O Abaporu
Tarsila de Aguiar
do Amaral (mais conhecida como Tarsila do Amaral ou Tarsila),foi uma pintora,
desenhista e tradutora brasileira nascida em Capivari, interior do Estado de
São Paulo, em 1 de setembro de 1886. Ela é considerada uma grande artista
modernista da América latina. O quadro dela chamado de Abaporu,
pintado em 1928, deu início ao movimento antropofágico nas artes plásticas. Foi
dito que ela era "a pintora brasileira que melhor atingiu as
aspirações brasileiras de expressão nacionalista em um estilo moderno”.
Participou de um grupo de cinco artistas brasileiros com muita influência no
movimento de arte moderna no Brasil. Além dela, participaram: Anita Malfatti,
Menotti Del Picchia, Mário de Andrade e Oswald de Andrade. Ela foi a fonte de
inspiração para Oswald de Andrade para o Manifesto Antropofágico. Mário fez
parte do movimento Antropofagia (1928-1929).
Os pais de Tarsila
eram Estanislau do Amaral Filho e Lídia Dias de Aguiar. O avô paterno era José
Estanislau do Amaral, um rico fazendeiro no interior paulista que construiu
importantes edifícios em Santos e São Paulo e em sua fazenda Sertão chegou a
haver cerca de 400 escravos. Tarsila foi a segunda criança em um total de sete
filhos. Estanislau do Amaral Filho herdou os bens de seu pai. Tarsila passou a
infância em algumas dessas fazendas. Ela teve, em sua infância, muito contato
com a zona rural. A educação familiar dela foi influenciada por aspectos
culturais franceses. A mãe, Lídia, tocava músicas dos compositores Couperin e
Dandrieu. Nas refeições havia comidas da culinária francesa e vinhos franceses.
Até perfumes e roupas eram da França.
Tarsila estudou em
São Paulo, em um colégio de freiras, no bairro de Santana e no Colégio Sion.
Depois ela estudou no Colégio Sacré-Coeur, em Barcelona, Espanha, onde ela
passou dois anos. Foi nesse colégio que ela começou a ter contato com a
pintura. Em 1906 ela se casou com seu primo por parte de mãe, André Teixeira
Pinto, muito conservador, que era contra Tarsila pintar e queria que ela se
voltasse somente para atividades do lar, mas ela não concordou com essa imposição. Desse
casamento nasceu Dulce, filha de Tarsila, que se separou do marido (o casamento
foi anulado graças à influência de sua família) após o nascimento de sua filha
e foi morar com seus pais.
Tarsila do Amaral buscou aprender mais
sobre pintura em 1917, com Pedro Alexandrino Borges e depois com o alemão
George Fischer Elpons. Foi para Paris em 1920, frequentando a Academia Julian.
Outro lugar de ensino foi a academia Émile Renard. Entre 1913 e 1920 Tarsila
compôs uma canção, "Rondo D'Amour". A partitura da música foi
descoberta em novembro de 2021 por uma sobrinha-neta e em 25 de janeiro de 2022
foi gravada no auditório da Escola de Música da Universidade Federal do Rio
Grande do Norte por três professores dessa instituição.
A adesão de Tarsila ao Modernismo começou em 1922, quando chegou ao Brasil. Ela foi apresentada nesse ano por Anita Malfatti aos modernistas Oswald de Andrade, Mário de Andrade e Menotti Del Picchia. Eles formaram o Grupo dos Cinco. Em janeiro de 1923 ela e Oswald de Andrade se uniram na Europa, viajando por Portugal e Espanha. Em Paris frequentou a Academia de Lhote e conheceu os pintores Pablo Picasso e Fernand Léger. A arte desse pintor exerceu influência na pintura de Tarsila, como no caso da a técnica lisa de pintura. Em 1924 ela, o poeta franco-suiço Blaise Cendras e modernistas brasileiros fizeram uma viagem pelo Brasil. Nessa época Tarsila iniciou a fase “Pau-Brasil”, com cores e temas bastante tropicais e brasileiros, com elementos da fauna e da flora do Brasil, assim como máquinas e trilhos, simbolizando a modernidade urbana.
Os tons em pinturas de Tarsila, com grande intensidade e força, tem uma relação com a infância dela no interior de São Paulo. Há algo de rebelde e contestador em seu colorido excessivo. Embora tenha existido uma dose de influência da infância da pintora no campo, não pode ser considerada uma pintora rural.
