terça-feira, 14 de setembro de 2021

O filósofo neoplatonista romano Plotino

 







Como continuação de minha trilogia sobre os pensadores romanos, vou tratar agora sobre o filósofo Plotino, que fez parte do conjunto de filósofos depois chamados de neoplatonistas, porque se inspiravam nas ideias de Platão. Ele nasceu por volta de 205, em Licópolis (cidade localizada no delta do Nilo), no Egito, que era parte do Império Romano. Suas obras estavam ligadas ao Platonismo, à Metafísica e ao Misticismo. Recebeu influências de Amônio Sacas, Platão, Numênio de Apameia, Alexandre de Afrodísias, do Platonismo médio e do Pitagorismo. Foram influenciados por ele Agostinho; Soloviov; Porfírio; Jâmblico; Juliano, o Apóstata; Hipátia; Hiérocles de Alexandria; Proclo; Damáscio; Simplício; Boethius; Avicenna; Arthur Schopenhauer, Henri Bergson etc . O neoplatonismo de Plotino influenciou na filosofia cristã da Idade Média.

Plotino foi um dos mais importantes filósofos de língua grega da Antiguidade. Ele inspirou por meio de suas obras os metafísicos e místicos pagãos; teóricos islâmicos, cristãos e gnósticos. Seus princípios filosóficos são: o Uno, o Intelecto e a Alma do Mundo. Ele foi original em fazer uma releitura de Platão e Aristóteles a respeito da natureza do Intelecto e sobre o “além do Intelecto”: O Uno. Para ele por meio da introspecção o Homem parte da Alma do mundo para o Intelecto e do Intelecto para o Uno, chegando a uma união mística com Deus. Plotino desconfiava da materialidade e dizia que os fenômenos são uma má imagem ou imitação de algo "maior e inteligível". 

Para Plotino existia um ser supremo, totalmente transcendente o “Uno”, que não é qualquer coisa existente, nem a soma de todas as coisas. “É antes de tudo existente” (Plotino). No Uno está o pensador e o objeto. O Uno está ligado ao conceito de “Bom” e ao princípio da “Beleza”, é uma pura potencialidade (dynamis) e sem ela nada poderia existir. Segundo Plotino: "Depois de ter chegado no 'Bem', não adicione nenhum pensamento a mais: em qualquer adição, e em proporção daquela adição, você adiciona uma deficiência."

Para Plotino o Uno é algo que pode ser experimentado, poderia ser comparado à luz, primeira luz que poderia existir sem qualquer corpo celeste, sendo a origem do mundo. Para Plotino na criação do que existe no universo o “menos perfeito” deve emanar do “perfeito” ou “mais que perfeito”. Plotino escreveu que "Não devemos mesmo dizer que ele verá, mas ele será aquilo que ele vê, se, de fato for possível distinguir entre vidente e visto, e não audaciosamente afirmar que os dois são um só”.

A felicidade verdadeira para Plotino está na identificação com o que é melhor no universo. A felicidade, conforme esse pensamento, está além do que é físico e a Fortuna (sorte) não leva à felicidade. Assim, ...não existe nenhum ser humano que não tenha potencialmente ou efetivamente a capacidade que temos para atingir a felicidade". Plotino dizia que por meio da capacidade autêntica e metafísica do ser humano, através da Razão é que se chega à verdadeira felicidade humana. Segundo ele: “...O homem, e especialmente o proficiente, não é o complemento da alma e do corpo: a prova é que o homem pode ser desvinculado do corpo e desprezar seus bens". Plotino usava o termo filosófico grego Nous, que relacionava à atividade do intelecto e da razão fazendo oposição aos sentidos materiais. Para ele era uma inteligência suprema e racional. Plotino afirmava que a consciência é a capacidade de encontrar a verdade dentro de si mesmo. As verdades superiores e a origem de todas as verdades, que é Deus seriam encontradas na consciência. É quando o homem retorna a si mesmo que ele faz o caminho que o leva a Deus. E para Plotino também o mal tem sua razão para existir, sendo ele inevitável, quer dizer que é necessário. O mal seria assim um tipo de expiação por uma culpa original.

Quando tinha vinte e sete anos Plotino iniciou seus estudos de filosofia e foi para Alexandria, mas não encontrava um professor que o agradasse até que lhe foi recomendado ouvir Amônio Sacas, fundador da escola neoplatônica de Alexandria, e se agradou do que ouviu, passando a ser aluno de Amônio. As obras de Alexandre de Afrodísias, Numênio de Apameia e filósofos estoicos também influenciaram Plotino.

Aos 38 anos, depois de 11 anos em Alexandria, Plotino foi em busca de ensinamentos das filosofias iraniana e indiana. Para alcançar esse objetivo juntou-se às forças de Gordiano III que dirigia-se para a Pérsia. Gordiano morreu, a expedição não teve o sucesso esperado e Plotino viu-se em sérias dificuldades para voltar para Antioquia.

Aos quarenta anos Plotino foi para Roma e fez muitos discípulos. Teve alunos como Porfírio, Amélio da Toscana, o senador Castrício Firmo e Eustáquio de Alexandria. Outros senadores de Roma que foram alunos de Plotino foram Marcelo Oronte, Sabinilo e Rogaciano. Também houve mulheres que foram alunas de Plotino. Foi respeitado pelo imperador Galiano e sua esposa. Plotino morreu aos 65 anos na Campânia, Itália. Suas últimas palavras foram: "esforçai-vos para estar de volta com o Divino em vós, Divino no Tudo”.

A coleção de escritos de Plotino, editada e copiada no ano 270 pelo seu discípulo Porfírio se chamou Enéadas. A obra se constituía por 54 tratados divididos em 6 capítulos, compostos de 9 partes cada um. Foi esse o motivo de se chamar Enéadas, porque nove, em grego, é ennéa. O Prof. Dr. Bernardo Lins Brandão, em sua obra O problema do misticismo em Plotino disse: “René Arnou, em seu Le Désir de Dieudans laPhilosophie de Plotin, também defende que a ascensão plotiniana é próxima da mística cristã. Seu estudo, que aborda temas ligados à ascensão, como o desejo, a purificação, a contemplação e o êxtase, e apresenta análises filológicas de alguns termos importantes, fez com que se tornasse cada vez mais difícil falar em panteísmo ou irracionalismo em Plotino. De acordo com Arnou, “no início da ascensão mística, o Um parece se opor ao eu, pois ele aparece como um objeto, isto é, como outro”, mas, com a purificação, que é entendida como uma separação do mundo sensível, não no sentido físico, mas moral, essa oposição cessa e a alma pode se unir, durante alguns breves momentos desta vida, ao Um. Essa jornada não é, no entanto, uma anulação, mas uma libertação ativa. Por sua vez, a união não é um estado de inconsciência, mas de hiperconsciência”.

Frases de Plotino:

“A beleza e o bem devem ser buscados no mesmo caminho.”

“Três coisas conduzem a Deus: A música, o amor e a filosofia.”

“Ensinar é indicar o caminho, mas na viagem cada um vai ver o que quiser ver”

“Estão dizendo que tudo o que vemos tem um pouco do mistério divino. Mas o ponto mais próximo em que nos encontramos de Deus é dentro de nossa própria alma. Só lá é que podemos nos reunir com o grande mistério da vida. De fato, em alguns raros momentos podemos sentir que somos, nós mesmos, este mistério divino. Desta forma, cada um pode entender a palavra 'divino' como bem quiser.”

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura:

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