para assassiná-lo. Ao se inteirar dos planos do Senador, Cícero reuniu o senado e proferiu o primeiro de seus quatro célebres discursos contra Catilina, que ficaram conhecidos como “Catilinárias”.
Em um trecho do Livro I, cap. 1, Cícero diz: “Até quando, enfim, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda este teu rancor nos enganará? Até que ponto a tua audácia desenfreada se gabará?”. Essa intervenção de Cícero foi tomada como exemplo de correção no exercício do poder público e, passou a ser invocada sempre que um homem público atentava contra o interesse geral da população.
No contexto de disputas internas e ameaças externas, quando Júlio César matou Pompeu, e se tornou senhor de Roma, Cícero, pronunciou um grande discurso em honra de César. Mais tarde, quando César foi assassinado, querendo agradar a todos, Cícero fez igualmente um grande discurso contra ele, o que enfureceu o amigo e partidário de César, Marco Antônio.
As desavenças entre os dois eram constantes. Cícero atacou Marco Antônio, colocando-o contra os membros do senado. Marco Antônio organizou uma marcha para prender Cícero. No dia 7 de dezembro de 43 a.C., Cícero acabou sendo capturado e decapitado. A cabeça e mãos foram pregadas por cima da porta do Senado.
Entre suas obras destacam-se: “Da República”, “Sobre as Leis”, “Sobre a Consolação”, “Sobre os Objetivos da Ética”, “Discussões em Túsculo”, “Sobre a Natureza dos Deuses”, “Catão o Velho ou Sobre a Velhice”, “Sobre a Adivinhação”, “Sobre a Amizade” e “Sobre os Deveres”.(...)”
Frases de Cícero
“Não basta conquistar a sabedoria, é
preciso usá-la.”
“Dos amores humanos, o menos egoísta, o
mais puro e desinteressado é o amor da amizade.”
“Os homens são como os vinhos: a idade
azeda os maus e apura os bons.”
“Ninguém é assim tão velho que não
acredite que poderá viver por mais um ano.”
“Nunca estou mais acompanhado do que
quando estou sozinho.”
“Se ao lado da biblioteca houver um
jardim, nada faltará.”
“Reconhece-se o amigo certo numa
situação incerta.”
“Não há nada mais gratificante do que o
afeto correspondido, nada mais perfeito do que a reciprocidade de gostos e a
troca de atenções.”
“Não há nada que não se consiga com a
força de vontade, a bondade e, principalmente, com o amor.”
“Nem chega a ser útil saber o que
acontecerá: é muito triste angustiar-se por aquilo que não se pode remediar.”
“A ignorância é a maior enfermidade do
gênero humano.”
“O melhor tempero da comida é a fome.”
“O hábito de tudo tolerar pode ser a
causa de muitos erros e de muitos perigos.”
“Assim como gosto do jovem que tem
dentro de si algo do velho, gosto do velho que tem dentro de si algo do jovem:
quem segue essa norma poderá ser velho no corpo, mas na alma não o será
jamais.”
“Prudência é saber distinguir as coisas
desejáveis das que convém evitar.”
“Viver feliz não é mais do que viver
com honestidade e retidão.”
“Qualquer pessoa pode errar; mas
ninguém que não seja tolo persiste no erro.”
“Os livros são o alimento da
juventude.”
“A história é testemunha do passado,
luz da verdade, vida da memória, mestra da vida, anunciadora dos tempos
antigos.”
“Quanto melhor é uma pessoa, mais
difícil se torna suspeitar da maldade dos outros.”
“Não nascemos apenas para nós mesmos.”
“Para que possamos ser livres, somos
escravos das leis.”
“A amizade apenas encontra a sua plena
irradiação na maturidade da idade e do espírito.”
“Para se ter vida longa é preciso viver
devagar.”
“Quanto maiores são as dificuldades a
vencer, maior será a satisfação.”
“A minha consciência tem mais peso pra
mim do que a opinião do mundo inteiro.”
“A vida feliz consiste na tranquilidade
da mente.”
“A filosofia é o melhor remédio para a
mente.”
“Este é o primeiro preceito da amizade:
pedir aos amigos só aquilo que é honesto, e fazer por eles apenas aquilo que é
honesto.”
“Tirar a amizade da vida é tirar o sol
do universo...”
“Embora seja curta a vida que nos é
dada pela natureza, é eterna a memória de uma vida bem empregada.”
“Uma casa sem livros é um corpo sem
alma.”
“O primeiro dever do historiador é não
trair a verdade, não calar a verdade, não ser suspeito de parcialidades ou
rancores.”
“Entendo que os chefes devem reconduzir
tudo a este princípio: aqueles que eles governam devem ser tão felizes quanto
possível.”
“Não me envergonho de confessar aquilo
que ignoro.”
“O prazer dos banquetes não está na
abundância dos pratos e, sim, na reunião dos amigos e na conversação.”
“Paixões são como fogo: útil de
inúmeras maneiras e perigoso de uma só forma - o excesso.”
“A inveja é a amargura que se sofre por
causa da felicidade alheia.”
“O maior estímulo para cometer faltas é
a esperança da impunidade.”
“Até quando, Catilina, abusarás da nossa paciência?
Por quanto tempo a tua loucura há de zombar de nós?
A que extremos se há de precipitar a tua desenfreada audácia?
Nem a guarda do Palatino,
nem a ronda noturna da cidade,
nem o temor do povo,
nem a afluência de todos os homens de bem,
nem este local tão bem protegido para a reunião do Senado,
nem a expressão do voto destas pessoas, nada disto conseguiu perturbar-te?
Não te dás conta que os teus planos foram descobertos?
Não vês que a tua conspiração a têm já dominada todos estes que a conhecem?
Quem, dentre nós, pensas tu que ignora o que fizeste na noite passada e na
precedente, onde estiveste, com quem te encontraste, que decisão tomaste?
Oh tempos, oh costumes!”
____________________________
Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=AOaemvJn1f0ZVrW48qvMtUNDcjthI7HOkQ:1631239557093&source=univ&tbm=isch&q=imagem+do+romano+c%C3%ADcero
Nenhum comentário:
Postar um comentário