A data 7 de abril foi
escolhida como o Dia internacional para reflexão do genocídio de 1994
contra os Tutsi em Ruanda. É uma data para se refletir sobre o terrível
acontecimento que foi o massacre de cerca de 800 mil pessoas em aproximadamente
100 dias em Ruanda, um país africano. O período de tempo em que ocorreu o
genocídio foi de 7 de abril a 15 de julho de 1994. Na
época do massacre, mais de 80% da população de Ruanda era constituída por hutus. As vítimas eram, em sua grande maioria, da comunidade dos tutsi, chacinadas por
bandos armados hutus. Também houve pessoas da comunidade hutu, principalmente
oposicionistas ao governo hutu, que foram mortos. Houve membros dos twas, outro
grupo ruandês, que também foram incluídos na matança. Deve-se refletir sobre o
que aconteceu, considerando a dor dos sobreviventes e a dos que perderam
familiares. Também é preciso que se pense em meios para que fatos assim não
voltem a ocorrer.
Antecedentes históricos:
Após a derrota alemã na I Guerra
Mundial, o território onde hoje é Ruanda, que era uma colônia da Alemanha desde
o fim do século XIX, passa ao controle da Bélgica. Esse país passou a favorecer
os tutsi em detrimento dos hutu, acirrando conflitos entre os povos. Para
estudiosos da história de Ruanda, foi o governo colonial belga que criou certas
diferenças entre tutsi e hutu que antes não existiam. Os colonialistas belgas
queriam com isso estabelecer uma divisão entre a população para exercer um
domínio baseado em castas sociais.
Em 1959 houve um movimento hutu que
destituiu a monarquia tutsi em Ruanda. Em 1960 houve a decisão dos ruandenses
pela república em vez de monarquia. Em 1962, ocasião da independência em
relação à Bélgica, os hutus estavam então no poder. Problemas econômicos que
aconteceram em determinados períodos aumentavam as tensões. Houve um êxodo de
dezenas de milhares de tutsis para países vizinhos. Nessa época um grupo de
rebeldes tutsi no exílio formou uma força combatente, a Frente Patriótica
Ruandesa. Essa Frente invadiu Ruanda em 1990. Houve combates entre os grupos
militares dos hutu e dos tutsi até que um acordo foi estabelecido em 1993. Mas,
um fato veio perturbar essa paz. Em 6 de abril de 1994 foi derrubado o avião
que transportava os presidentes de Ruanda (Juvenal Habyarimana) e o da nação
vizinha Burundi (Cyprien Ntaryamira). Foi aí que começou a onda de assassinatos
comandada por milícias hutu, que culpavam a Frente Patriótica Ruandesa pela
derrubada do avião. Mas a Frente acusou os extremistas hutus de terem derrubado
o avião para terem o pretexto de começar um genocídio.
Os massacres (planejamento e execução)
Houve um planejamento para a realização
dos massacres. Há historiadores que afirmam que pelo menos um ano antes já
havia planos de se realizar o genocídio. O partido ligado ao governo, MRND, que
tinha entre seus componentes pessoas da elite política hutu, tinha uma facção
jovem chamada Interahamwe, que tornou-se uma milícia para realizar as
matanças. Listas com nomes de opositores e de seus familiares foram
elaboradas. As armas e listas de pessoas foram entregues a grupos locais.
Estações de rádio e jornais com ligação aos extremistas hutus instigavam o
ódio, dizendo que se devia “eliminar as baratas” (modo como eles estavam
chamando os tutsi) e nomes de pessoas a serem mortas eram lidas por meio de
rádio. Na orgia de sangue que começou, até mesmo maridos hutus mataram suas
mulheres tutsi e vizinhos hutu matavam seus vizinhos tutsi. A matança foi
facilitada pelo fator de que na época constava nas carteiras de identificação
se a pessoa era hutu ou tutsi. Houve participação de soldados,
policiais e membros de milícias hutus. Muitas mortes aconteceram por
golpes de facas ou facões. Fuzis também foram usados. Mulheres tutsi foram
levadas aos milhares para serem abusadas por hutus. Há um cálculo de que entre
250 mil e 500 mil mulheres tenham sido violentadas. Há atualmente acusações de
que alguns padres e freiras participaram da matança. Houve gangues constituídas
por hutus que iam atrás de civis tutsi escondidos em igrejas e escolas para
matá-los.
Apesar de existirem tropas da
Organização das Nações Unidas (ONU) e da Bélgica (ex- metrópole colonialista)
em Ruanda, não havia uma ordem superior para interferir nos massacres. Os
Estados Unidos tinham tido uma experiência ruim na Somália um ano antes e não
queriam se envolver. Quando dez soldados belgas foram assassinados, a força
belga se retirou junto com a maioria do contingente de soldados da ONU. O
governo da França que era aliado do governo hutu, enviou soldados com o
objetivo de criar uma zona que seria segura, porém não agiram com suficiente
vigor para evitar mortes. O governo atual de Ruanda já fez acusações à França,
dizendo que a mesma teve sua responsabilidade na ocorrência dos massacres
que aconteceram.
