segunda-feira, 26 de abril de 2021

A cantora norte-americana Billie Holiday

 










Em 7 de abril de 1915 nascia a cantora e compositora afro-americana Eleanora Fagan Gough, mais tarde conhecida como Billie Holiday e também como Lady Day, na Filadélfia, Estados Unidos, considerada por especialistas como uma das melhores cantoras de jazz da História. Seus pais eram muito novos quando ela nasceu. Sua mãe era Saddy Fagan e seu pai Holiday Gough, guitarrista e banjoista. Ele seguiu com uma banda de jazz e abandonou Saddy e a filha que ainda era bebê.

Eleanora (Billie) teve uma infância difícil, sujeita a humilhações e abusos, sem irmãos ou amigos, ficando sob o cuidado de familiares porque sua mãe precisava trabalhar. Aos dez anos sofreu abuso por um vizinho, sendo depois internada numa instituição para meninas que tinham passado por abusos, mas lá foi vítima de mais tipos de violências, fugindo aos 12 anos, indo morar na rua, pedindo esmolas. Tinha vontade de reencontrar sua mãe e temia encontrar familiares que a trataram mal. Conseguiu um trabalho, lavando o chão em um prostíbulo. Após ficar lá por dois anos, aos 14 anos de idade, o proprietário do lugar a estuprou e ela fugiu de volta às ruas. Conseguiu rever sua mãe que se sentiu culpada pelo que lhe aconteceu. As duas foram morar em Nova York, onde passaram graves dificuldades financeiras. Eleonora, adolescente e desempregada, com sua mãe doente que havia se tornado prostituta, também recorreu à prostituição, na qual permaneceu até os 18 anos. Essa vida a levou à ter crises de depressão, o que a levou ao álcool e às drogas, assim como tentativas de suicídio.

Em 1930, já se chamando Billie, o nome que usava quando trabalhava à noite, tentou a vida como dançarina. Não foi bem sucedida, porém o pianista com pena dela lhe deu uma chance para cantar. Ela cantou e foi aplaudida pelo público presente no local. Passou então a cantar lá aos fins de semana. Mas na época não deixou a prostituição. Ficando grávida na adolescência, foi pressionada pela mãe a fazer um aborto em condições perigosas para sua vida.

Billie, sem ter tido uma formação musical, procurava se aperfeiçoar por meio de melodias que ouviu de Bessie Smith e Louis Armstrong. Depois de 3 anos cantando em bares do Harlem, o crítico de música John Hammond gostou da voz dela, os dois fizeram amizade e tiveram um breve namoro. Ele a levou a um estúdio onde ela gravou, com a big band de Benny Goodman, seu primeiro disco em 1933, que foi um grande sucesso. Ela  pôde comprar um apartamento e finalizou sua vida na prostituição e de cantora em pequenos bares. Daí em diante começou a cantar em casas noturnas de nível mais requintado, em Nova York. Pôde cantar então com as big bands de Artie Shaw e Count Basie. Foi uma das primeiras mulheres negras a cantar em uma banda formada por homens brancos naquela época de segregação racial. Ficou ainda mais famosa cantando com as orquestras de Duke Ellington, Teddy Wilson, Count Basie e Artie Shaw, como também ao lado de Louis Armstrong.

 

Billie tinha uma voz diferenciada, flexível e levemente rouca, demonstrando sensualidade e emoção. Diziam que ela nunca cantava uma música da mesma maneira duas vezes. Gravou cerca de 50 canções de Laster Young em quatro anos, com swing e cumplicidade. Ele lhe chamava de "Lady Day".

Nos anos de 1940, Billie Holiday tinha de conviver com uma depressão que a consumia desde a infância e envolveu-se cada vez mais com álcool, cigarros, cocaína, maconha e heroína. Seus relacionamentos amorosos fracassavam e incluíam traições e agressões. Ela tentou se suicidar algumas vezes. Pensou em abandonar a profissão de cantora por não querer mais ser famosa. A sua dor psicológica influenciava na sua voz grave e emotiva, que fazia sucesso em shows não só nos Estados Unidos como em outros países. O seu auge como cantora foi entre os anos de 1933 e 1944. Na segunda metade dos anos 40 ela já estava dominada pelas drogas e a sua voz começou a fica cada vez mais prejudicada. Em 1947 foi presa por estar com uma certa quantidade proibida de heroína, sendo acusada de tráfico de drogas, ficando presa por poucos dias, depois de ter pago a fiança. Escreveu em parceria com o jornalista William Dufty sua biografia com o título: Lady sings the blues.

