Como
continuação de minha trilogia sobre os pensadores romanos, vou tratar agora
sobre o filósofo Plotino, que fez parte do conjunto de filósofos depois
chamados de neoplatonistas, porque se inspiravam nas ideias de Platão. Ele
nasceu por volta de 205, em Licópolis (cidade localizada no delta do Nilo), no
Egito, que era parte do Império Romano. Suas obras estavam ligadas ao
Platonismo, à Metafísica e ao Misticismo. Recebeu
influências de Amônio Sacas, Platão, Numênio de Apameia, Alexandre de
Afrodísias, do Platonismo médio e do Pitagorismo. Foram influenciados por ele
Agostinho; Soloviov; Porfírio; Jâmblico; Juliano, o Apóstata; Hipátia;
Hiérocles de Alexandria; Proclo; Damáscio; Simplício; Boethius; Avicenna;
Arthur Schopenhauer, Henri Bergson etc . O neoplatonismo de Plotino influenciou
na filosofia cristã da Idade Média.
Plotino foi um dos mais importantes
filósofos de língua grega da Antiguidade. Ele inspirou por meio de suas obras
os metafísicos e místicos pagãos; teóricos islâmicos, cristãos e gnósticos.
Seus princípios filosóficos são: o Uno, o Intelecto e a Alma do Mundo. Ele foi
original em fazer uma releitura de Platão e Aristóteles a respeito da natureza
do Intelecto e sobre o “além do Intelecto”: O Uno. Para ele por meio da
introspecção o Homem parte da Alma do mundo para o Intelecto e do Intelecto
para o Uno, chegando a uma união mística com Deus. Plotino desconfiava da
materialidade e dizia que os fenômenos são uma má imagem ou imitação de algo
"maior e inteligível".
Para Plotino
existia um ser supremo, totalmente transcendente o “Uno”, que não é qualquer
coisa existente, nem a soma de todas as coisas. “É antes de tudo existente”
(Plotino). No Uno está o pensador e o objeto. O Uno está ligado ao conceito de
“Bom” e ao princípio da “Beleza”, é uma pura potencialidade (dynamis) e sem
ela nada poderia existir. Segundo Plotino: "Depois
de ter chegado no 'Bem', não adicione nenhum pensamento a mais: em qualquer
adição, e em proporção daquela adição, você adiciona uma deficiência."
Para Plotino o Uno é algo que pode
ser experimentado, poderia ser comparado à luz, primeira luz que poderia
existir sem qualquer corpo celeste, sendo a origem do mundo. Para Plotino na
criação do que existe no universo o “menos perfeito” deve emanar do “perfeito”
ou “mais que perfeito”. Plotino escreveu que "Não devemos mesmo dizer que
ele verá, mas ele será aquilo que ele vê, se, de fato for
possível distinguir entre vidente e visto, e não audaciosamente afirmar que os
dois são um só”.
A felicidade verdadeira para Plotino está na identificação
com o que é melhor no universo. A felicidade, conforme esse pensamento, está
além do que é físico e a Fortuna (sorte) não leva à felicidade. Assim, ...não
existe nenhum ser humano que não tenha potencialmente ou efetivamente a capacidade
que temos para atingir a felicidade". Plotino dizia que por meio da
capacidade autêntica e metafísica do ser humano, através da Razão é que se
chega à verdadeira felicidade humana. Segundo ele: “...O homem, e especialmente
o proficiente, não é o complemento da alma e do corpo: a prova é que o homem
pode ser desvinculado do corpo e desprezar seus bens". Plotino usava o
termo filosófico grego Nous, que
relacionava à atividade do intelecto e da razão fazendo oposição aos sentidos
materiais. Para ele era uma inteligência suprema e racional. Plotino afirmava
que a consciência é a capacidade de encontrar a verdade dentro de si mesmo. As
verdades superiores e a origem de todas as verdades, que é Deus seriam
encontradas na consciência. É quando o homem retorna a si mesmo que ele faz o
caminho que o leva a Deus. E para Plotino também o mal tem sua razão para
existir, sendo ele inevitável, quer dizer que é necessário. O mal seria assim
um tipo de expiação por uma culpa original.
Quando tinha vinte e sete anos Plotino iniciou seus estudos de filosofia e foi para Alexandria, mas não encontrava um professor que o agradasse até que lhe foi recomendado ouvir Amônio Sacas, fundador da escola neoplatônica de Alexandria, e se agradou do que ouviu, passando a ser aluno de Amônio. As obras de Alexandre de Afrodísias, Numênio de Apameia e filósofos estoicos também influenciaram Plotino.
Aos 38 anos, depois de 11 anos em
Alexandria, Plotino foi em busca de ensinamentos das filosofias iraniana e
indiana. Para alcançar esse objetivo juntou-se às forças de Gordiano III que
dirigia-se para a Pérsia. Gordiano morreu, a expedição não teve o sucesso
esperado e Plotino viu-se em sérias dificuldades para voltar para Antioquia.
Aos quarenta anos Plotino foi para Roma
e fez muitos discípulos. Teve alunos como Porfírio, Amélio da Toscana, o
senador Castrício Firmo e Eustáquio de Alexandria. Outros senadores de Roma que
foram alunos de Plotino foram Marcelo Oronte, Sabinilo e Rogaciano. Também
houve mulheres que foram alunas de Plotino. Foi respeitado pelo imperador
Galiano e sua esposa. Plotino morreu aos 65 anos na Campânia, Itália. Suas
últimas palavras foram: "esforçai-vos para estar de
volta com o Divino em vós, Divino no Tudo”.
A coleção de escritos de Plotino, editada e copiada no ano
270 pelo seu discípulo Porfírio se chamou Enéadas. A obra se constituía por 54
tratados divididos em 6 capítulos, compostos de 9 partes cada um. Foi esse o
motivo de se chamar Enéadas, porque nove, em grego, é ennéa. O Prof. Dr. Bernardo Lins Brandão, em sua obra O problema do misticismo em Plotino
disse: “René Arnou, em seu Le Désir de
Dieudans laPhilosophie de Plotin, também defende que a ascensão plotiniana é
próxima da mística cristã. Seu estudo, que aborda temas ligados à ascensão,
como o desejo, a purificação, a contemplação e o êxtase, e apresenta análises
filológicas de alguns termos importantes, fez com que se tornasse cada vez mais
difícil falar em panteísmo ou irracionalismo em Plotino. De acordo com Arnou,
“no início da ascensão mística, o Um parece se opor ao eu, pois ele aparece
como um objeto, isto é, como outro”, mas, com a purificação, que é entendida
como uma separação do mundo sensível, não no sentido físico, mas moral, essa
oposição cessa e a alma pode se unir, durante alguns breves momentos desta
vida, ao Um. Essa jornada não é, no entanto, uma anulação, mas uma libertação
ativa. Por sua vez, a união não é um estado de inconsciência, mas de
hiperconsciência”.
Frases de Plotino:
“A beleza e o bem devem ser buscados
no mesmo caminho.”
“Três coisas conduzem a Deus: A música, o amor e a
filosofia.”
“Ensinar é indicar o caminho, mas na viagem cada um vai ver
o que quiser ver”
“Estão dizendo que tudo o que vemos tem um pouco do mistério
divino. Mas o ponto mais próximo em que nos encontramos de Deus é dentro de
nossa própria alma. Só lá é que podemos nos reunir com o grande mistério da
vida. De fato, em alguns raros momentos podemos sentir que somos, nós mesmos,
este mistério divino. Desta forma, cada um pode entender a palavra 'divino'
como bem quiser.”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:
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