quarta-feira, 1 de junho de 2022

Armas nucleares táticas

 




Neste artigo vou tratar sobre armas nucleares táticas. As armas nucleares táticas ou armas nucleares de uso tático em relação às estratégicas possuem pequeno poder explosivo, em geral uma força de 0,5 a 5 kilotons para atingir alvos específicos. Por exemplo, tropas, grupos de blindados, bases militares, navios ou mesmo porta-aviões. Estas armas utilizam o poder de destruição e calor ou o pulso eletromagnético, que são as principais formas de energia liberada pelo artefato explosivo. As armas táticas podem ser minas terrestres, projéteis de artilharia, cargas de profundidade e torpedos.

Um exemplo de arma nuclear tática lançada por artilharia, em 1953, na operação Upshot-Knothole Grable foi o canhão M65, arma que ficou conhecida como "canhão atômico". Uma importante característica destas armas é que, mesmo com poder explosivo menor, elas tem efeito radioativo, o que cria uma dificuldade para o uso. As armas táticas tem como objetivo ataques com alcance menor e podem ser lançadas do ar, mar e terra. Embora haja países que nomeiam armas de curto alcance como estratégicas, ao invés de táticas, tais armas, na maior parte dos casos, são menores que armas nucleares estratégicas se for considerada a carga útil e são criadas para acertar alvos menores ou para se fazer ataques diretos em campo de batalha.

O objetivo de se usar armas nucleares táticas seria atingir forças armadas inimigas. Para não ser necessário utilizar uma arma tática mais destrutiva, que possa afetar também a fonte lançadora, o ideal é que o alvo esteja mais perto da base que está lançando para que se use uma bomba de potencial menor.

Entre as armas táticas há as ogivas de cargas de profundidade nucleares, para serem usadas contra submarinos que estejam a uma profundidade grande. Durante a Guerra das Malvinas o governo argentino acusou a Inglaterra de usar cargas de profundidade nucleares. Mas o governo inglês negou, afirmando que possuía tais cargas na guerra, porém não as tendo utilizado. Tanto Estados Unidos como a União Soviética tinham mísseis ar-ar com ogivas nucleares quando existia a Guerra Fria. O possível uso dessas armas seria a destruição de aviões bombardeiros nucleares do adversário. Em 19 de Julho de 1957, na Operação Plumbbob, houve teste do míssil ar-ar nuclear AIR-2-Genie. Esse míssil foi o primeiro do tipo ar-ar com carga nuclear lançado de um avião F-89J sobre o deserto de Nevada, a uma altitude de cerca de 4,5 Km. Depois também os caça-bombardeiros F-101 B e F-106 A da Força Aérea dos Estados Unidos passaram a carregar esse tipo de míssil, cujo objetivo era causar danos ou mesmo destruir bombardeiros estratégicos voando muito alto. Esse bombardeiros seriam atingidos por pulso eletromagnético (PEM) com o uso do míssil. O PEM era mais eficaz que a onda de choque da explosão da bomba em situação de ar rarefeito.

Hoje em dia não há necessidade de se usar armas nucleares táticas para se produzir pulsos eletromagnéticos ou grande quantidade de calor e pressão porque já existem armas convencionais que causam o mesmo efeito, como as bombas de pulso eletromagnético ou bombas de energia direta. Um exemplo é o JSOW, arma que produz uma descarga eletromagnética com microondas direcionadas, podendo danificar equipamentos eletrônicos, de computação ou comunicação em pequenas áreas.

Em termos de destruição, armas táticas podem ser substituídas por bombas termobáricas, com poder de destruição de 1kiloton. Estados Unidos e Rússia afirmam ter armas termobáricas com poder destrutivo entre 5 e 11 kilotons. Os Estados Unidos já usaram esta arma no Afeganistão e no Iraque. A Rússia utilizou na Chechênia.

O surgimento das armas nucleares está ligado aos grandes investimentos de Estados Unidos e União Soviética nos anos de 1940, quando começou a Guerra Fria e até os anos 80 o poder de destruição da bomba que destruiu Hiroshima já tinha sido superado em milhares de vezes. Essa situação gerou o potencial de destruição mútua garantida (MAD), o que provocou o temor de uma guerra nuclear com uso de armas de alta destruição. Assim, nesse contexto, a OTAN, diante da enorme quantidade de tropas da União Soviética no Pacto de Varsóvia, começou a implantar armas nucleares de curto alcance para impedir um ataque grande de forças terrestres soviéticas.

No início da Guerra Fria houve a implantação da "Atomic Annie”, uma das primeiras armas nucleares táticas colocadas na Europa, que se caracterizava por ser uma grande peça de artilharia que em 1950 tinha a capacidade de disparar a uma distância de 29 km uma ogiva nuclear de 15 quilotons (o mesmo poder de destruição da bomba de Hiroshima). Uma arma nuclear tática da época foi a Davy Crockett, com alcance de quatro quilômetros. Depois essas armas saíram de circulação e os Estados Unidos colocaram ogivas nucleares em foguetes de curto alcance. Mesmo um artefato de 0,3 quilotons causaria danos terríveis, mesmo em escala menor.

Nos Estados Unidos e na Rússia as armas nucleares táticas formam aproximadamente de 30 a 40% dos arsenais nucleares desses países e em outros países o percentual é maior.  As armas nucleares táticas não são direcionadas para uma destruição nuclear ou radioativa em massa. Já foram feitos acordos entre a Rússia e os Estados Unidos para limitar o poder e tamanho de armas nucleares táticas, ainda que este tipo de armas não tenha uma regulação como foi feita com as estratégicas. Segundo Nikolai Sokov, no The James Martin Center:

“Seu tamanho pequeno, vulnerabilidade ao roubo e percepção de usabilidade tornam a existência de ANTs em arsenais nacionais um risco para a segurança global. E a nova percepção da usabilidade de armas nucleares na Rússia e nos Estados Unidos, embora por razões diferentes, pode criar um precedente perigoso para outros países”

Atualmente, em relação à guerra na Ucrânia, o governo dos Estados Unidos mandou formar uma equipe especial para informar à OTAN sobre como agir em caso de haver por parte da Rússia o uso de qualquer arma nuclear tática para ataque às forças ucranianas. Tem havido uma desconfiança por parte de líderes ocidentais de que Putin pode ordenar o uso de armas nucleares táticas, pois o presidente russo disse ter mandado seus generais: “colocar as forças de dissuasão do exército russo em alerta especial de combate”. William Burns da CIA comentou que: “É possível que o presidente Putin e os líderes russos entrem em desespero levando em conta os contratempos que sofreram até agora do ponto de vista militar”.  Mas ele também reconheceu “não ter encontrado fatos concretos (...) ". 

Devemos torcer para que em nenhum conflito sejam utilizadas armas nucleares táticas, pois embora sejam menos destruidoras que as armas nucleares estratégicas, são armas atômicas que além do potencial de destruição, também estão ligadas à radioatividade que é espalhada, embora em um sentido muito mais limitado que as armas nucleares estratégicas e o uso pode acender o perigo de uso de mais armas nucleares em uma escala que pode ser muito perigosa.

Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

 


 

 Figura:

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