Em 1926 Tarsila e Oswald se casam e ela realiza a sua primeira exposição individual, na Galeria Percier, em Paris e em 1928 ela pintou a obra que deu início ao Movimento Antropofágico (que propunha a digestão de influências estrangeiras e o desenvolvimento de uma arte nacional), o Abaporu, que traduzido da linguagem indígena quer dizer “homem que come carne humana”. Em julho de 1929, na cidade do Rio de Janeiro, Tarsila expõe suas telas pela primeira vez no Brasil. A crise da bolsa nos Estados Unidos, nesse ano afeta as economias da família de Tarsila. Ela perde sua fazenda e também ela e Oswald de Andrade se separam e ele casa-se com Patrícia Galvão, chamada de Pagu. Essas perdas afetam muito Tarsila e ela passa a dedicar-se ainda mais à sua arte, tendo em 1930 conseguido o cargo de conservadora da Pinacoteca do Estado de São Paulo, cargo que perdeu com a ascensão de Getúlio Vargas.
Tarsila entrou para o Partido Comunista
Brasileiro em 1931. Para conhecer a União Soviética, vendeu alguns quadros e
foi para lá com o psiquiatra Osório César, seu novo marido. Na URSS foram para
Moscou, Leningrado e Odessa. Eles também conheceram outras cidades em países
europeus, como Belgrado e Berlim.
Quando esteve em Paris nos anos 30
Tarsila solidarizou-se com a classe operária francesa. Trabalhou como
pintora de paredes e portas e como operária da construção. Foi dessa forma que
conseguiu dinheiro para voltar ao Brasil. Ela estava com sérias dificuldades
financeiras por causa da crise econômica que atingia muitos países e que afetou
também as famílias de cafeicultores brasileiras, como a dela. Pouco depois de
chegar ao Brasil, devido à sua participação no PCB e sua viagem à URSS, é
presa, acusada de ser subversiva. Em 1933 pinta o quadro “Operários” e
começa uma fase mais social em sua pintura. Outro quadro nessa temática foi o
quadro “Segunda Classe”. Ainda nos anos 30, o escritor Luis Martins, que era 20
anos mais novo que ela, passa a ser companheiro de pinturas e eles se envolvem
sentimentalmente, o que leva Tarsila a se separar de seu marido Osório e
casar-se como Luís, com quem foi casada até o início da década de 50.
Nos anos 40, voltando a estilos de
pintura de fases anteriores, Tarsila expõe nas Primeira e Segunda Bienais de
São Paulo. Em 1960 há uma exposição retrospectiva de suas obras no Museu de
Arte Moderna de São Paulo. Em 1963 há exposição de obras suas em sala especial
na Bienal de São Paulo. Em 1964 ela se apresenta na 32ª Bienal de Veneza.
Tarsila em 1965 teve de fazer uma
cirurgia na coluna, mas devido a um erro médico ela não pôde mais andar, tendo
que passar a usar cadeira de rodas. Sua filha Dulce faleceu em 1966, o que a
abalou muito. Esse acontecimento influencia na aproximação de Tarsila do
espiritismo. Começa a vender quadros de sua autoria e a doar o dinheiro para
uma instituição espírita, tendo se tornado amiga de Chico Xavier. Ela faleceu
em 17 de janeiro de 1973 e foi sepultada no Cemitério da Consolação, em São
Paulo, aos 86 anos de idade.
A atriz Eliane Giardini a interpretou
nas minisséries da Tv Globo Um Só Coração (2004) e JK (2006).
E antes foi interpretada por Esther Góes no filme Eternamente Pagu,
de 1987. Em 2003 foi encenada a peça teatral Tarsila, que foi
escrita por Maria Adelaide Amaral entre 2001 e 2002. A peça foi publicada como
livro em 2004. A União Astronômica Internacional em 20 de novembro de 2008em
homenagem à Tarsila atribuiu o nome “Amaral” a uma cratera do planeta Mercúrio.
E nesse ano também foi lançada uma catalogação completa das obras de Tarsila
patrocinada pela Petrobrás, em três volumes, pela Base 7 Projetos Culturais,
contando com as parcerias da Pinacoteca do Estado de São Paulo, Secretaria
de Estado da Cultura e Governo do Estado de São Paulo.