Os homens com quem se casou tinham ligação com a música. Casou-se em 1941 com Jimmy Monroe (casamento que terminou em 1947). De 1951 a 1957 esteve casada com Joe Guy e de 1957 a 1959 com Louis McKay. Além da música, um outro fator em comum entre eles era de que usavam drogas. Em seus casamentos Billie passou por humilhações, traições e agressões, como também houve questões relacionadas a ciúmes e dinheiro. Por isso ela terminou esses relacionamentos. Ela quis ser mãe, porém os tratamentos que fez para engravidar não deram certo, o que lhe deixou frustrada, contribuindo para os momentos depressivos que ela passava. Também o que a angustiava eram as trapaças de sócios e empresários, assim como a perda de dinheiro, em parte relacionada ao seu vício com as drogas. Houve rumores de que ela teria tido envolvimentos com os atores de cinema Clark Gable e Orson Welles e que foi amiga íntima da atriz Tallulah Bankhead.

Em 8 de dezembro de 1957 Billie teve seu último grande momento como intérprete com a gravação do programa de TV The sound of jazz, da rede CBS, em Nova York. Quando ela começa a falar, sua voz parece muito fraca e pouco se dá para ouvir. Mas ao cantar Fine and mellow, um blues de sua autoria, sua voz  toma uma proporção grandiosa.

Em 1959 Billie soube que tinha cirrose hepática por uso excessivo de álcool. Apesar de ter tentado parar de beber, depois voltou ao vício de modo intenso. Em maio piorou seu estado de saúde, com agravamento da cirrose, estando ela muito deprimida. Em 31 de maio foi internada no Hospital Metropolitano de Nova York. Além da cirrose estava com insuficiência cardíaca e edema pulmonar. Uma enfermeira teria contado à polícia que Billie estava consumindo drogas ilícitas no hospital. Foi encontrada grande quantidade de drogas escondidas em uma peça de roupa dela e ela foi autuada por tráfico. Os policiais ficaram de guarda na porta do quarto onde ela se encontrava e iriam leva-la presa quando recebesse alta, porém isso não aconteceu porque morreu de edema pulmonar, cirrose hepática e insuficiência cardíaca em 17 de julho de 1959. Tinha quando faleceu 70 centavos na sua conta bancária e com ela havia 750 dólares escondidos em uma meia de seda que ela usava, pagos por um jornal por ter publicado um artigo a respeito dela.

 

Segundo o jornalista Gilbert Millstein (ao descrever a morte dela na contracapa do álbum O Essencial de Billie Holiday, relançado em 1961), que trabalhava no jornal The New York Times e que narrou os shows de Billie no Carnegie Hall em 1956:

 

"Billie Holiday morreu no Hospital Metropolitano, em Nova York, na sexta-feira, 17 de julho de 1959, na cama em que havia sido presa pouco mais de um mês antes, já mortalmente doente, por posse ilegal de narcóticos; no quarto de onde um policial havia se retirado - por ordem judicial - apenas algumas horas antes de sua morte, que, como sua vida, foi desordenada e lamentável. Havia sido belíssima, mas desgastou-se fisicamente a uma reduzida e grotesca caricatura de si mesma. Os vermes de todos os tipos de excesso - drogas eram apenas um - tinham-na devorado... A probabilidade existe de que - entre os últimos pensamentos desta mulher cínica, sentimental, profana, generosa e muito talentosa de 44 anos - estava a crença de que seria acusada na manhã seguinte. Ela teria sido, eventualmente, embora talvez não tão rapidamente. Em qualquer caso, ela retirou-se, finalmente, da jurisdição de qualquer tribunal terreno."

Músicas que ela compôs:

·         "Billie's Blues" 

·         "Don't Explain"

·         "Everything Happens For The Best" 

·         "Fine and Mellow" 

·         "God Bless the Child" 

·         "Lady Sings the Blues" 

·         "Long Gone Blues" 

·         "Now or Never"

·         "Our Love Is Different" 

·         "Stormy Blues" 

Filmes sobre Billie Holiday:

-O Ocaso de uma estrela (1972), com Diana Ross como Billie Holiday. Título original: Lady Sings The Blues.

Os Estados Unidos vs. Billie Holiday (2021), com Andra Day como Billie Holliday. Título original: The United States vs. Billie Holiday

 

Segundo a autora Dilva Frazão sobre Billie Holiday:

“Pouco a pouco, foi ganhando prestígio no mundo do Jazz. Cantou com várias bandas e gravou uma série de músicas com o saxofonista Lester Young.

Mudou a batida e a melodia das canções que interpretava. Ganhou fama se apresentando com as orquestras de Duke Elington, Teddy Wilson, Count Basie e Artie Shaw e também ao lado de Louis Armstrong, já com o nome artístico de Billie Holiday.

