Em 7 de abril de 1915 nascia a cantora
e compositora afro-americana Eleanora Fagan Gough, mais tarde conhecida como
Billie Holiday e também como Lady Day, na Filadélfia, Estados Unidos,
considerada por especialistas como uma das melhores cantoras de jazz da
História. Seus pais eram muito novos quando ela nasceu. Sua mãe era Saddy
Fagan e seu pai Holiday Gough,
guitarrista e banjoista. Ele seguiu com uma banda de jazz e abandonou Saddy e a
filha que ainda era bebê.
Eleanora (Billie) teve uma
infância difícil, sujeita a humilhações e abusos, sem irmãos ou amigos, ficando
sob o cuidado de familiares porque sua mãe precisava trabalhar. Aos dez anos
sofreu abuso por um vizinho, sendo depois internada numa instituição para
meninas que tinham passado por abusos, mas lá foi vítima de mais tipos de
violências, fugindo aos 12 anos, indo morar na rua, pedindo esmolas. Tinha
vontade de reencontrar sua mãe e temia encontrar familiares que a trataram mal.
Conseguiu um trabalho, lavando o chão em um prostíbulo. Após ficar lá por dois
anos, aos 14 anos de idade, o proprietário do lugar a estuprou e ela fugiu de
volta às ruas. Conseguiu rever sua mãe que se sentiu culpada pelo que lhe
aconteceu. As duas foram morar em Nova York, onde passaram graves dificuldades
financeiras. Eleonora, adolescente e desempregada, com sua mãe doente que havia
se tornado prostituta, também recorreu à prostituição, na qual permaneceu até
os 18 anos. Essa vida a levou à ter crises de depressão, o que a levou ao
álcool e às drogas, assim como tentativas de suicídio.
Em 1930, já se chamando Billie, o nome
que usava quando trabalhava à noite, tentou a vida como dançarina. Não foi bem
sucedida, porém o pianista com pena dela lhe deu uma chance para cantar. Ela
cantou e foi aplaudida pelo público presente no local. Passou então a cantar lá
aos fins de semana. Mas na época não deixou a prostituição. Ficando grávida na
adolescência, foi pressionada pela mãe a fazer um aborto em condições perigosas
para sua vida.
Billie, sem ter tido uma formação
musical, procurava se aperfeiçoar por meio de melodias que ouviu de Bessie
Smith e Louis Armstrong. Depois de 3 anos cantando em bares do Harlem, o
crítico de música John Hammond gostou da voz
dela, os dois fizeram amizade e tiveram um breve namoro. Ele a levou a um
estúdio onde ela gravou, com a big band de Benny Goodman, seu
primeiro disco em 1933, que foi um grande sucesso. Ela pôde comprar um
apartamento e finalizou sua vida na prostituição e de cantora em pequenos
bares. Daí em diante começou a cantar em casas noturnas de nível mais
requintado, em Nova York. Pôde cantar então com as big bands de
Artie Shaw e Count Basie. Foi uma das primeiras mulheres negras a cantar em uma
banda formada por homens brancos naquela época de segregação racial. Ficou
ainda mais famosa cantando com as orquestras de Duke Ellington, Teddy Wilson,
Count Basie e Artie Shaw, como também ao lado de Louis Armstrong.
Billie
tinha uma voz diferenciada, flexível e levemente rouca, demonstrando
sensualidade e emoção. Diziam que ela nunca cantava uma música da mesma
maneira duas vezes. Gravou cerca de 50
canções de Laster Young em quatro anos, com swing e cumplicidade. Ele lhe
chamava de "Lady Day".
Nos anos de
1940, Billie Holiday tinha de conviver com uma depressão que a consumia
desde a infância e envolveu-se cada vez mais com álcool, cigarros, cocaína,
maconha e heroína. Seus relacionamentos amorosos fracassavam e incluíam
traições e agressões. Ela tentou se suicidar algumas vezes. Pensou em abandonar
a profissão de cantora por não querer mais ser famosa. A sua dor psicológica
influenciava na sua voz grave e emotiva, que fazia sucesso em shows não só nos
Estados Unidos como em outros países. O seu auge como cantora foi entre os anos
de 1933 e 1944. Na segunda metade dos anos 40 ela já estava dominada pelas
drogas e a sua voz começou a fica cada vez mais prejudicada. Em 1947 foi presa
por estar com uma certa quantidade proibida de heroína, sendo acusada de
tráfico de drogas, ficando presa por poucos dias, depois de ter pago a fiança.
Escreveu em parceria com o jornalista William Dufty sua biografia com o
título: Lady sings the blues.