O fim da matança de tutsi
Com apoio do exército
de Uganda, a força da milícia tutsi Frente Patriótica Ruandesa conseguiu, após
combates, chegar na capital ruandesa, Kigali. Dois milhões de hutus fugiram
para o Zaire (atual República Democrática do Congo), entre eles havia pessoas
envolvidas no genocídio. Houve denúncias de grupos defensores dos direitos humanos
de que a Frente Patriótica ao tomar o poder matou milhares de hutus na
perseguição à Interahamwe, como uma forma de vingança. No
exílio milhares de refugiados morrerem de cólera. A República Democrática do
Congo sofreu efeitos dos conflitos entre hutus e tutsis no seu território,
sendo que em anos de conflitos, cerca de cinco milhões de pessoas morreram. O
governo de Ruanda que está no poder chegou a invadir por duas vezes a República
Democrática do Congo para combater milícias hutus. Grupos tutsi neste país
receberam armas do governo de Ruanda para combater grupos hutus.
Atualidade
O presidente atual de
Ruanda é Paul Kagame, um líder da Frente Patriótica Ruandesa. Apoiadores dele o
elogiam pelo rápido crescimento econômico. Houve esforços dele em transformar
Ruanda em um próspero centro tecnológico. Há críticas de opositores de que ele
é um governante muito autoritário e que já teria dado ordens para executar
adversários. Sobre o genocídio de 1994, houve diversos julgamentos em tribunais
locais em Ruanda. Quase dois milhões de pessoas foram julgadas. Na Tanzânia, um
país vizinho, houve julgamentos em um tribunal da ONU de líderes dos que
executaram massacres. Não se é mais permitido pelo governo em se falar de etnia
em Ruanda. O governo alega que assim se evita mais assassinatos. Porém críticos
dizem é uma tentativa de se camuflar a realidade, impedindo uma verdadeira
reconciliação e consideram que novos conflitos posteriormente possam
acontecer. O genocídio teve efeitos duradouros e profundos em
Ruanda e nos países vizinhos. Ruanda hoje em dia tem dois feriados em relação
ao genocídio. O regime atual ruandense proíbe que se negue o genocidio ou se tente fazer um
revisionismo histórico sobre ele.
Citação
“Diferença
entre hutus e tutsis
A diferença mais significativa entre hutus e tutsis
não tem a ver com características físicas ou linguísticas. A questão se
relaciona com atividades econômicas e a divisão de poder.
Tradicionalmente, os hutus eram agricultores,
enquanto os tutsis, se dedicavam à criação de gado, e neste sentido, os tutsis
eram mais ricos que os hutus.
Igualmente, as posições mais altas dentro do reino
ruandês estavam destinadas aos tutsis, embora os hutus pudessem participar como
conselheiros.
Esta divisão étnica, contudo, não era impedimento
para que as pessoas de ambas as etnias se casassem ou servissem o Exército
juntas.
A partir de 1916, a Bélgica dominou Ruanda e, a fim
de melhor controlar a população, os belgas se aproveitaram da natural divisão
étnica que existia no local.
Os tutsis representavam 14% da população ruandesa,
enquanto os hutus, 84%; e o restante eram composto por diversas etnias como a
twa.
Na
década de 20 do século XX, existiam várias teorias raciais na Europa, que
buscavam provar a supremacia das raças. Com esta ideia, os belgas introduziram
um novo conceito em Ruanda: havia características físicas nos tutsis que os
faziam mais capazes intelectual e fisicamente que os hutus.
Portanto,
aos tutsis foi dado o direito de ir à escola e ocupar cargos importantes do
governo colonial, enquanto os hutus eram marginalizados. Desta maneira, foi
crescendo a desconfiança e o rancor entre as etnias.”
Professora de História Juliana Bezerra.
Sugestão
de vídeos:
Trailer: Hotel Ruanda
https://www.youtube.com/watch?v=3wf8prFBpIM
ENTENDA O GENOCÍDIO EM RUANDA
https://www.youtube.com/watch?v=aCx5xosJwxg
Massacre de Ruanda foi um dos maiores genocídios da
história mundial
https://www.youtube.com/watch?v=geOkJ8p6CX8
_________________________________________
Márcio José Matos Rodrigues -Professor de História
Figura:
https://www.google.com/search?sxsrf=ALeKk03OmYhGjIzDpLxULG6Yh--NjQ__2w:1618255392321&source=univ&tbm=isch&q=imagem+de+massacre+de+1994+em+ruanda
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