Em 19 de abril de 1886 nascia o poeta,
professor de literatura, crítico literário e de arte e tradutor brasileiro
Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho, mais conhecido como Manuel Bandeira.
Fez parte da geração de 1922 do modernismo no Brasil. Seu poema “Os Sapos” foi
lido na Semana de Arte Moderna. Ele foi um poeta lírico, apesar de ter escrito
uma vez: "Estou farto do lirismo comedido / Do lirismo bem
comportado". Sua poesia está relacionada aos aspectos cotidiano e o
universal, por vezes usando de uma abordagem de “poema-piada”. Ainda que tenha
lidado com formas e inspirações consideradas pela tradição acadêmica como
vulgares, utilizou de formas vindas das tradições clássicas e medievais em
temas cotidianos. Alguns poemas como "Poética", do livro Libertinagem,
se transformaram em manifesto da poesia moderna. Mas a origem de sua poesia
está ligada ao parnasianismo.
O pai de Manuel Bandeira era
o engenheiro civil do Ministério da Viação Manuel Carneiro de Sousa
Bandeira e a mãe era Francelina Ribeiro de Sousa Bandeira. Teve como avô
paterno Antônio Herculano de Sousa Bandeira, advogado, professor da Faculdade
de Direito do Recife e deputado. Dois tios, irmãos de seu pai, também foram
figuras de destaque na área jurídica. O avô materno era Antônio José da Costa
Ribeiro, que foi advogado e deputado.
Com a transferência do pai para o Rio
de Janeiro levando sua família, Manuel passa a estudar no Colégio Dom Pedro II
(chamado de Ginásio Nacional pelos primeiros republicanos). Teve professores de
destaque como Silva Ramos, José Veríssimo e João Ribeiro. Concluiu o curso
de Humanidades em 1903 e vai para São Paulo em nova mudança de sua
família. Nessa cidade vai estudar arquitetura na Escola Politécnica de São
Paulo. Porém teve de interromper o curso por causa de ter adoecido com
tuberculose. Foi mandado para as cidades Campanha, Teresópolis e Petrópolis,
onde poderia ter um período de repouso para tratamento. Depois seu pai
financiou sua ida para a Suíça, lá ficando de junho de 1913 a outubro de 1914
no Sanatório de Clavadel. Nessa passagem por essa instituição teve como colega
de sanatório o poeta Paul Eluard. Ao iniciar a Primeira Guerra Mundial precisou
voltar ao Brasil. Quando chegou publica então seu primeiro livro: A
Cinza das Horas(1917), com os custos que ele mesmo pagou, tendo sido
publicados 200 exemplares. E em 1919 publicou outro livro: Carnaval.
Viajou em 1927 pelo Brasil, foi até
Belém, com escalas em Salvador, Recife, Paraíba, Natal, Fortaleza e São Luís do
Maranhão. De 1928 a 1929 ficou no Recife, trabalhando como fiscal de bancas
examinadoras de preparatórios.
O poeta foi nomeado inspetor geral de
ensino em 1935, no governo constitucional de Getúlio Vargas. E no ano seguinte
houve a publicação da coletânea de estudos sobre sua obra "Homenagem a
Manuel Bandeira", assinada por críticos renomados e assim ele teve um
grande reconhecimento como escritor. Em 1938 passa a lecionar literatura no
Colégio Dom Pedro II onde permaneceu como professor de 1938 a 1943. E em 1940
houve a eleição que o escolheu como novo membro da Academia Brasileira de
Letras. Em 1942, começou a lecionar Literaturas Hispano-Americanas, na
Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, tendo se aposentado como
professor dessa Faculdade em 1956. Passou a ser membro do Conselho Consultivo
do Departamento do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional a partir de 1938.
Revelou ser um humanista como crítico
de literatura e historiador literário. Obteve consagração devido ao estudo
sobre as Cartas chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, pelo esboço
biográfico Gonçalves Dias, como também organizou diversas antologias
de poetas brasileiros e publicou o estudo Apresentação da poesia
brasileira (1946).
Como tinha problema pulmonar por causa
da tuberculose, o poeta sabia que tinha uma fragilidade que colocava em risco
sua vida. Por esse motivo havia nele um sentimento melancólico e uma angústia,
o que influenciavam em sua maneira de escrever. Sua poesia tem a ver com uma
situação que mistura a sua história pessoal com o conflito estilístico que
existia entre os poetas daquele tempo.
Aos 82 anos, no Rio de Janeiro, em 13
de outubro de 1968, Manuel Bandeira faleceu devido a uma hemorragia gástrica.
Encontra-se sepultado no túmulo 15 do mausoléu da Academia Brasileira de
Letras, no Cemitério São João Batista.
Citação:
Segundo Daniela Diana, Licenciada
em Letras pela Universidade Estadual Paulista (Unesp) em 2008 e Bacharelada em
Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF):
“...Com uma obra recheada de lirismo
poético, Bandeira foi adepto do verso livre, da língua coloquial, da
irreverência e da liberdade criadora. Os principais temas explorados pelo
escritor são o cotidiano e a melancolia (...)”