Sobre a obra de Tarsila Abaporu,
ela disse em entrevista à revista Veja, em fevereiro de 1972:
“(...) Eu quis fazer um quadro que assustasse o Oswald, sabe? que fosse uma
coisa mesmo fora do comum. Aí é que vamos chegar no Abaporu. Eu
mesma não sabia por que que eu queria fazer aquilo… depois é que eu descobri.
O Abaporuera aquela figura monstruosa que o senhor conhece, não é?
a cabecinha, o bracinho fino apoiado no cotovelo, aquelas pernas compridas,
enormes, e junto tinha um cacto que dava a impressão de um sol como se fosse
também uma flor e ao mesmo tempo um sol e então quando viu o quadro o Oswald
ficou assustadíssimo e perguntou: Mas o que é isso? Que coisa extraordinária!
Aí imediatamente telefonou para o Raul Bopp, que estava aqui, e disse: Venha
imediatamente aqui que é pra você ver uma coisa! Aí o Bopp foi lá no meu
atelier, ali na rua Barão de Piracicaba, um solar muito bonito que meu pai
tinha comprado recentemente, o Bopp assustou-se também e o Oswald disse: Isso é
como uma coisa como se fosse um selvagem, uma coisa do mato, e o Bopp foi da
mesma opinião. Aí eu quis dar um nome selvagem também ao quadro, porque eu
tinha um dicionário de Montoia, um padre jesuíta que dava tudo. Para dizer
homem, por exemplo, na língua dos índios era Abá. Eu queria dizer homem
antropófago, folheei o dicionário todo e não encontrei, só nas últimas páginas
tinha uma porção de nomes e vi Puru e quando eu li dizia homem que come carne
humana, então achei, ah, como vai ficar bem,Abaporu. E ficou com esse
nome.” Ainda sobre essa obra ela falou quando perguntada na
entrevista se o Abaporu parecia coisa de pesadelo: Engraçado o
senhor falar nisto, eu gosto de inventar formas assim de coisas que eu nunca vi
na vida, mas não sabia por que que eu tinha feito o Abaporu daquela
forma. Eu me perguntava: Mas como é que eu fiz isto? Depois uma amiga que era
casada com o prefeito me dizia: Sempre que eu vejo Abaporu; me
lembro de uns pesadelos que eu tenho, e eu então liguei uma coisa a outra,
disse que devia ser uma lembrança psíquica ou qualquer coisa assim e me lembrei
de quando nós éramos crianças na fazenda. Naquele tempo tinha muita facilidade
de empregadas, aquelas pretas que trabalhavam para nós na fazenda, depois do
jantar elas reuniam a criançada para contar histórias de assombração, iam
contando da assombração que estava no forro da casa, eu tinha muito medo, a
gente ficava ouvindo, elas diziam: daqui a pouco da abertura vai cair um braço,
vai cair uma perna e nunca esperávamos cair a cabeça, abríamos a porta correndo
e nem queríamos saber de ver cair a assombração inteira. Quem sabe o Abaporu é
um reflexo disso?”
Depoimentos de Tarsila:
"Encontrei em Minas as cores que
adorava em criança. Ensinaram-me depois que eram feias e caipiras. Segui o
ramerrão do gosto apurado... Mas depois vinguei-me da opressão passando-as para
minhas telas: azul puríssimo, rosa violáceo, amarelo vivo, verde cantante, tudo
em gradações mais ou menos fortes conforme a mistura de branco. Pintura limpa,
sobretudo, sem medo de cânones convencionais. Liberdade e sinceridade, uma certa
estilização que a datava a época moderna. Contornos nítidos, dando a impressão
perfeita da distância que separa um objeto de outro"..
“Depois de um certo tempo a gente
começa então a desejar evadir-se dessa eternidade artística, que só se dirige
ao intelecto e a reagir com a volta ao sentimental, ao humano, já que no
complexo humano os sentidos também têm seus direitos".
A arte-educadora e artista visual Laura Aidar escreveu sobre Tarsila:
“Tarsila do Amaral foi uma
importante artista plástica brasileira do movimento
modernista.
Junto à Anita Malfatti, ela ficou
conhecida como uma das mais importantes pintoras da primeira fase do
modernismo.