Em 1939, com sua interpretação de “Strange Fruit", uma canção de protesto contra o racismo nos Estados Unidos, viu sua carreira se consolidar. Strange Fruit e God Bless The Child  se tornaram as canções mais simbólicas de sua carreira.

Entre outras canções destacam-se: Trav’ lin Light, Gloomy Sunday, Lover Man, Summertime, Crazy Calls Me e Body and Soul.”

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“Não me parece cantoria. É mais um sentimento, como se eu fosse tocar um instrumento de sopro. Eu tento improvisar como Les Young, como Louis Armstrong ou qualquer outra pessoa que eu admiro. Eu odeio simplesmente cantar. Eu preciso transformar uma melodia a fim de reproduzi-la em sua própria maneira. Isso é tudo o que eu sei”. Billie Holiday

“Existem dois tipos de blues. O blues alegre e o blues triste. Jamais canto o blues do mesmo modo duas vezes. Nem repito o ritmo. Na primeira noite, é um pouco mais lento. Na noite seguinte, um pouco mais rápido. Depende de como me sinto.” Billie Holiday

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Algumas canções:

 


 Strange Fruit ( Um sucesso de Billie Holiday)

Southern trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.

Pastoral scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.

Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.

 

Fruta Estranha (tradução)

Árvores do sul produzem uma fruta estranha,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Corpos negros balançando na brisa do sul,
Frutas estranhas penduradas nos álamos.

Cena pastoril do valente sul,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresca,
Então o repentino cheiro de carne queimando.

Aqui está a fruta para os corvos arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as árvores derrubarem,
Aqui está a estranha e amarga colheita.

 

Composição: Lewis Allan. 

Escutar em: https://www.youtube.com/watch?v=Xe05m6aojro

 

 

 

*Strange Fruit é uma canção contra o linchamento de pessoas negras por supremacistas broncos. Uma canção que foi composta baseada no poema Bitter Fruit, de Abel Meeropol.

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Don't Explain

Hush now, don't explain
Just say you'll remain
I'm glad your back, don't explain

Quiet, don't explain
What is there to gain
Skip that lipstick
Don't explain

You know that I love you
And what love endures
All my thoughts of you
For I'm so completely yours

Cry to hear folks chatter
And I know you cheat
Right or wrong, don't matter
When you're with me, sweet

Hush now, don't explain
You're my joy and pain
My life's yours love
Don't explain

 

Não Se Explique (tradução)

Fique quieto agora, não se explique
Apena diga que você ficará
Fico feliz que está de volta, não se explique

Quieto, não se explique
O que há para ganhar
Limpe esse batom
Não se explique

Você sabe que eu te amo
E o que amor suporta
Todos os meus pensamentos sobre você
Porque sou completamente sua

Choro de ouvir sobre suas confissões
E eu sei que você me trai
Certo ou errado, não importa
Quando você está comigo, querido

Fique quieto agora, não se explique
Você é minha alegria e minha dor
Minha vida é o seu amor
Não se explique

 

Composição: Arthur Herzog, Jr. / Billie Holiday. 

 

Para escutar: https://www.ouvirmusica.com.br/billie-holiday/175890

Lady Sings The Blues

Lady sings the blues
She's got them bad
She feels so sad
Wants the world to know
Just what the blues is all about

Lady sings the blues
She tells her side
nothing to hide
Now the world will now
Just what the blues is all about
The blues ain't nothing but a pain in your heart
when you get a bad start
When you and your man have to part
I ain't gonna just sit around and cry
And now I won't die
Because I love him

Lady sings the blues
she's got 'em bad
She feels so sad
The world will know
She's never gonna sing them no more

No more

 

A Dama Canta o Blues (tradução)

A Dama Canta o Blues
Ela está mal
Ela se sente tão triste
Querendo que o mundo saiba
Apenas tudo o que é o blues

A Dama Canta o Blues
Ela diz a seu lado
que não há nada a esconder
Agora o mundo saberá
Apenas tudo o que é o blues
O blues não é nada além de uma dor em seu coração
quando você começa um mau começo
Quando você e seu homem têm que se separar
Eu não vou apenas sentar e chorar
E agora eu não vou morrer
Porque eu o amo

A Dama Canta o Blues
Ela está mal
Ela se sente tão triste
O mundo saberá
Ela nunca vai cantá-lo de novo

Não mais

 

Para escutar: https://www.letras.mus.br/billie-holiday/177292/traducao.html

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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História

Figura:https://www.google.com/search?q=images+billie+holiday&sxsrf=ALeKk01TH6HCsoAmSSD9KmqKbwDb-bBuTA:1619490955527&tbm=isch&source=iu&ictx=                    

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