Os
homens com quem se casou tinham ligação com a música. Casou-se em 1941 com
Jimmy Monroe (casamento que terminou em 1947). De 1951 a 1957 esteve casada com
Joe Guy e de 1957 a 1959 com Louis McKay. Além da música, um outro fator em
comum entre eles era de que usavam drogas. Em seus casamentos Billie passou por
humilhações, traições e agressões, como também houve questões relacionadas a
ciúmes e dinheiro. Por isso ela terminou esses relacionamentos. Ela quis ser
mãe, porém os tratamentos que fez para engravidar não deram certo, o que lhe
deixou frustrada, contribuindo para os momentos depressivos que ela passava.
Também o que a angustiava eram as trapaças de sócios e empresários, assim como
a perda de dinheiro, em parte relacionada ao seu vício com as drogas. Houve
rumores de que ela teria tido envolvimentos com os atores de cinema Clark Gable e Orson
Welles e que foi amiga íntima da atriz Tallulah Bankhead.
Em 8 de dezembro de 1957 Billie teve
seu último grande momento como intérprete com a gravação do programa de
TV The sound of jazz, da rede CBS, em Nova York. Quando ela começa
a falar, sua voz parece muito fraca e pouco se dá para ouvir. Mas ao
cantar Fine and mellow, um blues de sua autoria, sua
voz toma uma proporção grandiosa.
Em 1959 Billie
soube que tinha cirrose hepática por uso excessivo de álcool. Apesar de ter
tentado parar de beber, depois voltou ao vício de modo intenso. Em maio piorou
seu estado de saúde, com agravamento da cirrose, estando ela muito deprimida.
Em 31 de maio foi internada no Hospital Metropolitano de Nova York. Além da
cirrose estava com insuficiência cardíaca e edema pulmonar. Uma enfermeira
teria contado à polícia que Billie estava consumindo drogas ilícitas no
hospital. Foi encontrada grande quantidade de drogas escondidas em uma peça de
roupa dela e ela foi autuada por tráfico. Os policiais ficaram de guarda na
porta do quarto onde ela se encontrava e iriam leva-la presa quando recebesse
alta, porém isso não aconteceu porque morreu de edema pulmonar, cirrose
hepática e insuficiência cardíaca em 17 de julho de 1959. Tinha quando faleceu
70 centavos na sua conta bancária e com ela havia 750 dólares escondidos em uma
meia de seda que ela usava, pagos por um jornal por ter publicado um artigo a
respeito dela.
Segundo o
jornalista Gilbert Millstein (ao descrever a morte dela na contracapa do
álbum O Essencial de Billie Holiday, relançado em 1961), que
trabalhava no jornal The New York Times e que narrou os shows de Billie no
Carnegie Hall em 1956:
"Billie
Holiday morreu no Hospital Metropolitano, em Nova York, na sexta-feira, 17 de
julho de 1959, na cama em que havia sido presa pouco mais de um mês antes, já
mortalmente doente, por posse ilegal de narcóticos; no quarto de onde um
policial havia se retirado - por ordem judicial - apenas algumas horas antes de
sua morte, que, como sua vida, foi desordenada e lamentável. Havia sido
belíssima, mas desgastou-se fisicamente a uma reduzida e grotesca caricatura de
si mesma. Os vermes de todos os tipos de excesso - drogas eram apenas um -
tinham-na devorado... A probabilidade existe de que - entre os últimos
pensamentos desta mulher cínica, sentimental, profana, generosa e muito
talentosa de 44 anos - estava a crença de que seria acusada na manhã seguinte.
Ela teria sido, eventualmente, embora talvez não tão rapidamente. Em qualquer
caso, ela retirou-se, finalmente, da jurisdição de qualquer tribunal
terreno."
Músicas
que ela compôs:
· "Billie's
Blues"
· "Don't
Explain"
· "Everything
Happens For The Best"
· "Fine
and Mellow"
· "God
Bless the Child"
· "Lady
Sings the Blues"
· "Long
Gone Blues"
· "Now
or Never"
· "Our
Love Is Different"
· "Stormy
Blues"
Filmes
sobre Billie Holiday:
-O
Ocaso de uma estrela (1972), com Diana Ross como Billie Holiday.
Título original: Lady Sings The Blues.
- Os
Estados Unidos vs. Billie Holiday (2021), com Andra Day como Billie
Holliday. Título original: The United States vs. Billie Holiday
Segundo a autora Dilva
Frazão sobre Billie Holiday:
“Pouco a pouco, foi
ganhando prestígio no mundo do Jazz. Cantou com várias bandas e gravou uma
série de músicas com o saxofonista Lester Young.
Mudou a batida e a
melodia das canções que interpretava. Ganhou fama se apresentando com as orquestras
de Duke Elington, Teddy Wilson, Count Basie e Artie Shaw e também ao lado de
Louis Armstrong, já com o nome artístico de Billie Holiday.
Em 1939, com sua
interpretação de “Strange Fruit", uma canção de protesto contra o racismo
nos Estados Unidos, viu sua carreira se consolidar. Strange
Fruit e God Bless The Child se tornaram as canções mais
simbólicas de sua carreira.