E, ao lado dos escritores Oswald de
Andrade e Raul Bopp, Tarsila inaugurou o movimento denominado “Antropofagia”.
Tarsila do Amaral nasceu em Capivari,
interior de São Paulo, no dia 1 de setembro de 1886.
Filha de família abastada, passou a
infância e adolescência com seus pais e sete irmãos na sua cidade natal.
Sua família havia herdado fazendas de
seu avô, José Estanislau do Amaral, conhecido como “o milionário”. (...)”
Segundo a autora Dilva Frazão:
“(...) Em 1923, Tarsila volta à Europa
e mantem contato com os modernistas que lá se encontravam, são intelectuais,
pintores, músicos e poetas, entre eles Oswald de Andrade.
Estudou com Albert Gleizes e Fernand
Léger, grandes mestres cubistas. Manteve estreita amizade com BlaiseCendrars,
poeta franco-suíço que visitou o Brasil em 1924.
Em 1925, estando em Paris, Oswald de
Andrade lançou o volume de poesias “Pau-Brasil”, com ilustrações de Tarsila.
Em 1926, Tarsila casou-se com Oswald de
Andrade e no mesmo ano a artista realizou sua primeira exposição individual na
Galeria Percier, em Paris.
Embora não tenha participado
diretamente da “Semana de 22”, Tarsila se integrou com os intelectuais
modernistas.
Fez parte do "Grupo dos
Cinco", juntamente com Anita Malfatti, Oswald de Andrade, Mário de Andrade
e Menotti del Picchia.
Em 1929 expõe individualmente pela
primeira vez no Brasil, no Palace Hotel em São Paulo.
Em 1930, Oswald de Andrade deixa
Tarsila e passa a viver com Pagu. Deprimida, durante um ano produziu uma única
tela intitulada “Composição (Figura Só)”.
Tarsila do Amaral foi uma das artistas
plásticas mais importantes da primeira fase do Modernismo, concretizando em sua
obra todas as aspirações de vanguarda formuladas pelo grupo.
Sua obra atravessou três fases
denominadas: “Pau-Brasil”, “Antropofágica” e “Social”.
A primeira fase, “Pau-Brasil”, teve início
em 1924, quando Oswald de Andrade divulgou o “Manifesto Pau Brasil” defendendo
o nacionalismo.
A artista rompeu completamente com o
conservadorismo e sua obra encheu-se de formas e cores assimiladas em sua
viagem de “redescoberta do Brasil”, realizada em Minas Gerais, com seus amigos
modernistas.
Tarsila explorou os temas tropicais e
exalta a flora e a fauna, as ferrovias e as máquinas, símbolos da modernidade
urbana. São exemplos dessa época as telas: A Feira (1924); A Estação
Central do Brasil (1924); O Pescador (1925).
A segunda fase da obra de Tarsila do
Amaral, denominada “Antropofágica”, teve origem no mais radical de todos os
movimentos do período modernista: “Movimento Antropofágico” que foi inspirado
no quadro “Abaporu” (1928) (antropófago, em tupi), que Tarsila oferecera a
Oswald como presente de aniversário.
Partidários de um primitivismo crítico,
os antropófagos propunham que a cultura estrangeira fosse devorada,
aproveitando dela suas inovações artísticas, porém sem perder nossa própria
identidade cultural. Exemplos dessa fase:Abaporu (1928)Urutu
(1928);Antropofagia (1929).
A terceira e última fase da obra de
Tarsila do Amaral, denominada “Social”, teve início em 1933, com a obra,
“Operários”, onde sua criação está voltada para os temas sociais da época e a
situação dos trabalhadores. São dessa fase as obras:Operários (1933);Segunda
Classe (1933); Crianças do Orfanato (1935).
Tarsila pintou dois painéis em sua
carreira: “Procissão do Santíssimo” (1954), para as comemorações do IV
Centenário da cidade de São Paulo e “Batizado de Macunaíma” (1956), para a
Editora Martins.
Entre 1934 e 1951, Tarsila
manteve um relacionamento com o escritor Luís Martins. De 1936 a 1952,
trabalhou como colunista nos Diários Associados onde ilustrava retratos de
grandes personalidades. Em 1951 participou da I Bienal de São Paulo. Em
1963 teve uma sala especial na VII Bienal de São Paulo e no ano seguinte
teve participação especial na XXXII Bienal de Veneza.
