Tencionava que este
fosse meu último artigo de abril, mas eis que comecei em 30 de abril e
terminei no dia primeiro de maio. Assim é o meu primeiro artigo de maio. É
sobre o famoso escritor Miguel de Cervantes, um talentoso escritor, autor de
uma das obras mais lidas no mundo: Dom Quixote. Ele morreu há 405
anos, em um mês de abril de 1616. O nome todo dele era Miguel de Cervantes
Saavedra. Ele foi dramaturgo, romancista e poeta castelhano. A sua obra Dom
Quixote é um clássico da literatura ocidental, considerada por vários
especialistas como o primeiro romance moderno e um os melhores romances já
escritos. O conjunto de obras de Cervantes é dos mais importantes na literatura
mundial e de grande influência sobre a língua castelhana.
Cervantes nasceu em
1547, possivelmente em Alcalá de Henares. Seu pai era cirurgião. Não se tem
certeza sobre o dia de seu nascimento. Pode ter sido em 29 de setembro (data da
festa em homenagem a São Miguel Arcanjo). Mas sabe-se que foi batizado em 9 de
outubro de 1547.
Em 1569 houve um
atrito com um jovem chamado Antonio Sigura, que foi ferido por Cervantes e esse
foge então para a Itália. Na época Miguel já tinha publicado quatro poesias de
qualidade. Participa da batalha de Lepanto em 1571 e é ferido na mão e no
peito. Sua mão esquerda é inutilizada por causa do ferimento e passou a ser
chamado de o manco de Lepanto.
Quando fazia uma
viagem de Nápoles para Castela, em 1575, piratas argelinos, com ligação com o
Império Otomano, o capturam. Somente em 1580 seu resgate é pago e ele é
libertado. Depois disso, ficou dois anos em Lisboa entre 181 e 1583. Procurou
ser bem visto pelo rei espanhol Filipe no momento que Portugal estava há pouco
tempo unido à Espanha na União Ibérica. Ficou encantado por Lisboa e pelas
mulheres de lá, vindo a escrever “Para festas Milão, para amores
Lusitânia”. Elogiou os habitantes da capital portuguesa descrevendo-os como
agradáveis, corteses, liberais e apaixonados, ainda que discretos.
Ao voltar para a
Espanha, casou-se em 1584 com Catalina de Salazar. Morou então nesse tempo em
Esquivias, que fazia parte de La Mancha, local de nascimento de Catalina e o
escritor passa a se inclinar para o teatro. Em 1585 é publicado A Galatea, o
primeiro livro de ficção de Cervantes, em estilo de novela pastoral. Esse livro
ajuda a torná-lo conhecido em certos círculos da elite intelectual. Em 1587 foi
nomeado comissário real para recolher azeite e trigo para a Armada espanhola,
chamada de Armada Invencível.
Foi preso em 1597,
após a quebra de um banco e ele é obrigado a pagar uma dívida enorme. Cria
então Dom Quixote de La Mancha. Não se tem certeza se começou a
escrever o livro na prisão ou se teve apenas a idéia de começar a escrever
quando esteve preso. Em 1605 a primeira parte de Dom Quixote é
publicada. A segunda só vai surgir em 1615: O engenhoso cavaleiro dom
Quixote de La Mancha.
Cervantes no período
entre a primeira e segunda partes de Dom Quixote publica as
Novelas exemplares (doze narrações breves). Em 1615 outra obra foi
publicada: Oito comédias e oito entremezes novos nunca antes
representados. O drama atualmente mais popular do autor só foi publicado no
século XVIII: O cerco de Numancia.
Em 22 de abril de
1616, Cervantes faleceu, provavelmente de cirrose. Sua obra Os
trabalhos de Persiles e Sigismunda é publicada um ano após a morte do
escritor. Seu enterro foi no dia 23 de abril e nesse dia é comemorado o Dia
do Livro na Espanha.