Entre outras canções
destacam-se: Trav’ lin Light, Gloomy Sunday, Lover Man, Summertime,
Crazy Calls Me e Body and Soul.”
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“Não me parece cantoria. É mais um
sentimento, como se eu fosse tocar um instrumento de sopro. Eu tento improvisar
como Les Young, como Louis Armstrong ou qualquer outra pessoa que eu admiro. Eu
odeio simplesmente cantar. Eu preciso transformar uma melodia a fim de
reproduzi-la em sua própria maneira. Isso é tudo o que eu sei”. Billie Holiday
“Existem dois tipos de blues. O blues alegre e o blues
triste. Jamais canto o blues do mesmo modo duas vezes. Nem repito o ritmo. Na
primeira noite, é um pouco mais lento. Na noite seguinte, um pouco mais rápido.
Depende de como me sinto.” Billie Holiday
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Algumas canções:
Strange Fruit ( Um sucesso de
Billie Holiday)
Southern
trees bear strange fruit,
Blood on the leaves and blood at the root,
Black bodies swinging in the southern breeze,
Strange fruit hanging from the poplar trees.
Pastoral
scene of the gallant south,
The bulging eyes and the twisted mouth,
Scent of magnolias, sweet and fresh,
Then the sudden smell of burning flesh.
Here is fruit for the crows to pluck,
For the rain to gather, for the wind to suck,
For the sun to rot, for the trees to drop,
Here is a strange and bitter crop.
Fruta Estranha (tradução)
Árvores do sul produzem uma fruta
estranha,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Corpos negros balançando na brisa do sul,
Frutas estranhas penduradas nos álamos.
Cena pastoril do valente sul,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresca,
Então o repentino cheiro de carne queimando.
Aqui está a fruta para os corvos
arrancarem,
Para a chuva recolher, para o vento sugar,
Para o sol apodrecer, para as árvores derrubarem,
Aqui está a estranha e amarga colheita.
Composição: Lewis Allan.
Escutar em: https://www.youtube.com/watch?v=Xe05m6aojro
*Strange Fruit é uma
canção contra o linchamento de pessoas negras por supremacistas broncos. Uma
canção que foi composta baseada no poema Bitter Fruit, de Abel
Meeropol.
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Don't Explain
Hush now,
don't explain
Just say you'll remain
I'm glad your back, don't explain
Quiet, don't
explain
What is there to gain
Skip that lipstick
Don't explain
You know
that I love you
And what love endures
All my thoughts of you
For I'm so completely yours
Cry to hear
folks chatter
And I know you cheat
Right or wrong, don't matter
When you're with me, sweet
Hush now, don't explain
You're my joy and pain
My life's yours love
Don't explain
Não Se Explique (tradução)
Fique quieto agora, não se explique
Apena diga que você ficará
Fico feliz que está de volta, não se explique
Quieto, não se explique
O que há para ganhar
Limpe esse batom
Não se explique
Você sabe que eu te amo
E o que amor suporta
Todos os meus pensamentos sobre você
Porque sou completamente sua
Choro de ouvir sobre suas confissões
E eu sei que você me trai
Certo ou errado, não importa
Quando você está comigo, querido
Fique quieto agora, não se explique
Você é minha alegria e minha dor
Minha vida é o seu amor
Não se explique
Composição:
Arthur Herzog, Jr. / Billie Holiday.
Para escutar: https://www.ouvirmusica.com.br/billie-holiday/175890
Lady
Sings The Blues
Lady sings the blues
She's got them bad
She feels so sad
Wants the world to know
Just what the blues is all about
Lady sings the blues
She tells her side
nothing to hide
Now the world will now
Just what the blues is all about
The blues ain't nothing but a pain in your heart
when you get a bad start
When you and your man have to part
I ain't gonna just sit around and cry
And now I won't die
Because I love him
Lady sings the blues
she's got 'em bad
She feels so sad
The world will know
She's never gonna sing them no more
No more
A
Dama Canta o Blues (tradução)
A Dama Canta o Blues
Ela está mal
Ela se sente tão triste
Querendo que o mundo saiba
Apenas tudo o que é o blues
A Dama Canta o Blues
Ela diz a seu lado
que não há nada a esconder
Agora o mundo saberá
Apenas tudo o que é o blues
O blues não é nada além de uma dor em seu coração
quando você começa um mau começo
Quando você e seu homem têm que se separar
Eu não vou apenas sentar e chorar
E agora eu não vou morrer
Porque eu o amo
A Dama Canta o Blues
Ela está mal
Ela se sente tão triste
O mundo saberá
Ela nunca vai cantá-lo de novo
Não mais
Para escutar: https://www.letras.mus.br/billie-holiday/177292/traducao.html
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Márcio José Matos Rodrigues-Professor de História
Figura:https://www.google.com/search?q=images+billie+holiday&sxsrf=ALeKk01TH6HCsoAmSSD9KmqKbwDb-bBuTA:1619490955527&tbm=isch&source=iu&ictx=
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