E ainda diz Daniela:
“...Manuel Bandeira publicou uma vasta
obra até sua morte, desde contos, poesias, traduções e críticas literárias.
Junto ao movimento literário do
modernismo, colaborou com publicações em algumas revistas como a klaxone
a Antropofagia.
No segundo dia da Semana de Arte
Moderna, seu poema Os Sapos foi lido por Ronald Carvalho.
Em sua trajetória laboral, destaca sua
atuação como professor de Literatura Universal no Externato do Colégio Pedro
II, em 1938.
Foi também professor de Literatura
Hispano-Americana, de 1942 a 1956, da Faculdade Nacional de Filosofia, onde se
aposentou.
Faleceu no Rio de Janeiro, aos 82 anos,
em 13 de outubro de 1968, vítima de hemorragia gástrica.
Academia Brasileira
de Letras
Na Academia Brasileira de Letras (ABL),
Manuel Bandeira foi o terceiro ocupante da Cadeira 24, eleito em 29 de agosto
de 1940. Anteriormente, o lugar esteve ocupado pelo escritor Luís Guimarães Filho.
"A comoção com que neste
momento vos agradeço a honra de me ver admitido à Casa de Machado de Assis não
se inspira somente na simpatia daqueles amigos que a meu favor souberam
inclinar os vossos espíritos. Inspira-se também na esfera das sombras benignas,
a cujo calor de imortalidade amadurece a vocação literária." (trecho
do Discurso de Posse)
Obras
Manoel Bandeira possui uma das maiores
obras poéticas da moderna literatura brasileira, dentre poesias, prosas,
antologias e traduções:
Poesia:
A Cinza das Horas (1917);Carnaval
(1919);Libertinagem (1930);Estrela da Manhã (1936);Lira dos Cinquent'anos
(1940)
Prosa: Crônica da Província
do Brasil (1936);Guia de Ouro Preto, Rio de Janeiro (1938); Noções de História
das Literaturas (1940); Autoria das Cartas Chilenas (1940); Literatura
Hispano-Americana (1949);De Poetas e de Poesia - Rio de Janeiro (1954); A
Flauta de Papel - Rio de Janeiro (1957);Itinerário de Pasárgada (1957);
Andorinha, Andorinha (1966);
Antologia: Antologia dos Poetas
Brasileiros da Fase Romântica (1937); Antologia dos Poetas Brasileiros da Fase
Parnasiana (1938); Antologia dos Poetas Brasileiros Bissextos Contemporâneos
(1946);Antologia Poética (1961);Poesia do Brasil (1963);Os Reis Vagabundos e
mais 50 crônicas (1966).”
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Alguns poemas:
Porquinho-da-Índia
Quando eu tinha seis anos
Ganhei um porquinho-da-índia.
Que dor de coração me dava
Porque o bichinho só queria estar debaixo do fogão!
Levava ele prá sala
Pra os lugares mais bonitos mais limpinhos
Ele não gostava:
Queria era estar debaixo do fogão.
Não fazia caso nenhum das minhas ternurinhas…
— O meu porquinho-da-índia foi minha primeira namorada.
Pneumotórax
Febre, hemoptise, dispneia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.
Mandou chamar o médico:
— Diga trinta e três.
— Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
— Respire.
— O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito
infiltrado.
— Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
— Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Os sapos (trecho do poema)
Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra.
Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!".
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos.
O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio.
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.
Meu Quintana
Meu Quintana, os teus cantares
Não são, Quintana, cantares:
São, Quintana, quintanares.
Quinta-essência de cantares...
Insólitos, singulares...
Cantares? Não! Quintanares!
Quer livres, quer regulares,
Abrem sempre os teus cantares
Como flor de quintanares.
São cantigas sem esgares.
Onde as lágrimas são mares
De amor, os teus quintanares.
São feitos esses cantares
De um tudo-nada: ao falares,
Luzem estrelas luares.
São para dizer em bares
Como em mansões seculares
Quintana, os teus quintanares.
Sim, em bares, onde os pares
Se beijam sem que repares
Que são casais exemplares.
E quer no pudor dos lares.
Quer no horror dos lupanares.
Cheiram sempre os teus cantares
Ao ar dos melhores ares,
Pois são simples, invulgares.
Quintana, os teus quintanares.
Por isso peço não pares,
Quintana, nos teus cantares...
Perdão! digo quintanares.
Neologismo
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
Cantiga
Nas ondas da praia
Nas ondas do mar
Quero ser feliz
Quero me afogar.
Nas ondas da praia
Quem vem me beijar?
Quero a estrela-d'alva
Rainha do mar.
Quero ser feliz
Nas ondas do mar
Quero esquecer tudo
Quero descansar.
(Estrela da Manhã)
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura: https://www.google.com/search?q=imagem+de+manuel+bandeira&sxsrf=ALeKk02Km4IS-xGJbqAWQdN2BLLkj55IGA:1618625566108&tbm
Muito interessante gostei!!!
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