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Segundo a professora Daniela Diana:
“(...) As dificuldades financeiras eram uma marca na vida de Miguel de
Cervantes. Seu pai, por ser surdo desde o nascimento, atuava de maneira
precária, o que forçou a família a mudar diversas vezes de endereço em busca de
melhores perspectivas profissionais.
Segundo pesquisadores, as privações econômicas da infância não limitaram
a formação intelectual de Miguel de Cervantes, considerado um leitor ávido
ainda criança.
Não há consenso sobre a educação do autor, que não teria sido formal,
mas estaria a cargo de um parente. Acredita-se, ainda, que Cervantes tenha
recebido educação de padres jesuítas.
As primeiras publicações de Miguel de Cervantes são lançadas em 1569,
quando o autor contribui com poesias para o memorial em homenagem a Elizabeth
de Valois, casada com o rei Felipe II (...)” . E ainda diz a autora:
"O romance Dom Quixote de La Mancha, publicado pela primeira
como O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha, é um clássico da literatura.
Trata-se de uma sátira às novelas de cavalaria. A obra relata a história
de um homem já idoso que se apaixona de tal maneira por histórias antigas e
bravos cavaleiros que busca reviver as aventuras dessas fantasias.
Perdido em seu próprio mundo, Dom
Quixote convence o camponês Sancho Pança a lhe servir como escudeiro.
Envolto no realismo fantasioso, luta contra um moinho de vento, que confunde com um gigante. A novela termina quando o personagem principal recobra os sentidos.
Obras
Romances: A
Galatea (1585); O Engenhoso Fidalgo Dom Quixote de La Mancha (1605); Novelas
Exemplares (1613);O Amante Liberal; A Ciganinha; Rinconete e Cortadillo; A
Espanhola Inglesa; O Juiz dos Divórcios; A Força do
Sangue; O Ciumento estremenho; A Criada Ilustre; As
Duas Donzelas; A Senhora Cornélia; O Licenciado Vidraça;O
Casamento Enganoso;O Engenhoso Cavalheiro Dom Quixote de La Mancha –
segunda parte (1615); Os Trabalhos de Persiles e Sigismunda (1617).
Teatro
Tragédia de Numancia (1585); A Conquista de Jerusalém; A
Cida em Argélia;O Galardo Espanhol;O Grande Sultão; A
Casa da Inveja e a Floresta de Ardenia; O Labirinto do Amor; A
Divertida; Pedro de Urdemalas; O Rufião Feliz; Diálogo
dos Cães.
Poesia
Índice de todos os Primeiros Versos de Poesia;Índice de
Primeiras linhas de Poemas Soltos;O túmulo do rei Filipe II em Sevilha; Na
entrada do Duke Medina em Cadiz.”
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Segundo a autora Dilva Frazão:
“(...) A obra “Dom Quixote” teve um sucesso tão grande que, em 1614,
surge uma falsa segunda parte de Dom Quixote assinada por Avellaneda. Em 1615
Cervantes publica a segunda parte de Dom Quixote. A obra foi difundida em toda
parte, até se tornar o mais lido romance em todo o mundo, por crianças e
adultos.
Ao escrever a obra, Cervantes pretendia ridicularizar os livros de
cavalaria que gozavam de imensa popularidade na época. A obra impressiona por
sua feição realista. A ação principal do romance gira em torno das três
incursões feitas pelo protagonista por terras da Mancha, de Aragão e de
Catalunha.”
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Frases e poemas de Miguel de Cervantes:
"Todo homem é feito à vontade dos céus, e às vezes pior que a
encomenda."
"Contento-me com pouco, mas desejo muito.”
“O pesar e o prazer andam tão emparelhados que tanto se desnorteia o
triste que desespera quanto o alegre que confia.”
“Quem perde seus bens perde muito; quem perde um amigo perde mais; mas quem
perde a coragem perde tudo.”
“A humildade é a base e o fundamento de todas as virtudes e sem ela não
há nenhuma que o seja.”
