Neste artigo vou tratar sobre armas
nucleares táticas. As armas nucleares táticas ou armas nucleares de uso tático
em relação às estratégicas possuem pequeno poder explosivo, em geral uma força
de 0,5 a 5 kilotons para atingir alvos específicos. Por exemplo, tropas, grupos
de blindados, bases militares, navios ou mesmo porta-aviões. Estas armas
utilizam o poder de destruição e calor ou o pulso eletromagnético, que são as
principais formas de energia liberada pelo artefato explosivo. As armas táticas
podem ser minas terrestres, projéteis de artilharia, cargas de profundidade e
torpedos.
Um exemplo de arma nuclear tática
lançada por artilharia, em 1953, na operação Upshot-Knothole Grable foi o
canhão M65, arma que ficou conhecida como "canhão atômico". Uma importante
característica destas armas é que, mesmo com poder explosivo menor, elas tem
efeito radioativo, o que cria uma dificuldade para o uso. As armas táticas tem
como objetivo ataques com alcance menor e podem ser lançadas do ar, mar e
terra. Embora haja países que nomeiam armas de curto alcance como estratégicas,
ao invés de táticas, tais armas, na maior parte dos casos, são menores que armas
nucleares estratégicas se for considerada a carga útil e são criadas para
acertar alvos menores ou para se fazer ataques diretos em campo de batalha.
O objetivo de se usar armas nucleares
táticas seria atingir forças armadas inimigas. Para não ser necessário utilizar
uma arma tática mais destrutiva, que possa afetar também a fonte lançadora, o
ideal é que o alvo esteja mais perto da base que está lançando para que se use
uma bomba de potencial menor.
Entre as armas táticas há as ogivas de
cargas de profundidade nucleares, para serem usadas contra submarinos que
estejam a uma profundidade grande. Durante a Guerra das Malvinas o governo
argentino acusou a Inglaterra de usar cargas de profundidade nucleares. Mas o
governo inglês negou, afirmando que possuía tais cargas na guerra, porém não as
tendo utilizado. Tanto Estados Unidos como a União Soviética tinham mísseis
ar-ar com ogivas nucleares quando existia a Guerra Fria. O possível uso dessas
armas seria a destruição de aviões bombardeiros nucleares do adversário. Em 19
de Julho de 1957, na Operação Plumbbob, houve teste do míssil ar-ar
nuclear AIR-2-Genie. Esse míssil foi o primeiro do tipo ar-ar com carga nuclear
lançado de um avião F-89J sobre o deserto de Nevada, a uma altitude de cerca de
4,5 Km. Depois também os caça-bombardeiros F-101 B e F-106 A da Força Aérea dos
Estados Unidos passaram a carregar esse tipo de míssil, cujo objetivo era
causar danos ou mesmo destruir bombardeiros estratégicos voando muito alto.
Esse bombardeiros seriam atingidos por pulso eletromagnético (PEM) com o uso do
míssil. O PEM era mais eficaz que a onda de choque da explosão da bomba em
situação de ar rarefeito.
Hoje em dia não há necessidade de se
usar armas nucleares táticas para se produzir pulsos eletromagnéticos ou grande
quantidade de calor e pressão porque já existem armas convencionais que causam
o mesmo efeito, como as bombas de pulso eletromagnético ou bombas de energia
direta. Um exemplo é o JSOW, arma que produz uma descarga eletromagnética com
microondas direcionadas, podendo danificar equipamentos eletrônicos, de
computação ou comunicação em pequenas áreas.
Em termos de destruição, armas táticas
podem ser substituídas por bombas termobáricas, com poder de destruição de
1kiloton. Estados Unidos e Rússia afirmam ter armas termobáricas com poder
destrutivo entre 5 e 11 kilotons. Os Estados Unidos já usaram esta arma no
Afeganistão e no Iraque. A Rússia utilizou na Chechênia.
O surgimento das armas nucleares está
ligado aos grandes investimentos de Estados Unidos e União Soviética nos anos de
1940, quando começou a Guerra Fria e até os anos 80 o poder de destruição da
bomba que destruiu Hiroshima já tinha sido superado em milhares de vezes. Essa
situação gerou o potencial de destruição mútua garantida (MAD), o que provocou
o temor de uma guerra nuclear com uso de armas de alta destruição. Assim, nesse
contexto, a OTAN, diante da enorme quantidade de tropas da União Soviética no
Pacto de Varsóvia, começou a implantar armas nucleares de curto alcance para
impedir um ataque grande de forças terrestres soviéticas.
No início da Guerra Fria houve a
implantação da "Atomic Annie”, uma das primeiras armas nucleares táticas
colocadas na Europa, que se caracterizava por ser uma grande peça de artilharia
que em 1950 tinha a capacidade de disparar a uma distância de 29 km uma ogiva
nuclear de 15 quilotons (o mesmo poder de destruição da bomba de Hiroshima).
Uma arma nuclear tática da época foi a Davy Crockett, com alcance de quatro
quilômetros. Depois essas armas saíram de circulação e os Estados Unidos
colocaram ogivas nucleares em foguetes de curto alcance. Mesmo um artefato de 0,3
quilotons causaria danos terríveis, mesmo em escala menor.
Nos Estados Unidos e na Rússia as armas
nucleares táticas formam aproximadamente de 30 a 40% dos arsenais nucleares
desses países e em outros países o percentual é maior. As armas
nucleares táticas não são direcionadas para uma destruição nuclear ou
radioativa em massa. Já foram feitos acordos entre a Rússia e os Estados Unidos
para limitar o poder e tamanho de armas nucleares táticas, ainda que este tipo
de armas não tenha uma regulação como foi feita com as estratégicas. Segundo
Nikolai Sokov, no The James Martin Center:
“Seu tamanho pequeno, vulnerabilidade
ao roubo e percepção de usabilidade tornam a existência de ANTs em arsenais
nacionais um risco para a segurança global. E a nova percepção da usabilidade
de armas nucleares na Rússia e nos Estados Unidos, embora por razões
diferentes, pode criar um precedente perigoso para outros países”
Atualmente, em relação à guerra na
Ucrânia, o governo dos Estados Unidos mandou formar uma equipe especial para
informar à OTAN sobre como agir em caso de haver por parte da Rússia o uso de
qualquer arma nuclear tática para ataque às forças ucranianas. Tem havido uma
desconfiança por parte de líderes ocidentais de que Putin pode ordenar o uso de
armas nucleares táticas, pois o presidente russo disse ter mandado seus
generais: “colocar as forças de dissuasão do exército russo em alerta especial
de combate”. William Burns da CIA comentou que: “É possível que o presidente
Putin e os líderes russos entrem em desespero levando em conta os contratempos
que sofreram até agora do ponto de vista militar”. Mas ele também
reconheceu “não ter encontrado fatos concretos (...) ".
Devemos torcer para que em nenhum
conflito sejam utilizadas armas nucleares táticas, pois embora sejam menos
destruidoras que as armas nucleares estratégicas, são armas atômicas que além
do potencial de destruição, também estão ligadas à radioatividade que é
espalhada, embora em um sentido muito mais limitado que as armas nucleares
estratégicas e o uso pode acender o perigo de uso de mais armas nucleares em
uma escala que pode ser muito perigosa.
Márcio José Matos Rodrigues-Professor
de História
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