Tarsila do Amaral faleceu em São Paulo,
no dia 17 de janeiro de 1973.
Outras Obras de Tarsila do
Amaral: Pátio, Com Coração de Jesus, 1921;A Espanhola, 1922;Chapéu Azul,
1922;Margaridas de Mário de Andrade, 1922;Árvore, 1922;O Passaporte,
1922;Retrato de Oswald de Andrade, 1922;Retrato de Mário de Andrade,
1922;Estudo, 1923;Manteau Rouge, 1923;Rio de Janeiro, 1923;A Negra,
1923;Caipirinha, 1923;Figura Azul, 1923;Auto Retrato, 1924;Morro da Favela,
1924;A Família, 1925;Palmeiras, 1925;Religião Brasileira, 1927;A Boneca,
1928;Cartão Postal, 1928;Floresta, 1929;Retrato do Padre Bento, 1931;O
Casamento, 1940;Procissão, 1941;Terra, 1943;Primavera, 1946;Praia,
1947;Criança, 1949;Costureiras, 1950;Porto I, 1953;Procissão, 1954;A Metrópole,
1958;Porto II, 1966;Religião Brasileira IV, 1970.”
Opiniões sobre Tarsila de Amaral:
"As fases pau-brasil e antropofágica de Tarsila são, sem sombra de dúvida, os pontos culminantes de sua carreira como pintora e as responsáveis pela sua inscrição na história da arte no Brasil. Elas sintetizam, plasticamente, o seu relacionamento genuíno com a terra, e sua picturalidade, como bem afirmou Haroldo de Campos, atualizada pelo contato com o cubismo, permitiu-lhe 'extrair essa lição não de coisas, mas de relações, que lhe permitiu fazer uma leitura estrutural da visualidade brasileira. Reduzindo tudo a poucos e simples elementos básicos, estabelecendo novas e imprevistas relações de vizinhança na sintagmática do quadro, Tarsila codificava em chave cubista a nossa paisagem ambiental e humana, ao mesmo tempo que redescobria o Brasil nessa releitura que fazia, em modo seletivo e crítico (sem por isso deixar de ser amoroso e lírico), das estruturas essenciais de uma visualidade que a rodeava desde a infância fazendeira' (...)". Aracy Amaral
"A relação de Tarsila com a obra
de Léger demonstra bem a inteligência com a qual analisa a arte francesa. O que
ela irá absorver de determinante no sistema de Léger é a utilização do modelo
da máquina. Mas a metáfora segundo a qual Léger irá desenvolver seu trabalho
tem por objeto a sociedade industrial. Tarsila fará da 'brasilidade' o seu
traço distintivo dessa formulação, adotando a 'linguagem de máquina' (assim
como Oswald de Andrade se utiliza da linguagem telegráfica) como um desejo de
atualização, no sentido de situar a percepção do Brasil a partir da ótica
aberta pela industrialização. A máquina no seu trabalho não será apenas uma
referência ao presente, será igualmente a tentativa de apreender o universo
simbólico brasileiro, por um olhar compatível com seus aspectos mais
contemporâneos. Em termos formais, as distinções que esta sua postura produzirá
afastarão Tarsila de uma atitude servil diante do modelo de Léger. Neste
último, as cores, quase sempre primárias ou com tonalidades metálicas, procuram
o máximo de contrastes, como se apresentam na vida urbana. Seu desenho segue o
mesmo sentido da sua pintura, sendo a cor substituída por claros e escuros que
mantêm o contraste e sugerem volumes, como se fossem uma preparação para a
tela. Já o desenho de Tarsila opera mais como uma anotação que busca, através
da linha, revelar a estrutura definidora do objeto. Assim, o traço se
desenvolve numa linha que flui e vai num ritmo suave construindo o objeto, ao
mesmo tempo em que ocupa e organiza a superfície do papel".
Carlos Zílio
______________________________________________
Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
Figura 1:
https://www.google.com/search?q=imagens+de+tarsila+do+amaral&sxsrf=APq-WBseurCx8ZrObKiqqffof2Azh_0LzQ:1645479355827&tbm=isch&source
Figura 2:
https://www.google.com/search?q=imagem+de+obras+de+tarsila+do+amaral&sxsrf=APq-WBvj5cbEWaro3aMv4VIDc-ARHMPYfw:1645479676830&tbm
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