“A pena é a língua da alma.”
“O sonho é o alívio das misérias dos que as têm acordados.”
“Andar por terras distantes e conversar com diversas pessoas torna
os homens ponderados.”
“A ingratidão é filha da soberba.”
“As desgraças buscam o desgraçado mesmo que ele se esconda nos cantos
mais remotos da terra.”
“A inveja vê sempre tudo com lentes de aumento que transformam pequenas
coisas em grandiosas, anões em gigantes, indícios em certezas.”
“A formosura da alma campeia e denuncia-se na inteligência, na
honestidade, no reto procedimento, na liberalidade e na boa educação.”
“A perseverança é a mãe da boa sorte.”
“O poeta pode contar ou cantar as coisas, não como foram mas como deviam
ser; e o historiador há-de escrevê-las, não como deviam ser e sim como foram,
sem acrescentar ou tirar nada à verdade.”
“A história é émula do tempo, repositório dos fatos, testemunha do
passado, exemplo do presente, advertência do futuro.”
“Santa amizade, que habitar imitas
neste baixo, fingido, e térreo assento,
mas q tens por morada o firmamento
coas essências angélicas benditas.
De lá, por dó das térreas desditas
sonhos nos dás de alegre fingimento,
imitações do céu por um momento,
fugaz consolo ás regiões proscritas.
Volta, volta dos céus, pura amizade,
ou proíbe que a amável aparência
te usurpe a desleal perversidade.
Confundida coa nobre e infame essência,
breve reverte o mundo á prisca idade;
volve o caos, é morta a Providência.”
“DESOCUPADO LEITOR: Não preciso
de prestar aqui um juramento para que creias que com toda a minha vontade
quisera que este livro, como filho do entendimento, fosse o mais formoso, o
mais galhardo, e discreto que se pudesse imaginar: porém não esteve na minha
mão contravir à ordem da natureza, na qual cada coisa gera outra que lhe seja
semelhante; que podia portanto o meu engenho, estéril e mal cultivado, produzir
neste mundo, senão a história de um filho magro, seco e enrugado, caprichoso e
cheio de pensamentos vários, e nunca imaginados de outra alguma pessoa? Bem
como quem foi gerado em um cárcere onde toda a incomodidade tem seu assento, e
onde todo o triste ruído faz a sua habitação! O descanso, o lugar aprazível, a
amenidade dos campos, a serenidade dos céus, o murmurar das fontes, e a
tranqüilidade do espírito entram sempre em grande parte, quando as musas
estéreis se mostram fecundas, e oferecem ao mundo partos, que o enchem de
admiração e de contentamento.”
“Quem deixará,
do Verde Prado Umbroso
Quem deixará, do verde prado umbroso,
as frescas ervas e as lustrais nascentes?
Quem, de seguir com passos diligentes
a solta lebre, o javali cerdoso?
Quem, com o canto amigo e sonoroso,
não prenderá as aves inocentes?
Quem, nas horas da sesta, horas ardentes,
não buscará nas selvas o repouso,
por seguir os incêndios, os temores,
os zelos, iras, raivas, mortes, teias
do falso amor que tanto aflige o mundo?
Do campo são e hão sido meus amores,
rosas são e jasmins minhas cadeias,
livre nasci, e em livre ser me fundo”
“A Ciganinha
Quando Preciosa a pandeireta toca,
e fere o doce som os ares vãos,
pérolas são que espalha com suas mãos,
flores são que arremessa de sua boca.
A alma fica suspensa, a mente louca
aos atos sobrehumanos sem ação,
que por limpos, honestos e por sãos
sua fama lá no céu mais alto toca.
Pendentes do menor de seus cabelos
mil almas leva, e ajoelhado tem
Amor, que uma e outra flecha aos pés lhe deita:
cega e ilumina com seus raios belos,
seu trono Amor por eles se mantém,
e mais grandezas de seu ser suspeita”
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de
História.